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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O ataque dos geiselistas

Eu nunca entendi o fascínio, o verdadeiro tesão enrustido, que os economistas “de esquerda” do Brasil têm pelas políticas econômicas adotadas pelo regime militar nos anos 70 e que causaram uma desaceleração de crescimento que durou mais de 20 anos.

A última de nossos geiselistas redivivos foi estabelecer barreiras de entrada ao mercado automotivo brasileiro via tributação seletiva, em nome de... seja lá o que for que essa jumentada chifruda acredita além de reciclar políticas fracassadas dos governos militares.

Pois não posso dizer qual foi o objetivo do aumento seletivo do IPI para veículos.

Mas qualquer economista não-babão pode dizer o que este aumento acarreta:

(1) cria uma barreira à entrada de novas montadoras no Brasil (devido à necessidade de conteúdo nacional mínimo);

(2) permite que as montadoras aumentem seus preços (e não adianta o jumento mugir, que é isso que vai acontecer);

(3) permite que as mesmas montadoras continuem operando a um custo acima do mínimo eficiente (porque não estão sujeitas às pressões competitivas);

(4) reduz o emprego na indústria automobilística no longo prazo, já que a barreira à entrada de novas montadoras tem o efeito direto de reduzir o emprego no setor, assim como a ausência de pressão para redução de custos e a proteção ao mercado doméstico reduzem a capacidade de exportação da indústria nacional;

(5) aumenta as desigualdades regionais, ao gerar rendas que serão apropriadas por uma indústria concentrada nos estados mais ricos;

(6) quebra compromissos internacionais a que nos submetemos no âmbito de acordos comerciais (WTO) e fóruns internacionais (G20), o que nos expõe a retaliações e ridiculariza as promessas feitas pelo ex-presidente Lula durante os meses mais graves da crise financeira internacional;

(7) por outro lado, existe um silver lining: com carros mais caros, podemos contar com uma redução marginal na congestão de nossas cidades.

E aí me vem a gringada da imprensa internacional dizer que a presidente quer governar com uma ‘tecnoburocracia’. Faltando um “r” talvez?


Bons tempos aqueles?

44 comentários:

Sobre a parte da OMC, não há problema. Os EUA e a União Europeia vão nos apoiar. Afinal, esta medida é uma transferência ao governo americano (quer dizer, GM), Ford, Volks, Fiat, etc.

E sabemos que eles não estão em situação de recusar!

Acho que o "O" fica segurando uma carta na manga esperando o Alex postar para entrar com as dele...

"O", a primeira vista parece muito burro, sim. Mas talvez se a gente soubesse o quanto que cada um ta' levando, nos teriamos uma ideia mais precisa.

Abracao

Sinceramente, eu tbm nao sei qual o motivo por esse "apreço" tao declarado do PT e Cia pelas medidas de politica economica da epoca dos militares. Quem sabe pq no fundo, eles desejam governar autoritariamente como os militares mas infelizmente a democracia nao deixa o PT e Cia fazer isso. Mas tbm nao devemos creditar essa culpa apenas aos politicos que estao no poder mas tbm a sociedade que votou nesse "brilhante" governo.
E nao e apenas na "proteçao a industria nascente" que as atuais medidas se parecem com os governos militares. E so lembrar o credito subsidiado aos "campeoes nacionais", a despreocupaçao com a estabilizaçao de preços e etc...

E nao e apenas na "proteçao a industria nascente" que as atuais medidas se parecem com os governos militares. E so lembrar o credito subsidiado aos "campeoes nacionais", a despreocupaçao com a estabilizaçao de preços e etc...

Eu conheço algumas dessas figuras e enquanto eu não posso saber se são honestos ou não, tenho certeza sobre suas capacidades analíticas e intelectuais.

É a cultura do Estado Patrimonialista. O Estado brasileiro é uma organização tomada por corporações. Do lado da receita, os grupos de interesse se unem para conseguir as isenções e incentivos que só beneficiam a poucos. Do lado do gasto acontece a mesma coisa, os grupos de interesse se organizam para abocanhar maiores parcelas possíveis do gasto público. Sem falar nos problemas de desperdício e corrupção. Por incrível que possa parecer, as decisões(escolhas) públicas no Brasil não são levadas a sério por não serem transparentes e estarem eivadas de vícios. Exemplo de decisão é a de se fazer a Copa no Brasil. Alguém analisou o custo de oportunidade social de se bancar este evento? Outra pergunta: quanto custou para os brasileiros o modelo SAMBA? O ministro da fazenda levou em conta o custo de oportunidade social em se fazer o referido modelo? Não seria mais barato ler os artigos do Bernanke?

