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terça-feira, 28 de julho de 2009

Samba de uma nota só

Para ilustrar algo que já explorei por aqui. O gráfico mostra a evolução dos principais agregados do resultado fiscal do governo federal na primeira metade deste ano em comparação à primeira metade do ano passado. Dificilmente poderia ser mais eloquente: o aumento da despesa corrente corresponde a quase 15 vezes o aumento dos investimentos (R$ 23,4 bilhões vs. R$ 1,6 bilhão, já ajustados pela inflação).

Do aumento da despesa corrente a maior parcela (R$ 9,1 bilhões, expansão de 14% acima da inflação) resulta da folha de pagamento do funcionalismo federal, seguida das aposentadorias e pensões do INSS (R$ 6,3 bilhões). E há quem chame isto de política fiscal anticíclica.


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Só resta tocar um tango argentino

Na minha última coluna fiz uma breve menção à queda das exportações brasileiras para a Argentina como um dos fatores que piorou o desempenho da indústria nacional a partir do final do ano passado. Parece inusitado, pois, mesmo sendo a Argentina um dos principais parceiros comerciais do país, este mercado representou pouco menos que 9% do total exportado pelo Brasil no ano passado. No entanto, um exame mais detalhado mostra resultados interessantes.

Com efeito, se podemos descrever o Brasil, quando olhamos o conjunto de nossas vendas externas, essencialmente como um exportador de commodities, no caso do comércio com a Argentina em particular (e América Latina em geral), esta descrição certamente não se aplica. Enquanto manufaturas representam, em média, algo como 45% das exportações brasileiras, no caso das exportações para a Argentina manufaturados são mais de 90% do total, correspondendo a quase 20% das exportações destes produtos.

E não falamos aqui de qualquer produto manufaturado. Pela nossa classificação de comércio exterior, este rótulo se aplica a produtos que vão de suco de laranja a aviões. Em se tratando das exportações para o mercado argentino, porém, o predomínio é de produtos como automóveis, celulares, autopeças e máquinas, sofisticados e com cadeias de produção longas e complexas, em contraste acentuado com as exportações brasileiras em geral. Apenas no que se refere a automóveis, mais de metade do valor exportado em 2008 foi destinado a nossos vizinhos.

Isto dito, entre o pico registrado em setembro do ano passado e junho deste ano as exportações para a Argentina caíram 45%, fenômeno que, à luz dos dados acima, sugere um efeito fortemente negativo sobre a atividade. Usando mais uma vez o exemplo dos automóveis, observamos uma queda de 44% no valor exportado para aquele país entre janeiro e maio deste ano relativamente ao mesmo período do ano passado, o que explica quase dois terços da redução das exportações de automóveis neste intervalo.

Há quem atribua este desempenho fortemente negativo ao protecionismo argentino, ou mesmo a uma suposta invasão de produtos chineses naquele mercado, mas acredito que a mera inspeção do gráfico sugere uma explicação mais simples e, espero, mais convincente. Como é mostrado, o comportamento das exportações brasileiras para a Argentina segue muito de perto o desempenho das importações totais argentinas, ou seja, a queda de nossas exportações reflete essencialmente o colapso das importações platinas, que, entre o pico de julho do ano passado e maio deste ano caíram nada menos que 55%.

Por outro lado, assim como no Brasil, as importações argentinas variam quase que integralmente em função do comportamento da demanda doméstica. O colapso das importações (e de nossas exportações), portanto, nada mais é que o espelho de uma queda colossal da demanda argentina, sugerindo que a recuperação da indústria brasileira passa também pela reanimação da economia vizinha. Neste meio tempo, a única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

(Publicado

22/Jul/2009)

domingo, 12 de julho de 2009

Pausa

Pessoal:

Estarei em férias até 26/julho. Muito provavelmente não conseguirei postar nada, nem mesmo moderar os comentários. Fiquem à vontade para mandá-los, porém, caso queiram. Se for possível eu tento ao menos liberá-los, mas chances de resposta são baixas. De qualquer forma, quando voltar da viagem cuido da moderação.

Abraços e até a volta,

Alex

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Uma combinação inacreditável

Há quem receba mais atenção do que merece; há quem receba menos, como é o caso do IBGE. De fato, além de acelerar a divulgação da produção industrial, o IBGE tem trazido novas aberturas que auxiliam em muito o trabalho de análise econômica. Destas, uma em particular mostra o comportamento de setores industriais de acordo com sua intensidade exportadora, isto é, aqueles que tipicamente superam de forma significativa o coeficiente médio de participação das exportações no produto (20,8%) e os que costumam exportar uma fração menor de sua produção.

