Muito embora o ministro
da Fazenda tenha afirmado que sua decisão de antecipar o anúncio do resultado
fiscal do ano passado (presumindo que não esteja errado, como esteve em outubro) fosse destinada a
“acalmar os nervosinhos”, não é preciso muito esforço para perceber que são
seus próprios nervos que se encontram à flor da pele.
Caso não estivessem,
talvez lhe fosse possível perceber a futilidade da sua iniciativa. A começar
porque só alguém muito divorciado da realidade poderia acreditar que a
divulgação de um número tão conspurcado quanto o dado oficial do superávit primário
poderia moderar os receios do mercado.
Ainda que, segundo o
ministro, este tenha atingido um valor em torno de R$ 75 bilhões, sabe-se que
apenas em novembro o montante de receitas não recorrentes atingiu nada menos do
que R$ 35 bilhões, quase metade do saldo do ano. Na verdade, até novembro do
ano passado, as receitas de concessões, dividendos e o Refis (o refinanciamento
de dívidas tributárias em condições favoráveis) chegaram a R$ 59 bilhões. Assim,
enquanto o número oficial do governo registra um superávit federal equivalente
a 1,9% do PIB nos 12 meses terminados em novembro, o número corrigido – reflexo
mais fiel do esforço fiscal – mal alcança 0,3% do PIB.
Neste sentido, como
todos os analistas sérios são capazes de corrigir tais dados (com pequenas
diferenças de abordagem), ninguém deve ter ficado particularmente impressionado
com o anúncio autolaudatório. Se o ministro esperava fanfarras em resposta à
sua entrevista, deve ter ficado muito decepcionado.
Mais decepcionado,
porém, ficou o mercado. Ao antecipar um resultado que nada vale e se esquivar
de qualquer comprometimento mais firme acerca do desempenho fiscal futuro, a
mensagem passada ao setor privado não poderia ser mais clara: não há qualquer
plano que contemple a possibilidade de um ajuste fiscal neste ano que se inicia,
nem talvez sequer nos próximos, dadas as convicções do governo sobre o tema.
A reação negativa,
expressa na desvalorização da moeda e elevação das taxas de juros, não ocorreu,
assim, nem por acaso, nem por força de fatores internacionais, mas sim por
conta da percepção cada vez mais disseminada de piora dos fundamentos do país.
Mais um tiro, enfim, que saiu pela culatra, marca registrada hoje em dia da
gestão de política econômica no país.
Isto dito, o nervosismo
do ministro também se escancara em sua relação com o mercado. Ao contrário de
seus antecessores imediatos, que reagiam de forma serena mesmo quando divergiam
da análise do setor privado, o ministro quase sempre busca o enfrentamento,
apenas para mais tarde reconhecer – forçado pelas
circunstâncias – seus equívocos crescentes, como, mais
recentemente, no que se refere às mudanças de regras para as concessões de
infraestrutura.
É natural, em face do
desempenho medíocre da economia, que o ministro da Fazenda esteja sujeito a
toda sorte de pressões, inclusive do próprio governo, cujos objetivos políticos
dependem, em certa medida, de crescimento mais vigoroso do que o ostentado pelo
Brasil nos últimos anos.
O que se espera,
contudo, é que o titular do cargo tenha as condições de suportar estas tensões,
e que seja capaz de formular respostas efetivas aos problemas enfrentados no front econômico. Em particular, que suas
falas não contribuam para o aprofundamento da crise de confiança que hoje
assola o país.
Neste último aspecto, a
falta de compostura do ministro da Fazenda, mesmo depois que quase 8 anos no
cargo, revela sua inabilidade para trabalhar sob pressão e compromete ainda
mais sua já escassa capacidade de formulação de política.
Num mundo caracterizado
por preços elevados de commodities e liquidez
mundial abundante é mais fácil controlar os nervos; quando estas condições,
porém, se alteram para pior, quem não tem preparo fica mesmo “nervosinho”.
- Eu não tô nervoso,
p...!
- Só fico p... de ter
que acalmar o mercado
- Fica calmo mercado,
c...!
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(Publicado 8/Jan/2014)
4 comentários:
Prezado Xuártisman,
Em 2014, teremos a repetição de toda esta bullshit de discurso que o governo vomita e, ao final dele, comemore se tivermos 0,1% do PIB como superávit.
Eu to achando é que teremos déficit.
Alex, acho que o mercado, empresários, etc., já embutiu em suas expectativas o "momento do ajuste" (ex.: 2015). Este ajuste traria retração econômica e aumento do desemprego. Se a hipótese é razoável, esta expectativa já estaria contaminando as decisões de investimento no presente, com reflexos negativos sobre o crescimento econômico. Vc acha razoável este raciocínio?
Abs.
M.
Show de ontem na Bloomberg:
-- link p/ o óbvio (aos 1:40 min): http://www.bloomberg.com/video/faber-fed-policy-has-led-to-global-problems-2NFb2G8kS9GS0Lbv0bzqIw.html
-- http://www.bloomberg.com/video/faber-sees-gigantic-asset-bubble-slowing-growth-O4LPyOs9SGmVjZXlNc442Q.html
Ao falar isso e não ser repreendido, ou mesmo demitido, já dá o tom de como é a visão do governo em relação aos agentes privados, em especial o mercado financeiro.
Dantas
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