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domingo, 3 de janeiro de 2010

A questão do câmbio

O debate mais acalorado entre economistas no Brasil hoje em dia diz respeito à questão do câmbio. Seguindo este debate de uma distância segura, eu não consegui deixar de notar que este às vezes passa ao largo de contribuições teóricas e empíricas que são parte do ferramental básico do economista em outras paragens.

Como eu recentemente aprendi que vários estudantes de economia e até alguns professores freqüentam quietos esse boteco, gostaria então de propor um projeto de pesquisa que pode gerar um artigo bem interessante, ainda que requisite um bocado de paciência.

Seria interessante se algum pesquisador coletasse as dezenas (ou centenas?) de artigos sobre taxas de câmbio nas principais revistas brasileiras e nos compêndios de encontros da ANPEC e SBE nos últimos 10 anos e documentasse o nome do autor, sua filiação institucional, quais os fatores que ele considera (implícita ou explicitamente) relevantes na determinação da taxa de câmbio real, e qual sua recomendação de política econômica quando ele apresenta alguma.

Minha hipótese é que muito da pesquisa brasileira sobre determinação da taxa de câmbio, diferentemente da literatura internacional, ignora as variáveis de política fiscal como determinantes das taxas reais de câmbio.

Um meta-artigo que documentasse como as opiniões sobre os determinantes das taxas de câmbio variam entre escolas de pensamento no Brasil, e como o debate brasileiro difere do debate internacional seria bem interessante.

52 comentários:

Isso seria um artigo de quê? Tese de mestrado? Que pocilga aceitaria uma negócio desses? Gosto muito do blog, mas sugerir algo desse tipo a alunos é bastante deletério e reflete pouca noção do que é pesquisa em (macro)economia nos dias de hoje (para um resumo, ver: http://delong.typepad.com/egregious_moderation/2009/10/narayana-kocherlakota-some-thoughts-on-modern-macro.html Ignore os comentários do DeLong. Depois de assumir um dos Feds, o Narayana tirou o documento de sua página).

As opiniões não diferem apenas entre as escolas. Divergem dentro delas mesmas.
Fato é que a maior parte do debate se dá via jornais, revistas, TV, mas nunca em periódicos arbitrados. Como já dizia o Pastore, no Brasil é tapinha nas costas de colega e porrada nos inimigos. Daí essas revistas tipo REP, que só servem pra encher cv Lattes. Numa entrevista o própria Pastore citava o fato de a correlação das citações entre certos pesquisadores ser quase igual a 1,0.

Fizeram há algum tempo uma pesquisa sobre os pesquisadores mais citados:

http://virtualbib.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/538/1636.pdf;jsessionid=20A8CAD2FC5677388EC6718D4FA9504E?sequence=1

Mas sobre câmbio nem precisa fazer. Vai dar o Prof. Márcio Garcia (Puc) disparado.

Sobre a literatura que busca medir o câmbio de equilíbrio no Brasil recentemente, TODAS colocam a variável fiscal. Eu fiz essa pesquisa.

Sua hipótese não será corroborada. Garanto.

"Sobre a literatura que busca medir o câmbio de equilíbrio no Brasil recentemente, TODAS colocam a variável fiscal. Eu fiz essa pesquisa."

Cite aí "TODOS" os artigos, eu gostaria de ver qual é o critério para o "TODOS" e como a variável fiscal aparece na medição.

O todos são todos artigos publicamente disponíveis que tentam medir câmbio de equilíbrio no Brasil (período recente).

IEDI. Estimando o desalinhamento cambial para a economia brasileira. 2007. Disponível em:

LUCINDA, C.; GALA, P. Desalinhamento cambial no Brasil após o plano real: uma
análise empírica. FGV, São Paulo. 2007

PASTORE, A.C; PINOTTI, M.C; ALMEIDA, L.P. Câmbio e crescimento: o que podemos aprender? Em: BARROS, O.; GIAMBIAGI, F. (Orgs.). Brasil Globalizado: o Brasil em um mundo surpreendente. Campus: Rio de Janeiro. 2008

PAULA, L. F.; et al. Regime cambial, taxa de câmbio e estabilidade macroeconômica no Brasil. 5° Fórum de Economia da EESP/FGV-SP. Disponível em:

PAIVA, C. External adjustment and equilibrium exchange rate in Brazil. IMF Working Paper n. 221. 2006

ARAUJO, E.C.; CHILIATTO, M.V. Sobreapreciação cambial no Brasil: estimativas, causas e conseqüências (1994-2008). IPEA, Texto para Discussão n. 1404, Brasília. 2009

OREIRO, J.L.; et al. Macroeconomic constraints to growth of brazilian economy: diagnosis and some policy proposals. 2009

Conhece outros?!

