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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Entrevista não publicada


A matéria sobre “inflação basal” usou pouco da entrevista. Assim resolvi publicá-la completa aqui no blog (é para isso que serve, não?).

1 - Tem fundamento a afirmação de que o Brasil tem uma inflação de base e que ela gira em torno de 5% e 6%?

Não. Isto é uma tentativa de ressurreição de uma tese antiga, a “inflação estrutural”, lá dos anos 50 e 60, à época desmentida pela tese de doutorado do Pastore.

No caso atual, não é necessário mais do que olhar a trajetória da inflação para observar que não apenas ela alcançou valores inferiores aos 5-6% mencionados, como também o fez com crescimento mais forte do que temos hoje. No período 2005-2009, uma vez superados os efeitos da transição política, o desvio da inflação relativamente à meta foi quase 0%. Mesmo se incorporarmos 2010 à amostra, já com o BC enfraquecido (por exemplo, parando inexplicavelmente o processo de alta de juros em setembro de 2010),  a inflação superou a meta em média 0,3% ao ano. Não por acaso, as expectativas de inflação 12 meses à frente entre o final de 2005 e o final de 2010 se mantiveram sempre em torno de 4,5% (na verdade 4,4%), revelando que o BC tinha conseguido ancorar as expectativas.

Obviamente, mesmo se o BC consiga ancorar as expectativas, como a meta é alta e o governo nunca perdeu a oportunidade de perder a oportunidade de reduzir a meta, a inflação não se descolaria muito de 4,5%. Caso tivesse reduzido a meta para níveis similares aos de outros países latino-americanos adeptos do regime de metas, poderíamos – com um BC disposto – ter registrado inflação em torno de 3% ao ano.

2 - Se sim, a que se deve essa resistência? E como eliminá-la? Se não, por que, desde 2000, o Brasil só teve inflação abaixo de 5% em três anos (2006, 2007 e 2009)?

Sim, mas a meta de inflação foi superior a 5% de 1999 a 2005 (em 2001, 2002,  2003, 2004 e 2005 a meta oficial era inferior a 5%, mas, na prática as metas ajustada eram superiores a este patamar). Desde a adoção da meta de 4,5% (em 2006) o BC manteve a inflação em média próxima à meta até perder a autonomia informal de que dispunha. No caso, a resistência da inflação se deve, em primeiro lugar, à insistência de manter a meta em 4,5%, mesmo quando expectativas rodavam abaixo disso. Mais recentemente se deve à subordinação do BC aos objetivos políticos do governo. Basta ver que só pode elevar a Selic agora depois de uma comissão (externa ao governo, diga-se) convencer a presidente.

3 - Como avalia a afirmação de que dois pontos a mais de inflação (além do centro da meta) não faz diferença na vida do brasileiro, uma vez que os salários seguem em alta?

Acho de uma miopia atroz. Embora seja verdade que os aumentos salariais tenham superado a inflação, à medida que a inflação acelera – refletindo, entre outras coisas – o próprio impacto do aumento dos salários sobre os preços, a manutenção dos salários reais requer novas rodadas de elevações salariais. Expectativas de inflação mais elevada são incorporadas aos salários e temos uma clássica espiral salário-preços, na linha da observada, por exemplo, nos EUA e no Reino Unido nos anos 70.

Este processo é instável e, quando finalmente o Fed (e o Banco da Inglaterra) foram tratar o problema, ambas economias tiveram que passar por uma recessão extraordinária.

Hoje o desvio é de 2 pontos percentuais. Se não for tratado agora, será mais bem mais alto em poucos anos e o custo de reduzir a inflação será muito maior do que hoje, assim como hoje já é bem maior do que seria se tivesse sido tratado em 2010-2011.

4 - Em junho, o CMN definirá meta de inflação para 2015. Belluzzo, por exemplo, já defendeu elevar a meta. Com a crise na Europa e EUA, economistas mundo afora têm defendido flexibilidade no objetivo, diante de dificuldades em produzir crescimento. Seria o caso de flexibilizar a meta aqui também?

