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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Combustível no pasto


Preocupado com a reação popular ao aumento dos preços dos combustíveis, o governo, na figura do seu Ministro das Minas e Energia, ordenou à Petrobrás Distribuidora que reduzisse o preço da gasolina “entre 6% e 10%”, conforme relato da imprensa. Além disto, o Ministro anunciou que pretende elevar a participação da Petrobrás na produção de etanol, para tentar regular também este combustível. Estas medidas deveriam ser inaceitáveis numa economia de mercado.

Desde os primórdios da teoria econômica sabe-se que preços desempenham um papel central nas decisões de consumo e produção. Preços crescentes de um determinado bem, por exemplo, enviam duas mensagens correlatas: “consumam menos” e “produzam mais”. Estas duas ações em conjunto devem não só estabilizar os preços como também eliminar eventuais desequilíbrios; no caso em questão, sua elevação, ao reduzir o consumo e aumentar a produção, faz com que, eventualmente, estas duas grandezas se igualem.

Isto dito, se esse mecanismo é, por algum motivo, atravancado, a simples dinâmica descrita acima fica irremediavelmente comprometida. Vejamos, para começar, o caso da gasolina.

Não é segredo que, na esteira da elevação dos preços de petróleo, os preços internacionais dos derivados também têm aumentado. Nos países em que se permite que tais flutuações se transmitam aos preços domésticos, o consumo tende a se ajustar (a produção, ao menos no curto prazo, nem tanto). Obviamente isto geralmente tem impacto (a princípio temporário) sobre a inflação, que não seria grande problema caso a política monetária mantenha a inflação próxima à meta. Em particular, no Brasil, o (enorme) intervalo de dois percentuais deveria ser mais que suficiente para acomodar tais choques.

Contudo, como se decidiu permitir a priori que a inflação se aproximasse do limite superior, qualquer choque agora pode levar ao descumprimento da meta. Este parece ser o motivo por trás da decisão de reduzir os preços domésticos, sinalizando “consumam mais”, apesar dos elevados preços internacionais do produto. A ineficiência é óbvia: não só deixamos de economizar um recurso mais valioso, como também tal decisão reduz as margens da Petrobrás, dificultando sua tarefa de elevar a produção doméstica de petróleo e derivados.

A isto se soma a proposta de aumentar o peso do governo na produção de etanol. Em nome de uma suposta segurança na oferta do produto, caso valha a experiência com a gasolina, não parece improvável que o governo passe a usar sua posição dominante para reduzir preços nos momentos em que a oferta esteja baixa e a demanda alta. O resultado deste comportamento pode ser ainda pior que no caso anterior.

De fato, este tipo de política não apenas tende a incentivar o consumo no momento em que este precisa ser contido, mas, adicionalmente, desestimula a expansão da oferta. Que produtor, sabendo deste comportamento, se disporia a investir sob o risco de ver seu preço de alguma forma tolhido pelo governo? Pensando friamente, esta política, na prática, reduziria a segurança da oferta.

A verdade é que a inflação no Brasil não resulta do aumento de uns poucos preços, mas se trata de um processo disseminado. Para lidar com um problema generalizado, por mais tentadoras que possam ser políticas que limitem o aumento de preços de uns poucos setores, é necessária a utilização de instrumentos que reduzam a demanda como um todo, de preferência pela redução do elevado consumo do governo.

Se, ao invés disso, o governo preferir interferir diretamente na formação de preços, numa reprise em escala reduzida do malfadado Plano Cruzado (que congelou preços há 25 anos), só elevará adicionalmente as distorções presentes na economia brasileira, sacrificando a eficiência econômica sem resolver, além do curtíssimo prazo, o problema inflacionário no Brasil.

(Publicado 25/Mai/2011)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Férias

Sei que é meio esquisito falar de férias na minha atual condição de desempregado, mas estarei viajando nas próximas duas semanas. Imagino que terei acesso (limitado) à internet no período, mas já deixei prontos os posts dos meus próximos artigos, que deverão aparecer nos dias 25/maio e 2/junho. Vou moderar os comentários, mas estes podem demorar um pouco para serem publicados. Fiquem à vontade para continuar comentando.

