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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Paraíso nada perdido

Vivo no paraíso dos colunistas econômicos. Vejam só: na semana passada duas das principais autoridades do governo vieram a público, cometeram afirmações contraditórias e conseguiram a proeza de estarem, ambas, erradas.

Começou com o ministro da Casa Civil admitindo que, sim, o governo controla preços para evitar que a inflação rompa de vez o teto da meta de inflação (6,5%). Justiça seja feita, o ministro não usou a expressão “controle de preços”, mas “administração de preços”, o que, obviamente, seria algo totalmente distinto, exceto por se tratar rigorosamente da mesma coisa.

A tese original do ministro é o “controle anticíclico” dos preços, inexplicada, todavia, talvez pela virtual impossibilidade de justificar a manutenção, por exemplo, de preços de energia baixos quando a demanda cresce à frente da oferta e os riscos de racionamento aumentam. Pelo contrário, como se aprende nos cursos de Introdução à Economia, o papel “anticíclico” dos preços é subir quando a demanda supera a oferta e vice-versa, certamente não o oposto, como defendido pelo ministro.

Já o ministro da Fazenda contestou a afirmação de seu colega, dizendo não haver controle de preços no Brasil. Se um desafiou a lógica, o outro desafiou os fatos. A expressão óbvia deste acontecimento é a inflação de preços administrados pelo governo ficar em patamar inferior à inflação dos preços não c0ntrolados desde março de 2010, mas não é sequer a face mais importante da questão.

A despeito das afirmações ministeriais sobre reajustes recentes de gasolina e mesmo energia elétrica (apesar das promessas de redução de tarifas), qualquer analista minimamente informado sabe que a Petrobras perde dinheiro porque vende combustíveis a preço inferior a que os compra no mercado internacional. Não se trata, aliás, apenas do custo de oportunidade, que continuaria uma preocupação válida ainda que o país fosse (como não é) autossuficiente em combustíveis; é perda de caixa na veia, o que tem levado a um aumento expressivo do endividamento da companhia.

Fosse o ministro membro do conselho de administração da empresa, ele saberia, creio, dos problemas que isto causa. Opa; parece que ele é... Será que não explicam também estas coisas no conselho de administração da Petrobras?

Analistas minimamente informados poderiam alertá-lo também que as empresas distribuidoras de energia passam pelo mesmo problema, ao serem obrigadas, por mais uma barbeiragem de política, a comprar energia no mercado à vista por preços muito superiores ao que vendem.

É segredo de polichinelo que as tarifas de energia têm que aumentar, sob pena de quebrar o setor, ou aumentar ainda mais o custo do Tesouro Nacional, mas que este aumento não poderá ser realizado este ano para não estourar o teto da meta, ainda mais no período eleitoral. É possível – se bem que não esteja 100% certo, confesso – que até o ministro da Fazenda consiga entender o problema, ainda que não tenha a coragem de expô-lo em público, muito menos de encaminhar uma solução.

É reveladora a paralisia administrativa do governo, que se recusa tenazmente a lidar com qualquer dificuldade, por mais urgente que possa ser, com receio das consequências eleitorais de políticas corretivas, seja no campo da inflação, dos preços controlados – perdão, “administrados”! –, ou ainda dos gastos públicos.

Com a cabeça devidamente enterrada, o governo empurra todas as decisões relevantes com a barriga, na esperança que os problemas se resolvam sozinhos. Enquanto a realidade se recusa a colaborar, ministros batem cabeças com gosto.


Por mais que meu lado economista torça pelo predomínio da racionalidade, tenho que admitir que minha tarefa de escrever uma coluna por semana se torna muito mais fácil graças à (falta de) qualidade da gestão econômica governamental. Meus sinceros agradecimentos pela criação deste paraíso.



(Publicado 21/Mai/2014)

14 comentários:

Porque seguir uma politica economica tradicional se a China não segue e vai ter um PIB maior que o dos EUA em 2023?

“ (...)a comprar energia no mercado à vista por preços muito superiores ao que vendem. É segredo de polichinelo que as tarifas de energia têm que aumentar, sob pena de quebrar o setor ”

“O lucro das empresas de energia elétrica no primeiro trimestre do ano foi 46,16% maior que no mesmo período do ano passado (...) O setor de energia elétrica foi o segundo com maior crescimento nominal de lucro da Bovespa, perdendo apenas para o setor bancário, ainda de acordo com a Economática. (...) Entre as dez empresas mais lucrativas em março de 2014, aparecem na oitava e nona posição, respectivamente, a Cemig e a Eletrobras, com lucro de R$ 1,2 bilhão e R$ 985,9 milhões.”.

Fonte: canalenergia.com.br

Não entendo muito de economia, mas para um setor quebrar, ele não deveria ter prejuízo?

Abs,
O Poeta

Faltou comentar a hilariante formula do Mercadante no trade off inflacao x desemprego!!!

Alguém tem uma previsão de quanto estaria a inflação caso não houvesse a “administração de preços”

"Porque seguir uma politica economica tradicional se a China não segue e vai ter um PIB maior que o dos EUA em 2023?"

