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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Oreiro o que é de Oreiro!

Acabei de visitar o blog do professor Oreiro e ele tem uma explicação convincente para o parágrafo pró-Chavez que ele escreveu: foi uma tentativa (em minha opinião, fracassada) de ironia que foi tomada fora de contexto pelo jornalista do Monitor Mercantil. Tendo sofrido no passado com citações fora de contexto por jornalistas, ofereço minha simpatia ao professor evidentemente não-chavista.

Em um outro texto (link) o ilustre professor deixa bem claro sua opinião rejeitando o modelo econômico bolivariano.

Tendo dito isto, não posso deixar de comentar as bataquadas do texto do professor hoje (link). Transcrevo e comento abaixo:

Está ficando sem graça debater (?) com os (pseudo-)ortodoxos brasileiros.

Não entendo a necessidade de rotular e o ridículo ‘pseudo’.

Os caras estão tão desesperados com a perda de espaço no debate econômico nacional e com o fato óbvio de que, ganhe Dilma ou Serra, eles estarão fora da equipe econômica do próximo governo, que resolveram subverter a longa tradição de seu próprio referencial teórico, qual seja a ênfase na análise dos resultados de longo-prazo dos processos econômicos, e se refugiam no curto-prazo (além de ataques ad hominem, os quais demonstram a existência de um certo Complexo de Édipo por parte dos expoentes menores dessa tradição de pensamento).

Essa foi boa... Primeiro o bom professor abre com uma referência pimpona às eleições e a possibilidade que competência técnica vai se tornar um estigma na seleção de economistas para a equipe do próximo governo(o que ele parece aprovar!), depois ele fecha com psicanálise de botequim citando até um suposto complexo de Édipo (creio que dirigida a mim?). Tudo isso no mesmo parágrafo em que ele acusa aqueles que em um laivo de arrogância ele enxerga como rivais de praticar ataques ad hominem!

Repitam comigo: Oy vey.

Tudo bem, vamos relevar a dissonância cognitiva, afinal é carnaval! Mas ainda no espírito festivo, vamos analisar o que o professor tem a dizer sobre economia:

Nesse contexto, os pseudo-ortodoxos brasileiros criticam os heterodoxos com base na tese de que as políticas defendidas pelos últimos são contra-producentes … no curto-prazo.

Sim, são políticas contra-producentes no curto prazo.

Com efeito, os pseudo-ortodoxos brasileiros afirmam que a política correta para obter uma desvalorização da taxa de câmbio é aumentar a taxa de poupança, quando o seu próprio referencial teórico mostra que, no equilíbrio de longo-prazo, uma taxa de poupança mais elevada estará associada, na falta de uma política deliberada de administração da taxa de câmbio como faz a China, com um câmbio mais apreciado …

Exatamente. Um aumento de poupança hoje tem o efeito inequívoco de depreciar a taxa de câmbio real e aumentar a competitividade de nossas exportações. Você discorda disso, professor Oreiro?

(...) a depreciação é apenas um efeito temporário, não sistemático, de um aumento persistente da taxa de poupança.

Non-sense, professor! Ninguém está dizendo que o efeito de um aumento permanente da taxa de poupança causa um efeito ‘não sistemático’ na taxa real de câmbio. Eu não disse isso, o Renato e o Pedro não disseram isso, nenhum economista que mereça respeito tem dito isso. Este espantalho não existe. Não existe no debate econômico brasileiro, não existe nos manuais de economia, não existe na literatura publicada em journals acadêmicos.

Desafio-o a encontrar um artigo teórico que negue o argumento que um aumento persistente na taxa de poupança -como por um exemplo uma reforma na previdência ou uma redução na taxa de crescimento dos gastos públicos – tenha o efeito de depreciar o câmbio real persistentemente.

