O anúncio
dos números do PIB no terceiro trimestre de 2012 oferecem-nos mais um momento
didático.
Alguns dos
otimistas sobre a economia brasileira têm projetado crescimento tão alto quanto
4.0% para 2013 (consta que alguns deles ouvem a campainha tocar e correm para
abrir a porta do apartamento, na esperança que finalmente a Gisele cansou-se da
vida enfadonha com o Tom). Mesmo a pesquisa Focus que costuma chegar atrasada
em suas projeções de crescimento já ajustou a projeção média para 2013 para
3.7% (Deve cair mais na semana que vem! Podem escrever).
Mas por que
deveríamos ser mais pessimistas sobre o crescimento no curto e médio prazo?
Olhando
pelo lado da oferta, o crescimento do PIB acontece devido a aumento da mão de
obra, no estoque de capital privado ou ganhos de produtividade. Não consigo ver
contribuição significativa de qualquer dessas fontes no curto ou médio prazo.
No curto
prazo, sabemos que aumentos na mão de obra devem ser menores do que em anos
anteriores já que a taxa de desemprego está em níveis historicamente baixos.
Também
sabemos que aumentos na capacidade produtiva devido ao investimento privado não
devem ser substanciais devido à baixa taxa de investimento da economia
brasileira e às ações anti-investimento privado do governo brasileiro (vide
novo marco regulatório do pré-sal, lambanças da Eletrobrás etc), dentre as
quais se destaca o recente esforço para depreciar o câmbio real, com o conseqüente
encarecimento relativo do preço do investimento.
Então nos
restam os ganhos em produtividade. Uma das possíveis fontes para aumentos na
produtividade são melhorias na infraestrutura, por exemplo estradas,
aeroportos, telecomunicações, portos. Não consigo esperar muito deste canal, baseado
na experiência do atual governo na área de infra-estrutura e sua atitude com
relação ao investimento privado. Um boom de investimento em infra-estrutura no
Brasil parece-me tão provável quanto a Gisele...
Outra
possibilidade é que dado um mercado de trabalho aquecido, setores mais
produtivos da economia expandam em detrimento de setores menos produtivos, assim
aumentando a produtividade média da economia. Nesta área os erros de política
são talvez os mais penosos, pois nosso governo tem uma tendência de ceder a
todos os apelos de setores sob pressão competitiva, fechando assim este
mecanismo. O protecionismo é uma política extremamente perversa para uma
economia perto do pleno emprego, pois os empresários dos setores protegidos não
têm incentivo algum para melhorar sua produtividade ou investir em capacidade (mesmo
porque não podem ter certeza que a proteção será permanente), mas ainda assim
põem em cheque as perspectivas de crescimento dos setores de produtividade mais
alta.
Então
quando alguém me diz que o Brasil tem uma taxa de crescimento potencial de 4.0%
no médio prazo... isto me informa mais sobre a qualidade do analista do que qualquer
outra coisa. O que me traz para a afirmação do professor Lozardo no Globonews
que economistas do mercado financeiro teriam um viés pessimista. Au contraire, eu diria que economistas
do mercado financeiro são pagos para ter um viés otimista. Primeiro, quanto maior
a visão otimista que investidores locais e estrangeiros têm sobre as
perspectivas da economia brasileira, maior o volume de transações que pagam comissão
e alimentam o estilo de vida de nossos economistas de mercado; segundo, os
economistas de bancos grandes (principalmente) sofrem pressão para não divergir
da visão oficial e quando divergem, fazem-no com mais deferência do que o
oficialismo merece. Por isso mesmo, qualquer leitor experiente de relatórios
de economistas de mercado sabe que se a projeção de crescimento para 2013 é 4.0%
ou os 3.7% do Focus de hoje, neguinho quis dizer 3.0% e olhe lá!
31 comentários:
Alguém já teve acesso a nova apresentação/ao novo cenário do CS para 2013/14? Nos últimos anos, eles sempre tiveram um call na contramão do mercado e, invariavelmente, estavam certos (nao necessariamente nos valores -que de fato pouco importam, mas na trajetória da economia e suas variantes).
Ainda nao vi.
Porque analisar crescimento baseado somente no lado da oferta?
Crescimento econômico é muito mais uma questão de instituições do que de trabalho, capital e produtividade... Acho que vc tá desatualizado hein "O"...
Ver, dentre outros Lisboa (2010)... http://mansueto.files.wordpress.com/2010/09/discursofinal.pdf
É corremos risco de deflação com o pib crescendo abaixo do potencial.
