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terça-feira, 21 de agosto de 2018

A penúria dos 0,4%


A história provavelmente aconteceu, embora os personagens sejam, como de hábito, desconhecidos. De qualquer modo, um jogador de futebol, perguntado porque ele e seus colegas repetiam sempre as mesmas respostas, teria parado um momento para refletir e disparado: “não sei; talvez porque vocês façam sempre as mesmas perguntas”.

Conto o episódio preventivamente: caso um dos 18 leitores tenha a sensação de já ter lido esta coluna, saiba que eu também tenho a sensação de já tê-la escrito. O chato não é escrever sempre a mesma coisa; mas perceber como certas questões permanecem rigorosamente imutáveis.

Refiro-me à proposta de aumento dos salários dos ministros de Supremo, justificada por Ricardo Lewandowski pela situação de “penúria extrema” dos aposentados do Judiciário, ecoando, não por acaso, a ex-ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, que pretendia somar ao seu vencimento ministerial a aposentadoria como desembargadora argumentando que, se não fosse atendida, trabalharia sob condições análogas à escravidão por receber apenas R$ 33 mil/mês (Lewandowski ganha R$ 37,5 mil/mês).

Quando consegui controlar o choro copioso que me acometeu ao imaginar os pobres aposentados do Judiciário (ao menos, me consolei, não estão sob regime análogo à escravidão) endureci meu coração, como ensinado no curso de Economia, e fui atrás dos números.

Descobri, por exemplo, que em 2015, de um total de 162 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade, apenas 708 mil (0,4% do total) recebiam valores superiores a 20 salários-mínimos por mês. Como, a preços de hoje, o salário-mínimo de 2015 equivaleria a R$ 918/mês, falamos de um universo de pessoas cujo rendimento ultrapassaria hoje R$ 18 mil/mês. (Os aposentados do Judiciário recebem, em média, R$ 18 mil/mês).

Já a faixa média de renda dos 0,4% atingia R$ 28,5 mil/mês também a preços de hoje, ou seja, mesmo dentro deste seleto clube os salários dos ministros do Supremo superam em cerca de 18% (31% no caso de Lewandowski) o rendimento médio do grupo (e isto sem contar os eventuais “penduricalhos” associados à função).

Argumenta-se que o impacto seria pequeno, na casa de R$ 3 milhões em 2019, “menor do que o valor recuperado pela Lava-Jato”. Este número, porém, considera apenas o aumento dos ministros do Supremo. Incluindo os efeitos-cascata por conta da elevação do teto salarial do setor público, de aumentos similares não só do Judiciário, mas também do Ministério Público, bem como estados e municípios há quem estime que a conta do “modestíssimo reajuste de 16%seja da ordem de R$ 4 bilhões/ano, ou seja, cerca de quatro Lava-Jatos por ano.

É bem verdade que o montante empalidece face ao gasto dos três níveis de governo no ano passado, R$ 3,1 trilhões, mas equivale ao orçamento anual da CAPES, que semana passada motivou (de forma equivocada, diga-se de passagem) protestos contra o teto de gastos.

Face às mesmas questões, as conclusões são as mesmas: (a) o estado brasileiro foi capturado por grupos de interesse, que canalizam para si fração considerável da renda da sociedade, no caso o funcionalismo, que se apropria de pouco menos de metade do gasto dos 3 níveis de governo, ou seja, cerca de 22% do PIB; e (b) o problema não é o teto de gastos, mas a existência de privilégios na escala exposta acima.

Se não mudarmos este estado de coisas uma séria crise fiscal é apenas questão de tempo.


Os 0,4%



(Publicado 15/Ago/2018)

14 comentários:

O que o senhor tem contra as ideias de Bolsonaro?Ele possui qualidades morais que o governo que o senhor serviu não tinha.

"O que o senhor tem contra as ideias de Bolsonaro?"

Afora serem péssimas? Nada

"Ele possui qualidades morais que o governo que o senhor serviu não tinha."

Qual delas? Racismo?

Basta ver a entrevista do Paulo Guedes na GN para conhecer melhor as suas ideias

Honestidade e uma qualidade moral do Jair,coisa que o PT não tinha,além disso o Jair não e racista,tanto que vai transferir a embaixada brasileira de tel Aviv para Jerusalém.

"Basta ver a entrevista do Paulo Guedes na GN para conhecer melhor as suas ideias"

Ideias de quem? Do Bolsonaro ou do Posto Ipiranga?

"o Jair não e racistao Jair não e racista,tanto que vai transferir a embaixada brasileira de tel Aviv para Jerusalém."

Não entendi: judeu é raça?

