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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aritmética malvada

A renda per capita PPP do Brasil hoje (2009) é 22.5% da renda per capita PPP dos Estados Unidos. Para o Chile, a fração é 30.7%. Se continuarmos crescendo a 3.5% ao ano, com um crescimento populacional de uns 1%, nossa renda per capita vai crescer a 2.5% ao ano. Se os EUA crescerem a 1.5% ao ano, nós só vamos alcançar a posição relativa do Chile hoje em 2039.

53 comentários:

Por que 3,5%? no governo Lula nós crescemos mais em média...

Alexandre:

Agora voce ja pode comprar o seu ebook (nas lojas daqui algumas semanas)

http://www.engadget.com/2010/01/27/live-from-the-apple-tablet-latest-creation-event/?sort=newest&refresh=0

PIG

"Por que 3,5%? no governo Lula nós crescemos mais em média..."

3.5% é exatamente a média do crescimento do Brasil durante o governo Lula até agora.

3.5% é a média de crescimento APÓS a mudança na regra de cálculo q entre outars coisas, revisou para baixo o crescimento anterior.

Vai reclamar com nosso produto potencial que não deixa mudar muito esse quadro ai nao...

"O" e Alex,

Como fazer para o Brasil crescer a taxas chinesas em torno de 10%? É possível?

Meu Deus, que post cretino. Chega-se a conclusão que temos que acelerar nossa taxa de crescimento. Nossa...que brilhante!

Saudades do tempo em que o blog era apenas do Careca.

abs a todos

SEM 2009, QUE AINDA NAO FOI DIVULGADO E FOI TOTALMENTE ATIPICO O CRESCIMENTO FOI DE 4,2%

Porque não perguntar aqui nessa minha fonte preferencial de comentário se gostaram do discurso do Obama?

“Como fazer para o Brasil crescer a taxas chinesas em torno de 10%? É possível?”

Sim, é possível. Basta fazer uma revolução comunista, exilar ou matar a vasta maioria dos capitalistas, destruir a agricultura via reforma agrária e assim gerando uma fome que mate uns 3 milhões de brasileiros, e depois faça dos adolescentes uma tropa de choque para disciplinar os adultos educados.

Com todas essas ‘reformas’, num período de uns 40 anos, nós podemos fazer nosso PIB baixar para o nível de Honduras.

Quando chegarmos lá no fundo do poço, nós mudamos de ideia e começamos a abrir o país para ter um crescimento chinês.

“SEM 2009, QUE AINDA NAO FOI DIVULGADO E FOI TOTALMENTE ATIPICO O CRESCIMENTO FOI DE 4,2%”

¾ de 2009 já foram divulgados.
Por que você acha que 2009 é atípico? Explica para mim.

"Por que você acha que 2009 é atípico? Explica para mim."

Porque foi reflexo da pior crise em 80 anos?

Eu chamaria um evento que acontece a cada 80 anos de atípico, vc não?

"Como fazer para o Brasil crescer a taxas chinesas em torno de 10%? É possível?"

Fora destruir a economia e depois reconstruí-la (abordagem já tratada pelo "O"), podemos adotar outros elementos da estratégina chinesa e:

1) Acabar com o INSS
2) Acaber com o SUS
3) Acabar com qualquer rede de proteção social
4) Descontentes serão fuzilados e a bala cobrada da família.

A combinação de (1), (2) e (3)deve aumentar boçalmente a poupança doméstica acelerando o crescimento. (4) manteria a população sob o tacão do governo.

P.S. Como tem gente que não entende ironia (eu mesmo dei várias mancadas a respeito) é bom avisar que é se trata de brincadeira.

“Porque foi reflexo da pior crise em 80 anos? Eu chamaria um evento que acontece a cada 80 anos de atípico, vc não?”

Eu discordo desse argumento. O crescimento da economia mundial durante os 7 anos do governo Lula foi de uns 3.5%, ligeiramente mais ALTA que a taxa de crescimento médio da economia mundial nos últimos 40 anos. Então se a crise de 2008-09 foi atípica, o mesmo pode se dizer dos anos imediatamente anteriores a esta crise.