No ranking das ideias cretinas elevar a meta fica numa posição privilegiada. Faz sentido para países que enfrentam ameaça de deflação (ou deflação propriamente dita). Já no Brasil, cujo problema é o oposto, caso se eleve a meta, as expectativas também irão se elevar, ainda mais com o um BC percebido como submisso. As demandas salariais e preços passam a refletir uma inflação esperada mais alta e a inflação se acelera sem qualquer ganho de produto. Não é por acaso que o Palmeiras foi parar na Segundona.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Complexo de vira-lata


Nelson Rodrigues criou a expressão “complexo de vira-lata” após a derrota sofrida na final da Copa de 1950, traduzindo um sentimento crônico de inferioridade nacional, inicialmente restrito ao campo do futebol e mais tarde abrangendo uma vasta gama de atividades (não mais o futebol!). Muito embora o governo faça questão de afirmar a superação do “complexo de vira-lata”, é visível o papel desta síndrome na mais recente onda de desculpas sobre o desempenho lamentável no campo da inflação.

Tanto membros da equipe econômica como colunistas automaticamente alinhados com o governo têm destacado que as taxas de inflação observadas atualmente não diferem muito da média registrada desde o início do regime de metas para a inflação. Neste período a inflação média atingiu 6,3% ao ano, apenas ligeiramente abaixo dos níveis recentes.

Assim, segue o argumento, não haveria nada de errado com a inflação atual. De forma mais sutil (mas que parece impregnar o pensamento inclusive do Banco Central), este tipo de colocação tenta ressuscitar a tese que a inflação brasileira seria naturalmente elevada por conta de “problemas estruturais” que tornariam mais difícil sua redução sem enorme custo do ponto de vista de atividade. Daí a noção que a inflação só cairia com o uso de outros instrumentos (reformas, mudança no perfil da dívida pública, etc.), terminando por concluir pela postergação constante do momento de atacar o problema de frente.

Nada mais falso. A começar pelo argumento da média que, parafraseando expressão algo sexista (desculpem!) atribuída, como tantas outras, a Roberto Campos, a média é como o biquíni: revela o interessante, mas oculta o essencial.

Em primeiro lugar, a média simples deixa de lado as mudanças da meta de inflação no período: começou com 8% em 1999 e é hoje de 4,5%, passando por até 8,5% (meta ajustada) em 2003. O correto, portanto, não é analisar o nível da inflação, mas seu desvio relativamente à meta: 1,5% ao ano no período.

Mais importante, porém, é a distribuição deste desvio, quase todo concentrado em dois anos: 2001 (ano do “apagão” e da crise argentina) e 2002 (a transição política). De fato, logo no primeiro governo Lula a média do desvio da inflação foi 0,5% ao ano, aumentando levemente para 0,6% ao ano no segundo governo (contra crescimento médio do PIB, diga-se, de 3,5% e 4,5% ao ano respectivamente). Não foi o ideal, mas bem melhor do que temos observado até agora (desvio médio de 1,7% nos dois primeiros anos do atual governo e expectativas de 1,2% ao ano em 2013 e 2014).

Já no que se refere à comparação do desempenho com os demais países da América Latina que adotam metas para a inflação, o Brasil não fazia feio, registrando desvio pouco superior à média (e mediana) entre 2004 e 2010. Hoje, pelo contrário, o país lidera sozinho o campeonato inflacionário dentre os países latino-americanos com regime monetário semelhante.

Estes números sugerem não haver nada de “estrutural” na incapacidade de entregar a inflação mais próxima da meta, além do recém-redescoberto “complexo de vira-lata”.  Não apenas tínhamos desempenho alinhado ao de países sujeitos a choques similares, mas, principalmente, nossa história mostra que um Banco Central mais decidido foi capaz de entregar a inflação bem mais próxima à meta do que parece ser possível hoje, sem prejuízo ao crescimento de médio e longo prazo.

A inflação alta não se deve a “choques externos”, nem à incapacidade congênita do país; resulta, sim, da adoção de políticas incompatíveis com a convergência à meta, característica, aliás, que não vai se alterar com o arremedo de aperto monetário prometido pelo Copom. A diferença essencial entre o Brasil de hoje e o de pouco tempo atrás se resume ao cabresto imposto ao BC e docilmente aceito pela instituição, também vítima do “complexo de vira-lata”.

