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quarta-feira, 6 de março de 2013

A razão do “pibinho”


Não é a crise internacional. Se fosse, o “pibinho” não seria uma exclusividade nacional, mas compartilhado com vários outros países, em particular os mais parecidos conosco, seja geograficamente, seja pela composição das exportações (a predominância de commodities), ou ainda pela renda per capita. Sob qualquer perspectiva, porém, o Brasil se destacou negativamente em termos de crescimento no ano passado, indicando que, ao contrário da alegação do ministro da Fazenda, nosso desempenho ruim tem origens domésticas.

Na verdade, a crise externa, mais que uma desculpa, foi também diagnóstico. As medidas de política econômica adotadas desde meados de 2011 seguiram um desenho semelhante àquelas utilizadas no período que se seguiu à grande crise financeira de 2008-2009. Da mesma forma que se costuma dizer que os generais lutam sempre a última guerra, nossos gestores de política econômica parecem estar ainda enfrentando aquela crise.

Para quem não se lembra, o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário argumentando que a crise teria um impacto equivalente a um quarto do observado em 2009, o que faria a inflação convergir à meta no ano passado, um equívoco exposto por uma taxa inflacionária que teima em se desviar dela.

Da mesma forma, o ministério da Fazenda retomou as medidas de desoneração tributária e colocou os bancos públicos na linha de frente de financiamento ao consumo. Adicionalmente elevou o gasto público, apesar das juras que cumpriria fielmente a meta fiscal e, no final do ano, usou e abusou da contabilidade criativa para tentar esconder o que ficou à plena vista: que não chegou perto do que havia prometido.

Em outras palavras, seguiu um roteiro muito parecido ao adotado em 2009: juros em queda, bancos públicos expandindo o crédito, gasto governamental em alta. Esta combinação funcionou bem àquela época, mas, como se vê pelo “pibinho”, fracassou espetacularmente no ano passado.

O fiasco é resultado do diagnóstico equivocado. O governo viu a desaceleração da economia como um fenômeno cíclico, induzido pela crise externa, quando as raízes são, na verdade, mais profundas e locais.

Ao contrário de 2009, não se observa no país uma situação de folga do ponto de vista de recursos produtivos. Nem o desemprego é alto (muito pelo contrário), nem os níveis de ocupação de capacidade instalada na indústria são anormalmente baixos. Assim, enquanto uma política de incentivo ao consumo àquela época tinha grande chance de reativar (como reativou) a economia, a mesma política, sob condições distintas, falhou visivelmente.

Crescemos nos últimos anos com base na expansão do consumo e na ocupação da mão-de-obra desempregada, com pouca ênfase no investimento e na expansão da produtividade. Funcionou a contento enquanto havia mão-de-obra disponível, mas isto acabou à medida que a economia se aproximou do pleno-emprego.

A desaceleração do crescimento não é, portanto, um fenômeno cíclico, mas o sintoma de esgotamento de um modelo que, a bem da verdade, não poderia ser sustentado indefinidamente, mas foi tratado como se pudesse. Baseado nesta crença o país não se preparou para o que viria depois do binômio “consumo e emprego”.

Em particular, o abandono das reformas, assim como a relutância em transferir ao setor privado responsabilidades pela infraestrutura, estão por trás tanto do fraco investimento quanto do crescimento medíocre da produtividade.

Assim, para o crescimento continuar ao ritmo observado entre 2004 e 2010 será necessário mudar os incentivos do consumo para o investimento. Isto, porém, fere interesses já enraizados no país, assim como o padrão de política econômica que se cristalizou no período, sublinhado as dificuldades para operar a mudança. Cresceremos em 2013 mais do que no ano passado, mas nem perto daquilo que foi um dia o objetivo do governo.

“Foi a crise externa, querida...”

(Publicado 6/Mar/2013)

14 comentários:

Alex, o novo reajuste do Diesel vai pressionar muito a inflação ?