Se levarmos em conta que existem vários fatores que vão desacelerar a economia mundial nos próximos anos (mais regulação do mercado financeiro, acumulação de dívida pública nos países avançados etc), é razoável acreditar que o cenário externo para o Brasil vai ser mais complicado daqui para a frente do que em anos passados.

Portanto assumir 3.5% de crescimento no longo prazo para o Brasil é de bom tamanho.

“Eu chamaria um evento que acontece a cada 80 anos de atípico, vc não?”

A cada 80 anos? Teremos outra em 2089?

O que há em 2009 é a efetividade deste mundo como “uma simetria passageira; uma ordem momentânea”.

Não há prova lógica e empírica possível para a assertiva dos eventos que se repetem de tempos em tempos na história. O que é efetivo é o modo de produção capitalista e a contingência histórica que lhe advém. Marx, epígono de Hegel, difundiu no século XIX a idéia mirabolante de que crises cíclicas no capitalismo seriam inexoravelmente superadas, em um movimento de espiral ascendente, pela força das suas contradições dialéticas, o que fatalmente conduziria toda a humanidade ao seu destino final e necessário, i. é., o comunismo. No século XXI, a mitologia reinante “do outro mundo possível”, bem como a sua versão mitigada pelo pomposo slogan "Back to the British Museum" de Jon Elster para a “nova esquerda”, é herança maldita de Hegel.

Como não é possível afirmar que o capitalismo é parte da obra de Deus, simplesmente porque não há evidência de que o Altíssimo tenha se preocupado com questões de economia, então só podemos dizer que nenhuma Razão engendrou na história esse fluxo ontológico do qual nos fala Marx, epígono de Hegel.

Prefiro Diderot: Dissipam-se "mundos estropiados, falhados" e numa rapidez sucedem-se "seres que se encadeiam, se impelem e desaparecem..."

"Qu'est-ce que ce monde, monsieur Holmes? Un composé sujet à des révolutions, qui toutes indiquent une tendance continuelle à la destruction; une succession rapide d'êtres qui s'entre-suivent, se poussent et disparaissent: une symétrie passagère; un ordre momentané" (Lettre sur les aveugles)

O problema é garantir essa média de 2,5% de crescimento da renda per capita. Se olharmos o passado recente do país, tomando como início a década de 70, veremos que a economia cresceu e depois sucumbiu. Agora temos uns suspiros de crescimento. Mas qual a base de um crescimento sustentável? Progresso tecnológico e, para mim e alguns economistas, instituições. Sem entrar em detalhes e considerando a recuperação mequetrefe do emprego que hoje os jornais retratam, o que vimos? O emprego cresceu basicamente para empregadas domésticas e peão de obra. Tudo a ver com progresso tecnológico e instituições. Assim, malvada seria outra coisa.

Alex

Vc tem intenção de postar algo sobre a carteira de crédito (R$ 25 bilhões) que as construtoras têm a receber?

E mais, na mesma linha; sobre a expansão "frenética" (grifo meu) da oferta de crédito imobiliário feita pela CEF nos anos recentes.

Argumenta-se que, com a TR - significando uma taxa de juros subsidiada de financiamento, esse "mecanismo" de expansão do setor estaria garantido.

Poderíamos "pensar" - ainda que de leve - em bolha imobiliária?

Faço essa pergunta por pesquisar in loco a expansão dos valores dos imóveis recentemente, na verdade de uns anos para cá.

Grato

Martins

"Qu'est-ce que ce monde, monsieur Holmes? Un composé sujet à des révolutions, qui toutes indiquent une tendance continuelle à la destruction; une succession rapide d'êtres qui s'entre-suivent, se poussent et disparaissent: une symétrie passagère; un ordre momentané" (Lettre sur les aveugles)

foda-se

Que chiliquento o anonimo da 17:34... Parece até que está faltando prozac nestas bandas.

