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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Repetição e compromisso

Houve tempo que acreditei ser o único a me repetir nas colunas e bem que tentei me convencer que não era tão ruim quanto imaginava. Afinal, são textos de opinião e há diversas formas de expressá-las, assim como pessoas que não leram as versões anteriores e mais um tanto de argumentos para me livrar da sensação de enganar os 18 leitores. Hoje percebo que não era assim, o que – a bem da verdade – mais que uma justificativa, torna a repetição de certos temas praticamente uma obrigação.

Digo isto porque, ao abrir o jornal de segunda (no caso o Valor Econômico), me deparo com mais uma matéria reafirmando o interesse do governo em buscar novo canal com o setor privado, praticamente reprise da coluna publicada no mesmo jornal no dia 21/12/2012, a começar pelo título. A coluna original (se cabe aqui a expressão) já havia me motivado a escrever sobre a diferença crucial entre a postura favorável aos negócios e a favorável ao mercado.

Vejo, com tristeza, mas sem surpresa alguma, que o tema continua absolutamente atual.

Aparentemente o governo se mostra pasmado que sua estratégia de aproximação com o setor privado, expressa na redução da taxa de juros, desvalorização da moeda e concessão seletiva de incentivos fiscais, não tenha implicado aumento do investimento. Em particular as desonerações tributárias teriam resultado em mera elevação das margens de lucro, sem resposta da inversão.

Este desencanto, acredito, não se aplica aos 18 fiéis.

Quem leu meus comentários a respeito deste assunto à época deve (espero) ainda se lembrar da diferença conceitual (e prática!) entre políticas pró-negócio e política pró-mercado.

As primeiras visam favorecer interesses específicos de setores empresariais, e englobam favorecimentos diversos a segmentos que, de uma forma ou de outra, são eleitos para comandar a expansão da economia. Sem esgotar o assunto, incentivos fiscais, crédito em condições extremamente favoráveis, proteção contra competição externa (e mesmo interna) são alguns dos instrumentos mais conhecidos e não é difícil achar exemplos de sua aplicação mesmo antes do anúncio oficial da mudança da postura “a favor do setor privado”.

Também não é difícil perceber os incentivos que decorrem desta abordagem.

Do ponto de vista de qualquer empresa passa a ser mais interessante convencer o governo acerca de seu papel “essencial” ao desenvolvimento do país do que se preocupar em melhorar seu produto, ou aumentar a produtividade, ou buscar novos mercados. Tudo aquilo que faz da competição capitalista o motor último de crescimento torna-se secundário se os lucros podem crescer (como admitido pelo próprio governo) a partir de decisões tomadas em gabinetes.

Não por acaso, portanto, este tipo de política pode até gerar grandes empresas e lucros idem (favorecendo uns tantos amigos do rei), mas não configura uma estratégia de desenvolvimento sustentável.

Menos mal se alguma lição tivesse sido aprendida, mas a insistência na mesma matéria apenas sugere que, na falta de resultados positivos, a proposta governamental seja tão somente aumentar a dose do remédio, na vã esperança que o fracasso observado se origine da insuficiência da dose e não na natureza das políticas.

Em contraste, as reformas pró-mercado que poderiam favorecer a competitividade (simplificação de tributos, liberalização do comércio exterior, maior flexibilidade trabalhista, etc) continuam onde estiveram nos últimos sete anos: expostas ao mais cruel abandono.

O prognóstico é simples e direto: nosso investimento continuará anêmico, com níveis muito aquém do necessário para acelerar de forma decisiva o ritmo de expansão sustentável do país. E, muito provavelmente, aparecerão novas reportagens acerca das outras tentativas de engajar o setor privado com o mesmo sucesso das até agora experimentadas.


Denunciar este enfoque não é desculpa para me repetir; é mesmo obrigação.

Novos canais com o setor privado...


(Publicado 9/Out/2013)

11 comentários:

antes de qq comentário
parabéns pelo dia do professor!

correto, é sua obrigação comentar sempre e sempre, pois ser professor é muito mais do que transmitir um conteúdo especifico, é transformar mentes e expandir horizontes, coisas que esta escassa no País, nem se fale no governo. que parece o cavalo Boxer da Revoluçào dos bichoe de Orwell, seu moto continum:
farei com mais afinco dessa vez...
abraços
jcw

Alex,

Coloca alguma música dos Scorpions amanhã, no som da sexta.

Abs

Eu gostava bastante de Scorpions quando era adolescente e não falava inglês. Depois que passei a entender as letras de algumas de suas musicas, não consigo mais levar a sério -- são tão ruins que parecem até auto-paródia.

Hum!

Interessante "O", confesso que ainda estou engatinhando no Inglês, talvez então padeço disso também, mas achei legal aquele disco em Portugal, o acoustica.

Quais outras bandas de rock vc indicaria?


Aproveitando o ensejo, também estou precisando fazer uma revisão de geometria analítica, me indica lagum livro e os principais assuntos pertinenets a economia.

Abs

"Quais outras bandas de rock vc indicaria?"

Desculpe, mas Scorpions é só prá porco; lixo total. Tente algumas bandas tipo "lado B' da cena dos anos 70: tipo "Blondie","Ramones","Devo","Pretenders","Social Distortion","Television", T-Rex",... são tantas!!!

"revisão de geometria analítica..."
pegue qualquer livro sobre o assunto. Um ótimo e bem baratinho é:"Geometria Analítica e Algebra Linear", do Elon Lages Lima, IMPA.

"O",

Você é um pé no saco...

Abs

José Julio

Cheiro de substâncias liberadas na Holanda no Valor.

Corremos de fato algum risco?

Alex,

voce e judeu entao deixe-me explicar. Trata-se da aproximacao do feriado de finados, em que lembramos dos nossos mortos: a economia, a confianca na equipe economica, o dialogo com o setor privado, etc. etc.

dai a repetiacao

Wagner,

Valeu pelas indicações.

Abs

"O",

Obrigado também pela ajuda indireta hehehe.

Abs

Se você quiser ouvir algum rock recente de qualidade, procure pelo Jack White. Não canso de ouvir seu disco Blunderbuss.

Irineu