Abs e até a volta,

Alex

domingo, 15 de maio de 2011

Dica do Mankiw: os economistas favoritos dos economistas

O artigo completo está aqui. O aperitivo está nos gráficos abaixo: pré-século XX, século XX, mas já falecidos, vivos acima de 60 e vivos abaixo de 60. Clique nos gráficos para aumentá-los.



Minhas escolhas seriam: David Ricardo, Paul Samuelson, George Akerlof e Paul Krugman.

P.S. Fiquei devendo uma explicação (escrevi meio na correria, mas agora acabei de liberar um comentário em que o autor - Anônimo - explicou suas escolhas e me bateu certa culpa pela preguiça).

1) Ricardo: óbvio que Smith foi o fundador da disciplina e quem teve a sacada da "mão invisível", mas, para mim, Ricardo foi quem primeiro mostrou as possibilidades analíticas da Economia. Quase tudo que ele escreveu pode ser traduzido na forma de modelos. Para mim, ele mostrou a caminho. (David Hume também tem uma belíssima análise do balanço de pagamentos que o Obstfeld ainda mantinha no seu "reader" quando estudei com ele há quase 20 anos)

2) Samuelson: eu li Keynes (incompreensível, ainda que reconheça a dificuldade que enfrentou por abrir um campo totalmente novo), algumas coisas do Friedman (excelentes, como a teoria da função consumo, o papel da política monetária, o positivismo na economia), e Schumpeter (mais o TDE que o Business Cycle - este último chato). Admiro todos (e também o Tobin e o Hicks, ambos brilhantes). Isto dito, quem deu forma à economia no século passado, praticamente sozinho, foi o Paul Samuelson. Quase não há campo na teoria em que ele não tenha dado alguma contribuição relevante: micro, macro, comércio, crescimento. Falou bobagem às vezes? Sim, como os demais e como todos nós, mas, mais que qualquer um, é o pai da economia que estudamos hoje.

3) Akerlof: talvez a escolha mais difícil de justificar, mesmo porque eu balancei entre vários nomes. Não tem nem o que falar do Arrow, mas, sinceramente, as coisas dele não são muito minha praia. Acho o Lucas fenomenal como economista, outro cara que, quase sozinho, deu nova face à macro, etc, mas ainda tenho restrições a algumas das suas conclusões. Becker é interessante, mas também nunca entrei muito a fundo no trabalho dele. Gosto muito das coisas do Solow (e do senso de humor, sem dúvida) também. Porém, acredito que tanto a gama como o alcance do trabalho do Akerlof são mais interessantes. Seja na questão das implicações de informação assimétrica, seja na exploração dos microfundamentos da economia keynesiana e pela coragem e seriedade com que ousa sair da disciplina, sem a postura babaca do Stiglitz.

4) Krugman: quem acompanha o blog sabe que eu quero ser o Paul Krugman quando crescer. Não o blogueiro (embora acompanhe e goste do blog, sem concordar 100%), mas o economista capaz de - com meia dúzia de equações - ir à raiz de um problema até então insolúvel e tirar daquilo sacadas com que nem sonhávamos. Ninguém faz nada parecido.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A pedido - 1

Tinha prometido ao Pedro que postaria o gráfico da inflação "cheia" e núcleo no Brasil e estou cumprindo a promessa. No caso, como temos 5 medidas de núcleo (médias aparadas, com e sem suavização, exclusão, IPCA-EX e IPCA-Dupla Ponderação - que reduz o peso de acordo com a volatilidade), estou usando a média simples delas, para não ser acusado de usar a mais conveniente.

Como se pode ver, não há muita diferença, ao contrário de, por exemplo, o que se vê nos EUA, sugerindo que - conforme tenho insistido - não se trata de processo inflacionário resultante de uns poucos preços muito voláteis, mas sim disseminado.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Inflação de desculpas

Em 1999 o país adotou, com sucesso, o regime de metas para a inflação. Ao lado das metas fiscais e do câmbio flutuante, o regime é parte crucial do chamado “tripé macroeconômico”, que desempenhou papel central na estabilização da economia, permitindo, entre outras coisas, uma elevação gradual do crescimento sustentável. A taxa de investimento, que há alguns anos oscilava ao redor de 16% do PIB subiu a 18% do PIB em média nos últimos 4 anos, fenômeno que, sozinho, pode ter acelerado o crescimento potencial em até 1% ao ano entre 2003 e 2010.