“Poderíamos "pensar" - ainda que de leve - em bolha imobiliária?”

Eu digo que sim. Estou curioso para saber o que vocês acham.

"O" Anonimo

Para continuar sua enquete. SIM!

Na verdade, não só penso como observo uma semelhança quase que simétrica com outros casos, sejam passados aqui ou em outros países.

Os números do setor e sua recente (e vertigionosa) explosão são expressivos para uma economia sem essa tradição de crédito.

Qual seria o "volume de crédito / PIB" ideal (ótimo) para o Brasil?

Forte Abraço

Martins

Caro "O",
Eu sinceramente acho prematuro dizer que há uma bolha no mercado imobiliário. Era visível uma grande demanda reprimida no setor, o que dificultava era SFH(crédito), não vejo tbm, ao menos em SP, os preços subirem tão assertivamente assim, então por enquanto não vejo bolha. O grande problema me parece ser o "funding", que via FGTS e poupança está próximo do limite e com a pouca tradição(além da possível subida dos juros)em securitização, CRIs e LHs, deve mexer na curva de oferta.

abs

Macacada,
luz no fim do túnel para o jornalismo econômico nacional...artigo do Pedro e Fragelli no Valor Econômico de hoje...

abs
Rogério Ceni
(mais uma vez mostrando que o uso de substâncias proibidas na Holanda também é proibido na Praia de Botafogo, 190)

“Poderíamos "pensar" - ainda que de leve - em bolha imobiliária?”

Eu digo que sim. Estou curioso para saber o que vocês acham.


Falae projeto de Robert Shiller!

Esse sujeito que você admira "previu" o estouro da bolha americana desde 1996... Nesses 14 anos teve várias vezes em que ele pareceu certo, várias vezes em que pareceu errado (eu chuto uns 50% pra cada).

Algo me diz que esse tipo de previsão não foi muito útil.

Em tempo: pega os dados de price to rent e price to income parceiro. Falta Eugene Fama na sua vida (no bom sentido).

Eu modestamente acho que o que falta no Brasil é capitalismo...garantir e incentivar a competição é um bom começo.

Já tinha lido isso aqui.... como os desenvolvimentistas do BNDES tiram dos pequenos para dar para os grandes.... Mas vale a pena ver números recentes. Folha de S.Paulo - Alta no crédito do BNDES não chega a pequenas empresas - 29/01/2010 http://bit.ly/a6lRP3

Alex,

Seu post sobre como fazer para termos crescimento Chines foi sensacional! Pode-se escrever páginas e páginas sobre o assunto mas no final das contas é aquilo mesmo que vc escreveu. Valeu!

Ed
PS. Tem também o fato de que a população chinesa ainda é predominantemente rural, ao contrário do Brasil. A migração para as cidades, onde a produtividade do setor industrial e de serviços é bem maior do que na agricultura, deve contribuir bastante para este crescimento de 10% aa.

Valeu Ed.

Um pequeno comentário. Não há dúvida que o processo de urbanização implica um forte cescimento da PTF pelos motivos que você apontou.

Isto dito, li em algum lugar (não vou me lembrar, mas é capaz do "O" saber de quem se trata) que o processo de urbanização chinesa está mais avançado do que as estatísticas sugerem. Como nem todo mundo tem licença para morar em cidades (e trabalhar na indústria), há uma massa não desprezível de gente que formalmente ainda é contada na população rural e, na prática, já está no setor industrial.

O autor (ou autores, sei lá) faziam a ressalva que isto não tem maior relevância para um horizonte mais próximo, mas afirmaram que o processo deve acabar antes do que imaginariam os que se baseassem apenas nas estatísticas oficiais.

Abs

Alex

"artigo do Pedro e Fragelli no Valor Econômico de hoje..."

Muito bom. Aliás, o artigo original pode ser lido aqui (http://www.fgv.br/professor/ferreira/FerreiraFragelliCambio.pdf). É devastador.