Não dá, é muito difícil, não dá...

(Publicado 24/Abr/2013)

sábado, 20 de abril de 2013

Clóvis Rossi, o anti pundit


A palavra inglesa ‘pundit’ é uma variante do term ‘pandit’ em sânscrito, que denota um indivíduo de grande conhecimento. O termo ‘pundit’ é usado para descrever intelectuais públicos que pontificam sobre temas variados, tanto nas colunas de comentários dos jornais quanto nos programas de televisão.

Clóvis Rossi é um anti-pandit. Ele discorre sobre os mais variados temas, e não importa qual seja o assunto, invariavelmente, fala estultices e jequices, como se fora um buraco negro que devora qualquer informação e cospe ignorância.

Vejamos o que Clóvis Rossi disse sobre os rapazes chechenos que foram filmados e fotografados levando as bombas que mataram 3 e aleijaram dezenas em Boston:

“No caso de Boston, o que diabos faziam dois tchetchenos vivendo em Cambridge, como está sendo informado?

Pode uma pergunta estar errada? 

Com Clóvis Rossi, pode!

Primeiro, o irmão mais novo não era checheno, mas um cidadão dos EUA. Por ter nascido no exterior, não pode ser presidente, mas exceto este detalhe, é tão americano quanto Hollywood ou a torta de maçã.

Segundo, se Clóvis Rossi não fosse um jeca ignorante, saberia que em qualquer das maiores áreas urbanas dos EUA (ou do Canadá, Europa Ocidental), existem chechenos, somalis, etíopes, vietnamitas, palestinos, haitianos etc.  Não existe nada surpreendente nisto.

Terceiro, 'o que diabos eles faziam' lá? Que tipo de idiota faz uma pergunta destas?


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Inflação, tomates e outros pepinos


O carnaval em torno do preço do tomate pode levar alguns a acreditar que o vegetal em questão seja o grande vilão da escalada inflacionária. Não é o caso. Embora seja verdade que seu preço tenha subido mais do que 120% nos últimos 12 meses, justificando a ira dos consumidores, seu peso é pequeno no orçamento médio considerado pelo IBGE. Há um ano era apenas 0,18% (ou seja, de cada R$ 100 gastos apenas 18 centavos eram destinados ao tomate); hoje são 33 centavos a cada R$ 100.

Assim, da inflação de 6,59% registrada nos últimos 12 meses, considerando participação média do tomate no orçamento familiar, sua contribuição foi de 0,22%. Por outro lado, a redução de 16% das tarifas de energia elétrica no mesmo período contribuiu para reduzir o índice de preços em 0,52%, já que este item representa cerca de R$ 3,30 para cada R$ 100 gastos.

Há, portanto, produtos que empurraram o índice ladeira acima, assim como outros que agiram no sentido oposto. Se quisermos determinar se o IPCA mais alto é mesmo o resultado de uns poucos aumentos pontuais de preços, ou se, ao contrário, reflete desequilíbrios mais profundos, não faz sentido destacar apenas os primeiros, desconsiderando o efeito dos segundos.

Precisamos, portanto, analisar medidas de inflação que atenuem o efeito dos preços mais voláteis, os chamados núcleos de inflação. Caso os núcleos contem uma história muito diferente da inflação “cheia”, por exemplo, mostrando taxas de inflação muito inferiores à registrada pelo IPCA, há boa chance da aceleração inflacionária ser resultado de um choque localizado, como preços de alimentos. Já se as histórias são semelhantes, fica difícil justificar a inflação mais alta apenas como fruto do preço do tomate.

Dentre estas medidas, uma das mais simples consiste no expurgo dos preços de alimentos (justamente para eliminar os efeitos de choques de oferta), assim como dos “preços administrados”, na prática determinados por contratos de prazo mais longo e decisões governamentais (combustíveis, por exemplo). De acordo com ela, os preços dos produtos que não são alimentos nem “administrados” subiram à velocidade média de 6,46% nos últimos 12 meses, apenas marginalmente inferior à inflação “cheia”.