Ele nunca praticou descriminação contra judeus,negros etc,diferente de Ciro Gomes que chamou um gerador Negro de capitão do mato.

As ideias e do Bolsonaro que montou uma equipe econômica de cunho liberal.Em 2006 Alckmin tinha Nakano e hoje tem Pérsio Árida.

"Ele nunca praticou descriminação contra judeus,negros "

Ele também nunca fez menção a afrodescendentes de 7 arrobas que não servem nem para reproduzir...

"As ideias e do Bolsonaro"

Pergunte a ele se irá privatizar a Petrobras...


Alexandre, você é uma pessoa inteligente, é muito fácil interpretar o que o Bolsonaro falou. Quando se discute com esquerdistas é perfeitamente compreensível esse tipo de distorção. Ao dizer a um esquerdista " sou a favor do câmbio flutuante ", é possível ouvir do mesmo em resposta : "em outras palavras você quer que todas as crianças da Africa morram ". Eles são assim, até porque foram acostumados a ter sua canalhice recompensada. Ao deturparem o que foi dito e lançarem falsas acusações recebem do oponente pedidos de desculpas, explicações e justificativas ( "bom, veja bem, eu gosto das crianças tanto quanto você" ). O que deveriam ouvir é " não foi isso que eu falei, você deturpou o que foi dito por falta de caráter ". Enfim, calúnias e deturpações por parte da esquerda são previsíveis. Mas você não ser parece o tipo que faz isso.
Bolsonaro era contra o movimento quilombola pq o considerava algo análogo ao MST. Eu era contra o movimento quilombola também, o que não significa que eu era contra negros. Me disseram posteriormente que o movimento quilombola é bacana, vou pesquisar mais a respeito. É bastante possível que eu mude de opinião, mas pode ser que eu continue sendo contra. Isso faz de mim racista ? Devo ser a favor de qualquer movimento político que se diz defensor dos direitos dos negros sob pena de ser racista ? Se você pensar um pouco a respeito vai ver que não. O revolucionário americano Saul Alinski dizia " the issue is never the issue, the issue is aways the revolution ". Quando a esquerda cria movimento a favor de borboletas amarelas, acredite, as borboletas são a última das suas preocupações. Do mesmo modo, o movimento feminista não parece se importar quando um professor marxista diz que a Raquel Sherazade deveria ser estuprada. O mesmo movimento fez um silencio eloquente quando um bando de trogloditas cercou e ameaçou a Janaína Pascoal em um aeroporto. O Ciro Gomes chamou o Fernando Holiday, que é negro e gay, de "capitão do mato". Nenhum pio da turminha que defende minorias. The issue is never the issue. Posso até mudar de opinião sobre os quilombolas, mas caso não mude, não vai ser por conta de racismo ( vai ser pq concluí que o grupo usa uma bandeira legítima para promover condutas que desaprovo )
Sobre a piada das arrobas o que o o Bolsonaro quis dizer, e é bastante fácil de entender, é que os membros do movimento eram gordos, não eram pobrezinhos passando fome (estou colocando o que ele quis dizer, não subscrevendo, não conheço quilombolas ). Alem disso ele quis dizer que, segundo sua opinião, eles não trabalhavam, eram encostados ( daí o "não serve nem para reproduzir "). A piada é de mal gosto sem dúvida, mas o que ele quis dizer foi bastante claro ( e a referência ao período de escravidão, embora reprovável, vêm o nome do movimento, que também faz referencia a mesma época ).
É exatamente igual ao caso da Maria do Rosário. Ela o chamou de estuprador, o que não é uma brincadeirinha inocente ( não se pode sair por ai acusando os outros de estuprador, pedófilo etc ). Ele respondeu que mesmo que fosse estuprador, não a estupraria. Seria análogo a um sujeito dizer que mesmo que fosse ladrão de carros, não roubaria determinado veículo. Nesse caso, o que se quis dizer que o carro em questão é ruim. No primeiro caso, o comentário do Bolsonaro quis dizer que mesmo um estuprador/tarado, não acharia Maria do Rosário sexualmente atraente. Ele a chamou de feia, não fez apologia ao estupro. É bem fácil entender isso. Uma coisa é questionar o que foi dito, interpretar o comentário como inadmissível. Outra é dizer que o Bolsonaro é racista ou faz apologia do estupro.

Quem ainda estiver procurando de um candidato inteligente, capaz e bem informado, que cortará os privilégios absurdos, sugiro João Amoedo.

O único candidato liberal e o João Amoedo,todos os outros não são favoreis a privatização de todas as estatais.

Foi uma fala politicamente incorreta.