"O"

Monica Baumgarten de Bolle escreveu a respeito um post delicioso

Meia Noite em Brasília [4/8/2011]

No filme de Woody Allen, toda noite o protagonista esperava pelo (espaçoso) carro antigo que o levava de volta para a Paris de outras épocas, desfrutando da convivência com alguns dos principais pintores, escritores e intelectuais da era moderna. Integrantes do governo brasileiro parecem ter se inspirado nessa fantasia deliciosa para recolher antigas relíquias da política econômica e reciclá-las com ares de ousadia. O automóvel disponível para a volta no tempo da trupe de Dilma é um Isetta, o primeiro carro produzido no País, em 1956. Toda noite, quando passa pela rampa do Palácio do Planalto, entra alguém da equipe econômica para um tour nostálgico. O problema é que o Isetta é um microcarro – algo como o tio do Mini Cooper – e só acomoda um passageiro, além do motorista. Talvez seja por isso que as políticas recicladas venham de várias épocas distintas, prejudicando a congruência, dependendo das preferências particulares de quem entra no carro, a cada noite.

Continua aqui:

http://www.galanto.com.br/monicablog/?p=1283

"that´ 70s..." foi cravada.


"Mas tbm nao devemos creditar essa culpa apenas aos politicos que estao no poder mas tbm a sociedade que votou nesse "brilhante" governo."

Cristiano, o Samuel Pessoa acredita que a sociedade já decidiu, dadas suas escolhas nas últimas duas décadas, que o país não deve ter indústria manufatureira.

eu tendo mais a concordar, pelo menos em parte, com o anônimo das 16:28. o estado foi (re)tomado (por coopção - isso é o "toma lá da cá", viu D.Dilma!?) por grupos de interesse que haviam perdido parte da força durante os anos 90. durante o califato do El Marolei eles começaram a voltar, mas este era mais hábil, controlava melhor.

isso tudo é puro chute meu, fato mesmo é a pesada maquiagem na política fiscal, o sistema de metas de inflação ter ido para o saco e o câmbio flutuante só poder flutuar para um lado (tal qual a suiça, mas ignorando a pequena diferença entre os saldos de transações correntes...).

São quase 60 anos de proteção (reserva de mercado). Como uma indústria que não é exposta à concorrência aprenderá a lutar pela sobrevivência? Difícil é ser consumidor e ter que pagar por isto. E tem economistas (esquerdinhas, keynesianos heterodoxos)que defendem estes oligopólios e colocam a culpa de tudo no neoliberalismo. Não pensam nos consumidores (esta palavra não existe para eles). Defendem até desvalorização artificial da moeda pátria (= redução voluntária do poder de compra a favor de minorias).

Anonimo 16:28,

O que o Min Fazenda tem a ver com o SAMBA?

Go check your sources..

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O,

Sobre o item 4, a medida esdrúxula não garante a ind. nacional ao menos o nosso mercado no LP? Dadas nossas ineficiências, ao que parece no Md e LP a participação dos chineses/coreanos iria continuar crescendo, não?




The Anchor

"O" fantástico seu texto. Essa é a típica política industrial defendida pelos maiores expoentes da esquerda brasileira: Maria da Conceição Tavares e Celso Furtado.

Essa ação do governo Dilma não merece nenhum elogio, mesmo que esteja correto o pensamento no último quesito por ti apresentado.

Abraço!
Sérgio Ricardo

"O", que tal a sequencia abaixo:

1- Aumenta-se o imposto imediatamente.

2- A importacao cessa.

3- Desova-se o estoque.

4- A turma estrangeira chia.

5- Retira-se o aumento.

no velho truque do poe-o-bode-tira-o-bode...


Abracao

Um em cada 10 posts, o "O" dá uma dentro!

É uma boa média, quando se compara ao Nassif... :-D

Excelente análise do “O”. Fui ver um Chery e fiquei fascinado. Comprei na hora. Vejam as características do carro que comprei por R$25.000,00, financiado em 12 meses: “ Chery QQ, motor 1.1, 16 válvulas, transmissão mecânica em 5 velocidades, com vidros e travas elétricas, ar condicionado, direção hidráulica, airbag duplo, painel digital, faróis de neblina dianteiros e traseiros e rádio AM/FM com CD Player MP3 com entrada USB.” É disparado o melhor custo-benefício do mercado. Tá vendendo horrores, isto é, tava! Agora, vai degringolar. Pobre coitado do consumidor, como diz o “O”! O governo não tem nada que se meter no mercado. Dane-se a ind. nacional, danem-se os trabalhadores, querem ganhar mais do que os chinas e gozar de mil e um benefícios. Danem-se a ind. siderúrgica e demais fornecedores de autopeças. Danem-se fulano, beltrano, cicrano, etc. Menos o "O", é claro!