Caro anonimo-que-se-antecipa-a-minhas-vontades,

Muito obrigado pelas respostas!

Apenas 7 trabalhos estimando a taxa de cambio de equilibrio?!

" Anônimo disse...
Isso seria um artigo de quê? Tese de mestrado? Que pocilga aceitaria uma negócio desses? Gosto muito do blog, mas sugerir algo desse tipo a alunos é bastante deletério e reflete pouca noção do que é pesquisa em (macro)economia nos dias de hoje "

Vai ver eu nao sei o que eh pesquisa em macro hoje em dia :0

"O" esses são todos que eu conheço. Perguntei para vários professores e ninguém acrescentou mais nada. Claro que posso estar errado. Se alguém souber mais algum é só falar!

Abraços

Isso tudo aí é só WP e TD ? Nâo haveria fontes mais confiáveis?

Primeiro, não é tudo WP e TD.
Segundo, vc sequer leu direito a lista (quem dira os textos) e está questionando a confiabilidade dos trabalhos.
Terceiro, eu não apontei os trabalhos pelo fato de eles serem bons ou não. Eu apontei todos os trabalhos que conheço sobre o tema no Brasil. Ou seja, "Nâo haveria fontes mais confiáveis?" A resposta, a princípio, é: não há mais trabalhos, "confíaveis" ou não.

Prezados "O" e Alex,

Gostaria de saber se poderiam me indicar algum(ns) artigo(s) acadêmico(s) justificando o patamar da taxa de juros brasileira em níveis altos, colocando as causas para isso (gasto alto, baixas taxas de poupança e investimento, possível(?) memória inflacionária, etc..)

Ficaria muito grato com a ajuda.

RFP

"Vai ver eu nao sei o que eh pesquisa em macro hoje em dia :0"

Tenho certeza disso. E é natural que não saiba (V. faz outra coisa da vida). O problema é quando as pessoas, por alguma razão que não entendo, tentam, mesmo estando fora, sugerir o que deva ser pesquisa em economia. Mais uma vez: isso pode ser muito deletério. Como V. disse, muitos alunos frequentam (assim como faço)o blog. Deixe que os Kocherlakotas, Helwigs, Reis, Wernings, Angeletos e outros sugiram temas de pesquisa em Macro.

O blog cumpre um papel de extrema importância. Mas não confundamos alhos com bugalhos.

“"O" esses são todos que eu conheço. Perguntei para vários professores e ninguém acrescentou mais nada. Claro que posso estar errado. Se alguém souber mais algum é só falar!”

Você incluiu todos os 3 trabalhos que eu conhecia e mais alguns.

Se você estiver disposto a gerar um bem público e produzir uma tabela resumindo as variáveis consideradas, os resultados (coeficientes nos principais regressores), o método (VEC, VAR, VAR em painel etc), e a amostra coberta, eu postaria neste blog dando-lhe crédito (ou não, se preferir o anonimato).

"Vai ver eu nao sei o que eh pesquisa em macro hoje em dia :0"

Tenho certeza disso. E é natural que não saiba (V. faz outra coisa da vida). O problema é quando as pessoas, por alguma razão que não entendo, tentam, mesmo estando fora, sugerir o que deva ser pesquisa em economia. Mais uma vez: isso pode ser muito deletério. Como V. disse, muitos alunos frequentam (assim como faço)o blog. Deixe que os Kocherlakotas, Helwigs, Reis, Wernings, Angeletos e outros sugiram temas de pesquisa em Macro.”

Caro anônimo soberbo (ou seria soberbo anônimo?),

Pode ser que não tenha caído a tua ficha ainda, mas de todos as dezenas de estudantes de mestrado em economia no Brasil hoje, minha previsão mais educada é que nenhum vai oferecer uma contribuição relevante para a fronteira da macroeconomia, e se eu estiver errado, não mais que 2 vão chegar lá.

