Segundo O Globo:
“Já em relação à equipe econômica, existe consenso dos três principais nomes do governo Dilma nesta área: Guido Mantega, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. Mas ainda não há definição dos cargos que ocuparão. Um dia depois das eleições, interlocutores de Dilma chegaram a cogitar até a mudança de Mantega para o Planejamento, caso a futura presidente decida pôr Coutinho na Fazenda. O Banco Central pode ser ocupado por um dos três. Diferentemente de Lula, que estimulou divergências para criar um consenso, Dilma quer uma equipe harmoniosa de linha desenvolvimentista.”
Como brasileiro, minha primeira reação a essa possibilidade é bem desanimada.
Mas refletindo um pouco mais, existem outras conseqüências e conclusões.
Primeiro, parece-me um erro estratégico da presidente Guerra. A presença de Meirelles no Banco Central sempre funcionou como um escudo às críticas da oposição à política econômica de Lula e facilitou a venda da idéia de um Brasil bem-sucedido para a imprensa internacional. Luciano Coutinho, por outro lado, parece um ator representando o papel de comissário do PC.
Segundo, do ponto de vista da oposição, seria uma benesse pelo menos no médio prazo. A linha desenvolvimentista não tem nada a oferecer ao país e sua associação ao governo Guerra permitiria a limpeza ideológica dentro do complexo DEM/PSDB (por que raios a turma do Bresser Pereira está no PSDB e não no PMDB ou PT?).
Nem anjo nem demônio: o patrono do desenvolvimentismo pacificou o Araguaia.
29 comentários:
E o Tombini de presidente do BaCen, seria mal negócio?
pelo jeito tio o quer a volta da udn. vê-se que insiste em bancar o analista político, mesmo já tendo admitido que não dá pra coisa.
mas entendo seu ponto. vamos ver como a oposicao vai se reorganizar depois da fracassada campanha de 2010.
abs
sgold
Concordo com você, esse roteiro já deu o que tinha que dar ao país, ou seja, concentração de renda e superinflação, estado hipertrofiado, ineficiente, corrupto e que só beneficiou os "escolhidos". Eu costumo dizer que nossa geração pagou o "milagre" e o restante das idiotíces econômicas da revolução. Mas se voce analisar as mesmas empresas e os mesmos atores estão se beneficiando agora, e o povo que a princípio sente-se beneficiado, logo mais a frente irá pagar a conta. Não a toa a Petrobras está na ribalta, o general da foto, nem pronuncio o seu nome, deve estar feliz, lá no inferno.
"O"
Boa ideia a sua de fazer perguntas para as quais não encontramos respostas. Acrescento mais uma.
"Por que raios a turma do Bresser Pereira está no PSDB e não no PMDB ou PT?"
Por que raios a turma do PSDB impediu a realização de prévias para a escolha do candidato à presidência? Em que medida a negativa do caciquismo em punhos de renda é responsável pela falsa oposição entre MG e SP que está sendo difundida e ganhando corpo pela imprensa? Já li barbaridades que chegam ao cúmulo de "recuperar" em seus argumentos o "espírito de 32". A quem interessa neste momento dividir a oposição?
PS: Nenhum político da oposição está imune a críticas. Ao contrário, todos devem e podem ser criticados. Mas façam isso trazendo luzes para o debate e não apenas provocando confusão e escrevendo tolices.
13. What the Government Purchases Multiplier Actually Multiplied in
the 2009 Stimulus Package
by John F. Cogan, John B. Taylor - #16505 (EFG IFM ME)
Abstract:
Much of the recent economic debate about the impact of stimulus
packages has focused on the size of the crucial government purchases
multiplier. But equally crucial is the size of the government
purchases multiplicand--the change in government purchases of goods
and services that the multiplier actually multiplies. Using new data
from the Bureau of Economic Analysis and considering developments at
both the federal and the state and local level, we find that the
government purchases multiplicand through the 2nd quarter of 2010 has
been only 2 percent of the $862 billion American Recovery and
Reinvestment Act (ARRA) of 2009. This increase in government
purchases has occurred mainly at the federal level. While states and
localities received substantial grants under ARRA, state and local
governments have not increased their purchases of goods and services.
