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terça-feira, 11 de julho de 2017

Deixai aqui toda a esperança

Em artigo para lá de interessante, Caio Farah Rodriguez defende que uma das consequências da Lava-Jato seria a imposição do capitalismo ao empresariado nacional por força dos acordos de leniência, que criariam uma governança severa para as empresas, supostamente as impedindo de continuar com as práticas expostas ao público de 2014 para cá. É um argumento bem formulado, e, juro, bem que queria acreditar, mas não estou convencido de sua validade.

Não é de hoje que o capitalismo brasileiro vai mal das pernas. Louvada em verso e prosa em alguns círculos, a industrialização do país se deu sob o manto protetor do governo, à base de subsídios, crédito artificialmente barato, proteção desmedida e outras formas de intervenção. Com raras exceções, a indústria nacional se mostrou incapaz de competir na arena global e – a despeito dos protestos de neodesenvolvimentistas, novo-desenvolvimentistas, velho-desenvolvimentistas e o diabo – não há taxa de câmbio que compense a baixa produtividade.

E que não se diga que este problema se deve à presumida concentração em setores pouco produtivos. Trabalho recente da FGV (O Brasil em Comparações Internacionais de Produtividade: Uma Análise Setorial) revela que este fenômeno explica fração modesta do hiato entre o país e a fronteira tecnológica; a maior parcela se deve à distância existente em todos os setores da economia nacional com relação aos países desenvolvidos.

Em outras palavras, não jogamos mal porque nossos atletas estão na posição errada; o plantel é que é ruim mesmo...

Parte disto reflete a qualidade lamentável da educação nacional, visível em qualquer comparação internacional, como, por exemplo, os resultados do PISA. Outra parte resulta da nossa má organização institucional.

Como chamei a atenção há alguns meses, sob o arranjo institucional brasileiro, o empresário, como regra, não vai ficar rico pela inovação, mas pela sua capacidade de cultivar as ligações corretas com os donos do poder. Se restasse alguma dúvida (a mim não, há muito tempo), esta teria se dissipado com a revelação das conversas entre o presidente Temer e o inefável Joesley.

Uma empresa de proteína animal foi elevada às maiores do país não por qualquer coisa que cheirasse a competência empresarial, mas porque teve acesso a toda sorte de favores governamentais. E, como fica claro pelo acordo de leniência, tais favores não foram obtidos gratuitamente, muito pelo contrário...

Iremos mudar esse estado de coisas?

Não, a depender de políticos como a senadora Vanessa Grazziotin, que aqui mesmo na Folha cometeu um artigo defendendo a Zona Franca de Manaus, mamata que apenas em renúncias fiscais consumiu algo como R$ 28 bilhões/ano entre 2012 e 2016 (pouco mais que o Bolsa-Família) e foi prorrogada para 2073, na expectativa de que nos próximos 56 anos consiga atingir o que não obteve nos últimos 50.

Se quem se pretende defensor dos desvalidos promove mecanismos tão óbvios de captura e concentração de renda, com efeitos nefastos sobre a produtividade e crescimento, o que esperar do mundo político?


Ando pessimista com o país há mais do que gostaria, mas não falta quem se esforce para confirmar meus piores temores e destruir as poucas esperanças que me restam.



(Publicado 5/Jul/2017)

33 comentários:

Por que, em vez de querer taxar a Zona Franca de Manaus, não estender isenções para todos os setores? Vocês, neoclássicos, só pensam em tributar. Nessa hora concordo com os keynesianos por motivos distintos, ajuste fiscal baseado em aumento de impostos só agrava a recessão. Que tal cortar os gastos do governo? Ou talvez seja melhor deixar essa bodega quebrar de uma vez...

Olá, Alexandre.
Em relação à Zona Franca de Manaus, não há uma clara distinção entre fornecer subsídio (no caso da JBS) onde o dinheiro é tirado de um setor da economia para ser entregue a outro em relação a renúncia fiscal ou isenção fiscal quando simplesmente o Estado deixa de arrecadar?
Num caso pode haver prejudicados, no outro caso o único problema seria a queda da arrecadação fiscal, o que por seu turno poderia fazer com que o Estado se obrigasse a ser mais eficiente em seus gastos.
Abraços

blog pensamentos financeiros

Interessantes gráficos:
http://i.imgur.com/BRwlj75.png?1
http://i.imgur.com/8DLTlrK.png?1
http://i.imgur.com/Kzde90T.png?1

paleo liberal, que tal proto liberal? mais primata como seus comentarios nao?seus textos são ruins e sempre atacam direitos de trabalhadores, mencionar a senadora do amazonas vinculando às renuncias fiscas da ZFM é um jogo baixo! R$ 28 bilhoes em 4 anos, mas geraram empregos, a ZFM torna acessivel para o mercado diversos produtos, há 60 anos, comparou com bolsa familia o valor da renuncia fiscal, mas esqueceu do perdao da divida de R$ 25 bi do Itau? por que nao menciona as dividas previdenciarias dos bancos? que poderia sustentar por alguns anos um amplo debate para reformas mais justas caso os bancos honrassem suas dividas! as falcatruas e a espoliação que os bancos realizam no brasil, nao critica porque fez parte do ABN |Amro bank e Santander do qual foi demitido por sua arrogancia?

