Mantega: BC é mais preciso na inflação
Para ministro, previsão de crescimento da economia feita pelo Banco Central não considera mudanças na taxa de câmbio e nos juros
23 de dezembro de 2011 | 3h 06
RENATA VERÍSSIMO , EDNA SIMÃO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, pôs em xeque a credibilidade das previsões do Banco Central (BC) em relação ao crescimento da economia. Segundo ele, as estimativas do BC "são menos precisas" porque não consideram mudanças nas taxas de câmbio e de juros. Por isso, a previsão da Fazenda é de uma expansão entre 4% e 5% no ano que vem.
A afirmação foi feita pouco depois de o Banco Central ter divulgado a expectativa de um crescimento de apenas 3,5% no próximo ano. "A previsão do Banco Central é mais precisa no que diz respeito à inflação", afirmou Mantega.
O Ministério da Fazenda trabalha com um cenário de redução das taxas de juros e de valorização do dólar em relação ao real. O ministro disse que, havendo alterações nas duas variáveis, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não ficará em 3,5%.
"O cenário da Fazenda é mais forte na questão do crescimento. Temos de ter uma projeção mais realista porque ela é usada para fechar as contas públicas e o Orçamento da União", afirmou.
Mantega disse que o Banco Central fará ajustes na sua previsão, à medida que as variáveis forem se modificando.
No entanto, no próprio Ministério da Fazenda, há técnicos que trabalham com uma estimativa de crescimento do PIB de 3,5% em 2012, conforme revelou o Estado esta semana, mas o ministro quer preservar as expectativas.
Mantega explicou que a projeção de crescimento da economia de 4% em 2012 prevê que a situação internacional continuará complicada. No entanto, disse que, se a situação melhorar, será possível uma expansão maior. "Há uma esperança de que os europeus consigam sair da crise."
* * *
Não chega a ser surpresa a escassa familiaridade do ministro com a aritmética, mas, mesmo assim, é interessante explorar o cenário em que o Brasil cresce 4% no ano que vem. Minha pergunta é: quanto o país precisaria crescer a cada trimestre para que o PIB médio de 2012 alcance 4% a mais do que o PIB médio de 2011?
No caso mais favorável, em que o crescimento a este ritmo já estivesse ocorrendo (ou seja, o PIB do quarto trimestre de 2011 já estivesse crescendo à velocidade compatível com 4% de expansão no ano que vem), teríamos que observar um ritmo de 1,16% por trimestre, isto é, algo como 4,7% ao ano.
Num caso menos favorável, com o PIB estagnado no quarto trimestre, mas compensando a partir do começo do ano que vem, a velocidade de crescimento deveria ser 1,51% por trimestre (6,2% ao ano).
Em bom português, para termos 4% de crescimento no ano que vem a expansão marginal do PIB teria que se encontrar num intervalo entre 4,7% e 6,2% ao ano. Com boa vontade, superaria por pouco o crescimento potencial, mantendo o hiato de produto entre estável e decrescente, sem efeitos desinflacionários; num cenário mais razoável, alcançaria bem acima do potencial, implicando uma redução expressiva do hiato e aumento das pressões inflacionárias.
Em outras palavras: se o Ministério da Fazenda for preciso na projeção do PIB, o BC não será na projeção de inflação; já se o BC for mesmo preciso na projeção de inflação (próxima à meta, de acordo com o Relatório de Inflação), então é o Ministério da Fazenda o impreciso na projeção do PIB.
Mas quem se importa?
A afirmação foi feita pouco depois de o Banco Central ter divulgado a expectativa de um crescimento de apenas 3,5% no próximo ano. "A previsão do Banco Central é mais precisa no que diz respeito à inflação", afirmou Mantega.
O Ministério da Fazenda trabalha com um cenário de redução das taxas de juros e de valorização do dólar em relação ao real. O ministro disse que, havendo alterações nas duas variáveis, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não ficará em 3,5%.
"O cenário da Fazenda é mais forte na questão do crescimento. Temos de ter uma projeção mais realista porque ela é usada para fechar as contas públicas e o Orçamento da União", afirmou.
Mantega disse que o Banco Central fará ajustes na sua previsão, à medida que as variáveis forem se modificando.
No entanto, no próprio Ministério da Fazenda, há técnicos que trabalham com uma estimativa de crescimento do PIB de 3,5% em 2012, conforme revelou o Estado esta semana, mas o ministro quer preservar as expectativas.
Mantega explicou que a projeção de crescimento da economia de 4% em 2012 prevê que a situação internacional continuará complicada. No entanto, disse que, se a situação melhorar, será possível uma expansão maior. "Há uma esperança de que os europeus consigam sair da crise."
* * *
Não chega a ser surpresa a escassa familiaridade do ministro com a aritmética, mas, mesmo assim, é interessante explorar o cenário em que o Brasil cresce 4% no ano que vem. Minha pergunta é: quanto o país precisaria crescer a cada trimestre para que o PIB médio de 2012 alcance 4% a mais do que o PIB médio de 2011?