Abs

Alex

Li o artigo do Frageli e Cavalcanti. O ponto crítico, para mim, em seu artigo é a defesa, sem modelo, de uma taxa de poupança elevada. Quem defende aumento da taxa de poupança, precisa primeiro explicar por que a taxa de poupança dos americanos e muitos outros países desenvolvidos são as que temos hoje aqui. Foram inclusive menores, como foram as nossas taxas de poupança antes da ditadura militar de 1964. Acho que essa turma que prega poupança elevada tem em mente um modelo tipo da ditadura de 1964 ou mesmo a dos coreanos que também estava ancorado numa ditadura. Uma das diferenças básicas entre o modelo brasileiro e o coreano é que estes saíram da ditadura bem antes da gente, sem ter em conta que, sob vários aspectos, ainda estamos numa ditadura - o que menos se tem por aqui é economia de mercado funcionando. O fato é que é difícil no Brasil encontrar economista que encare que a poupança teria que ser uma decisão privada e não governamental; a não ser que você queira colocar suas fichas num modelo estatizante. Quanto à questão previdenciária, também não gostei. Muitos sabem que esse é um dos problemas intrigantes de nossa época. A solução que os países ricos estão encaminhando, os economistas brasileiros parecem não entender. É só observar que, nesses países desenvolvidos, os impostos aumentaram passo a passo às despesas previdenciárias. No Brasil, a situação é madrasta, porque os impostos aumentaram não apenas para esse fim. Pior. Um economista deve também estar preocupado com incentivos e ética. Se tem algo de errado em economia é privilégios para alguém. Neste sentido, a previdência pública é imoral, sem falar na própria remuneração que é totalmente fora do mercado e portanto é roubo (tal qual você mediu para o câmbio). É engraçado que eles também não culpam a política monetária pelo rombo que faz nas contas públicas por, em nome de coordenação de política ou qualquer adjetivo que se queira empregar, fixarem juros que alimentam espontaneamente a dívida pública, com impactos significativos nas contas públicas. Claro, alguém tem que justificar por que os juros reais no Brasil são os maiores do mundo, inclusive maior do que o da Argentina. E mais. Tem que explicar por que só o Brasil, no contexto de metas inflacionárias, adota uma taxa selic que é a taxa que indexaram boa parte da dívida e não funciona por aqui um esquema de fixação de juros pelo Bacen, atuando diretamente no mercado interbancário.

"Acho que essa turma que prega poupança elevada tem em mente um modelo tipo da ditadura de 1964 ou mesmo a dos coreanos que também estava ancorado numa ditadura."

Eu entendo que são coisas distintas. Você pode acreditar que taxas altas de poupança só ocorrem sob ditadura, mas eu desconfio que empiricamente esta tese não se sustenta.

De qualquer forma, o que se discute não é se precisamos de uma ditadura para elevar a taxa de poupança e sim se uma taxa de poupança mais elevada acelera o crescimento e (simultaneamente) leva a taxas de câmbio mais depreciadas (o que poderia levar - como leva - muitos a acreditarem num nexo causal entre as duas coisas, quando, na verdade, são ambas resultantes da taxa de poupança),

A este respeito sugiro o trabalho da Tamara Wajnberg (disponível na internet) "Desalinhamento Cambial e Crescimento Econômico". Conclusões:

1) Controlando para poupança, desvios cambiais não parecem estar correlacionados com o crescimento econômico;

2) "Políticas de estímulo à poupança doméstica, ao mesmo tempo que influenciam o câmbio de equilíbrio" também parecem promover maior crescimento econômico."

"Uma das diferenças básicas entre o modelo brasileiro e o coreano é que estes saíram da ditadura bem antes da gente"

Não. O Brasil fez a transição para a democracia nos anos 80. Elegeu em presidente de oposição em 1985 (não levou, mas é outra história) e fez eleições presidenciais em 1989.

A Coréia fez sua transição democrática mais ou menos no mesmo período, elegendo diretamente seu presidente em 1987 (embora fosse um general do partido que governava o país sob a ditadura militar).

