Um dos problemas de revistas acadêmicas que publicam artigos sobre temas contemporâneos são as defasagens de publicação. Na última Revista de Economia Política (primeiro trimestre de 2010) que acabei de receber, um artigo do competente Lauro Ramos analisa o mercado de trabalho brasileiro até 2005 e escreve na conclusão:
A despeito da série de evidências em favor de uma melhora de desempenho, [a taxa de desemprego] manteve-se estável para todos os fins práticos, oscilando timidamente em torno da marca de 10%.
Este artigo foi submetido em maio de 2007 e aprovado em junho de 2008, portanto esta sentença não está tão errada quanto parece à primeira vista. Mas vale a pena comparar com o Journal of Economic Perspectives que em sua edição do primeiro trimestre de 2009 já tinha artigos sobre a crise econômica que começara no terceiro trimestre do ano anterior.
Pergunto-me então: por que o editor associado encarregado deste artigo não mandou parar o prelo e requisitar uma revisão? Se os gringos-que-não-sabem-nem-batucar-direito conseguem responder rapidamente a eventos, por que nós não podemos também?
10 comentários:
Agora que vc recebeu, vai postar alguma coisa sobre o artigo do Serrano? Acho que merece.
Excelente ponto, "O".
Eu li ontem à noite o artigo do Serrano, temo que seja ruim demais para merecer comentário. Mas se faltar material...
http://www.ft.com/cms/885d7916-e3aa-11dc-8799-0000779fd2ac.html?_i_referralObject=15999418&fromSearch=n
"O",veja o que o biografo de keynes, Skidelsky, pensa sobre como o próprio Keynes reagiria ao ver como os economistas estão agindo hoje em dia.....
"... o foco deveria ser a Economia e não a dívida do governo..."
dá para separar?
Não sei se vcs viram esse artigo recente:
Lane, Philip R., and Jay C. Shambaugh. 2010. "Financial Exchange Rates and International Currency Exposures." American Economic Review, 100(1): 518–40.
So pra contextualizar, os caras utilizam uma base de dados até 2004. Essas coisas acontecem em bons journals tb.
Abstract:
In order to gain a better empirical understanding of the international financial implications of currency movements, we construct a database of international currency exposures for a large panel of countries over 1990-2004. We show that trade-weighted exchange rate indices are insufficient to understand the financial impact of currency movements and that our currency measures have high explanatory power for the valuation term in net foreign asset dynamics. Exchange rate valuation shocks are sizable, not quickly reversed, and may entail substantial wealth redistributions. Further, we show that many developing countries have substantially reduced their negative foreign currency positions over the last decade
Abs
L
O Delfim concorda com o Serrano...
Diz ai o que que tem de errado no artigo do Serrano... Comenta vai...
mande ver no artigo do Serrano.
Ele não é mto pior do que o Oreiro.
Comenta o Serrano. Com certeza ele é melhor que o Oreiro. Fez o doutorado em Cambridge.
Zé
“So pra contextualizar, os caras utilizam uma base de dados até 2004. Essas coisas acontecem em bons journals tb.”
É diferente. A conclusão “many developing countries have substantially reduced their negative foreign currency positions over the last decade” se mantém mesmo que incorporemos dados mais recentes.
O problema do artigo do Lauro é que uma frase crucial da conclusão foi desmentida pelos fatos e o processo editorial da revista deixou passar.
Se eu fosse o editor da revista, ficaria putíssimo com o editor associado lidando com o artigo.
E se eu fosse o autor do artigo, ficaria frustrado se a revista não me desse chance de revisar o artigo antes da publicação.
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