Há outras medidas de núcleos de inflação (são cinco!), mas a conclusão é essencialmente a mesma. A média delas aponta para inflação de 6,11% em 12 meses, sugerindo que, ao contrário da versão oficial, a aceleração não se deve a alimentos, ou a qualquer grupo de produtos em particular.

De fato, complementando a análise acima podemos utilizar outra medida, o “índice de difusão”, que mede simplesmente a proporção de produtos dentre os 365 componentes do IPCA cujos preços tenham aumentado no mês. O raciocínio é semelhante ao exposto acima: caso a aceleração do IPCA resulte de um punhado de produtos, enquanto a maioria registra estabilidade ou queda, o índice de preços provavelmente estará capturando o efeito de um choque localizado; já indicações que os aumentos de preços são disseminados sugerem que o problema é mais profundo.

Ocorre que, desde julho do ano passado o indicador de difusão tem registrado valores recordes em todos os meses (desde 2005, quando a meta de inflação foi fixada em 4,5%), também uma indicação que não se trata da elevação de uns poucos preços afetando a medida de inflação, mas de um aumento generalizado.

Os números acima desmentem, portanto, a narrativa oficial, que insiste em atribuir aos alimentos o protagonismo na aceleração da inflação. As causas são mais profundas, refletindo políticas incompatíveis com a inflação na meta.

Lendo, porém, que no Planalto avalia-se que crescimento de 3% e inflação ao redor de 6% bastam para garantir a reeleição, fica claro que o verdadeiro pepino não é o tomate, mas ambições de continuidade política sem preocupação genuína com o bem-estar da população.

O verdadeiro vilão


(Publicado 17/abr/2013)

terça-feira, 16 de abril de 2013

Entrevista à Exame

quinta-feira, 11 de abril de 2013

1 milhão!

Valeu moçada!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Um trabalho estupendo


O Banco Central reclama da “resistência da inflação”, atribuindo aos mecanismos de indexação (a prática de reajustar preços e salários em linha com a inflação passada) as dificuldades que tem encontrado para cumprir sua meta. Segundo o BC, “existem mecanismos regulares e quase automáticos de reajuste (...) que contribuem para prolongar (...) pressões inflacionárias”.

Há certa verdade nisto, embora, da forma como o argumento tenha sido posto, a existência destes mecanismos pareça resultar de processos sobre os quais o BC não tem qualquer influência. Supõe-se implicitamente que este comportamento aflora por razões que nada têm a ver com a condução da política monetária, resultado talvez de questões históricas, culturais e – já que estamos no terreno especulativo – por que não também antropológicas e quiçá genéticas?

Embora reconhecendo que possa haver um tanto de história por trás da persistência da indexação no Brasil, particularmente no que diz respeito aos chamados “preços administrados”, alguns dos quais contêm cláusulas específicas de reajuste de acordo com a inflação passada, o problema é mais profundo e reflete fundamentalmente a postura do BC face à inflação.

Para começar, não há como afirmar, sem enrubescer, que os preços administrados tenham contribuído para a aceleração inflacionária recente. Entre o final de 2011 e março de 2013 (pela leitura do IPCA-15), a inflação de administrados caiu de 6,2% para 1,6%, o que representou impacto negativo de 1,3 ponto percentual sobre o índice.

Se a indexação é, portanto, responsável pela resistência à queda da inflação, é bom notar que não se trata daquela associada aos reajustes contratuais dos preços administrados, mas sim às práticas de mercado que determinam a evolução dos salários e dos chamados preços livres. Neste caso, é necessário explicar porque empresas e trabalhadores adotam tal prática e aí a responsabilidade do BC fica mais do que patente, por meio de dois canais distintos.

O menos maligno refere-se ao prolongamento do período de convergência. Há algum tempo o BC parecia engajado num processo de convergência lenta da inflação para a meta. Neste caso, porém, se o BC traz a inflação aos poucos para baixo, o melhor valor para a inflação esperada deixa de ser a meta (que só vai ser atingida mais à frente) e passa a ser algum valor entre a inflação passada e a meta, afetando preços correntes.

