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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Para pensar

Estava atualizando meus dados de taxa real de câmbio (contra o dólar) e montei o seguinte gráfico mostrando a evolução do real (BRL) e do peso argentino contra o dólar. Como os dados oficiais de inflação argentina subestimam a inflação verdadeira, usei também a medida de inflação da consultoria Buenos Aires City. A inflação americana é medida pelo PPI cheio (que captura melhor os preços de bens comercializáveis). Os resultados aparecem no gráfico abaixo.


O curioso é a semelhança no comportamento da taxa real de câmbio até o choque do terceiro trimestre de 2008, bem como o retorno das taxas de câmbio a aproximadamente os mesmos níveis após a superação da fase mais aguda da crise. Só não é mais curioso para quem se recorda que os termos de troca de ambos os países refletem de perto o comportamento de preço de commodities (Argentina um pouco mais sensível a petróleo, Brasil um pouco mais a minérios/metais, e ambos muito expostos às "soft commodities").

Conclui-se disto que:

(1) A política de manutenção de uma taxa de câmbio supostamente subvalorizada ("competitiva") na Argentina não resistiu à aceleração da inflação (provavelmente porque a política monetária que apoiou a intervenção não-esterilizada não foi a adequada à manutenção de inflação sob controle);

(2) Quando a crise adveio, e a taxa nominal de câmbio se depreciou no Brasil, mas não na Argentina, o ajuste do câmbio real foi mais intenso no Brasil. Isto parece decorrer de preços de bens e serviços serem mais vagarosos para se ajustar do que a taxa de câmbio (como dizia Friedman, a vantagem do câmbio flutuante é que apenas um preço precisa se ajustar). É possível que a saída mais rápida da crise no caso brasileiro esteja, ao menos em parte, associada à reação da taxa real de câmbio no pior momento da crise, mitigando o efeito sobre a economia doméstica;

(3) Assim, o ajuste do câmbio real na Argentina implicou desaceleração mais forte da inflação lá, já que o repasse de preços internacionais não foi mediado pela taxa nominal de câmbio.


Trata-se obviamente de um caso particular, não de um estudo econométrico de larga escala, embora as semelhanças entre os dois países (exportadores de commodities, com taxas de poupança relativamente reduzidas) deem mais peso à conclusão. Este resultado sugere que a estratégia de manter taxas desvalorizadas de câmbio em ambientes de baixa poupança (e choques positivos de termos de troca) não funciona tão bem como nossos quermesseiros insistem. As taxas nominais podem até se manter, mas esta combinação de política monetária e cambial não consegue manter a inflação sob controle para que a desvalorização nominal se torne desvalorização real.

Se tiver tempo estendo isto para outros países da região.

18 comentários:

A Argentina não ia dar calote?

Cadê?

Tem um post no blog do Nassif que elucida o pensamento econômico do inventor da internet. Não é sobre economia, é sobre literatura. Parece que um dos livros considerados indispensáveis pelos comentaristas de lá é "Eram os deuses astronautas." Realmente os desenvolvimentistas são de outro planeta! http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/01/29/livros-de-cabeceira/comment-page-3/#comment-932509

"A Argentina não ia dar calote?

Cadê?"

Na frente do seu nariz, na verdade. Consegue ver? Não?

Olhe de novo para o primeiro gráfico do post, que mostra a diferença entre a taxa real de câmbio calculada pela inflação oficial e a taxa real de câmbio calculada por uma estimativa do que seria a inflação verdadeira.

A primeira mostra um câmbio real (número índice) de cerca de 105; a segunda de 75 (aproximadamente). A diferença entre um e outro é cerca de 40%, devido à fajutada nos índices de inflação.

Isto é só para mostrar que o número estava visível. Na ponta do lápis (Excel, na verdade), a diferença entre a inflação verdadeira (77%) e a oficial (25%) desde dez-06 equivale a 42%. Ou seja, os papéis indexados à inflação foram "tungados" em 42%.

Na Dimensão Z (de zurro, é bom lembrar) isto pode ter outro nome; no planeta Terra chama-se calote.

Nota:

A moderação de comentários no Blogger está com um problema geral. Nem sempre eu consigo ver os comentários, mas, quando eles finalmente aparecem, eu tenho conseguido liberá-los.