O primeiro presidente civil foi eleito em 1992 e o primeiro presidente de oposição foi eleito em 1997.

"O fato é que é difícil no Brasil encontrar economista que encare que a poupança teria que ser uma decisão privada e não governamental; a não ser que você queira colocar suas fichas num modelo estatizante."

A poupança é uma decisão privada e, como tal, responde a incentivos que resultam, em larga medida, de políticas governamentais. Nosso regime previdenciário desestimula a poupança privada.

Não é necessário reverter à completa ausência de rede de proteção social, como na China, para reintroduzir incentivos à poupança, como, por exemplo, poderia ser a transição do regime previdenciário do funcionalismo para fundos de pensão de contribuição definida, aliás aprovados pela reforma de 2003 (sob um regime democrático, diga-se), mas nunca levados adiante.

E, um aumento da poupança pública pela redução do gasto público, não implica que esta poupança seja necessariamente controlada pelo governo, de modo que não precisaríamos colocar as fichas num governo estatizante.

"No Brasil, a situação é madrasta, porque os impostos aumentaram não apenas para esse fim"

Não apenas, mas também por conta disso. Em 1994 as despesas previdenciárias dos dois regimes (INSS e funcionalismo) representavam em torno de 6-7% do PIB. Hoje (2008 na verdade) são 12-13% do PIB, isto é, um aumento próximo a 6% do PIB.

Neste meio tempo a carga tributária veio de 27% para 35,8% do PIB, ou seja, +8,8%. Vale dizer, quase 70% do aumento de impostos ocorreu para financiar a elevação das despesas previdenciárias.

"No Brasil, a situação é madrasta, porque os impostos aumentaram não apenas para esse fim"

Não apenas, mas também por conta disso. Em 1994 as despesas previdenciárias dos dois regimes (INSS e funcionalismo) representavam em torno de 6-7% do PIB. Hoje (2008 na verdade) são 12-13% do PIB, isto é, um aumento próximo a 6% do PIB.

Neste meio tempo a carga tributária veio de 27% para 35,8% do PIB, ou seja, +8,8%. Vale dizer, quase 70% do aumento de impostos ocorreu para financiar a elevação das despesas previdenciárias.

"Tem que explicar por que só o Brasil, no contexto de metas inflacionárias, adota uma taxa selic que é a taxa que indexaram boa parte da dívida e não funciona por aqui um esquema de fixação de juros pelo Bacen, atuando diretamente no mercado interbancário.'

O BC atua no mercado interbancário ao fixar a taxa Selic. Esta é a taxa que remunera a troca de reservas entre bancos nas transações lastreadas em títulos públicos federais.

O fato de um pedaço grande (embora descrescente) da dívida pública ser atrelada à taxa Selic tem causas, mas o BC não atuar fixando a taxa interbancária não é uma delas (mesmo porque o BC fixa a taxa de juros no mercado de reservas, como afirmei acima).

A questão é saber se:

1) Os detentores de títulos públicos no Brasil estão dispostos a migrar de aplicações pós para aplicações pré-fixadas; e

2) Se sim, a que preço?

e;

3) O Tesouro está disposto a pagar o preço para mudar a composição da dívida?

As respostas me parecem ser:

1) Sim;

2) Mas só a prêmios consideráveis; e

3) Só até certo ponto (26% da dívida é pré; 22% é juro fixo mais inflação, i.e., mais ou menos metade da dívida). Mais que isto o TN não parece estar interessado (é só ver o PAF divulgado há uns dias)

"Claro, alguém tem que justificar por que os juros reais no Brasil são os maiores do mundo, inclusive maior do que o da Argentina. "

A comparação é ruim, porque um tem a inflação controlada e o o outro não, mas a pergunta poderia ser feita relativamente ao Peru, ou ao Chile, que também têm a inflação sob controle.

Minha melhor resposta é que nestes países não há crédito direcionado/subsidiado na proporção que existe no Brasil. Em dezembro de 2009 o crédito direcionado/subsidiado representava 33% do total. Tem oscilado em torno de 30-31% desde 2005. Antes andou pela casa de 35-40% do total.

