teste

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Acorda pataiada: Governos que emitem moeda não tem restrição orçamentária!

Com a palavra o ilustre professor Philip Lawn, da Flinders University, em Adelaide, Australia (grifos meus). Um breve trecho:


Imagine that I, as an Australian citizen, have performed an extraordinary deed for my country. To reward my efforts, the Australian Federal Government takes the unprecedented step of granting me three unique means of financing my spending. In the first instance, it provides me with a printing press that enables me to produce as many Australian $100 notes I like and spend them into existence. Secondly, it provides me with an open cheque-book that allows me to write cheques to whatever value I like and spend them into existence. The cheques never bounce. If I exhaust my cheque-book, I immediately receive a replacement. Finally, I am given a bottomless, plastic swipe card that enables me to conduct electronic transactions to whatever value I like. The transactions are always accepted as payment. Following an electronic purchase, the balance appearing on the seller‟s bank account rises by the value of the transaction.

Now, answer this question: Would I have any need to earn money, borrow money, tap into my savings, or sell some of my existing assets to finance my spending? The answer, of course, is no. My spending power would effectively be unlimited. Moreover, my spending power would bear no relation to my financial circumstances prior to being rewarded in the above manner. Irrespective of whether I previously possessed net financial assets worth $1 million or net liabilities of $1 million, my capacity to spend would be exactly the same. If I was in the latter position, all I would have to do vis-à-vis the former position is write myself an additional cheque to the value of $2 million.

What's the relevance of this? Although somewhat simplified, this is precisely the same privileged position enjoyed by every currency-issuing central government.

Para o artigo inteiro, clique .

Abstract: Despite what mainstream economists preach, currency-issuing central governments have no budget constraint. It is therefore incumbent upon them to use their unique spending and taxing powers to achieve the broader goal of sustainable development. Their failure to do so has meant that nations have fallen well short of realising their full potential. Rather than accept the neo-liberal myth that ‘small government is best’, the citizens of a nation should welcome the central-government’s responsible use of their unique spending and taxing powers to provide sufficient public goods and critical infrastructure, achieve and maintain full employment, resolve critical social and environmental concerns, and meet the requirements of an aging population. Should central governments fail in their responsibility to prudently use their unique powers, public disapproval is best registered through the ballot box, not through degenerative debates that distort the facts about the operation of a modern, fiat-currency economy.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Contra o aquecimento

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Anais da idiocracia: o mentecapto esloveno

Uma das maiores estrelas do pensamento de esquerda europeu é uma mula eslovena alucinada chamada Slavoj Zizek.

Aparentemente, o Vladimir Safatle - aquele professor da USP empenhado em manter o nosso sistema educacional como uma piada de mau gosto desenhada para não competir com o sistema educacional de países mais avançados como a Coréia do Sul - é um especialista em Zizek.

Vale a pena ler o que o Sol Moras tem a dizer sobre ele. Aqui.

¿Viva México?

Passei boa parte da última semana no México, país que, como o Brasil, adota o regime de metas para a inflação, operando, porém, de forma bastante característica. Embora a meta mexicana (3%) seja mais ambiciosa que a brasileira (nada de excepcional nisto), o Banco de México apresenta um desempenho ruim: a inflação tem ficado sistematicamente acima de 3%, atingindo a meta em raros momentos; nunca abaixo dela.

Devido a isso, a brincadeira corrente entre economistas monetários afirma que – ao contrário de outros bancos centrais, os quais, ao perder a meta, devem escrever uma carta explicando como pretendem fazer para voltar a ela – o Banxico só escreve sua carta quando atinge aquela, prometendo solenemente nunca mais voltar a fazê-lo (economistas têm um senso de humor peculiar, reconheço). Isto dito, qual é o problema de apresentar uma taxa de inflação persistentemente superior à meta?

Em respeito à minha herança judaica, respondo à indagação com outra. Se, no melhor caso, a inflação está na meta e na maior parte do tempo acima dela, pergunto ao leitor qual a melhor previsão para a inflação asteca: um número acima de 3%, ao redor de 3%, ou abaixo de 3%? Imagino que a resposta da maioria dos 17 fiéis deve ser “acima de 3%”, replicando, diga-se, o comportamento dos economistas que contribuem para a versão mexicana da pesquisa Focus, que preveem inflação superior à meta não só para 2011, mas também para horizontes mais longos.