Ola iconoclastas,
Eu concordo ctg perfeitamente. Eu nao escrevi sobre o que vc ressaltou para nao ficar mt grande o post. Eu apenas quis ressaltar o fato de que uma parcela da sociedade brasileira votou nesse atual governo e via democracia representativa concedeu um aval a esse governo para escolher as "melhores politicas publicas". Essa parcela da sociedade brasileira, no atual momento deveria refletir se o encarecimento de carros e uma politica publica que ela desejava quando votou em outubro/2010 no atual governo.

"Dane-se a ind. nacional, danem-se os trabalhadores, querem ganhar mais do que os chinas e gozar de mil e um benefícios. Danem-se a ind. siderúrgica e demais fornecedores de autopeças. Danem-se fulano, beltrano, cicrano, etc. Menos o "O", é claro!"

Que coisa bizarra...

Absurdo é o governo fazer a tal "política industrial" com o bolso dos outros.

Essa medida realmente parece ser uma senhora bola fora do governo

Se fosse algo pontual como proteger o mercado da competição Chinesa subsidiada pelo Estado e que ainda conta com o dumping cambial graças a manutenção da moeda desvalorizada (e , porntanto, em competição desigual)até poderia ser justificada

Mas teriam que explicitar o porque, nao apenas aumentar o imposto de todos os estrangeiros e pronto

Em tempo:

Jumento azurra, orneia, orneja, rebusna, zorna, zurra, mas não muge.

A não ser que for corno, claro!

A briga das montadoras contra os asiáticos no segmento popular (o mais relevante)r estava começando, os profissionais do ramo estavam prevendo que em 5 anos os chineses iam deter metade das vendas, e chamaram as autoridades. A China está olhando com carinho o Brasil agora, a pressão está só começando. Assim como o inflation targeting só valeu no great moderation, a abertura comercial só valeu enquanto os de sempre deixaram. Se liga, o bicho vai pegar na macroeconomia brasileira!

Nao li todos os comentários, então, arrisco ser repetitivo. É burro como medida econômica, mas protege umas das principais bases políticas e de origem do PT.

Dom e Ravel estavam errados. "Esse é Um País Que NÃO Vai Pra Frente"

Alex,

Apoie o voto distrital.

www.euvotodistrital.com.br

É liderado pelo Luis Felipe Dávila, amigo do Reinaldo Azevedo.

O Reinaldo também está apoiando firmemente.

Abraços

"Nao li todos os comentários, então, arrisco ser repetitivo. É burro como medida econômica, mas protege umas das principais bases políticas e de origem do PT."

Falou tudo. O mesmo vale para as medidas tomadas em 2009.

Quem conhece o Lula do tempo do sindicato sabe como essa coisas são acertadas. Aquela greve mais barra pesada que ele comandou, se não me engano em 79, foi "encomendada" pela VW, pois o seu presidente da época o Sauer tinha receio da instalação da Honda e consequente resposta da Toyota( que na época só produzia o Bandeirante) sobre o mercado cativo das "quatro" grandes, VW, GM, Ford e Fiat.Os japoneses ficaram muito impressionados com o que viram, tanto que suas fábricas posteriormente instaladas foram para o interior, nunca no ABC, embora a Toyota tenha uma planta gigantesca em SBC, parada. A lógica economica dessa turma é outra. Só falta eles recriarem a lei da informática........

concordo com o "O " do início ao fim. Só acrescentaria que nessa política mequetrefe também ficou a nu o Mercosul - outra farsa que envolve industrias ineficientes do Brasil e Argentina.

Se eu tiver tempo livre amanhã mesmo eu explico com mais detalhes minha assertiva que a política de proteção à produção doméstica, incentivos ao conteúdo nacional e barreiras de entrada REDUZEM no longo prazo o potencial de crescimento e o emprego da indústria automobilística no Brasil.

A chave para entender são economias de escala, o pequeno tamanho de nosso mercado e alguns erros crassos de politica comercial e industrial que insistimos em fazer.

Estamos "inovando" com um conceito inédito da CEPAL ( existe isso ainda?) de substituição de importações!!!!!!!!!!!

Trocar o farol de um carro popular no brasil custa quase o preço de uma geladeira. A indústria automobilística no Brasil é um caso para a PF e não para a Fazenda.