alias, seus comentarios hoje dia 11/07/17 no jornal da cultura foram pessimos, atacando sindicalistas, atacando protestos das senadoras, tentando ridiculariza-las, falando de comportamento de centro academico..what fucking problem man schwarts? em uma democracia se protesta, ainda mais em um governo usurpador que nao foi eleito para tal, que inverte o programa que venceu as eleições, que convoca os derrotados, liderado por gangsters como Aecio e Cunha e serviçais como Moro e Gilmar Mendes para fazer o jogo sujo! um governo que nao realiza debates amplos sobre qualquer reforma, que se caracterizam mais como demolição do estado de direito e do trabalho e se locupleta atolado em denuncias criminais, muito mais graves do que manipularam para retirar a ultima presidente eleita, diga-se de passagem que voce fez parte dessa caterva, lustrando as bolas de seus patroes do império rede globo. espero que nao censure meu comentario e voltarei aqui para leu seus argumentos, tipico de garoto mimado formado em FGV

no país onde MERCADO é quase crime nao da pra esperar muita coisa. DE um lado tem os Charlatoes "quermesseiros" de sempre que ou sao burros ou defendem o que defendem porque de fato nao gostam de capitalismo e nao tem coragem de assumir. Do outro lado sempre um politico pra assumir as ideias dos quermesseiros. Populissmo aqui é mato. E por fim pra completar o empresario malandro. Quermesseiros, populismo e campeoes nacionais pode ser um bom titulo de livro atualisando o Carnavais, malandros...

Essa choradeira pela desvalorização cambial é para fugir desses problemas jogando o custo da desvalorização (inflação, etc.) , nas nossas costas.

Desculpe o comentário : o show que a vanguarda feminina do proletariado deu ontem no Senado deve ter sido motivado pelo surgimento de um novo macho para liderar o proletariado Renan Calheiros.

"...revela que este fenômeno explica fração modesta do hiato entre o país e a fronteira tecnológica; a maior parcela se deve à distância existente em todos os setores da economia nacional com relação aos países desenvolvidos."

Não sei se a defasagem tecnológica é tão grande. Mas o vício de ter um mercado razoavelmente grande e protegido, habituou nossos empresários a produzir o que se pode vender aqui dentro. E nos casos de insumos industriais, cuja escala de produção exige competir no mercado mundial, em geral não há interesse. Exportar tende a ser empurrar pra fora o excesso de capacidade em tempos de recessão. Mesmo com prejuízo, se paga os custos variáveis é uma alternativa.

"espero que nao censure meu comentario e voltarei aqui para leu seus argumentos, tipico de garoto mimado formado em FGV"

Censura quem quer é gente como você.

Isto dito, desculpe te machucar por dentro com minha grossura. É que sou muito cabeçudo....

citando:
" atacando protestos das senadoras, tentando ridiculariza-las, falando de comportamento de centro academico..what fucking problem man schwarts"


acho aquilo algo mais criminoso que tão somente uma atitude de estudantes rebeldes, trata-se da casa do povo, do respeito aos senadores eleitoes pelo povo, da liturgia do cargo e do respeito aos procedimentos colocados pela Constituição e pelas leis.

não acho que seja apenas caso de ridicularizar, mas de se tomar atitudes mais severas, expulsar ou até mesmo prender quando comprovadas as ilicitudes da Orcrim da qual faazem parte e da qual seu chefe foi hoje condenado.

Alex, estas coisas me deixam tbm muito realista. O material (imundo)humano que temos é esse. Vai?

"Como chamei a atenção há alguns meses, sob o arranjo institucional brasileiro, o empresário, como regra, não vai ficar rico pela inovação, mas pela sua capacidade de cultivar as ligações corretas com os donos do poder."

Não sei se é abusar do seu pessimismo, mas, diante do exposto, pergunto: serão os desdobramentos dessa questão, digamos, "neutros" em relação à economia nacional ou os efeitos do tal arranjo institucional levarão à continua degradação da vida nacional (desemprego ou subemprego, serviços públicos, concentração de renda, conflitos jurídicos explosivos, desesperança, oportunismos políticos de toda a sorte, etc.) ? Seria um exercício de estúpida futurológica imaginar conflitos sociais insanáveis, revoltas e anarquismos, "um todos contra todos" tomando conta das mentes e das ruas?