A preocupação com as expectativas não é um capricho de bancos centrais. Há preços na economia que, ao invés de serem ajustados diariamente, sofrem revisões periódicas, mantendo-se praticamente inalterados entre estas (por exemplo, e crucialmente, salários, cuja correção é anual). Ao fixar, pois, preços e salários é necessário levar em conta a inflação esperada ao longo do período em que tais preços permanecerão constantes, de modo a suavizar os efeitos da corrosão inflacionária. Obviamente, se a inflação esperada se eleva, também aumentam os preços correntes, em virtude das expectativas neles embutidas.

É tentador, embora errado, acreditar que, por conta desse fenômeno, a inflação se torne uma profecia autorrealizável. Face à inflação esperada acima da meta, um banco central ainda pode evitar a deterioração do processo inflacionário, mas a conta fica mais salgada. Torna-se necessário compensar a piora das expectativas com uma desaceleração mais profunda da atividade aumentando a taxa real de juros, isto é, a taxa nominal de juros deve subir mais do que a inflação esperada, com impactos sobre, por exemplo, a taxa de câmbio. Não por acaso, há bancos centrais que, mesmo em vista de piora das expectativas, relutam a utilizar a política monetária e acabam por acomodá-las.

No caso do México, em particular, pude ouvir de alguns interlocutores que, devido ao poder de mercado de grandes empresas e sindicatos, que elevam seus preços acima da meta, o Banxico não consegue produzir a convergência da inflação. Entretanto, à luz da discussão acima, espero ter deixado claro que o problema é exatamente o oposto: como o Banxico não entrega a inflação na meta, tanto empresas como trabalhadores incorporam expectativas mais altas nos seus preços, devidamente sancionados pela política monetária. Produz-se assim um equilíbrio perverso, no qual a inflação é elevada mesmo quando a economia cresce pouco, porque o banco central não se mostra disposto a buscar, de fato, a meta, mas acomoda a inflação acima dela.

De volta ao Brasil, na semana do primeiro Copom sob nova administração, frente a expectativas de inflação bastante superiores à meta, espero que as lições do caso mexicano estejam devidamente estudadas e que o BC mostre, mais uma vez, seu compromisso inequívoco com o regime de metas. Ou então, ¡que viva México! 

A meta ficou lá pra trás
(Publicado 19/Jan/2011)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Está provado: Governo do Brasil quer destruir o INEP

O INEP, que já teve Reynaldo Fernandes como presidente, agora vai ser presidido pela reitora da Uni-Rio, Malvina Tania Tuttman (veja aqui, via Reinaldo Azevedo).

Meses atrás o blog do Reinaldo Azevedo postou trechos de um discurso dessa figurinha saudando o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim que estava proferindo uma aula magna naquela ‘instituição de ensino’. A fala de Malvina, se proferida por um estudante de graduação, tanto pelo conteúdo quanto pela forma, seria evidência que existem estudantes de graduação na Uni-Rio incapazes de escrever um discurso ao nível esperado de um aluno universitário. Agora ela preside o INEP.

Sinceramente, não existe nenhum segundo-anista do FFLCH mais qualificado que a Malvina?

Mein gott...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Não tão depressa que pareça covardia, nem tão devagar que pareça provocação

04/01/2011 às 16:24h


O reajuste do salário mínimo para um valor superior aos R$ 540 aprovados no Orçamento de 2011 será vetado pela presidenta Dilma Rousseff, afirmou hoje (4) o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele classificou de temerário qualquer esforço para aumentar o mínimo além do previsto.

De acordo com o ministro, um novo reajuste complicará o ajuste fiscal prometido para este ano. “É temerário aumentar o mínimo além de R$ 540. Se vier coisa diferente, vamos vetar. Um reajuste acima desse patamar pressiona os gastos da Previdência, causa deterioração das contas públicas e dificulta o resultado fiscal que pretendemos”, ressaltou.

Brasília, 14 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou há pouco que o governo federal corrigirá o valor do salário mínimo de R$ 540,00 para R$ 545,00.