Instead they reduced borrowing and increased transfer payments.
These findings explain why, regardless of the size of a government
purchases multiplier, changes in government purchases have had no
material effect on the growth of GDP since the time ARRA was enacted.
The implication is not that ARRA has been too small, but rather that
it failed to increase government consumption expenditures and
infrastructure spending as many had predicted from such a large
package. A consideration of the counterfactual event that there had
not been an ARRA supports the hypothesis that state and local
government borrowing would have been higher and purchases would have
been about the same in the absence of ARRA.
http://papers.nber.org/papers/W16505
Talvez valha uma discussão neste espaço.
Sem correlacionar com o Brasil (ainda), o multiplicador do G nos EUA foi pequeno pq ele não é para ser ou pq os estados reduziram seus G (na verdade foi negativo; vide estados e cidades - Califórnia) e nos EUA seriam os estados e cidades que "puxariam" o multiplicador do G?
Brados
Martins
“pelo jeito tio o quer a volta da udn.”
Já é tempo, você não acha?
Sei que o nome das pessoas vale mais do que o discurso, mas a fala da Dilma (na Globo) foi madura e tranquilizadora. Falou em: o povo não aceita mais a volta da inflação (como ser desenvolvimentista?), não é possível manter gastos acima dos sustentáveis = disciplina fiscal, câmbio flutuante, etc. Pelo menos o discurso foi na linha da responsabilidade e competente. Como colocar em prática com a turma que pensa o contrário? Ou vão engulir as bobagens que sempre falaram ou sair do governo.
O Serra pensa bem perto do Bresser e sua turma (é pena não ter evoluído). A falta de coragem de assumir posições que todo o país sabe ser a do PSDB, se não afastou, pelo menos desmotivou a muitos. Não atraiu a turma do centro esquerda e desmotivou a turma do centro direita. A turma do centro não empolgou-se com o discurso dúbio do Serra (no fundo o pessoal do centro é centro diteita). O FHC tem razão, o PSDB não pode ter vergonha do muito de bom que fez (pelo menos isto tem que defender).
“E o Tombini de presidente do BaCen, seria mal negócio?”
Eu provavelmente penso diferente do Alex nesse ponto, mas a meu ver manter um banco central ortodoxo enquanto a política fiscal é entregue para um bando de chimpanzés viciados em crack não é muito melhor do que avacalhar tudo de vez.
Quanto ao Tombini, seria um bom nome, certamente superior às outras opções ventiladas na imprensa.
O Alex anda meio sumido nesses dias pré- e pós-pleito. Que se passa? Qualquer opinião política que repercuta mal pode ceifar os planos de quem planeja voltar ao BC?
"O Alex anda meio sumido nesses dias pré- e pós-pleito. Que se passa? Qualquer opinião política que repercuta mal pode ceifar os planos de quem planeja voltar ao BC?"
Viajando a trabalho.
Pelo menos o que ele me disse.
Estou em Londres (neste preciso momento no lounge da American Airlines esperando o vôo para NY.
Como podem ver, ainda arrumo um tempinho para moderar os comentários (via iPad, completando a Santíssima Trindade dos Nerds), mas anda difícil escrever algo mais parrudo. De qualquer forma, o artigo do Valor sai amanhã e aparecerá nestas páginas. E, sim, deve respercutir mal, espero.
“Sei que o nome das pessoas vale mais do que o discurso, mas a fala da Dilma (na Globo) foi madura e tranquilizadora.”
Verdade. O discurso de aceitação dela também foi muito bom e neoliberal. Não é uma loucura termos elegido uma presidente que não sabemos se é neoliberal ou desenvolvimentista?
“Ou vão engulir as bobagens que sempre falaram ou sair do governo.”
Sair do governo e fazer o quê? Jogar golfe?