Você citando o Friedman? Ta doente !!

Só para não perder o hábito...

O professor Oreiro escreveu no blog dele uma réplica ao artigo dos professores Pedro C. Ferreira e Renato Fradelli Cardoso. A réplica dele só mostra o que ele não entendeu do artigo e expõe uma contradição na proposta dos "neo-desenvolvimentistas".

No artigo demonstra-se como uma elevada taxa de poupança interna permite ao Banco Central intervir no mercado de câmbio para desvalorizá-lo sem criar, entre outras coisas, pressão inflacionária. No caso da China, a elevada poupança interna cria quase um mercado cativo para a venda de títulos públicos emitidos para esterelizar a emissão monetária.

No artigo não é dito que é a existência da poupança interna elevada por si só, como afirmou o Oreiro, irá desvalorizar o câmbio. O que ela faz é ampliar o poder de intervenção do Banco Central.

Então, as pressões de valorização do yuan são contidas pelas intervenções que o governo chinês faz usando a elevada poupança interna para esterelizar a oferta monetária. Ao tentar vender a idéia de que o câmbio desvalorizado é uma decisão de política, o professo Oreiro tenta minimizar o enorme lastro que sustenta esta decisão, que é a existência da elevada poupança interna.

E aqui vemos surgir uma contradição do Oreiro.

Primeiro ele diz que parte da proposta neo-desenvolvimentista é um ajuste fiscal, ou seja, uma forma de elevar a poupança publica. Mas sabemos que uma elevação da poupança interna, seja privada ou principalmente a pública, permite a desvalorização do câmbio.

E aí não precisaríamos do pacote de propostas neo-desenvolvimentistas. Como salvar as propostas neo-desenvolvimentistas então?

Mas aí vemos o pulo do gato do professor Oreiro, uma verdadeira pirueta téorica.

Quem vai se desvalorizar é a "taxa real de câmbio de equilíbrio", mas se não mudarmos o "modus operandi" da política cambial, a "taxa real de câmbio de mercado" (que parece ser a mais importante para ele) não irá sofrer efeito nenhum.

Parece que esta "taxa real de câmbio de mercado" não sofre efeito nenhum da poupança interna, dos raios solares, das chuvas, terremotos ou qualquer coisa assim. Ela obedece apenas às decisões e devaneios de alguns sábios e não está nem aí para nenhum fundamento ou princípio econômico. Só obedece ao dono.

E gostaria de entender como foi possível ao Brasil apreciar previamente o câmbio para atrair poupança externa, como foi dito no primeiro parágrafo da réplica dele.

"Você citando o Friedman? Ta doente !!"

Ao contrário de você, eu entendo o que o Friedman escreveu.

Na Dimensão Z (de zurro, é bom lembrar) isto pode ter outro nome; no planeta Terra chama-se calote.

Então vale a pena dar calote, o PIB argentino não caiu mais do que muitos outros por aí...

"Então vale a pena dar calote, o PIB argentino não caiu mais do que muitos outros por aí..."

Z de zurro em várias categorias.

1) por acreditar que os números do PIB argentino sejam minimamente confiáveis;

e (e muito mais importante)

2) por não ter se perguntado (como todo economista deve fazer o tempo todo), o que teria ocorrido com o PIB argentino se não tivesse dado o caloete (nem adotado as outras políticas cretinas).

Para usar um mote que empreguei no passado, a lógica não difere da expressa no samba:

"Eu bebo sim,
Estou vivendo
Tem gente que não bebe,
Está morrendo"

Se você ainda não entendeu, o problema é saber quanto a mais viveria o bebum caso mostrasse menos apreço à cana e quanto a menos viveriam os abstêmios se apreciassem o "mé".

"Então vale a pena dar calote, o PIB argentino não caiu mais do que muitos outros por aí..."

Você aparentemente não deve ter nenhum contato com argentinos...

Rogério novamente falando besteiras por aqui...
Desde já vou deixar claro que não concordo com o Oreiro, mas o Rogério fala besteira, e aí ao corrigí-lo, ele tenta usar a estratégia retŕica de me aproximar do Oreiro. Dito isso, vamos às ignorâncias de quem não estuda e gosta de palpitar.