- No pasarán!
- Ih, passou

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Quero bater no Eremildo

Elio Gaspari é o galã de roça dos nossos intelectuais públicos. De longe, parece o Clark Gable do Gone with the Wind, mas de perto é um jeca tísico com bigodinho ralo e pés descalços.

O artigo dele sobre o incidente envolvendo a congressista Gabrielle Giffords do Arizona é de me fazer bater a cabeça na parede.



Um vermelho e azul

Políticos republicanos de seis estados, entre os quais o Arizona, querem cassar a cidadania dos filhos americanos de imigrantes que entraram ilegalmente nos Estados Unidos. Só em 2008, nasceram 340 mil. A iniciativa é inconstitucional, mas para o Tea Party atrai votos. A Constituição americana, como a brasileira, dá a cidadania a quem nasce na terra.
E daí? É por acaso inconstitucional tomar uma iniciativa para se reformar a Constituição?

Numa nação de imigrantes, a intolerância de uma parte da sociedade já perseguiu negros, católicos, irlandeses, chineses, coreanos e japoneses.
Em outra nação de imigrantes, o Brasil, a intolerância de uma parte da sociedade já perseguiu negros, protestantes e japoneses. Não perseguimos os irlandeses mesmo porque apesar da Grande Fome que acometeu seu país, nunca fomos um destino de imigração interessante para os irlandeses (dos poucos que vieram, a maioria se recusou a ficar no país). Não perseguimos os chineses e coreanos porque nunca vieram para cá em números significativos.

A bola da vez, há tempo, são os latinos. Eles formam a maioria dos 12 milhões de estrangeiros que trabalham no país sem a devida documentação. (Talvez 700 mil sejam brasileiros.)
Qual a evidência de que latinos sejam a 'bola da vez' da intolerância, ó Eremildo? O atentado de um desequilibrado? Qual a conexão lógica que você formou para associar o desejo de limitar a imigração ilegal com a intolerância?

O chefe do setor de cirurgia onde Gabrielle Giffords foi operada, chama-se Peter Rhee e o delegado local, David Gonzalez. Ambos descendem de imigrantes vindos de regiões vistas com desprezo pelos nativistas radicais americanos.
Mas se os imigrantes legais conseguem chegar a posições de destaque, isso vai contra o seu argumento de intolerância ao imigrante (mesmo porque não existe nada que um observador honesto, em um arroubo de exagero, possa chamar de sentimento de intolerância ao imigrante nos EUA. Pelo contrário).
Mais: o que são nativistas radicais americanos? Quantos são eles? Isso é o mesmo que dizer que "Elio Gaspari é visto com desprezo pelos radicais anti-capachos-de-milico brasileiros". Não quer dizer nada.


O diretor da rede escolar pública de Tucson quer fechar os cursos de história e cultura latinas. Entre os livros que pretende tirar dos currículos está a “Pedagogia do oprimido”, de Paulo Freire.
Parabéns para ele. Existem poucas medidas que ele poderia tomar para melhorar o ensino mais promissoras do que cortar o lixo marxista chulé do Paulo Freire (nota: eu li, é lixo sim senhor).

(...)

O desequilíbrio de Jared Loughner expôs a teatralidade e a violência da recente xenofobia americana.
Besteira anabolizada. O desequilíbrio de Jared Loughner apenas expõe... o desequilíbrio de Jared Loughner... Teatralidade? O que raios isso significa?

From Bernanke with love

Esta é uma carta fictícia do Bernanke para o Mantega, aparentemente publicada no FT. Tem um erro (fica para vocês apontarem). Já o resto é verdade.


Currency wars
Published: January 11 2011 15:12

Dear Mr Mantega,

Being frustrated politicians ourselves, we at the Federal Reserve rather envy you your currency war tub-thumping. But as Brazil's finance minister you might want to think of the consequences if we were actually to treat your ramblings seriously.

You say that "deep down" our policy of quantitative easing is a trade strategy - a weapon to boost competitiveness at your expense. Ending QE with a sharp rise in US interest rates would indeed strengthen the dollar against the real. But it would also make America's fragile economy crumble, by increasing the cost of corporate debt, at a record level of almost 50 per cent of gross domestic product and (through higher mortgage rates) destroying the property market and bank balance sheets (32 per cent of the $13,400 billion in bank assets are loans secured on real estate). Consumption would tumble.