Já o fenômeno mais pernicioso se relaciona aos erros de postura da política monetária. É sabido que – para estabilizar a inflação – qualquer BC deve elevar a taxa real de juros em face de desvios para cima da inflação esperada relativamente à meta (e diminuí-la em caso contrário). Entretanto, o Copom fez precisamente o oposto: a despeito de expectativas, tanto suas como do mercado, acima da meta, o BC veio reduzindo a taxa real de juros.

O resultado foi exatamente o que eu vinha alertando: ao invés de convergência, divergência da inflação, apesar das medidas pontuais que mitigaram os impactos sobre os índices de preços. Posto de outra forma, o BC deixa de agir para estabilizar a inflação e, portanto, a meta deixa de representar um valor que coordene as expectativas.

Enquanto o primeiro fenômeno deve ter sido mais importante para explicar o descolamento das expectativas em 2011, quando o BC ainda parecia se preocupar com o comportamento da inflação, o segundo descreve com precisão o período mais recente.

A indexação não é, portanto, a causa última da resistência da inflação à queda (mesmo porque não há motivos para que a inflação caia, à parte efeitos temporários de reduções de impostos e similares). Trata-se sim do resultado de um trabalho estupendo do BC no sentido de cuidadosamente desancorar as expectativas de inflação após anos de trabalho árduo no sentido oposto. Quanto a isto, o Copom não tem do que se queixar.

Foi a indexação que preparei ontem..


(Publicado 10/Abr/2013)

terça-feira, 9 de abril de 2013

Agora vai!

Parece texto do Casseta, mas saiu no Estadão...

Dilma se reúne com grandes economistas a uma semana do Copom

Presidente almoçou com Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Yoshiaki Nakano; Também participou do encontro o ministro da Fazenda, Guido Mantega


A gente merece isso?


E se você tinha alguma dúvida que a única razão de ser da Petrobrás é transferir riqueza que pertence à União para os favoritos do Príncipe, veja este balão de ensaio...


Governo discute socorro a Eike Batista

Uma das propostas é o uso pela Petrobrás do Superporto do Açu, pertencente ao empresário, como base à produção do pré-sal da Bacia de Campos


(...)

Além da questão logística - o porto do Açu é o mais próximo aos campos petrolíferos de Campos -, um outro fator, talvez mais importante até, aproxima a Petrobrás ao futuro porto controlado pelo megaempresário Eike Batista: o governo Dilma Rousseff está preocupado que um eventual colapso das empresas do grupo X possa afetar a imagem do Brasil no exterior e minar a disposição dos empresários de investirem no País. 
Há uma discussão interna quanto até onde o governo pode ir para ajudar o empresário a superar a crise. Uma proposta é a Petrobrás assumir o Açu, o que, de acordo com a avaliação de alguns dos que estudam o assunto no governo, impulsionará os investimentos do grupo X.
(...)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Political Credit Cycles

Um dos artigos mais interessantes que li recentemente é o “Political Credit Cycles: The Case of the Euro Zone”, de Jesús Fernández-Villaverde, Luis Garicano e Tano Santos.

Neste artigo, os autores comparam a trajetória de quatro países periféricos da Europa (Espanha, Irlanda, Grécia e Portugal) com a Alemanha, e argumentam que a crise ocorrida nestes países se deve em grande parte a problemas de política econômica que foram exacerbados pelo acesso ao crédito barato que a adoção do euro engendrou.

A idéia é que o acesso ao crédito barato removeu a urgência de se adotar reformas modernizantes e pró-competitividade, causou uma deterioração das instituições, e assim reduziu as perspectivas de crescimento. Em contraste, a Alemanha, cujo custo de crédito não foi barateado pelo adoção do euro (já era barato antes), adotou um processo de reformas e emergiu mais competitiva.

Um paralelo pode ser traçado. No Brasil as reformas econômicas morreram justamente quando a restrição de crédito foi relaxada. Então cá estamos nós ainda sem um tratado de livre comércio e investimento com os EUA, flertando com os controles de capitais e condenados à mediocridade soberba dos idiotas.