Não é segredo, contudo, que o tripé macro vem sofrendo um desgaste contínuo ao longo dos últimos anos. O compromisso com a meta fiscal foi sendo abandonado aos poucos, de forma acabrunhada, é bom que se diga, mas não menos real. Já a flutuação livre da moeda vem se tornando uma ficção desde o final de 2010, o que – como tenho argumentado – permitiu que o aumento do preço em dólares das commodities se traduzisse quase que integralmente numa elevação do seus preços em reais, com sérias implicações negativas para a evolução da inflação.

Resta ainda, ao menos do ponto de vista formal, o compromisso com a meta de inflação, objeto de reiteradas juras de fidelidade por parte do governo, da presidente da República ao presidente do Banco Central, passando pelo ministro da Fazenda. Entretanto, se nas juras não falta o ardor retórico que os menos avisados poderiam confundir com sinceridade, na atuação concreta das autoridades – seja pelos seus atos, seja por meio do seu diagnóstico do fenômeno inflacionário – o comprometimento com a meta passa longe.

Em que pese o reconhecimento explícito por parte do BC que o aquecimento excessivo da economia representa parcela importante da aceleração da inflação, em outras áreas ainda se perde tempo à busca de culpados que não a política econômica pelo aumento persistente dos preços.

Era a comida; agora são os combustíveis (mesmo com o preço da gasolina sob controle governamental). Já a aceleração da inflação de serviços seria “estrutural” (palavrinha que geralmente significa “é um problema, mas não faremos nada a respeito”) e de forma alguma associada à falta de mão de obra que tem levado a um aumento consistente dos salários acima do crescimento da produtividade. Agora, além da inflação de preços, temos a inflação de desculpas.

Não bastasse a contabilidade criativa na questão fiscal, em documento recente o Ministério da Fazenda inova na forma de medir a inflação, afirmando que “o IPCA acumulado em 12 meses [até março de 2011] estaria em 4,76% sem combustíveis e alimentos”, sugerindo, portanto, que os demais preços da economia estariam crescendo uma velocidade muito inferior à inflação cheia naquele período (6,30%).

A inflação, contudo, é uma média ponderada dos diferentes aumentos de preços. Se a inflação total ficou em 6,30%, a inflação de alimentos (peso aproximado de 15%) alcançou 8,76% e a inflação de combustíveis (peso 4,5%) chegou a 5,42%, então a média dos demais preços deve necessariamente ter aumentado 5,89%, bem mais do que os 4,76% estimados pela Fazenda. Atualizando estes números para abril chegamos à conclusão que o aumento dos preços exceto alimentos e combustíveis atingiu 6,19%, só um pouco inferior aos 6,51% registrados pelo IPCA cheio.

Isto mostra que a inflação não é um problema localizado em poucos produtos, mas bastante difundido pela economia, visão diametralmente oposta à patrocinada pela Fazenda.

Não menos reveladora foi a atitude do ministro, que inovou também no campo das desculpas ao argumentar que o estouro do topo da meta não teria ocorrido porque esta não incluiria o segundo dígito após a vírgula...

Dizia Neném Prancha: “se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria sempre empatado”. Se desculpa baixasse a inflação, teríamos uma solução, não um problema.

- Não é minha culpa; peguei inflação na piscina do clube...


(Publicado 11/Mai/2011)

domingo, 8 de maio de 2011

Repeteco (agora com a Turquia)

TURKEY’S BRAZIL'S ruling Justice and Development (AK) Workers' Party (PT) party is expected to win won a third term of single-party rule at next month’s last year's election, even though some voters fret about its autocratic ways. One reason for AK PT’s popularity is its management of the economy. After almost a decade of economic success, many Turks Brazilians are loth to entrust the economy to an opposition that is tainted by a legacy of past crises.

The figures are impressive. After a sharp contraction in 2009, the economy recorded the third-fastest rate of growth in the G20 last year. Not a single Turkish Brazilian bank failed in the financial crisis.

(...)