Na semana passada o CS estava com call de 4.0% p PIB 2013. Nao sei se ajustaram depois do pibinho trimestral.
"O", não se esqueça que a PTF é uma medida de nossa ignorância e que ela aumenta muitas vezes de uma forma "misteriosa". Quanto a questão da depreciação do câmbio, de fato ela encarece os investimentos, mas também aumenta o retorno dos exportadores. Quanto às instituições, como mencionado anteriormente, elas afetam o crescimento via fatores de produção e/ou produtividade, não tem escapatória...
“Porque analisar crescimento baseado somente no lado da oferta?”
Isso é uma afirmação ou uma pergunta? Digo isto porque na língua portuguesa devemos usar “por que” quando perguntamos.
Mas assumindo que fazes uma pergunta, respondo:
Porque o lado da oferta é o fator determinante do PIB brasileiro enquanto estivermos com as taxas de desemprego no nível que estão.
“Crescimento econômico é muito mais uma questão de instituições do que de trabalho, capital e produtividade... Acho que vc tá desatualizado hein "O"...”
Não estou, criança.
A análise que eu fiz não guarda nenhuma inconsistência com uma análise baseada em instituições.
É como se estivéssemos discutindo se o vietnamita morreu por causa da bala que penetrou seu coração, porque houve uma explosão dentro da câmara do fuzil do marine americano ou porque o Kissinger é um filho da puta.
Uma palestra (em espanhol)do Jesús Fernández-Villaverde muito interessante sobre a economia espanhola:
http://economics.sas.upenn.edu/~jesusfv/Conferencia.pdf
Os governo brasileiro deveria ficar de olho em algumas das reformas que devem ser feitas na Espanha.
"Alguém já teve acesso a nova apresentação/ao novo cenário do CS para 2013/14?"
O economista-chefe, embora não fale em PIB potencial, deve ser um péssimo analista pelo critério do "O"...
http://www.valor.com.br/brasil/2925698/de-novo-na-contramao-credit-suisse-preve-4-de-crescimento
Não obstante, se eu tivesse que apostar, apostaria mais no pessimismo.
Mas acho a entrevista boa. O cara foi ridicularizado injustamente pelo ministro, poderia vir com um papo de "não falei?", mas faz uma argumentação equilibrada, embora acho que subestime o problema da mão-de-obra.
alex, seu nome esta aparecendo com tudo nos meios, e mais ainda no boca a boca que é o que vale
parabens pela paciencia
abrx
luiz
Meus caros,
A análise é sem sentido e claramente tendenciosa. Tudo bem, todos os pontos levantados são corretos, mas o analista se esquece (maldosamente?) de coisa mais relevante.
O governo silenciosamente prepara uma grande revolução em duas áreas a ser implementada até o fim do ano. Na primeira, serão feitas grandes reformas institucionais de cunho microeconômico que melhorariam absurdamente nosso ambiente de negócios, melhoraria nosso marco jurídico, aumentaria muito a proteção aos nossos investidores entre outros.
A segunda revolução (que ocorrerá até o final do ano) ocorrerá na educação, garantindo a universalização de nosso ensino básico, cataputando sua qualidade para níveis coreanos.
As duas revoluções permitiriam um aumento de nossa produtividade que permitiria este crescimento previsto. Tem que ser muito pessimista (ou seria má-fé) para não acreditar nisto.
Saudações
PS: "Por que usar o lado da oferta?" "Por que não trabalhar com instituições no lugar da capacidade produtiva do país (seu DESATUALIZADO)". Este blog é muito divertido!!!!!
Bom, eu já tendo a ser pessimista pelo:
1)Alto crescimento no gasto com previdência, que #*&derá (ainda mais) o gasto publico no médio-longo prazos;
2)Baixa escolaridade macro, resultado de baixo investimento e, ainda mais, do baixo interesse da maioria das pessoas em estudar adequadamente;
3)Falta de políticos com capacidade de formular planos/leis que visem o longo prazo (ex. marcos regulatórios adequados), reflexo da população que também não pensa no longo prazo;
4)Questões climáticas (polêmico), que afetará commodities agrícolas severamente no médio-longo prazos no Brasil.
Aqui muito se fala sobre as adequadas políticas econômicas visando o combate de inflação pelo BC e a carga tributária pela Fazenda. Tenho minhas duvidas se isso é o maior dos problemas e se possuem alguma eficácia sem se debruçar sobre os outros problemas primeiros.
Resumindo: o Brasil não cresce mais que 3% - 3,5% nos proximos anos, salvo aumento na exploração dos recursos ambientais; ou resolver todos os pontos acima cumulativamente.
