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sábado, 29 de novembro de 2008

Jumento de Ouro Awards

"pedro disse...

Você demonstrou um profundo desconhecimento sobre a economia Brasileira. O Brasil tem potencial para crescer 8% AA,o problema é o BC com a Selic. Índia cresce 8%,China a 9%,Brasil 5%.Temos que crescer 9%,basta você baixar o juros que o Brasil cresce."

10:42 da manhã e já temos um candidato ao Jumento de Ouro (podem votar, segundo sugestão do Kléber; depois eu publico os resultados).

A começar pela afirmação "Índia cresce 8%, China a 9%, Brasil 5%". Como bem lembrado pelo "O", trata-se de países muito pobres, com renda per capita bastante inferior à brasileira. Se há um fato que sobrevive em todos os estudos sobre crescimento é a convergência (condicional): economias mais pobres tendem a crescer mais rápido que economias mais ricas, isto é, a produtividade marginal do capital tende a ser maior onde capital é escasso.

Para quem gosta de outra abordagem (eu diria mais complementar que substituta), o que China passa hoje não é fundamentalmente diferente do que o Brasil passou há 40-50 anos: urbanização. Saem pessoas de atividades de produtividade baixa (agricultura) para atividades de produtividade relativamente elevada (indústria). No processo a produtividade total cresce (mesmo se não houver crescimento de produtividade em cada setor individual), e o crescimento acelera. Isto disto, já passamos por tal processo. Nossa história agora é outra, a saber, fazer crescer a produtividade em cada um dos setores, não mais pela transferência entre setores.

“O Brasil tem potencial para crescer 8% AA”. Isto acabou de ser desmentido. Com o crescimento batendo 5,5-6% a inflação sobe, como já mostrado aqui (http://maovisivel.blogspot.com/2008/05/inflao-e-o-p-de-feijo.html), aqui (http://maovisivel.blogspot.com/2008/05/inflao-alm-do-p-de-feijo_28.html), e aqui (http://maovisivel.blogspot.com/2008/06/inflao-contagiosa.html).

A propósito: de onde saiu o número de 8% (aliás, insuficiente, já que “Temos que crescer 9%,”)? Há algum trabalho, alguma estimação, ou é só uma questão de “vontade ‘pulítica'”?

Meu voto para o Jumento de Ouro de 29/11/08 já foi dado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

De fato e ficção

Uma característica central dos nossos heterodoxos é a permanente recusa a confrontar suas afirmações com os dados. Em suas análises a realidade é sempre um problema a ser cuidadosamente evitado, como transparece na apreciação heterodoxa dos efeitos da crise internacional sobre o Brasil. Segundo esta, o país sofre por ter permitido que a moeda flutuasse, ao contrário de países que evitaram a apreciação de suas moedas, apesar da melhora de seus termos de troca. Mesmo as reservas acumuladas nos últimos anos não serviriam de proteção, supostamente por não terem se originado de superávits em conta corrente, mas sim do endividamento externo. A distância entre estas afirmações e a realidade, no entanto, só pode ser medida em parsecs.

A começar porque, a despeito dos devaneios heterodoxos, a crise não tem poupado nenhum país emergente. Pelo contrário, os países que mais têm sofrido em termos de piora da sua percepção de solvência são exatamente aqueles que nossos keynesianos de quermesse tomavam (ainda tomam?) como exemplo. A Argentina, que pré-crise pagava cerca de 6% a.a. a mais do que um título de cinco anos do Tesouro norte-americano para emitir seus papéis, passou a pagar 48% a.a.. No caso da Rússia, o aumento, na mesma base de comparação, foi de 1% a.a. para 9% a.a., a despeito de seu superávit em conta corrente superior a US$ 100 bilhões nos 12 meses até junho deste ano.

As reservas russas, aliás, que, pelo critério heterodoxo, seriam presumidamente estáveis por resultarem da acumulação de superávits em conta corrente, já caíram de US$ 596 bilhões para US$ 453 bilhões entre 31/julho e 14/novembro, uma redução de aproximadamente 25%, quase toda ocorrida nos últimos 45 dias.

No caso brasileiro isto seria equivalente a uma redução de US$ 207 bilhões para US$ 155 bilhões. Em contraste, no conceito de liquidez internacional, nossas reservas alcançavam, na última sexta-feira, US$ 206 bilhões, praticamente intocadas, a despeito da virulência da crise e de sua suposta instabilidade por terem sido, Tupã nos perdoe, “construídas com base em endividamento externo”.

Da mesma forma que o câmbio flutuante mitigou o efeito do aumento de preços de commodities sobre a inflação, ele agora absorve parcela relevante da piora do ambiente externo. A diferença, porém, com relação a episódios anteriores de deterioração do ambiente internacional e conseqüente depreciação da moeda é que agora não só o setor público se tornou credor em moeda estrangeira, como a maior parte do passivo externo líquido do país consiste de investimento estrangeiro, o que passa o risco da desvalorização da moeda em larga medida para o investidor externo.

Em que pesem os efeitos (aparentemente esgotados) dos derivativos cambiais sobre as empresas privadas, o BC brasileiro pode permitir que a moeda flutue, preservando as reservas (e, portanto, a solvência externa), ao mesmo tempo em que os ganhos sobre estas ajudam a reduzir a dívida pública, melhorando a solvência doméstica. Não por acaso, em contraste com os modelos heterodoxos, nosso risco-país cresceu relativamente pouco, de 1% a.a. para 4,3% a.a., mais por conta da piora geral do que algum problema específico no Brasil.