Gostei da resposta. Depois de passar o porre, responderei aos itens que tenho discordância ou observações. Afinal, hoje é sábado.

Alex disse...

“De qualquer forma, o que se discute não é se precisamos de uma ditadura para elevar a taxa de poupança e sim se uma taxa de poupança mais elevada acelera o crescimento e (simultaneamente) leva a taxas de câmbio mais depreciadas (o que poderia levar - como leva - muitos a acreditarem num nexo causal entre as duas coisas, quando, na verdade, são ambas resultantes da taxa de poupança),

.......”
Chutando a lata diz:
O meu destaque é pela ênfase na taxa de poupança como elemento chave para o crescimento que os Autores me pareceram sugerir. Fico curioso por que você não se atém às mensagens centrais dos modelos tipo Solow quanto à questão do crescimento que ressaltam que o progresso tecnológico e não taxa de poupança é o elemento dinâmico. Em essência, é essa a minha encucação: crescimento dinâmico tem muito a ver é com progresso tecnológico e não com taxa de poupança.

Alex disse...

"Uma das diferenças básicas entre o modelo brasileiro e o coreano é que estes saíram da ditadura bem antes da gente"

Não. O Brasil fez a transição para a democracia nos anos 80. Elegeu em presidente de oposição em 1985 (não levou, mas é outra história) e fez eleições presidenciais em 1989.

A Coréia fez sua transição democrática mais ou menos no mesmo período, elegendo diretamente seu presidente em 1987 (embora fosse um general do partido que governava o país sob a ditadura militar).

O primeiro presidente civil foi eleito em 1992 e o primeiro presidente de oposição foi eleito em 1997. “

Chutando a lata diz:
Discordo de sua análise. O Brasil só teve eleição direta com o Collor. Mas não é esse o ponto. O que interessa é que, segundo meu entendimento, esquemas cartoriais foram desmontados na Coréia há bastante tempo. Enquanto, aqui, eles estão funcionando a todo vapor e pior do que na ditadura militar. Acredito que essa seja uma das diferenças cruciais que poderiam ajudar a explicar trajetórias tão distintas de crescimento entre o Brasil e Coréia do Sul. A política coreana não deve ser um palco de corrupção aberta para os canalhas e fechada para o povo. Mas isso, deixo pros especialistas em Coréia. Em relação ao Brasil, me dedico a analisar a economia brasileira na linha de pesquisa do Douglass North. Você sabe o que ele falou sobre o Brasil? Se lhe interessar, sem estar apelando para o critério de autoridade, leia na veja de 2006, julho ou agosto, o depoimento de Douglass North. Assim, sem querer entrar em delongas desnecessárias, tenho visão diferente da sua sobre o processo político brasileiro que , pra mim, está longe de ser uma democracia, pelo menos uma democracia minimamente razoável.Mas esse é meu assunto e fica aqui como uma especulação.

Alex disse...

"O fato é que é difícil no Brasil encontrar economista que encare que a poupança teria que ser uma decisão privada e não governamental; a não ser que você queira colocar suas fichas num modelo estatizante."

A poupança é uma decisão privada e, como tal, responde a incentivos que resultam, em larga medida, de políticas governamentais. Nosso regime previdenciário desestimula a poupança privada.


Chutando a lata diz:

Acato a sua precisão vernacular e não há como negar que a poupança responde a incentivos de políticas governamentais. Mas isso tem que ser empregado a torto e a direito? Claro que não, principalmente para quem pensa que o orçamento público e a política fiscal têm que ser definidos nos termos em que, por exemplo, Milton Friedman coloca e eu apoio. Isso não quer dizer que não devemos explorar os efeitos de certas políticas públicas sobre a poupança e você aponta uma, através de mudanças previdenciárias, que efetivamente pode alterar a taxa de poupança como de fato ocorreu para o Chile (segundo me lembro subiu de quase nada para cerca de 17%). Mas quando discutimos sobre crescimento, geralmente tomamos essa variável como um dado. É nesse contexto que tinha expresso a idéia de que a poupança é uma variável de escolha dos agentes e não do governo, tendo em vista um orçamento nos termos que defini e o modelo de crescimento que me guio para analisar diversas questões sobre crescimento. De qualquer forma, muito boa observação.