“O Serra pensa bem perto do Bresser e sua turma (é pena não ter evoluído). A falta de coragem de assumir posições que todo o país sabe ser a do PSDB, se não afastou, pelo menos desmotivou a muitos. Não atraiu a turma do centro esquerda e desmotivou a turma do centro direita. A turma do centro não empolgou-se com o discurso dúbio do Serra (no fundo o pessoal do centro é centro diteita). O FHC tem razão, o PSDB não pode ter vergonha do muito de bom que fez (pelo menos isto tem que defender).”
Pode ser que o mundo acabe antes do PSDB eleger um novo presidente. É patético que Serra e boa parte do PSDB não tenham a coragem e convicção para defender FHC.
Acho que os chimpanzés desenvolvimentistas vão até tentar fazer bobagem, mas o raio de ação deles estará limitado pela meta de inflação, que, se desandar, vai gerar insatisfações.
Se o BC permanecer autônomo, então eu fico mais tranquilo, mas se isso implicar em juros nas alturas, a inundação de dólares vai continuar.
Tem a questão da parada súbita do financiamento externo, mas acho que esse risco já é bem menor nos dias de hoje.
Outro coisa: essa equipe não teria muitos pudores com medidas de controle de capitais, na verdade, parece que desde pelo menos o começo de 2010 eles já dão as cartas.
Viajando um pouco, acho que um cenário provável para os próximos anos é um ambiente de crescimento econômico bom com estabilidade, com os "desenvolvimentistas" se parabenizando por suas medidas heterodoxas e a quermesse em polvorosa, como se a introdução de IOF e o anúncio de projetos estúpidos como o trem bala tivessem aumentado o crescimento de longo prazo da economia.
"Se o BC permanecer autônomo, então eu fico mais tranquilo, mas se isso implicar em juros nas alturas, a inundação de dólares vai continuar."
E a lenda continua Alex. Não te disse?
Este tipo de afirmação pré-formatada é alheia a qualquer estimação.
Brados
Rafael,
O seu cenário macroeconômico não fecha.
“O”
O,
não é mais ou menos o que nós estamos vendo agora?
Gastos do governo crescendo mais do que o PIB, medidas "heterodoxas" inócuas, câmbio valorizado e juros mais altos do que poderiam ser se a política fiscal fosse melhor...
Só acho que é isso que vai continuar. E a equipe econômica acreditará piamente que foram as medidas tresloucadas que aceleraram o crescimento.
Onde eu estou errando?
"Fed anuncia que comprará US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro"
Olha o helicóptero em ação...
Não sei se vocês já conhecem, mas saiu um paper excelente de Ethan Ilzetzki, Enrique G. Mendoza e Carlos A. Végh chamado "How Big (Small?) are Fiscal Multipliers?"
As conclusões são mais ou menos essas:
"we find that (i) the output effect of an increase in government consumption is larger in industrial than in developing countries, (ii) the fiscal multiplier is relatively large in economies operating under predetermined exchange rate but zero in economies operating under flexible exchange rates; (iii) fiscal multipliers in open economies are lower than in closed economies and (iv) fiscal multipliers in high-debt countries are also zero."
O que diz que os multiplicadores no Brasil não devem ser grandes coisas... Isso bate de frente com a quermesse em geral e algumas estimativas baseadas em vento sobre os efeitos da capitalização do BNDES.
Do blog do Reinaldo Azevedo:
" O Jornal Nacional acaba de reapresentar, agora acompanhada da repercussão, a declaração de ontem de Dilma Rousseff sobre o câmbio, a saber:
“Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica, um câmbio flutuante. E nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional.”
Bem, vamos ver. Não sou economista, claro! Mas sou economista o bastante para tratar das bobagens múltiplas contidas em trecho tão curto;
1 - O nível de reservas do Brasil nada tem a ver com câmbio flutuante. Um país pode ter reservas altas ou baixas com câmbio flutuante ou fixo. Existe no máximo uma correlação entre elas porque, bem, nos dois casos, estamos falando sobre dólares.(..)"
Na minha opinião, não precisa ser o Nassif para falar bobagem...
Tio O validaria a interessante opinião do Tio rei?