Além disso, os pseudo-ortodoxos criticam os heterodoxos afirmando que uma política de desvalorização da taxa de câmbio teria o efeito de aumentar a participação dos lucros na renda nacional, ou seja, a concentração de renda nas mãos dos capitalistas …

Não é bem assim. Posso afirmar sem sombra de dúvida que os heterodoxos [como o Professor Oreiro] são abertamente a favor de uma política de desvalorização da taxa de câmbio porque eles entendem que isso levaria a mais concentração de renda nas mãos dos capitalistas e esse deveria ser o objetivo da política cambial (segundo os heterodoxos).

O problema é que esse resultado é apenas um efeito temporário, não persistente, da política de administração da taxa de câmbio. No longo-período ( o qual é uma sucessão de curtos-períodos, para não confundir com o longo-prazo neoclássico), o câmbio desvalorizado atua no sentido de acelerar a exportação de manufaturados, o que aumenta a produtividade do trabalho devido a lei de Kaldor-Verdoorn, o que leva, ao fim e ao cabo, a um aumento sustentado dos salários reais.

Bela ideologia, professor!

Para mim que li meu Gramsci quando ainda adolescente, não é nenhuma surpresa que exista terreno fértil no Brasil para justificativas ideológicas para o uso da política macroeconômica para concentrar a renda. Afinal, o Brasil não se tornou um dos países com renda mais concentrada do mundo por falta de intelectuais capazes de concatenar um argumento justificando mais concentração de renda (enquanto mantem uma auto-imagem de progressista).

10 comentários:

"É preciso fazer crescer o bolo para depois distribuí-lo".

Houve um tempo em que nossos heterodoxos eram bastante críticos com relação a isto. Parece que não mais. Coerência não é MESMO o forte da moçada.

Também não é de surpreender que Oreiro esteja próximo de Delfim Netto nesse debate.

Caro "O", o senhor até agora não tocou no aspecto mais importante tratado pelo Oreiro: Crescimento causando maior taxa de poupança. Ele usa o trabalho de Modgliani como "prova" do sentido causal do crescimento para a poupança e não o contrário.
O senhor tem algum evidência de que a causalidade é da poupança para o crescimento?

Saudações,
Carlos

Alex & "O"

Existe a mínima possibilidade de um pateta como esse fazer parte da equipe "econômica" dos candidatos com chances reais nas eleições presidenciais?

Lembro bem das trapalhadas cometidas por alguns assessores de candidatos no passado recente (e que serviram para enterrar os caras)....

...Ricardo Carneiro no caso da primeira eleição vencida pelo Lula e Nacano (com "c" porque o símbolo do cobre é com "c")no caso do governador Geraldo...Num caso surgiu um dos melhores ministros da Fazenda que o Brasil já teve (o médico Palocci...até então sem confusões com caseiros e afins...)...no outro tivemos o surgimento de uma das frases mais engraçadas (e correta) da história do Brasil..." Não é de se surpreender porque ele não entende nada de Economia"...

Enfim
Existe algum risco de termos que aguentar um economista de "segunda divisão" no comando da Economia ?

abs

Rogerio Ceni
(rumo ao gol 100)

Citação do novo-desenvolvimentista expondo suas diferenças metafísicas com o chavismo (link no post):

“No Brasil os defensores de uma nova política cambial apregoam a implantação de um regime de câmbio flutuante administrado, no qual o câmbio continua flutuante, mas a flutuação é administrada pelo governo com vistas a obtenção de um patamar competitivo para a taxa real de câmbio a médio e longo-prazo, o que elimina a possibilidade de crises do balanço de pagamentos.” (Oreiro)

No original o termo “admnistrado” está grifado. Para quem sabe ler, é um eufemismo para “dirigido”. Em última instância, cabe ao governo DIRIGIR o câmbio e desse modo ELIMINAR a POSSIBILIDADE de crises do balanço de pagamentos. Esses hegelianos não desistem nunca...

Uma afiada idéia herdada do século XVIII que me faz sempre desconfiar de promessas vãs: nada neste mundo seria estável.

"Qu'est-ce que ce monde, monsieur Holmes? Un composé sujet à des révolutions, qui toutes indiquent une tendance continuelle à la destruction; une succession rapide d'êtres qui s'entre-suivent, se poussent et disparaissent: une symétrie passagère; un ordre momentané" (Diderot, D. Lettre sur les aveugles. Oeuvres Philosophiques, Paris, Garnier, 1964, p. 123.)