- (Foto: Reprodução)

Esses alemães são entreguistas!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Manipulação inadmissível


Logo após a manifestação de descrença da presidente acerca da sua descrença quanto “políticas de combate à inflação que olhem (sic) a redução do crescimento econômico” o mercado de juros registrou volatilidade considerável. Isto, em si, é revelador sobre a confiança que o mercado deposita na autonomia decisória do BC, mas, face à obviedade do tema, nem vale a pena entrar em considerações mais detalhadas.

Por outro lado, é interessante aprofundar essa relação pouco compreendida, que tem levado a seguidos equívocos, como o cometido pela presidente. A começar porque a ligação não se dá, estritamente falando, entre inflação e crescimento, mas sim entre aquela e alguma medida da “folga” na economia, ou “hiato do produto” no jargão da profissão, a distância entre o nível efetivamente observado do produto e seu potencial.

A intuição por trás desta ideia não é complicada. À medida que a produção se expande, impulsionada pelo crescimento da demanda, os custos por unidade produzida devem aumentar, pois tanto trabalhadores como máquinas menos produtivos passam a ser gradativamente utilizados. Tais custos são repassados aos produtos finais, em maior intensidade no caso de bens pouco sujeitos à concorrência externa e menor no caso contrário.

Associa-se, assim, a cada nível de produção uma determinada pressão sobre os preços. O nível de produto potencial seria aquele ao qual estivesse associada inflação estável e igual à meta. Níveis superiores, portanto, pressionariam preços além do compatível com a meta; já níveis mais baixos seriam consistentes com inflação em queda.

Note-se que este fenômeno nada tem a ver com a chamada “inflação de custos”, associada a eventos que causam redução na quantidade produzida, enquanto aqui nos referimos a custos associados à expansão da produção.

Também se depreende das definições acima que a relação entre inflação e crescimento é mais fluida do que a suposta pelo senso comum. Caso uma economia saia de uma situação de produto muito inferior ao potencial, seu crescimento pode ser rápido, aproveitando recursos até então desempregados. Enquanto houver folga apreciável, este crescimento acelerado não deve levar à aceleração inflacionária, pelo menos até que a economia comece a se aproximar do potencial.

Da mesma forma, uma economia com baixo crescimento pode enfrentar taxas elevadas de inflação, desde que seu produto esteja acima do potencial. Na verdade, aliás, o baixo crescimento pode, inclusive, refletir dificuldades de expansão da oferta, por conta de restrições de mão-de-obra, ou mesmo capital, por exemplo, infraestrutura.

Posto de outra forma, ao contrário da afirmação presidencial, não há nada anômalo na infeliz combinação “pibinho-inflaçãozona”. Pelo contrário, é o resultado esperado de uma economia cujo baixo crescimento, nas palavras do nosso insuspeito BC, “se deve essencialmente a limitações no campo da oferta”. Há maneiras mais rigorosas de iluminar esta questão, mas sugiro ao escasso leitor uma vista d’olhos no gráfico que ilustra a coluna.

Usamos como medida de utilização de recursos na economia uma combinação entre a taxa de desemprego (na verdade seu complemento) e o nível de utilização de capacidade instalada no setor industrial, ponderados pelas participações respectivas de trabalho e capital na renda. A medida de inflação, por sua vez, é uma média dos núcleos calculados por médias aparadas (com e sem suavização de preços regulados) e pela exclusão de preços de alimentos no domicílio e preços regulados.

A vantagem de usarmos medidas de núcleo de inflação é óbvia: por construção estas medidas eliminam (ou atenuam) choques de oferta, em particular os relacionados a preços de alimentos, tornando difícil afirmar que sua aceleração resulte de choques agrícolas ou de tarifas públicas. Já o uso da média dos núcleos me impede de escolher a posteriori uma medida mais favorável à minha tese.

Fonte: Autor (com dados do IBGE, CNI e BCB)
O gráfico é eloquente, ainda mais porque, em nome da simplicidade, deixamos de fora variáveis relevantes, em particular expectativas de inflação. Mesmo assim a relação (defasada) entre o nível de utilização de recursos na economia e a inflação se torna visível, revelando a associação entre a aceleração recente da inflação e a redução da ociosidade.