Um ex-ministro da área econômica da ditadura, que assinou o AI 5 e foi o principal responsável pela hiperinflação e estagflação por que passou o Brasil, não se cansa de criticar o tripé e os economistas que o defendem o monetarismo (não sabia o conceito correto de monetarismo e ainda não sabe).Elogia a meta de 2,5% de inflação e a taxa de desemprego de 6,5%, como se fossem pensamento contrário ao monetarismo (é ignorância ou demagogia?). Se ainda fosse político seria demagogia. Não sabe que foi Milton Friedman, um dos pais do monetarismo moderno, que receitou para enfrentar as crises causadas pelas irresponsabilidades e delírios financeiros dos heterodoxos, evitar a queda da quantidade de moeda (que na crise de 30 caiu em quase um terço).
Ataca, cinicamente, os adoradores do tripé como se fossem manipuladores da Selic. Manipuladores são os heterodoxos que não têm compromisso com o poder de compra da moeda, com a responsabilidade fiscal e querem ter poder discricionário sobre o câmbio, a Selic e os gastos públicos. Os monetaristas têm compromisso com a responsabilidade fiscal, com a manutenção do poder de compra da moeda e não querem administrar a taxa de câmbio discricionariamente. Esqueci: nem defenderam a turma do AI 5.
Chega de demagogia comunista em teoria econômica: definir erradamente as ideias contrárias e não apresentar as suas (por vergonha ou não ter confiança nelas). Chega de fazer mal aos estudantes brasileiros (presas fáceis para as demagogias).

Nos papareres heterodoxos, ou a chamada macroeconomia sem escassez, a demanda efetiva gera crescimento, e gera investimento ao mesmo tempo, sendo que a mão de obra viria de outros países à medida em que a economia crescesse. Ou seja, só falta a demanda efetiva curar o cancer..


Who gives a fuk...crescendo ou não o Brasil é uma m... mesmo.

Que países aqui da AL estão muito bem?

O unico que te mantido crescimento mais forte foi o Peru mesmo.

Depois da crise de 2008, contando o ano de 2008, o Brasil cresceu mais que o Chile em 3 anos e menos em 2

Mais que a Colombia em 2 e menos em 3

O mèxico em 2009 teve queda de 7.2% per capita. O que se vê de 2010 pra cá é so recuperação desse tombo...sendo que em 2010 tb cresceu menos que o Brasil...

Ai agora vai pegar um ou dois anos pra dizer que tá tudo errado...

"Um ex-ministro da área econômica da ditadura, que assinou o AI 5 e foi o principal responsável pela hiperinflação e estagflação"

O nome dele começa com D...

Boa MAGECONOMIA!

Mas me tira uma dúvida, o Celso Furtado não deveria ser um dos responsáveis também pela década perdida?

Abs

"só falta a demanda efetiva curar o cancer.."

Chavez bem que tentou..

Caro LP: apesar de não concordar com o pensamento de Celso Furtado, ele não pode ser responsabilizado por acontecimentos ocorridos 20 anos após a sua saída do poder.
Foi endeusado pela esquerda do Brasil. No meu tempo de faculdade eram só elogios. Quando li seu livro, apesar de estudante iniciante, foi uma decepção. O Gudin (que era criticado pela turma de esquerda) foi uma bela surpresa positiva.
O Valor colocou o Celso Furtado como um dos principais economistas brasileiros^. Os que estudam sabem que não é. O tal ministro também foi relacionado: sabemos que não é.

Alexandre,

Parabéns pelo artigo. Muito bom, como de costume.

Mas...

Tenho muitas dúvidas sobre o relativo consenso que parece haver hoje de que o baixo crescimento da economia brasileira resulta restrições do lado da oferta.

São apenas dúvidas (não me leve a mal) e meu posicionamento, a seguir, é assumidamente destinado a provocar debates.