Quando falamos em desalinhamento cambial, estamos falando que a taxa de câmbio está maior ou menor que alguma taxa de referência. Essa taxa, no caso em questão, é a taxa real de câmbio de equilíbrio. O que ela significa?

Essa não é uma taxa observável. Ela é construida a partir de modelos econométricos. Você investiga quais variáveis tem relação de longo prazo (cointegração) com a taxa de câmbio (mercado). As variáveis relevantes (dentre elas está a poupança) são então incluídas no modelo e esse diz qual seria a taxa de câmbio dada pelos "fundamentos". Isso é a taxa de equilíbrio.

No longo prazo a taxa de mercado coincidirá com a taxa de equilíbrio (por definição), mas nada garante que isso ocorra no curto prazo. Portanto, o câmbio pode estar sobreapreciado (desalinhado para baixo) devido a qualquer outro fator que não os incluídos no modelo.

Em suma, aumentar a taxa de poupança tende a fazer com que a taxa de câmbio real se desvalorize em relação a taxa antes em vigor. Mas essa mudança nos "fundamentos" será captada pelo modelo, e portanto, tudo o mais constante, as duas taxas (equilíbrio e de mercado) se desvalorizam. Ou seja, o gap permanece. Entendeu burrinho?

O problema com a argumentação do Oreiro é que ele assume que a taxa de equilíbrio mudaria, mas a taxa de mercado não, o que é uma bobagem.

Abraços burrinho!

"O problema com a argumentação do Oreiro é que ele assume que a taxa de equilíbrio mudaria, mas a taxa de mercado não, o que é uma bobagem."

Concordamos numa coisa, este Oreiro só fala bobagens.

Mas você deve ir lá explicar isto para o Oreiro. Já que você é tão preocupado com a ignorância das pessoas, faça um favor ao país e a ele. Explique o que você acha que sabe, e ajude a elevar nível do debate.

Mas a bobagem, como você mesmo disse, de assumir que a "taxa real de câmbio de mercado" não mudaria, é a janela aberta para permitir as bizarrices dos autoproclamados "neo-desenvolvimentistas".

E esta é a questão central: tentar salvar as propostas da quermesse com base numa bobagem.

“Em suma, aumentar a taxa de poupança tende a fazer com que a taxa de câmbio real se desvalorize em relação a taxa antes em vigor. Mas essa mudança nos "fundamentos" será captada pelo modelo, e portanto, tudo o mais constante, as duas taxas (equilíbrio e de mercado) se desvalorizam. Ou seja, o gap permanece. Entendeu burrinho?”

Você está errado junto com o Oreiro.

A taxa de poupança não afeta a taxa de câmbio de equilíbrio, mas sim apenas a taxa de câmbio ‘de mercado’.

Se você tiver alguma dúvida, eu explico, mas eu gostaria que o menino ousado pensasse no assunto por si próprio.

Caro "O", obrigado pelo "menino".
Se você usa um modelo para o câmbio de equilíbrio em que a variável taxa de poupança está nele, não vejo como, tudo o mais constante, a taxa de equilíbrio não vá mudar...
Não mudaria caso o coeficiente dessa variável seja zero (não é esse o caso), ou se ouvesse alguma outra variável inversamente relacionada com ela, o que seria um problema...

Ah Rogério, eu já tentei explicar, mas o rapaz censura tudo!

“Se você usa um modelo para o câmbio de equilíbrio em que a variável taxa de poupança está nele, não vejo como, tudo o mais constante, a taxa de equilíbrio não vá mudar...”

Se eu tenho uma tia com barba, ela é um tio. Acontece que não só minha tia não tem barba, como não conheço um único argumento convincente que uma maior taxa de poupança depreciaria a taxa de câmbio de longo prazo.

Na realidade, existe uma argumentação teórica bem simples e convincente que um aumento permanente da taxa de poupança aprecia a taxa de câmbio de longo prazo, enquanto depreciando-a no curto prazo. Este aliás vai ser meu próximo post.

Leu e não entendeu.Se entedesse não defendenria o pacote de 700 bi para salvar o sistema financeiro.

"Se entedesse não defendenria o pacote de 700 bi para salvar o sistema financeiro."

Isto mesmo. Na Dimensão Z Friedman jamais escreveu a História Monetária dos Estados Unidos"