Ahmet Akarli, an economist at Goldman Sachs in London, has long been bullish about Turkey’s Brazil's economy, but he says that this year “the cyclical picture is looking ugly, imbalances are accumulating and financial vulnerabilities are growing.” He points to the decision to keep fiscal and monetary stimulus going for too long. He reckons that nominal wage growth has hit 18% a year, domestic demand is rising by as much as 25% and credit growth is some 30-40%. Such numbers look unsustainable.

Yet it may not prove so easy to cool down such a hot economy. The central bank last year cut stopped hiking interest rates and raised reserve requirements for foreign and local banks in an unorthodox attempt to deter rising capital inflows. This did not seem to work, and the bank is now starting to raise interest rates instead. Yet money continues to pour into Turkey Brazil, making monetary conditions excessively loose. Raising reserve requirements even further might not have enough of an impact to slow consumer lending. And if interest rates start to rise in the rich world, especially in America, Turkey Brazil could suddenly see its external finance dry up.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Anais da imbecilidade - hors concours

Ainda outra dica de um outro amigo. Quem for checar a apresentação do nosso bravo ministro vai achar a seguinte afirmação: "IPCA acumulado em 12 meses estaria em 4,76% sem combustíveis e alimentos"

Eu já explorei esta questão aqui e não vou aborrecê-los com este assunto novamente (mentira minha, como vocês sabem: até parece que algum dia eu vou poupá-los das minhas obsessões). O legal da história é o seguinte.

Para chegar a este número, quem quer que seja que tenha montado esta apresentação simplesmente deduziu da inflação cheia a contribuição de alimentação no domicílio (isto é, a inflação de alimentação multiplicada pelo seu peso) e a contribuição dos combustíveis. Se P é a inflação cheia, a conta foi:

Px = P - (Alimentação x peso alimentação) - (Combustíveis x peso combustíveis)

Ou seja, produziu um índice cuja soma dos pesos não alcança 100% (fica perto de 80%). A forma correta entre economistas alfabetizados requer que o índice acima seja reponderado (isto é,  dividido por aproximadamente 0,80 no caso) para que os pesos voltem a somar 100%. Matematicamente:

Pxx  = Px/(100% -  peso alimentação - peso combustíveis)

Esta medida mostra quanto subiram, em média, os demais preços da economia. A média ponderada destes preços, combustíveis e alimentos deve gerar o IPCA.

Além da barbaridade acima descrita, alguém se esqueceu de avisar que a inflação obedece às regras da juro composto (isto é, se os preços sobem 10% num mês e 10% no mês seguinte, os 10% do segundo mês incidem sobre o que ocorreu no primeiro). De fato, se somarmos o índice mensal (errado) calculado pela Fazenda, achamos 4,76% nos últimos 12 meses. Se acumularmos como se deve, já chegaria a 4,86%.

Enfim, usando o índice correto e geometricamente acumulado calculamos que a inflação em 12 meses sem alimentos e combustíveis está em... 6,08%! (Até março; se usarmos o IPCA-15 de abril vai a 6,19%).  A inflação cheia até março era 6,30%...

Abaixo está a decomposição da contribuição da inflação preparada pela Fazenda.


E no slide seguinte a brilhante conclusão (quem somar as barras irá encontrar 4,76% nos últimos 12 meses)


Que os conhecimentos de Economia são parcos, a gente já sabia. Mas que não sabem sequer calcular uma média ponderada, bom, é quase uma surpresa.

Desventuras em série (dica de amigo; fera)



O governo decidiu utilizar o câmbio como mais um instrumento de combate à inflação. Depois de sucessivos meses de aplicação de medidas para conter a valorização excessiva do real, os ministros da área econômica, com o apoio da presidente Dilma Rousseff, entenderam que, neste momento, não está na agenda intervenções ousadas para conter a excessiva valorização do real.

A estratégia é aproveitar a cotação do dólar baixo para importar produtos que complementam o consumo interno com preços mais baixo aos consumidores.
Mesmo os auxiliares de Dilma mais preocupados com os efeitos do câmbio forte na indústria - Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Luciano Coutinho (BNDES) - concordaram que não é possível mudar a tendência do câmbio este ano.

08:01 MANTEGA: GOV.SEGUIRÁ COMBATENDO EXCESSOS FLUXO DE K E DE ALTA/REAL
Retransmitimos nota divulgada ontem à noite:
Brasília, 5 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem à noite que o governo continuará a combater o excesso de fluxo de capitais externos, que é inflacionário, e o excesso de valorização do real, que é prejudicial às exportações.