Doutrinador
Na realidade, tudo gira em torno de algo óbvio: a presidente não demonstra deixa clara sua linha econômica. A única coisa que se sabe, ao menos por ora, é a promessa de continuidade: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Ou seja, o piloto automático será ligado e pronto. Tudo o mais são aspectos genéricos sobre tudo. Parece o início de mais um quadriênio retóricas e pouca definição. A política estará mais em evidência do que a economia.
Dawran Numida
"Não é uma loucura termos elegido uma presidente que não sabemos se é neoliberal ou desenvolvimentista?"
Este foi o comentário mais sábio veiculado aqui no blog nas últimas semanas.
A indagação acima se baseia na hipótese de que Dilma É desenvolvimentista OU neoliberal, mas não sabemos. Na política real, é muitas vezes conveniente não ser nem uma coisa nem outra, para poder ser as duas coisas. Com essa estratégia se conquista a maior parte do eleitorado, o que em última instância é o que importa para quem quer apenas chegar ao poder.
Nisso, e não em seu carisma ou em seu discurso fluido, reside a genialidade política de Lula. Alguns creditam a seu governo o aprofundamento da política ortodoxa e responsável iniciada com FHC; há outros que o veem como retomando a política desenvolvimentista-distributivista (PAC / bolsa-família), depois da herança maldita de FHC.
Qual o verdadeiro Lula? Nenhum dos dois. O verdadeiro Lula é aquele que durante oito anos administrou o Brasil de maneira esquisofrênica do ponto de vista da coerência interna (coordenação) de políticas e que com isso atingiu patamares mitológicos de popularidade.
A receita parece fácil, mas na verdade se trata de uma verdadeira bomba política e social, e para implementá-la com sucesso na prática deve se ser um gênio, como Lula. Dilma naturalmente não tem esse perfil genial, mas vai tentar seguir a mesma receita de sucesso a partir dos conselhos de seu padrinho, que não a deixará à deriva. O resultado é uma absoluta incógnita. Vou apenas torcer para que essa bomba não exploda.
Mas, de verdade, torço mesmo para que no futuro esse tipo de receita não seja bem-vindo entre o eleitorado brasileiro.
Pai Alex.
Rafael,
Eu nao acho que teremos crescimento bom com estabilidade e tenho minhas duvidas se o Bacen vai manter sua independência. E mesmo se mantiver, vai ter que operar em um ambiente adverso devido aa morte do
superávit primário (como narrada pelo Mansueto e o Alex).
O paralelo com os anos Geisel e' bem instrutivo. Para manter o crescimento do milagre, Geisel criou ou amplificou todo tipo de distorções, com consequências funestas para economia e sociedade.
"O"
“Na realidade, tudo gira em torno de algo óbvio: a presidente não demonstra deixa clara sua linha econômica. A única coisa que se sabe, ao menos por ora, é a promessa de continuidade: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.”
Continuidade?!
Que superávit primário? Isso acabou. Já era. Kaput.
Metas de inflação ainda estão vivas, mas quanta certeza alguém pode ter que vão ser mantidas?
"Metas de inflação ainda estão vivas, mas quanta certeza alguém pode ter que vão ser mantidas?"
Mantidas como metas, certamente, já que, salvo 2003 (e 2004, dependendo da meta), a inflação nunca escapou do intervalo no governo Lula.
O que pode é a taxa de juros "de equilíbrio", pelo menos até a inflação chegar no teto da margem...
"Na minha opinião, não precisa ser o Nassif para falar bobagem..."
Na minha opinião, não precisa ser economista para falar bobagem...
"O",
A coisa toda pode estar fazendo água. Nisso você tem razão. Tanto que estão buscando caixa com o retorno da CPMF. Só que, parece, não avisaram a presidente eleita que continua falando em estabilidade com base nesses fundamentos. Por isso falei "a única certeza". Não vão anunciar rombo algum, justo agora. Isso pelo fato óbvio de o governo anterior ser exatamente os oito anos de Lula.
Dawran Numida
e a bobagem do azevedo nao foi pouca..
Não sei porque tanto preocupação com a mudança e não terá mudança. Lula ainda será nosso presidente...
Muito foda ler os comentários 4 anos depois... rsrsrs
Postar um comentário