No caso mais favorável, em que o crescimento a este ritmo já estivesse ocorrendo (ou seja, o PIB do quarto trimestre de 2011 já estivesse crescendo à velocidade compatível com 4% de expansão no ano que vem), teríamos que observar um ritmo de 1,16% por trimestre, isto é, algo como 4,7% ao ano.
Num caso menos favorável, com o PIB estagnado no quarto trimestre, mas compensando a partir do começo do ano que vem, a velocidade de crescimento deveria ser 1,51% por trimestre (6,2% ao ano).
Em bom português, para termos 4% de crescimento no ano que vem a expansão marginal do PIB teria que se encontrar num intervalo entre 4,7% e 6,2% ao ano. Com boa vontade, superaria por pouco o crescimento potencial, mantendo o hiato de produto entre estável e decrescente, sem efeitos desinflacionários; num cenário mais razoável, alcançaria bem acima do potencial, implicando uma redução expressiva do hiato e aumento das pressões inflacionárias.
Em outras palavras: se o Ministério da Fazenda for preciso na projeção do PIB, o BC não será na projeção de inflação; já se o BC for mesmo preciso na projeção de inflação (próxima à meta, de acordo com o Relatório de Inflação), então é o Ministério da Fazenda o impreciso na projeção do PIB.
Mas quem se importa?
17 comentários:
É preciso ter muita paciência com esse Ministro!
Quando ele diz:
"Mantega explicou que a projeção de crescimento da economia de 4% em 2012 prevê que a situação internacional continuará complicada. No entanto, disse que, se a situação melhorar, será possível uma expansão maior. "Há uma esperança de que os europeus consigam sair da crise."
Dá a impressão de que o crescimento baixo da economia brasileira se deve exclusivamente aos europeus que não deixam o Brasil crescer e nunca por problemas estruturais da economia brasileira.
Abraço.
Alex,
Mudando de assunto, você leu a notícia do Estadão que coloca que o próximo ministro da educação será o MERCADANTE?
Será que agora a educação no Brasil vai decolar para níveis escandinavos ou sulcoreanos?
hehehehe
Abraço.
Como sempre boas abordagens. Mas estou aqui hoje pra desejar um feliz Natal a você e toda família.
Abcs,
Tá na hora de alguém fazer um desafio BC vs. MF, pegando algumas previsoes de início de ano e comparando com os outcomes.
Que samba do crioulo doido
http://www.nber.org/papers/w17239
a.k.a
Mantega
Muito boa referência.
Abs
Feliz Natal!
Esse e-mail do perfil funciona?
Funciona (e bem!)
Alex,
Mais uma vez você fecha o ano com o pé direito.
Parabéns pelo seu comentário e, se eu mandasse em alguma coisa como parte do povo, eu recomendaria você para ministro.
Com certeza nossa economia encontraria um rumo.
Abraço e bom ano novo!
Sérgio Ricardo
Meu palpite é que 2011Q4 ainda vai abaixo das previsões do mercado. Dilma vai precisar de um bocado de sorte para crescer 3% ao ano em seu mandato. E para 2012, mantenho o 6.5% para a inflação, com crescimento de 3% com riscos no downside.
Olá Alex,
Um 2012 de saúde paz para você, e que continue nos brindando com suas inteligentes e elegantes reflexões.
"para 2012, mantenho o 6.5% para a inflação, com crescimento de 3% com riscos no downside".
A pergunta é: neste cenário teremos selic perto de 9% ou perto de 12%?
O BC está redefinido parâmetros desde 2010, ainda não ficou claro para mim...
Meus caros,
O Brasil cresce muito pouco ano que vêm e a inflação vai explodir. Não trabalho com macro de curto prazo, não tenho nenhum modelinho dinâmico com nome bonitinho (quando tenho algum tempo, prefiro ouvir um SAMBA e não ler a respeito dele), mas sei que estamos batendo na nossa capacidade, nossa taxa de investimento é pífia e temos implementado algumas políticas que diminuem (e não aumentam) nossa TFP. Ao mesmo tempo, existem pressões absurdas sobre as contas públicas, este grande aumento do salário mínimo e do crédito das famílias. A inflação explode e o produto mingua.
Saudações
PS: A única força positiva pró crescimento é ainda o aumento da escolaridade média causada pelo FUNDEF lá atrás.
Eu apostaria mais para 9% do que para 12%
Inflação 6,5% ou 5,5% em 2012, quanta diferença. Com a inflação permanecendo acima de 6%, o BC vai desistir do samba e partir pra seresta. Não aposto nisso ainda, mas com inflação de 6,5% os juros vão para olhar pro 12% já no segundo semestre.
Santa Imprecisão Batman!
A Fazenda projetava 5 ou 5,5% de crescimento de PIB em 2011 e o BC projetava inflação em 5,2% (relatório de inflação mar/10). Resultado de 2011, PIB em 3% (se Deus ajudou) e inflação em 6,5%. Malditos europeus!!!!
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