Alex disse...
"No Brasil, a situação é madrasta, porque os impostos aumentaram não apenas para esse fim"

Não apenas, mas também por conta disso. Em 1994 as despesas previdenciárias dos dois regimes (INSS e funcionalismo) representavam em torno de 6-7% do PIB. Hoje (2008 na verdade) são 12-13% do PIB, isto é, um aumento próximo a 6% do PIB.

Neste meio tempo a carga tributária veio de 27% para 35,8% do PIB, ou seja, +8,8%. Vale dizer, quase 70% do aumento de impostos ocorreu para financiar a elevação das despesas previdenciárias.”
Chutando a lata diz:
Não entendi a sua conta. Despesa previdenciária? E as receitas, não contam? O que interessa, no frigir dos ovos, é o déficit da previdência como % do PIB. Isso tudo, sem falar na questão da contabilidade desses itens previdenciários – uma zona. Por falar nisso, sugiro que destaque, para boas comparações, o rombo que os juros da dívida pública faz nas contas públicas. Além do mais, seria interessante considerar o que é efetivamente o orçamento do governo e como suas despesas podem, no final das contas, ser financiadas – tributos, endividamento e monetização. Não quero discutir o mérito de cada uma dessas formas de financiamento. Isso é outro papo que deixo por sua conta.

Alex disse...

"Tem que explicar por que só o Brasil, no contexto de metas inflacionárias, adota uma taxa selic que é a taxa que indexaram boa parte da dívida e não funciona por aqui um esquema de fixação de juros pelo Bacen, atuando diretamente no mercado interbancário.'
.....
O fato de um pedaço grande (embora decrescente) da dívida pública ser atrelada à taxa Selic tem causas, mas o BC não atuar fixando a taxa interbancária não é uma delas (mesmo porque o BC fixa a taxa de juros no mercado de reservas, como afirmei acima).

A questão é saber se:

1) Os detentores de títulos públicos no Brasil estão dispostos a migrar de aplicações pós para aplicações pré-fixadas; e

2) Se sim, a que preço?

e;

3) O Tesouro está disposto a pagar o preço para mudar a composição da dívida?

As respostas me parecem ser:

1) Sim;

2) Mas só a prêmios consideráveis; e

3) Só até certo ponto (26% da dívida é pré; 22% é juro fixo mais inflação, i.e., mais ou menos metade da dívida). Mais que isto o TN não parece estar interessado (é só ver o PAF divulgado há uns dias)

Chutando a lata diz:
Você disse: ...Mas só a prêmios consideráveis? Por quê? O Brasil – Tesouro , empresas privadas e públicas – emitiu título no exterior em reais. Você lembra a taxa? De qualquer forma, o ponto relevante não é este e sim: Pagamos uma quantia exorbitante de juros sobre a dívida pública e parte dessa dívida cresce por conta do BACEN . Além disso, por que só o Brasil adota este esquema de política, mesmo sabendo que o prejuízo é grande? Você diria: são os spreads e coisa e tal. Eu digo: questão de política.

Agora, é claro: alguém no Tesouro ou Banco Central estaria interessado em mudar o que aí está? A questão é política e é isso que estamos fazendo aqui. Com certeza cada um dando do seu melhor.

Alex disse...
"Claro, alguém tem que justificar por que os juros reais no Brasil são os maiores do mundo, inclusive maior do que o da Argentina. "

A comparação é ruim, porque um tem a inflação controlada e o outro não, mas a pergunta poderia ser feita relativamente ao Peru, ou ao Chile, que também têm a inflação sob controle.