Contra este pano de fundo só mesmo a duradoura “privação momentânea de sentidos”, tão particular aos keynesianos de quermesse, pode explicar a insistente louvação a um modelo que está levando países que o adotaram a uma crise financeira de grandes proporções. Para heterodoxos, contra a ficção não há argumentos.
(Publicado 26/Nov/2008)

sábado, 15 de novembro de 2008

Estarei fora esta semana

Estou com um notebook e devo conseguir entrar algumas vezes, mas, aviso, a liberação de comentários ficará lenta.

Abs

Alex

P.S. Por ter esquecido a senha do notebook (tinha usado uns três meses antes) consegui travar a máquina.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Como se contradizer no longo espaço de duas linhas

"Washington, 14 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou que a tendência no Brasil, a exemplo de todos os países no mundo, é que haja redução de juros. Apesar de não falar em prazos ou índices, o ministro insistiu na necessidade de reduzir o custo do financeiro. 'Vai haver espaço para a política monetária mais flexível em todos os países', declarou Mantega, em entrevista à imprensa, depois de participar de várias reuniões ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os primeiros ministros do Reino Unido, do Japão e da Austrália. (...)

Diante da insistência dos repórteres se o Brasil ia seguir a tendência do resto do mundo de reduzir os juros na próxima reunião do Copom, já que o ministro estava defendendo uma ação coordenada entre os países para conter a crise financeira, Mantega desabafou: 'vocês estão querendo é criar uma armadilha para que eu diga qual vai ser o próximo resultado do Copom, coisa que eu jamais direi, até porque eu não sei. Mas, aqui, o importante é dizer qual vai ser a diretriz, a linha mestra, e a linha mestra é a redução do custo financeiro no mundo inteiro e no Brasil também'. (...)

Mantega insistiu que 'nenhuma economia cresce com o custo financeiro elevado e crédito escasso'. E prosseguiu: 'nós temos de reverter isso, reduzindo o custo financeiro de diversas maneiras, e o Brasil vai fazer à sua maneira. Não vai fazer exatamente igual fez o Reino Unido ou os Estados Unidos. Mas nós também faremos um movimento neste sentido'. (Tânia Monteiro e Nalu Fernandes, enviadas especiais)"

Eu ia comentar, mas, francamente, preciso?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Emplasto Brás Cubas

Há quem prefira Dom Casmurro, mas meu favorito sempre foi Brás Cubas e seu miraculoso “emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar nossa melancólica humanidade”. Se, porém, o defunto autor não teve reconhecidas as glórias da invenção do alívio contra todos os males, podemos comemorar agora: basta gastar e baixar o juro. Cura até unha encravada.

No entanto, que pena, nem o maravilhoso mundo da ficção admite inconsistências desta ordem. Quem acha que pode tratar de problemas distintos com as mesmas políticas irá se decepcionar amargamente.

Os países no epicentro da crise tiveram seu sistema financeiro devastado: não só o capital dos bancos foi severamente reduzido como também estes têm que reduzir a relação entre empréstimos e capital, redundando em forte contração do crédito e, portanto, da demanda. A inflação, por outro lado, deixou de ser problema, face à própria queda de demanda e à redução de preços de commodities no caso de países que são fundamentalmente importadores destes produtos. Dados preços e atividade em queda, a melhor política é mesmo impulsionar a demanda.

O Brasil, porém, é um exportador líquido de commodities e, como tal, prejudicado pela queda de seus preços. A expressão real deste fenômeno - como mostrei em meu último artigo - é a redução da capacidade de importar, enquanto sua expressão monetária é a depreciação da taxa de câmbio, cujo efeito sobre preços domésticos é bastante conhecido. Ao contrário de países importadores de commodities, o choque externo é, no nosso caso, inflacionário. O remédio de uns é o veneno dos outros.

Sabemos, é verdade, que o crédito desacelerou fortemente no mês passado, tendência que, mantida à frente, conduziria à diminuição expressiva da demanda. No entanto, o que nos levaria a crer que o sistema financeiro nacional reproduzirá nos próximos meses o desempenho de outubro? Ao contrário do que ocorre mundo afora, os bancos brasileiros não sofreram perdas de capital, nem precisam reduzir a relação entre crédito e capital. Passado o choque inicial em que a incerteza acerca dos efeitos da crise sobre o país levou a um comportamento cauteloso, bancos devem voltar à normalidade e o ocorrido em outubro dificilmente será a norma.

Assim, aplicado o emplasto na forma de políticas econômicas que mantenham o crescimento da demanda doméstica, na linha do ocorrido em outros países, não é difícil imaginar as conseqüências. Importações, bastante sensíveis à demanda, não se desacelerarão. Exportações, por sua vez, seguindo o crescimento do comércio mundial e preços de commodities, devem perder fôlego. Estes desenvolvimentos combinados à maior escassez de capital num mundo de liquidez em baixa se traduzem em taxas de câmbio ainda mais depreciadas e, portanto, efeitos inflacionários adicionais ao choque da desvalorização inicial.

Óbvio que sempre iremos achar, entre os “keynesianos de quermesse” que cá abundam, quem diga que a preocupação com inflação é coisa menor no atual cenário e que o foco deveria estar no crescimento. No entanto, o problema não é (e nunca foi) crescer em 2009, e sim garantir que o crescimento seja duradouro, o que só é possível num cenário de estabilidade, exatamente como mostrado pela nossa própria experiência nos últimos anos. Por mais tentador que soe, ficará muito caro abandonar o regime de metas bem como toda estrutura de política econômica comprometida com a estabilidade.

A alternativa é o emplasto Brás Cubas. Só não espere que ele nos livre do legado da nossa miséria.

(Publicado 12/Nov/2008)