A vasta maioria vai fazer pesquisa aplicada, e aprender a fazer pesquisa aplicada é um skill bem importante se você não tiver o “right stuff” ou não estiver disposto a pagar o custo necessário para avançar a fronteira.

E não se engane, para um país subdesenvolvido como o nosso, pesquisa aplicada de qualidade (por exemplo, o que um Ricardo Paes de Barros ou Márcio Garcia fazem) tem um valor social muito superior à pesquisa de ponta dos seus amigos imaginários (Angele-who? Parece nome de queijo feta...).

Um trabalho um pouco diferente do que o "O" pediu é a tese de mestrado da Tamara Wajnberg, defendida em 2008 na PUC-RJ, sob orientação do Ilan Goldfajn e do Samuel Pessôa:

"Desalinhamento cambial e crescimento econômico: um estudo sobre a relação entre câmbio, poupança e investimento"

(http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=12127@2)

Não trata só do Brasil, mas os resultados são muito interessantes à luz das coisas que temos discutido aqui no blog.

"... muito superior à pesquisa de ponta dos seus amigos imaginários(Angele-who? Parece nome de queijo feta...)"

Consegui irritar quem tenta irritar? Gostei do Anônimo Soberbo.

A propósito, não fui eum quem disse que tinha doutorado numa Top 10, sabia alguma coisa de macro e econometria e outras migalhas de outras áreas.

Quanto a fazer pesquisa aplicada ou não, gostaria que V. me explicasse o quanto de aplicado há na sua proposta de tema de pesquisa? De fato, quero saber o que há de pesquisa na sua proposta?

TODOS os nomes listados fazem pesquisa aplicada. Inclusive o de nome de queijo (ótima piada!). Meu único ponto é que pesquisa -- aplicada ou não -- é diferente de artigo de jornal. Nem melhor, nem pior: diferente. Machuca tanto assim?

Alex, na sua opnião, todo heteredoxo é de quermesse ou existem heterodoxos sérios?

Abs,

Roberto

Perdão, no último post, houve erros de pontuação em duas frases. Quis (o que a pressa não me deixou) ter escrito :

"Quanto a fazer pesquisa aplicada ou não, gostaria que V. me explicasse o quanto de aplicado há na sua proposta de tema de pesquisa. De fato, quero saber: o que há de pesquisa na sua proposta?"

Assim como o blog, a bela e inculta flor do lácio merece respeito.

"Pode ser que não tenha caído a tua ficha ainda, mas de todos as dezenas de estudantes de mestrado em economia no Brasil hoje, minha previsão mais educada é que nenhum vai oferecer uma contribuição relevante para a fronteira da macroeconomia, e se eu estiver errado, não mais que 2 vão chegar lá."

Calma "O", equilíbrio, senão vc vai perder a CREDIBILIDADE.

Há muita gente boa saindo do forno...

Marcos Paulo

"Consegui irritar quem tenta irritar?"

Não.

"De fato, quero saber o que há de pesquisa na sua proposta?"

Se você faz a pergunta, não merece a resposta.

"Machuca tanto assim?"

Não. Nem um pouco. Aliás, nem se você tivesse oferecido alguma dica que você saiba mais de macro do que eu, ainda assim não machucaria.. eu ficaria inclusive feliz de ver um poltrão tão soberbo e cheio de si (sinal de juventude!) e ainda assim melhor macroeconomista que esse mulo velho que arrebentou o joelho correndo anteontem. Diga-se de passagem, eu estou acostumado a conviver e interagir com quem sabe mais de macro do que eu, e aprecio a experiência, cada minuto dela, pois apenas o aprendizado dos tolos termina.

Finalmente, não entendi a referência a artigo de jornal.

"Alex, na sua opnião, todo heteredoxo é de quermesse ou existem heterodoxos sérios?"

Existem, mas são raros.

Anônimo, confere seu email oanonimo2009@live.com .

Abraço

"Se você faz a pergunta, não merece a resposta."

Suas práticas de discussão estão piores que seu joelho. Só faltou me chamar de cara de melão...

Estou longe de ser novo (apesar de, por não correr, ainda ter meu joelho intacto. Como disse João Cabral parafraseando o Didi, " Não corre: ele sabe que a bola,
Telegrama, mais que corre voa")
e nunca ofereceria dica alguma a respeito de saber mais que alguém sobre algo. Tampouco falaria sobre minha (falta de) formação, ou o que o valha. Como me disse um amigo imaginário -- um tal de Roger--, it is all about ideas.