A “Carta sobre os cegos” é considerada um “texto nuclear na moderna demolição da metafísica”. Assim, o enunciado do dirigismo cambial pelo governo como condição sine qua non para a eliminação das crises (a feitiçaria da estabilidade) tem para mim o mesmo significado de abracadabra.

Por fim, a diferença, que talvez explique “a referência pimpona às eleições”:

“Em terceiro lugar, o novo-desenvolvimentismo brasileiro considera que a ECONOMIA DE MERCADO SOCIALMENTE REGULADA [grifado no original] é a melhor forma de organização da atividade econômica, de tal forma que a “transição para o socialismo” está descartada como objetivo de longo-prazo da agenda política.” (Oreiro)

Quem conhece a história da social-democracia alemã vê aí a mão do gato (Hélio Jaguaribe?). Bernstein, a partir da fundação da Segunda Internacional Socialista (1889), definiu a Social Democracia como resultante de um processo histórico (de caráter evolutivo e no sentido de Hegel) que já havia conduzido a um modelo de organização da sociedade que combinava os ideais socialistas de igualdade e justiça social com a preservação da democracia representativa e da economia de mercado. A expressão formulada pelos alemães social-democratas da época para sintetizar a “nova realidade” foi exatamente “economia de mercado socialmente regulada”.

Bernstein sustentava a tese revisionista (contra Kautsky e os aliados “leninistas” no interior da II Internacional) de que a emancipação do proletariado e da sociedade não emergiria nem do colapso final do capitalismo, imanente à dialética do modo de produção capitalista (citando Marx, epígono de Hegel), e nem da insurgência revolucionária das massas (citando Lênin, que não queira esperar sentado).

Para Bernstein, a marcha histórica dos acontecimentos nas sociedades capitalistas estava conduzindo, evolutivamente, à gradual realização dos objetivos do socialismo. Portanto, o que importava era que as “cabeças iluminadas” ao modo de Hegel apenas agissem no sentido da história. Daí que os novos-iluminados hegelianos estão, portanto, à vontade para defender e implantar, por exemplo, o “regime de câmbio flutuante administrado”, que é o regime necessário na “etapa histórica” da “economia de mercado socialmente regulada”, tal qual o formulado no final do século XIX por Bernstein. E quem não vê a “nova realidade” com a iluminação dos faróis do novo-desenvolvimentismo, ou é cego, ou é burro, ou é mau caráter.

Engraçado é denominarem isso por “novo-desenvolvimentismo”.

"O":

A explicação parece OK. Só que me parece estranho ter aparecido só depois de você chamar a atenção para a passagem original. Vamos lembrar que você tirou a citação do blog. Se fosse mesmo algo tirado fora de contexto, isto já poderia ter sido esclarecido a zero de jogo e não depois de apontado.

Em suma, a explicação pode até fazer sentido, mas eu duvido (e muito) da sinceridade dela.

Abs

Alex

"Existe algum risco de termos que aguentar um economista de "segunda divisão" no comando da Economia ? "

Sim. Guido Mantega?

"Existe a mínima possibilidade de um pateta como esse fazer parte da equipe "econômica" dos candidatos com chances reais nas eleições presidenciais?"

Sinto pena que um "pateta como esse" pleiteie um espaço assim... Se ele acredita que estar em Brasilia ou que falar baboseiras significam ganhar espaço em equipe econômica, só há pena por esta figura caricatural.

O sindicato dos economistas deveria tomar uma posição contra vocês.Cade a ética? Sindicato serve regulamentar a profissão.

Paga-se imposto sindical para isso!!

Caro "O", o senhor até agora não tocou no aspecto mais importante tratado pelo Oreiro: Crescimento causando maior taxa de poupança. Ele usa o trabalho de Modgliani como "prova" do sentido causal do crescimento para a poupança e não o contrário.
O senhor tem algum evidência de que a causalidade é da poupança para o crescimento?

Saudações,
Carlos