- Combate!
- Não combate!
- Não, combate!
- Combate não!
- Combate, não?
- Afinal: tá subindo ou tá descendo?

À caça do mensageiro


Não foram poucas as vezes que se ouviram críticas à pesquisa Focus, na qual o Banco Central busca sistematizar as previsões de analistas acerca de um conjunto amplo de variáveis, com maior ênfase nas expectativas de inflação. Ainda que não sejam a palavra final sobre o assunto, estas desempenham um papel central nos modelos que o BC usa para projetar a trajetória da inflação, tanto pelo canal de determinação da taxa real de juros, como pelo seu efeito sobre a determinação dos preços correntes.

Com base nisto há quem afirme que a predominância de analistas ligados ao mercado financeiro no Focus criaria distorções. Sugerem que haveria incentivos para analistas do mercado “carregarem nas tintas” das expectativas de modo a induzir o BC a definir uma trajetória da taxa de juros mais alta do que a estritamente necessária para manter a inflação na meta, o que beneficiaria bancos e administradoras de recursos. O incentivo inverso, no caso ser incluído entre os analistas de maior grau de acerto (“Top 5”), seria muito tênue face aos ganhos que advindos de uma taxa de juros mais elevada (isto vale uma discussão à parte, que, para evitar dispersão, fica para outro dia).

Esta hipótese pode, contudo, ser testada empiricamente. Se é verdade que os analistas de mercado deliberadamente informam ao Banco Central expectativas superiores àquelas que acreditam, a inflação observada deveria também ser sistematicamente inferior às projeções do Focus.

A palavra-chave, no caso, é “sistematicamente”. É claro que, num dado ano, a inflação pode ser menor que a prevista pelo Focus (como ocorreu em 2006 e 2009), mas esta observação não é suficiente para caracterizar uma distorção; da mesma forma que o Focus superestimou a inflação naqueles anos, também subestimou a inflação em 2007, 2008 e 2010. Em outras palavras, as projeções apresentam erros, mas não está claro que sejam sistemáticos.

Para ver isto de maneira um pouco mais estruturada observamos o comportamento dos erros de projeções de inflação, isto é, a previsão de inflação 12 meses à frente menos a inflação observada neste período. Valores positivos sugerem superestimação da inflação, enquanto valores negativos implicam subestimação. Como discutido anteriormente, caso haja tendência à superestimação da inflação, os erros deveriam se concentrar no quadrante positivo, e vice-versa. A distribuição dos erros de projeção é mostrada no gráfico.


Fonte: Autor a partir de dados do IBGE e Banco Central
A olho nu já é possível notar que não parece haver tendência à superestimação da inflação. A rigor, em 56% das observações a inflação superou as expectativas, e, obviamente, em 44% dos casos foi inferior a elas, o que depõe contra a tese de superestimação deliberada.


Já o erro médio do Focus 12 meses à frente no período atingiu -0,37%, também incongruente com a tese de superestimação. Finalmente, uma medida padrão do grau de assimetria da distribuição (“obliquidade”, ou skewness) revela que esta é “torcida” para o quadrante negativo, isto é, há mais chance de valores negativos para o erro de previsão, sugerindo ser mais provável que a inflação supere as expectativas do que o contrário. Em outras palavras, a evidência empírica indica que o Focus tende a subestimar a inflação, não superestimá-la, desmentindo a tese de conspiração.

Outros estudos, notadamente de Affonso Pastore[1], mostram que as expectativas Focus podem ser explicadas não apenas pela inflação passada, mas também por variáveis que capturem o comportamento da inflação futura, como preços de commodities em moeda nacional e medidas de pressão de demanda sobre os recursos da economia, além, é claro, da própria meta de inflação. Esta última, pelo menos até recentemente, parece desempenhar o papel mais importante na determinação das expectativas, mas pode estar perdendo a capacidade de “ancorá-las”.

De fato, mesmo que os agentes continuem a acreditar que o BC está perseguindo a meta, é possível mostrar que, quanto mais gradualista for a reação do BC à inflação (isto é, quanto mais lenta for a resposta da taxa de juros), tanto maior deverá ser o peso da inflação passada nas expectativas de inflação. No limite, a meta pode perder toda a relevância para determinar as expectativas.