Minha melhor resposta é que nestes países não há crédito direcionado/subsidiado na proporção que existe no Brasil. Em dezembro de 2009 o crédito direcionado/subsidiado representava 33% do total. Tem oscilado em torno de 30-31% desde 2005. Antes andou pela casa de 35-40% do total.

Chutando a lata diz:
De qualquer forma, a sua argumentação já indica que existe algo de podre no reino das finanças governamentais. Obviamente, se o problema é este, por que não combatê-lo diretamente?

"Não entendi a sua conta. Despesa previdenciária? E as receitas, não contam? "

As receitas fazem parte da carga tributária,não? Ou seja, faz parte do aumento de impostos/contribuições/taxas que financiou parcialmente o aumento das despesas, previdenciárias inclusive.

"Em essência, é essa a minha encucação: crescimento dinâmico tem muito a ver é com progresso tecnológico e não com taxa de poupança."

Só em "steady state", não na trajetória de convergência ao "steady state". Agora se você acreditar que estamos no estado estacionário. tudo bem, mas vai ter que explicar porque países com taxas de poupança mais elevada também apresentam taxas de crescimento mais elevadas e não apenas níveis de renda per capita mais elevados (que é a previsão do modelo de Solow - ou de Ramsey).

"O que interessa é que, segundo meu entendimento, esquemas cartoriais foram desmontados na Coréia há bastante tempo. Enquanto, aqui, eles estão funcionando a todo vapor e pior do que na ditadura militar. Acredito que essa seja uma das diferenças cruciais que poderiam ajudar a explicar trajetórias tão distintas de crescimento entre o Brasil e Coréia do Sul. A política coreana não deve ser um palco de corrupção aberta para os canalhas e fechada para o povo"

Ms aí estamos falando de coisas diferentes. "Ditadura" é um conceito política razoavelmente bem-definido. O que você chamou de "ditadura" é outra coisa (cartorialismo, talvez) que realmente continua sendo uma praga, mas não nutra muitas ilusões sobre a Coreia a este respeito (em 1997/98 o "crony capitalism" foi muito criticado e a questão de corrupção lá não é moleza).

Isto dito, se estamos falando de "cartorialismo" (por falta de nome melhor, ou talvez "rent seeking"), estamos mais ou menos na mesma página, embora eu não ache que isto seja o maior obstáculo ao crescimento (e a China está aí para demonstrar).

"De qualquer forma, a sua argumentação já indica que existe algo de podre no reino das finanças governamentais. Obviamente, se o problema é este, por que não combatê-lo diretamente?"

Existe sim. Experimente mexer para cima na TJLP. Se você acha que a Fiesp dá escândalo com a Selic, aguarde para ver a TJLP subir um dia.

Boas respostas. Faço apenas as seguintes observações finais: quanto à previdência, o ponto é o seu deficit. Quanto ao modelo de solow, você sabe que taxa de poupança nao tem efeito final sobre a taxa de crescimento da economia no longo prazo.

"quanto à previdência, o ponto é o seu deficit. Quanto ao modelo de solow, você sabe que taxa de poupança nao tem efeito final sobre a taxa de crescimento da economia no longo prazo."

Só seria se a contribuição previdenciária não fosse tamém um tributo.

Sobre o modelo de Solow, sim, é verdade, mas, como afirmei, precisaríamos estar em "steady state" (e nao parece definitivamente ser o caso)

Tomo a previdencia como um acordo entre gerações e a forma de fazê-lo pode muito bem ser um sistema pay-as-you-go. Portanto, mantenho meu ponto de vista.

Discordo de você Alex no ponto de rede de proteção social.

A melhor rede de proteção social é a educação básica dependendo do caso algum voucher educação que incentive os alunos mais pobres a estudar.


Fora isso a "rede de proteção social" é um esquema de ponzi scheme.

A China cresce porque lá não tem salarío mínimo,seguro desemprego,previdencia social.O mundo deveria copar isso.

""A melhor rede de proteção social é a educação básica (...)

a "rede de proteção social" é um esquema de ponzi scheme."


Realmente, a falta de educação básica é um problema.