And you must remember what happened when the US economy went pop almost three years ago? Money flooded out of Brazil and your claimed self-sustaining growth engine stalled. And if interest rate differentials suddenly move in our favour, investors would cease to find the returns on Brazilian assets so attractive. And you actually need their hot money to help increase investment levels from a low fifth of GDP as well as to balance your current account deficit.

But Mr Mantega, it was big of you to complain about China too, this time. Thanks for that. Ultimately the real is so strong because commodity prices are so high, and that in turn is because China's currency has been kept artificially low. OK, our QE makes that problem even worse. But frankly, Mr Mantega, you need to get off our case on that one. QE is just another form of monetary policy and US rates are low because our economy is currently weaker than yours. When the outlook improves, we will tighten. You're not exactly suffering down there. Or is there something worrying you that markets don't yet appreciate?

Yours sincerely,
Ben Bernanke

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Anais da idiocracia: versão jardim de infância

No Financial Times de hoje:


“There will always be currency war, whether it’s a cold war or an all-out war,” stresses Mr. Mantega during an interview in São Paulo. “The exchange rate is one of the main drivers of competitiveness, more so even than productivity. Even as the US recovers, they will continue with quantitative easing because deep down it’s a trade strategy. This forces countries to defend themselves as best they can.”

Obviamente a criança não é capaz de notar que o fato dele se manter como ministro da Fazenda demonstra cabalmente que alguns países não se defendem do melhor modo que eles podem.

Mamããããããe, o QE comeu minha lição de casa!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

100 mil!

Valeu pessoal. Um grande abraço a todos!
Os querubins de Judah agradecem.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Anais da idiocracia: Bancos centrais assassinos!

Olha essa pérola, de um tal Subhendu Das da Califórnia:

Central Bank – the Root Cause of Poverty, Tax, and Deficit (link)

In each country the central bank is a privately owned bank with no transparency and accountability to the government of that country. It is also the only bank that can print the money for that country and does it so out of thin air. At the same time this bank wants that the government returns the money with interest. We show that this structure creates deficit, introduces tax, and causes poverty around the globe. This paper shows how central banks control the economy by manipulating the financial system it has designed. The paper explains how easily the central banks can control the unemployment, create recessions, and transfer wealth from the lower economic group to higher economic group and perpetuate the poverty. The paper also proposes three methods of eliminating central banks.

O artigo é realmente de desbundar de rir. Veja isso:

The same is true for the US government. Suppose the government wants to build a high speed train from Los Angeles to New York. Let us say it will cost $500 Billion. The US Government can print the money and give it to all the people, the contractors, and the corporations who will work for the project. The government will not have to give back the money to anyone. For, it has printed it out of nothing, out of thin air. Since the government will not have to give it back, so there will be no need for tax on the people. This printing method will eliminate deficit, tax, and poverty.

E isso:

Essentially all the approaches are going against central banks. They are all powerful, they will kill you. President Abraham Lincoln wanted to print money (Donald, 1995, p. 352) to finance the civil war. President Kennedy created an executive order (Woolley, ND) to print money. Many say they were assassinated because they went against the central bank. If the central bank senses that you are threatening them then you will be gone too. They have the guns, and we do not. Note that we have central banks in almost all countries now.

Caminhando com o vento

Há algumas semanas fui pedalar na ciclovia às margens do Rio Pinheiros. Depois de Jurubatuba (para os não-paulistanos, é muito, muito longe mesmo) eu e um amigo nos congratulamos pelo estupendo preparo: pedalávamos a 37 km/h, sem o menor sinal de cansaço. Claro que, na volta, agora contra o vento que ajudara na ida, a média mal passou dos 20 km/h, e cheguei à minha casa à beira da exaustão. Enquanto ofegava e maldizia a ventania, refletia (o que mais me restava a fazer?) como é fácil atribuir o desempenho favorável aos nossos méritos e as dificuldades a fatores externos, embora, a bem da verdade, o vento tenha soprado na mesma direção o tempo todo.