Se estivéssemos em uma situação de restrição de oferta, ou melhor, de excesso de demanda, não deveríamos observar uma aceleração da taxa de inflação? Pelo que vejo, consultando os dados, embora a inflação esteja em níveis elevados, ela não está em aceleração. Medida na mesma base de comparação (o IBGE introduziu uma mudança metodológica no cálculo do IPCA em janeiro de 2012), a taxa de inflação desacelerou entre 2011 e 2012, saindo de 6,1% para 5,8%. Para 2013, as expectativas de mercado apontam uma continuidade para a desaceleração da inflação. Expressa em números, a mediana das expectativas apontam uma inflação esperada de 5,7%, sendo que as instituições Top 5 prevêem uma taxa ainda menor (5,57%).

Se estivéssemos em uma situação de restrição de oferta (excesso de demanda), não deveríamos visualizar vazamento de demanda para o exterior? Os dados de quantum importado em 2012 apresentaram queda de 2,3% em relação a 2011.

Se estivéssemos em uma situação de restrição de oferta, não deveríamos utilizar nossos recursos produtivos a todo vapor? Os dados de NUCI divulgados tanto pela FGV quanto pela CNI ainda estão longe de seu ponto mais alto. Por exemplo, o NUCI da CNI estava em 80,2% em dezembro de 2012 (último dado disponível da série dessazonalizada), muito abaixo de seu pico mais recente (83,8%) e abaixo de sua média na década de 2000 (81,1%).

Por fim, o mercado de trabalho. Estamos mesmo (e concordo plenamente) em uma situação de ou próxima ao pleno emprego sengundo a PME do IBGE. Mês após mês vemos a mínima histórica mensal ser ultrapassada. Todavia, a PME mede o desemprego em apenas 6 regiões metropolitanas, 20% da população total do país (não sei o quanto essas regiões representam do PIB do país e isto é importante). A PNAD, por sua vez, é feita anualmente em setembro e mede a taxa de desemprego no país inteiro. A queda foi muito menor na PNAD, era 9,1% em 2002 e caiu para 6,7% em 2011. A taxa de desemprego pela a PNAD estava ainda menor em 1995, apenas 6,1%.

Em suma, são apenas dúvidas. Gostaria muito que pudesse dialogar e me corrigir no caso de eu estar cometendo algum equívoco.

Forte abraço (desculpa o post longo).

Economista X

Muito pertinentes os pontos levantados Economista X...

Abs

Antonio

"Medida na mesma base de comparação (o IBGE introduziu uma mudança metodológica no cálculo do IPCA em janeiro de 2012), a taxa de inflação desacelerou entre 2011 e 2012, saindo de 6,1% para 5,8%."

E já subiu para 6,1%, apesar das tarifas de energia, dentro do normal no que diz respeito às defasagens entre hiato e inflação.

"Se estivéssemos em uma situação de restrição de oferta (excesso de demanda), não deveríamos visualizar vazamento de demanda para o exterior?"

Mas observamos a demanda doméstica crescendo bem mais rápido que o PIB (1.7% vs 0.9%); só não virou vazamento porque houve redução de estoques.

***

A PNAD vou ficar devendo. Não conheço bem o a pesquisa.

Boa interpretação da conjuntura econômica brasileira. Entretanto, é importante ponderar também as estratégias que estão sendo abordadas, assim como entender o contexto político do país.

Primeiramente, o Brasil está buscando ampliar os investimentos através de diversos estímulos, entre eles a redução da taxa de juro. Todavia, a quantidade de "juristas" que direcionam as políticas econômicas chamam a atenção. As variações na taxas de juros não são as únicas iniciativas para direcionar a economia, sendo que as possibilidades de intervenção são extensas. Ressalto ainda a necessidade de continuar a diversificar a ecomomia brasileira, aproveitando os potenciais regionais.

Eu acho que o Economista X eh o Marcio Garcia...