Parceiro, compre um livro de introdução a economia, comece dai! Vc não entende basicamente nada. Bons estudos.

Alex, você está cada dia melhor!

Relembrando

Louvor e distinção. Como o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, obteve o título de doutor em ciências econômicas pela Universidade de Campinas (Época,02/03/2012)

A TESE
Aloizio Mercadante no dia de sua defesa na Unicamp. “Minha apresentação foi marcada por intenso e acalorado debate. Mas, ao final, foi aplaudida de pé pelo plenário”, disse.

"Se fosse pelos critérios de antigamente, seria aprovado com distinção e louvor”, disse ao novo doutor em ciências econômicas o então diretor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mariano Francisco Laplane. Era sexta-feira, 17 de dezembro de 2010.

http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2012/03/louvor-e-distincao.html

Calma gente. O Marcelo Neri (popularmente conhecido como O Coerente), fala que a inflação está sobre-estimada. Talvez estejamos no centro da meta da “verdadeira” inflação e não sabemos. Parece que existe um projeto para o próximo Governo de Dilma (no caso da ganhar, lógico): o IBGE Nacional, Popular e Socialista. O Presidente seria o Marcelo Neri e o objetivo no novo IBGE seria calcular: a) o PIB do povo e b) a verdadeira inflação.

Ao Paulo Araújo... Que canseira ficar buscando no google para você entender como foi que essa pessoa conseguiu 'virar' doutor.

http://www.marcovilla.com.br/2012/03/como-mercadante-virou-doutor.html

A tese, de 537 páginas, chama-se As bases do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula (2003-2010)

Olha... Não me encha o saco, okay !!!

Para o tal do "Poeta":

meu caro, esses resultados foram em relação a empresas verticalizadas, e em especial quanto à geração, e de empresa (cemig) que NÃO aderiu à renovação dos contratos de concessão. Dê uma olhada nos balanços das outras tantas empresas de transmissão. e distribuição, que se b=veem obrigadas a comprar energia na CCEE (leia o regulamento; elas tem que estar 100% contratadas, só que ... pelo controle de preços do governo, elas vendem mais barato do que compram, pois não podem aumentar o preço ao consumidor, e portanto não tem $$$ em caixa!!) você verá que o ROMBO de resultado é incrivelmente enoooorme.

E, prepare-se para a CONTA de LUZ em 2015 e 2016 que aumentará uns 50% para pagar empréstimo da CCEE, justamente para cobrir o rombo de uns R$ 25.000.000.000,00 (Falam em 50.000.000.000,00 !!!)

alexandre

vc pode recomendar algum trabalho recente e correto que discuta a situacao atual na venezuela e os seus desdobramentos? Se nao um trabalho especifico, alguem que estude a questao corretamente?

Novamente, Alexandre, solicitando permissão para republicar na integra - claro que com citação da origem.

http://www.prosaepolitica.wordpress.com

Anhangüera, editor de plantão.

Anônimo 30 de maio de 2014 20:16

Talvez nestes dois sites, você encontre o que procura:

http://www.pensarenvenezuela.org.ve/index.php

La Asociación "Pensar en Venezuela" es un nuevo centro de pensamiento, discusión y difusión de ideas, que agrupa a profesionales de diversas disciplinas y cuyo objetivo es promover el análisis de experiencias nacionales e internacionales y nuevas ideas sobre temas económicos, sociales e institucionales. Sus integrantes buscamos perspectivas distintas sobre las instituciones, políticas y estrategias gubernamentales más adecuadas para incrementar las oportunidades de desarrollo y bienestar de Venezuela.

Los objetivos se centran en el interés común de sus miembros de discutir, promover aportes y divulgar estudios y ensayos en un leguaje llano.

Además de ser un centro de reflexión sobre temas socioeconómicos, políticos e institucionales, aspira a ser un escenario balanceado, sin restricción de esquemas ideológicos, para el intercambio y discusión de opiniones en temas vinculados al desarrollo nacional. Preocupados por la situación política, económica y social del país, hemos decidido constituir la asociación civil Pensar en Venezuela, con la intención de promover el debate y la discusión pública alrededor de temas fundamentales vinculados a nuestro nivel de desarrollo socioeconómico, así como también proponer ideas y soluciones a los graves problemas que aquejan a los venezolanos.

http://www.sumate.org/

Movimiento Ciudadano Nacional

Súmate es un movimiento ciudadano nacional, voluntario y plural. Sus propósitos son inclusivos, altruistas, sin compromisos partidistas. Su organización es permanente y estable en el tiempo. Sus miembros poseen una clara identidad de origen y destino común. Moviliza a millones de ciudadanos.

Este último é focado em temas mais afeitos à institucionalidade venezuelana, sobretudo a política.

Quando as coisas continuarem a darem errado, e estão, veremos como uma administração fracassada e suas artimanhas apontarão o novo e velho 'scapegoat'.
Para mim, como leigo em Economia e na vida, é de uma dolorosa obviedade econômica: a primazia no combate à inflação.
Creio eu, e penso não estar errado, que uma multidão de empregos originados por processo inflacionário, são tão sustentáveis quanto bolhas de sabão.
Ângelo