Neste aspecto, mesmo reconhecendo as incertezas que cercam as perspectivas para inflação e crescimento, é forçoso concluir que a recente decisão de reduzir o ritmo de ajuste da taxa de juros traz também o risco de que os agentes passem a atribuir maior peso à elevada inflação passada na formação das expectativas, dificultando adicionalmente a tarefa da convergência à meta.

Em tal contexto, não adianta reclamar da pesquisa Focus. Se o BC quer domar as expectativas e reduzir a inércia, o melhor a fazer é tomar as medidas que mostrem seu comprometimento com a meta de inflação, e não participar da temporada de caça ao mensageiro das más notícias.

Não é minha culpa...


(Publicado 5/Mai/2011)


[1] Por exemplo, “Inflação, Fear of Float e Desaceleração do Crescimento”, Março de 2011.


terça-feira, 3 de maio de 2011

É repetitivo, mas não resisto (mais uma dica do The Anchor)


'Gasolina não vai subir', diz Mantega

Petrobras, porém, diz que preço pode aumentar se petróleo permanecer alto. Preço do álcool está alto por conta da entressafra, disse Mantega.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quarta-feira (6) que o preço do litro de gasolina no Brasil não terá aumento. "A gasolina não vai subir. Não está prevista nenhuma alta da gasolina no país", declarou a jornalistas.
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou também nesta quarta, porém, que se a cotação internacional do petróleo se mantiver no atual patamar, a empresa terá que aumentar os preços dos combustíveis no mercado interno. Ele lembrou que o preço da gasolina na refinaria permanece o mesmo desde 2009.
"Se os preços se consolidarem no patamar que estão nessa semana, e nós não sabemos se vão se consolidar neste nível, evidentemente que vamos ter compressão em nossa margem e precisaremos ajustar o preço doméstico", disse Gabrielli, após reunião com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmim.
A Petrobras é controlada pelo governo federal e a Presidência do Conselho de Administração da empresa estatal ainda é ocupada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Deste modo, para que o preço da gasolina suba nas refinarias, o governo tem de autorizar o reajuste.
Acho que Petrobrás terá que elevar o preço da gasolina, diz Mantega

Ministro da Fazenda argumentou que a estatal tem segurado o preço do combustível nas refinarias, mas a influência da alta do etanol tem elevado o preço da gasolina dos postos

03 de maio de 2011 | 12h 34
Eduardo Rodrigues e Renata Veríssimo, da Agência Estado
BRASÍLIA - Novamente interpelado por parlamentares sobre os altos preços dos combustíveis no País, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a Petrobrás terá que elevar o preço da gasolina em algum momento. "Aí sim precisaremos interferir na Cide de combustíveis, mas isso é um problema para o futuro", afirmou.
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Mantega argumentou que a estatal de petróleo tem segurado o preço do combustível nas refinarias, mas a influência da alta do etanol tem elevado o preço da gasolina dos postos. O ministro voltou a dizer que os preços do álcool devem cair a partir de maio, com a intensificação da colheita da cana-de-açúcar.
Etanol
Guido Mantega afirmou que o preço do etanol deve cair a partir de maio, uma vez que a colheita da cana-de-açúcar já começou. "A boa noticia é que safra já esta sendo colhida, apesar das chuvas, e devemos ter redução de preços a partir de maio", afirmou.
Segundo ele, o etanol sazonalmente apresenta preços mais elevados em abril, no período da entressafra, mas em 2011 também foi afetado pelo preço mais favorável do açúcar no mercado internacional. "É verdade que consumo de etanol aumentou nos últimos anos, mas também aumentou o preço do açúcar. É uma regra de mercado, o preço do açúcar é mais conveniente e houve certo desvio na produção", admitiu Mantega.
O ministro destacou que o governo está trabalhando para regulamentação desse mercado, inclusive estabelecendo o etanol como combustível, via Medida Provisória. "A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) vai cuidar disso, com exigências maiores para a produção de etanol. Queremos estimular os produtores, pois consumo tem subido bastante", completou.
- A gasolina vai subir!
- Não vai!
- Vai!
- Em que ano estamos?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Osama Bin Laden, a caminho do inferno