No caso do Brasil, ventos externos têm sido – à exceção do final de 2008 e começo de 2009 – bastante favoráveis. Preços de commodities começaram a subir a partir do último trimestre de 2001 e, ao final de 2010, haviam aumentado nada menos do que 75%, já deduzida a inflação. Como o Brasil é um exportador líquido de commodities, a elevação dos seus preços traduziu-se também numa melhora expressiva dos termos de troca, isto é, da relação entre o preço das coisas que o Brasil exporta e o dos bens que importa. Nesse mesmo período (do quarto trimestre de 2001 ao quarto de 2010), esta variável teve uma melhora de 34%, como mostrado no gráfico.

Posta dessa forma, todavia, a afirmação fica algo abstrata. Certo, os termos de troca melhoraram, mas como mesmo isto beneficia o país? No que segue tentamos uma resposta (aproximada) a esta pergunta.

Para começar, precisamos de um marco de referência para aquela variável, isto é, um padrão contra o qual possamos medir os valores observados. A este respeito, a evidência empírica sugere (sujeita a dúvidas, porém) que os termos de troca no Brasil tendem a retornar à sua média, embora a uma velocidade glacial (são necessários cerca de dois anos para andar metade do caminho de volta). Esta característica permite que usemos a média como nosso padrão de referência.

Tomando, pois, esse padrão e considerando as quantidades observadas de bens exportados e importados, é possível estimar qual teria sido o valor do saldo da balança comercial caso os termos de troca tivessem se mantido na média, ao invés dos valores efetivamente observados.

Diga-se desde já, há uma simplificação considerável neste cálculo. Com efeito, caso os termos de troca observados sejam melhores do que a média histórica, a taxa de câmbio real deveria também se apreciar, o que se traduziria numa redução das quantidades exportadas e aumento das importadas em relação à situação hipotética de termos de troca iguais à média. Em nome da simplicidade, porém, ignoramos este efeito.

Feitas as contas, estimamos que a balança comercial – que nos 12 meses até novembro de 2010 apresentou superávit de US$ 17 bilhões – teria registrado um déficit de US$ 35 bilhões caso os termos de troca estivessem no seu valor médio. Houve, sob esta ótica, um ganho a favor do Brasil da ordem de US$ 52 bilhões, equivalente a 2,6% do PIB.

No gráfico traçamos as estimativas de ganhos e perdas associados ao desvio dos termos de troca relativamente à média. Assim, quando esses registravam seu pior momento no período (nos 12 meses terminados em agosto de 2003), calculamos que o país sofria uma perda equivalente a 1,3% do PIB, enquanto o maior ganho da série teria sido observado precisamente em novembro passado (os 2,6% do PIB já mencionados). Em outras palavras, a melhora dos termos de troca, decorrência do aumento do preço de commodities, implicou um ganho próximo a 4% do PIB nos últimos 7 anos.


Isto permitiria que a demanda doméstica crescesse em torno de 0,5% ao ano mais rápido do que o PIB no período mantendo a balança comercial inalterada. Como o crescimento da demanda interna relativamente ao PIB foi algo maior (em torno de 0,7% ao ano), houve alguma redução no saldo comercial relativamente ao observado em meados de 2003.


Concretamente, pois, os ganhos de termos de troca permitiram que a demanda doméstica assumisse a liderança do crescimento, expressa numa taxa de expansão média pouco inferior a 5% ao ano, revertendo, na prática, o padrão observado no período anterior, marcado pela deterioração expressiva dos daquela variável.

Tais estimativas, ainda que aproximadas, têm implicações claras para a política doméstica. A menos que se espere, ao contrário de toda experiência, que o ciclo positivo de commodities seja infinito, o país deveria se preparar desde já para a possibilidade de reversão, em particular aproveitando o momento favorável de crescimento para deixar as contas fiscais em ordem. Ou então, quando o vento mudar, veremos que o preparo não é o que imaginávamos, e que o risco de exaustão está bastante presente.