Dois séculos depois da Independência, ainda estamos procurando um "ponto de apoio" onde acoplar a alavanca mágica que moveria o país continental rumo ao,progresso... Há alguma evidência lógica de que "sempre" existem os pressupostos do progresso ou, no nosso caso, o destino é mesmo a miséria e o infortúnio?

"Ando pessimista com o país há mais do que gostaria, mas não falta quem se esforce para confirmar meus piores temores e destruir as poucas esperanças que me restam."

Foi a mesma coisa que senti ao terminar de ler hoje pela manhã o sensacional "Complacência"

"Sad but true"

Não entendi as suas criticas a Paulo Rabello de Castro.

Paulo Rabello é um economista serio,de formação solida e escreveu o livro O mito do governo grátis.

Brasil está parecendo o nosso São Paulo, mas tenho confiança que o São Paulo irá melhorar e não vai cair para a segundona. Já o Brasil...

Que sirva de exemplo para o senhor ao criticar a atuação do BNDES:http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/07/1901311-jbs-foi-um-dos-negocios-mais-bem-bolados-do-bndes-diz-chefe-do-banco.shtml.

Sua crítica é sempre voltada para a indústria. Mas não existe setor mais concentrado e pouco competitivo do que o setor financeiro. Nós vivemos um processo de modernização no setor de telecomunicações e energia que atraiu empresas estrangeiras para o Brasil que se estabeleceram muito bem aqui. Porque não aconteceu o mesmo com os bancos? Será porque, ao contrário da tal empresa de proteínas, os presidentes do banco central e outras autoridades econômicas são, foram ou serão empregados dos nossos bancos?
Onde está a concorrência neste setor? Capitalismo sem concorrência não é capitalismo.

O senhor leu o livro verde do BNDES,antes de falar mal dele?

":http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/07/1901311-jbs-foi-um-dos-negocios-mais-bem-bolados-do-bndes-diz-chefe-do-banco.shtml."

Eu concordo com a afirmação: só não acredito que tenha sido bem bolado para nós; certamente para o Joesley...

"O senhor leu o livro verde do BNDES,antes de falar mal dele?"

Claro que não, mesmo porque não critiquei o livro vede (nem o amarelo, nem o azul, etc).

Pretendo ler? Claro que não. Meus olhos não são penicos, embora eu tenha lido o que você acabou de escrever...

"Sua crítica é sempre voltada para a indústria."

Nãnãninã... Minhas críticas são a quem vive pendurado nas tetas do governo. O que, no caso em questão, pega muito da indústria...

"Nãnãninã... Minhas críticas são a quem vive pendurado nas tetas do governo. O que, no caso em questão, pega muito da indústria..."

Eu gosto tanto de você que gostaria que você tivesse sido economista na China. Lá você teria o reconhecimento que acho que seria merecido!

"Eu gosto tanto de você que gostaria que você tivesse sido economista na China. Lá você teria o reconhecimento que acho que seria merecido!"

E estaria em excelente companhia, como o recentemente falecido Liu Xiaobo. Já você, imagino, estaria feliz na companhia dos gatos gordos do Politburo

" Já você, imagino, estaria feliz na companhia dos gatos gordos do Politburo"

Cruel, muito cruel...

Alguém deve estar fazendo banho de assento depois desta comida

Foi um excelente negocio para o contribuinte.O BNDES comprou a JBS quando ela valia 7 reais,a ação chegou a valer 12 reais,atualmente ela esta em baixa devido a situação da empresa com a Lava Jato.

Alexandre, estou em busca de recomendação de livros sobre áreas do teu conhecimento. Posso te mandar um email para o endereço dado no topo do blog? Agradeço

"Foi um excelente negocio para o contribuinte.O BNDES comprou a JBS quando ela valia 7 reais,a ação chegou a valer 12 reais,atualmente ela esta em baixa devido a situação da empresa com a Lava Jato."

Ou seja, não foi um bom negócio.

"Foi um excelente negocio para o contribuinte"

Não é verdade: foi para mais de um contribuinte. O Wesley também ganhou...

" Posso te mandar um email para o endereço dado no topo do blog? "

Sim, claro

"Por que, em vez de querer taxar a Zona Franca de Manaus, não estender isenções para todos os setores? "
Como assim, acabar com os impostos?

"sempre atacam direitos de trabalhadores, mencionar a senadora do amazonas vinculando às renuncias fiscas da ZFM é um jogo baixo! R$ 28 bilhoes em 4 anos, mas geraram empregos" Claro que geraram empregos, pagos por todos os brasileiros que não tem o "mérito" de morar em Manaus! Pagos inclusive pelos que perderam os seus, por causa de absurdos como esse.

Infelizmente, ainda não será desta vez que a economia, a política, enfim, tudo o que interfere na vida do País, será algo que, realmente, logrará levar a tempos melhores. Ao menos, se fossem indícios, já seria um progresso.

"cometeu um artigo..."

kkkkk, muito bom