Realmente, é curioso pensar que estamos vivendo o mesmo debate de meados dos anos 70 entre Simonsen e Reis Velloso. O mundo ruindo e nós tentando nos descolar, crescer quando ninguém tem boas perspectivas, negando o óbvio. Mais uma vez.

É intrigante esse fetiche. Por um lado, dá para entender. São idéias que têm grande apelo inicial e retórico, mas que qualquer estudante aplicado de graduação em economia sabe que são erradas. Além disso, tem sempre os lobbies que garantem que as idéias vão para frente.

Mas por outro lado, temos 20 anos de história econômica posterior ao II PND que mostram o custo desse tipo de coisa.

Junte a teoria econômica de Furtado que sempre encantou o partido do governo, jogue os grandes amigos de longa data do poder atual e pitadas de "agora não enfrentamos mais os liberais que jogam pelas regras da OMC e sim os intervencionistas, que manipulam moedas e usam peso de seus governos para políticas industriais visando manter empregos industriais domésticos". O governo mimetizava os defeitos da França, agora vai copiar os defeitos da Coréia. Sem poupança, educação e um Estado parecidos, vamos virar Angola mesmo.

O,

Comenta por favor o novo livro do Dionisio e Thomas Política Macroeconômica:

http://www.grupogen.com.br/ch/prod/9723/3452/0/politica-macroeconomica---a-experiencia-brasileira-contemporanea.aspx

Muito obrigado.

Teorias da conspiração a parte, não seria essa uma "gambiarra" para fazer frente à outras questões?

Exemplifico:
1) Sobrevalorização cambial;
2) excesso de capacidade na indústria automobilística.

Junte-se esses fatores e temos uma situação de risco à indústria nacional. Assim, no curto prazo, o aumento da alíquota serve como quebra-galho especialmente em relação ao item 1 acima. Como não esta escrito na pedra as alíquotas podem ser diminuídas a qualquer momento.

Um benefício disto pode ser o estímulo a internalização da produçãoautomobilística. Nessa época de vacas magras qualquer mercado é mercado. A JAC divulgou nota sentando o cacete na medida mas confirmando a construção de uma planta no Brasil (aposto que devem estar se apressando agora).

Agora, que o oligopólio das montadoras nacionais tem muito a evoluir, ah, isso tem...

Indústria automobilística brasileira presente desde a década de 1950 e precisa de proteção? Para mim parece mais um filho mimado que tá na quarta faculdade aos 36 anos e não terminou nenhuma...

Att,

Joao Bosco

Vc é o RA, o uncle kng da economia

"permite que as montadoras aumentem os preços"??? elas já aumentaram... interessante que está sendo dito que o impacto é pequeno porque a medida afeta apenas 3% das vendas (importados). Se tem efeito tão pequeno, então porque mudar? Será que "eles" acreditam que somos burros e não vamos entender os reais motivos??

"Um benefício disto pode ser o estímulo a internalização da produçãoautomobilística. Nessa época de vacas magras qualquer mercado é mercado. A JAC divulgou nota sentando o cacete na medida mas confirmando a construção de uma planta no Brasil (aposto que devem estar se apressando agora)."

Este argumento não funciona e é isso que quero demonstrar no meu próximo post.

"Agora, que o oligopólio das montadoras nacionais tem muito a evoluir, ah, isso tem.."
Evoluir mais?? Já estão no estado da arte.
Fernando A.

O Sir "O" como ministro da fazenda ia entrar tb na folha de pagamento do governo chinês. Vejam:"Déficit comercial da indústria cresce 50%, em um ano, e chega a US$ 30 bi Autor(es): Por Marta Watanabe, De São Paulo Valor Econômico 20/09/2011"

São "As politicas das Viuvas do General Geisel"

"O Sir "O" como ministro da fazenda ia entrar tb na folha de pagamento do governo chinês. Vejam:"Déficit comercial da indústria cresce 50%, em um ano, e chega a US$ 30 bi Autor(es): Por Marta Watanabe, De São Paulo Valor Econômico 20/09/2011""

Não entendi. O nome do ministro da Fazenda é Guido Mantega e ele deve ser ocupado demais para escrever nesse blog.

Tecnoburocracia? Esse pessoal é capaz de ressuscitar o CIP...

"Evoluir mais?? Já estão no estado da arte.
Fernando A."

Hehe, me expressei mal. Quis dizer que tem muito a avançar em, na falta de melhor palavra, competitividade. Os nossos carros são mais caros e piores do que os estrangeiros.