Não tenho palavras para enfatizar o quanto eu discordo do economista do Credit Suisse. Vade retro.
Sobre:
Meus caros,
A análise é sem sentido e claramente tendenciosa. Tudo bem, todos os pontos levantados são corretos, mas o analista se esquece (maldosamente?) de coisa mais relevante.
O governo silenciosamente prepara uma grande revolução em duas áreas a ser implementada até o fim do ano. Na primeira, serão feitas grandes reformas institucionais de cunho microeconômico que melhorariam absurdamente nosso ambiente de negócios, melhoraria nosso marco jurídico, aumentaria muito a proteção aos nossos investidores entre outros.
A segunda revolução (que ocorrerá até o final do ano) ocorrerá na educação, garantindo a universalização de nosso ensino básico, cataputando sua qualidade para níveis coreanos.
As duas revoluções permitiriam um aumento de nossa produtividade que permitiria este crescimento previsto. Tem que ser muito pessimista (ou seria má-fé) para não acreditar nisto.
Saudações
PS: "Por que usar o lado da oferta?" "Por que não trabalhar com instituições no lugar da capacidade produtiva do país (seu DESATUALIZADO)". Este blog é muito divertido!!!!!
Digo:
Apesar da época Natalina, não acredito em Papai Noel...
“O governo silenciosamente prepara uma grande revolução em duas áreas a ser implementada até o fim do ano. Na primeira, serão feitas grandes reformas institucionais de cunho microeconômico que melhorariam absurdamente nosso ambiente de negócios, melhoraria nosso marco jurídico, aumentaria muito a proteção aos nossos investidores entre outros.”
Hahaha… ênfase no ‘silenciosamente’. Consigo até imaginar o Márcio Holland, Nersão Barbosa e Fernando Pimentel sentados em volta de uma mesa brincando de mímicos.
“A segunda revolução (que ocorrerá até o final do ano) ocorrerá na educação, garantindo a universalização de nosso ensino básico, cataputando sua qualidade para níveis coreanos.”
Ênfase no ‘cataputando’… Até onde eu sei quem gostava de cataputar era o moluscão.
Cataputando é ótimo mesmo.
Dantas
Eu gostaria realmente de saber se o anonimo lá acredita no que disse. É incrível o que as pessoas falam por aí.
"Eu gostaria realmente de saber se o anonimo lá acredita no que disse. É incrível o que as pessoas falam por aí."
Nao notaste uma ponta de ironia?
Alexandre e O,
Conheceis o Daniel Dantas? Ele é bom?
abs
Anônimo says: 4 de dezembro de 2012 09:41
Muito interessante citar essas duas revoluções, fundamentais, além de citar, também, a Coréia do Sul.
Só faltou dizer que a Coréia do Sul fez sua revolução educacional ao longo de 50 anos de investimentos na área. Para colher os frutos, exatamente, 50 anos depois. Isso deve ser apenas coincidência, não é?
Difícil imaginar que iniciando no final de 2012, já no fim estamos, para obter resultados melhores que os 50 anos da Coréia do Sul.
O que uma genialidade tamanha estava fazendo desde 2003, para não ter gerado esse efeito virtuoso?
Será que fez, mas a "mídia" não divulgou?
Ponta de ironia escrevendo "cataputar"?
Educação em níveis coreanos?
Com que professores? Coreanos?
do Norte ou do Sul?
Uma pessoa que faz um comentário desses só pode ser duas coisas:
- da caterva aliada do PT (e portanto um beneficiário)
ou
-Completamente mentecapto (No sentido que a palavra possui em Don Quixote)
Décio
É incrível como as pessoas levam a sério (como se fosse verdade) uma coisa que foi claramente colocada em tom de ironia... Caros "O"e Alex, vocês que gostam de abusar da ironia devem estar confundindo muito seus seguidores...
Agora o exmo. ministro vai pedir para o IBGE revisar o PIB. E' muita vontade de ser argentino.
Meus caros,
Tudo bem, fiz um erro de portugues mesmo. É a vida. Mas o comentário era para ser engraçado!!!! Grande revolução institucional e educacional em 20 e poucos dias? Agora, dados os comentários que acontecem aqui, até entendo pensarem que eram sérios.
Saudações
põem em xeque. com x.
não sei se o pessoal de mercado superestima crescimento. em 2002, 2004, 2006, 2007 e 2008, o PIB cresceu mais do que o FOCUS previa.
Assim que 'funfa' o 'sell side', tem que rodar a boleta, ué,...
Eu prefiro ganhar dinheiro do que estar certo,... rs, rs
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