Fica claro, portanto, que, para reduzir a inflação não há alternativa à menor utilização dos recursos, ou seja, crescimento mais lento. A presidente pode, é claro, não acreditar nisso e insistir na atual política de desoneração, mas acabará por colher inflação ainda maior, e aí veremos a quem cabe a culpa da manipulação inadmissível.

Políticas antiinflacionárias que não olham a redução do crescimento


(Publicado 4/Abr/2013)




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Hesitação autônoma


Na semana passada o BC divulgou seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e, com ele, suas previsões para a inflação até o primeiro trimestre de 2015. Como os 18 leitores já suspeitavam, o BC teve que rever significativamente para cima suas projeções, de valores pouco acima da meta em 2013 e 2014 para algo ao redor de 5,5% até março de 2015. Ainda são previsões otimistas, mas mostram, ao menos parcialmente, a extensão do problema.

Em meados do ano passado, quando os primeiros sinais de aceleração da inflação começaram a surgir, a equipe econômica, BC inclusive, culpava um mal definido “choque de oferta” relacionado à seca no EUA (que, maldosamente, só afetou o Brasil, poupando nossos vizinhos mais bem-comportados). Seria, portanto, um fenômeno de curta duração, pois os preços cairiam assim que a oferta internacional se normalizasse, dissipando os efeitos inflacionários.

O próprio RTI demole este argumento, já que previsão de inflação esperada acima da meta por período tão longo revela não mais se tratar de problema temporário e localizado. Ao contrário, é consistente com um padrão observado há algum tempo nos índices de inflação: a proporção de itens que registram aumentos de preços no IPCA (o chamado índice de difusão) tem batido seguidos recordes, atingindo os valores mais elevados dos últimos 10 anos, indicando propagação das pressões inflacionárias.

Não é por acaso, então, que até o BC, depois de negar o quanto pôde a gravidade do problema, começou, com atraso, a mudar de postura. Seja por meio dos discursos de seus dirigentes, seja em sua comunicação oficial, o banco passou a dar ênfase precisamente à persistência da inflação, assim como a seu caráter disseminado. Ao mesmo tempo removeu as referências à estabilidade da taxa de juros “por um período de tempo suficientemente prolongado” e, finalmente, ao reconhecer a piora nas perspectivas de inflação para os próximos 24 meses, preparou o terreno para iniciar a elevação da taxa de juros.

Ou não.

Depois de elencar os argumentos que justificariam um endurecimento da política monetária, inclusive reconhecendo a possibilidade de “uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado”, o BC evita a conclusão lógica, e “pondera que incertezas remanescentes (...) cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser conduzida com cautela”. Em outras palavras, o cenário inflacionário piorou consideravelmente, mas o BC ainda não foi capaz de decidir se vai fazer algo a respeito.

Não estivesse esta expressão presente já na Ata do Copom, divulgada duas semanas antes da presidente se manifestar contrária à elevação da taxa de juros, caberia até perguntar se a hesitação resulta de restrições de ordem política. Aparentemente, porém, o BC hesita sozinho.

Isto dito, embora o Copom mostre autonomia de hesitação, a atitude da presidente em nada colabora. Caso o BC conclua pela manutenção do nível atual da Selic nos próximos meses, será difícil para observadores externos distinguirem entre duas possibilidades: uma decisão autêntica (apesar de, a meu ver, errônea), ou uma intervenção direta do mundo político num corpo que deveria ser predominantemente técnico, eliminando qualquer ilusão remanescente sobre a autonomia decisória do BC.

Talvez esteja aqui a dificuldade maior de entendimento da presidente. Ninguém interpretou sua fala (contra “políticas de combate à inflação que olhem [sic] a redução do crescimento econômico”) como sinal de descaso com a inflação (ainda que seja exatamente esta a conclusão inescapável do seu discurso), mas sim como um obstáculo à ação do BC, a quem foi dada a tarefa de proteger a estabilidade do poder de compra da moeda.

Pior do que a presidente não entender a dinâmica da inflação, é sua desconsideração pelo arranjo institucional para lidar com o problema. Ainda iremos lamentar bastante as consequências.

Non obediunt, dubitavit. Dubitasti?


(Publicado 3/Abr/2013)