Charlie don't surf!
(Publicado 6/Jan/2011)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Das negativas

Dentre as parcas vantagens do envelhecimento, tema mais premente a cada Ano Novo, o acúmulo de erros, que nos indica quais rumos não tomar, é das maiores. Previsões econômicas, por exemplo, ainda que mercadoria muito apreciada na virada do ano (não sei bem por qual motivo), são um verdadeiro convite ao desastre. Mesmo titãs da profissão não escaparam, em algum momento, de desperdiçar uma oportunidade histórica de manter a boca fechada. É verdade que, como economista, não tenho como fugir delas, mas a experiência nos ensina algumas coisas a respeito, em particular que previsões sobre coisas que não irão ocorrer são bem menos arriscadas do que o valor exato da taxa de câmbio às 16:00 do dia 30 de dezembro de 2011.

Obviamente não me refiro aqui a impossibilidades práticas (prever que não haverá um voo tripulado a Marte em 2011 é uma barbada, embora provavelmente irrelevante), mas sim a fatos que podem ter alguma importância para as decisões que terão que ser tomadas este ano.

Assim, por exemplo, é claro que não ocorrerá um reforma tributária no Brasil (já a criação, ou re-criação, de novos impostos é um risco sempre presente). Da mesma forma, prevejo que não reformaremos as regras trabalhistas, nem resolveremos a questão previdenciária. Entretanto, antes que isso se transforme numa triste paródia do capítulo final de Brás Cubas (“não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro”, encerrando-se com o insuperável “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”), é conveniente antecipar o que de importante não ocorrerá: o ajuste fiscal.

Sejamos, porém, um pouco mais precisos: não é impossível que, depois da farra de 2009-2010, haja alguma melhora das contas públicas. Por outro lado, não há indicações que tal melhora será suficiente para neutralizar os efeitos da expansão passada.

Concretamente, o Banco Central, em seu último Relatório de Inflação explicitou que espera um superávit primário consolidado da ordem de 3% do PIB em 2011. Mesmo sob estas condições, porém, o BC indica que a Selic teria que ser aumentada até 12,25% ao ano para que a inflação retorne à trajetória de metas.

Dado que o superávit primário do setor público atingiu 2,5% do PIB nos 12 meses terminados em novembro, os mais inocentes podem acreditar que bastaria um pequeno aperto para atingir o valor programado em 2011. Todavia, as contas fiscais têm passado por uma deterioração expressiva também no que diz respeito à qualidade das estatísticas. O exemplo mais famoso (mas longe de ser o único) foi a contabilização de R$ 32 bilhões de reais (0,9% do PIB) associados à capitalização da Petrobrás como receita da União. Uma vez que se corrija o resultado primário, retirando toda contabilidade criativa, estimamos que, na verdade, este tenha ficado em torno de 0,9% do PIB no período.

Aplicando a mesma correção à meta fiscal, chegamos à conclusão que o setor público teria que atingir um superávit primário ajustado de 2,7% do PIB em 2011 para ser congruente com a hipótese do BC, ou seja, um ajuste de 1,8% do PIB.

Trata-se de corte muito mais profundo do que o observado nos dois episódios anteriores de contração fiscal, em 1999 e 2003, quando o gasto público caiu respectivamente 0,6% e 0,8% do PIB. Note-se, ademais, que, em ambos os casos, foi a alta da inflação a responsável pela redução mais expressiva das despesas. No entanto, como hoje o ajuste fiscal se impõe precisamente para reduzir a inflação, valer-se dela para reduzir o gasto deixou de ser uma prática aceitável.

À luz destas considerações é muito difícil que se produza um ajuste fiscal compatível com o presumido pelo BC, sugerindo a necessidade de um aperto monetário ainda maior. Afirmei nesta coluna que, mais cedo ou mais tarde, a conta do descalabro chegaria. Parece que esta previsão foi acertada.


Esta até ele acerta
 (Publicado 5/Jan/2011)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Coerência acima de tudo

25/10/2010 - 18h02

Governo não cogita ajuste fiscal para atenuar câmbio, afirma ministro

BRASÍLIA - O governo não cogita um ajuste fiscal para atenuar a questão cambial, disse, hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Os gastos públicos não têm impacto inflacionário no Brasil", afirmou ele. "É um equívoco essa visão, porque a inflação está subindo por causa dos alimentos e não por gastos governamentais", continuou ele.