Ao contrário do que se imagina, os segmentos produtores de commodities são importantes tanto para o setor de alta intensidade exportadora como o de baixa intensidade, respondendo por cerca de 65-70% do peso no caso de seus principais produtos. Já os produtos mais sofisticados, como automóveis e aviões representam parcela importante da produção do setor exposto ao mercado externo, enquanto outros, como celulares e computadores, apresentam peso considerável no setor com menor exposição. A divisão entre commodities e produtos diferenciados não é, pois, a mesma que existe entre alta e baixa intensidade exportadora.

Dado este pano de fundo, convido os 17 leitores a analisar o comportamento dos dois setores a partir do início da série conforme mostrado no gráfico.

O primeiro fato que salta aos olhos é o crescimento francamente superior do setor intensivo em exportações. Entre 2002 e o terceiro trimestre de 2008 sua produção se expandiu à taxa média de 6,4% ao ano, contra 3,3% a.a. no caso dos segmentos de baixa intensidade exportadora, diferença que se mantém mesmo se escolhermos outros períodos amostrais.

Em outras palavras, apesar da conversinha sobre como a apreciação cambial – associada à forte valorização das commodities no período – estaria levando à desindustrialização do país, a realidade insiste em mostrar precisamente o oposto. Foi o setor de alta intensidade exportadora que liderou a vigorosa expansão industrial dos últimos anos e, dentro dele, o melhor desempenho veio de segmentos produtores de bens diferenciados, como automóveis, caminhões e aviões.

Obviamente, dado o cenário de forte contração do comércio internacional, que registrou queda de 40% entre o terceiro trimestre do ano passado e o começo de 2009, foi também esse setor quem mais sofreu com a crise, agravada ainda pelo colapso das importações argentinas (55% entre julho de 2008 e maio de 2009), destino de quase 20% das exportações industriais brasileiras. Tal resultado, diga-se, é congruente com o que já havíamos mostrado nesta coluna, isto é, que a queda das exportações explicava a maior parte da redução da produção industrial.

À luz destes dados, seria surpreendente a insistência certos economistas em ignorar o contexto externo e atribuir a forte queda da produção à política monetária. Só não surpreende porque há muito se sabe que tal “análise” deriva, em partes iguais, de incrível despreparo técnico e inigualável desonestidade intelectual.

Fonte: IBGE (dessazonalizado pelo autor)

(Publicado 8/Jul/2009)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Atualizando um post antigo

Quem acompanha o blog há algum tempo já deve ter visto versões anteriores do gráfico abaixo, cuja formulação, adianto, é cópia descarada de uma apresentação do Rogério Werneck. No eixo vertical está a carga tributária, divulgada hoje pela RFB (antiga SRF), que atingiu a bagatela de 35,8% do PIB no ano passado (sem CPMF, diga-se), pouco mais de um ponto percentual acima da registrada em 2007 (34,7% do PIB).

Deduzindo da carga tributária o superávit primário dos entes que coletam impostos (União, estados e municípios) temos uma estimativa do gasto primário consolidado da administração direta (as empresas estatais não entram nesta conta), medida no eixo horizontal. Assim, a estimativa de gasto público em 2008 subiu para 32,3% do PIB, contra 31,3% do PIB em 2007 (era em torno de 20% no começo dos anos 90, tendo alcançado algo como 28,5% do PIB no início da década atual).


Notem que tal estimativa ("abaixo da linha", por analogia à metodologia da NFSP), por omitir receitas não-tributárias dos governos federal, estadual e municipal, necessariamente subestima o real tamanho do gasto. É possível, porém, achar dados para a despesa consolidado "acima da linha", isto é, somando gasto a gasto de cada nível de governo. Tais dados, no entanto, só estão disponíveis para o período entre 1998 e 2007. Isto dito, no gráfico abaixo mostramos que guardam uma relação estreita com nossa estimativa "abaixo da linha".

Ou seja, quando os dados "acima da linha" para 2008 forem divulgados, os 35% do PIB registrados em 2007 parecerão modestos face a um valor na casa de 36% do PIB (e aguardem para ver o estrago de 2009!). Isto em dois anos nos quais o PIB cresceu às taxas mais elevadas dos últimos tempos, sem, portanto, a desculpa de se tratar de política anti-cíclica.
Isto dito, se vocês acham sinal de expansão desmedida de gastos e impostos, anotem o seguinte: em 2008 o PIB aumentou o equivalente a R$ 139,6 bilhões de reais (a preços de 2008). Neste mesmo período o governo (em suas três esferas) aumentou a tributação em valor equivalente a R$ 79,7 bilhões e seus gastos em R$ 72.5 bilhões. Vale dizer, de cada 100 novas unidades de PIB , o governo tributou 57, gastando 52 (em 2007 estes números foram 56 e 45), na prática se apropriando de mais da metade do PIB marginal.

E tem gente que fala em "estado nanico"...