Ao ser questionado sobre a posição de analistas que defendem maior controle fiscal, de forma que o governo contribua para a redução dos juros pelo Banco Central, já que os juros elevados atraem o investidor externo ao país, Mantega rebateu: "Acho que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Se fosse assim, os Estados Unidos, que têm um déficit fiscal enorme, deveriam estar com os juros lá em cima", continuou ele.

(...)

MANTEGA:GOVERNO ESTÁ PRONTO P/TOMAR MEDIDAS P/IMPEDIR ALTA DO REAL

Brasília, 4 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou há pouco que a valorização do real acendeu o sinal de alerta do governo, que, segundo ele, está pronto para tomar medidas para conter esse processo. “Não mediremos esforços para impedir que o dólar derreta, seja direta ou indiretamente”, afirmou.

O ministro disse que não anunciará medidas hoje, mas destacou que o governo já está trabalhando em uma “ação fiscal forte” que, no médio prazo, tende a contribuir para reverter o processo de valorização do real. Isso porque, argumentou, um ajuste fiscal reduz a demanda na economia, o que deve abrir espaço para, no futuro, quando o Banco Central julgar que é possível, os juros caírem. Mantega lembrou que o juro alto é um fator de atração de capital externo e sua redução contribui para conter a valorização do câmbio.

- O ajuste fiscal não tem nada a ver com câmbio!
- Tem sim! Vamos fazer o ajuste!
- Tem não!
- Tem sim!
- Hoje é terça ou quarta? 

666

O Alex é careca, tio “O” não... Quem sabe o que está gravado em meu couro cabeludo?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Chávez e a imbecilização da Venezuela


Alguns amigos venezuelanos já haviam chorado no meu ouvido sobre o esvaziamento da capacidade intelectual daquele país uns cinco anos atrás pelo menos. Assim como conheço cientistas colombianos que retornaram a seu país graças ao sucesso estrondoso do governo Uribe na questão de segurança e crescimento econômico. Mas nada como os dados para mostrar e o blog cienciabrasil mata a cobra e mostra o pau. Siga o link aqui.



Um dos maiores desastres de política social do chavismo aconteceu na saúde (fonte: leia o que dizem as revistas especializadas). Mas não só os hospitais bolivarianos foram abandonados às moscas, mas também a pesquisa em medicina segundo o site do Scimago (de onde foi tirado o grafico acima).

Nassif, a pedido de um anônimo

Um anônimo fez um comentário muito importante que merece virar um post:

Meus caros,

Vocês estão cometendo um erro muito grave. Não escrevi o post (claro) nem tenho procuração de ninguém para analisar o "verdadeiro" conteúdo do post. Mas me parece que este fala sobre o CONTRATO SEM LICITAÇÃO DO NASSIF COM A PETROBRÁS DE QUASE UM MILHÃO!!!!!!! Vamos repetir: CONTRATO SEM LICITAÇÃO DO NASSIF COM A PETROBRÁS DE QUASE UM MILHÃO!!!!!!! Uma vez mais: CONTRATO SEM LICITAÇÃO DO NASSIF COM A PETROBRÁS DE QUASE UM MILHÃO!!!!!!! E, por fim, mais uma, maestro: CONTRATO SEM LICITAÇÃO DO NASSIF COM A PETROBRÁS DE QUASE UM MILHÃO!!!!!!!


O artigo do Mainardi é uma pequena citação em nota de pé-de-página, não? Temos que discutir como alguém (sem credibilidade profissional - em qual grande veículo de comunicação privado ele está?) é brindado com mais um contrato público milionário sem licitação! Alguém ainda disse que ele não é economista. Isto torna ainda mais grave as coisas, não?

Esta cortina de fumaça que alguns indignadozinhos vieram colocar nos comentários (se deve-se ou não processar alguém por suspeita) deve ser rechaçada. O ponto básico é: POR QUE ESTE CONTRATO????????


Eu também pergunto: qual a justificativa para a Petrobrás pagar quase um milhão – sem licitação – pelos serviços do Nassif?

I'm just a poor boy...



Esta música tem uma das letras mais deprimentes da história do rock e certamente pertence à trilha sonora ideal dos oito anos do governo Lula.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Novidade

Aparentemente temos um presidente com colegial completo novamente.

Sabe como é, sou um cara do tipo half-full glass.