Se V. se recusa a responder uma pergunta, me resta, por um lado, supor que V. não sabe o que é fazer pesquisa em Economia: grande parte do trabalho -- a maldição das ciências sociais -- é o de convencer os pares de que sua pergunta de pesquisa é, de fato, uma pergunta de pesquisa (convencer da relevância é um segundo passo. Convencer que o que V. fez responde à pergunta é o derradeiro). Por outro, retiro meu time de campo. Volto ao status-quo de só ler o outro colaborador do blog.

PS.: A referência. Acredito que sua proposta daria um ótimo artigo de opinião em um jornal.

"Primeiro, não é tudo WP e TD.
Segundo, vc sequer leu direito a lista (quem dira os textos) e está questionando a confiabilidade dos trabalhos."

Confiabilidade não é livro com nome de professor famoso nem WP de departamento. Eu bati o olho e vi que não havia periódicos de nível internacional ou arbitrado no meio deles.
Publicar na revista do amigo de infância aqui no Brasil é fácil.
Em periódicos científicos as cartas marcadas dos revisores já é um problema antigo. Imagine sem revisão.

Mas se tem apenas isso, fazer o quê?

“Se V. se recusa a responder uma pergunta, me resta, por um lado, supor que V. não sabe o que é fazer pesquisa em Economia: grande parte do trabalho -- a maldição das ciências sociais -- é o de convencer os pares de que sua pergunta de pesquisa é, de fato, uma pergunta de pesquisa (convencer da relevância é um segundo passo. Convencer que o que V. fez responde à pergunta é o derradeiro).”

Conseguiu se recuperar do buraco que você cavou, parabéns!

Quanto a nossas diferenças, eu acho que nem toda pesquisa que vale a pena ser feita deve avançar a fronteira. Principalmente no caso do Brasil onde existem várias oportunidades infra-marginais de se agregar valor.

Quanto à questão específica que sugeri, eu acho uma questão interessante. É uma falha de mercado espetacular se com todos os recursos investidos em institutos de ensino e pesquisa em economia no Brasil (vários milhões de dólares), o mais acalorado debate de nossos economistas se recusar a incorporar conhecimento livremente disponível produzido fora de nossas fronteiras. Também é uma peça de retórica formidável se minha conjectura estiver correta (segundo um dos colaboradores anônimos, não está).

Publicação? Nem tudo que é feito por economistas deve ou pode ser publicado. Existe um viés em nossa profissão que nós passamos tempo demais tentando publicar, ao invés de resolver problemas reais. Se você for familiar com a literatura, um dos modelos de Holmstrom explica isso. Nós dedicamos esforço demais para os objetivos mensuráveis (publicação) que afetam nossa avaliação e carreira.

Só não entendi uma coisa: qual foi o buraco que cavei?
(Outras duas coisas: (i) apesar de acreditar que não seja o caso, o "se V. for familiar com a literatura" pode soar como um carteiraço; (ii) não abuse de ironias. Tratar um comentarista de seu blog com elas -- o "parabéns!" -- deve ir de encontro à etiqueta virtual.)

Qual modelo do Holmstrom? O modelo de multi-tasking do Holmstrom e MILGROM? Se for, acho que se aplica a coisas do tipo: V. quer remunerar a pessoa encarregada de emitir passaportes pelo número de passaportes emitido? Provavelmente não. Discordo que o exemplo se aplique à academia (ao que parece, os autores tampouco acham. É só ler o paper). Há uma medida de desempenho objetiva relacionada ao (único/mais relevante) esforço de uma pesquisador, qual seja: passar horas trancado numa sala tentanto gerar algum tipo de conhecimento novo em um determinado campo. Além disso, não só a provisão de esforço é de primeira ordem num sistema de incentivos num depto de pesquisa. Num mundo no qual um econometrista tenha que avaliar um macroeconomista de seu Depto., talvez o melhor que se possa fazer é delegar tal avaliação aos pares externos: editores e referees familiares(?)com a área do avaliado. Isso não quer dizer que não haja alguma avaliação subjetiva na concessão de tenures. Há uma série de exemplos de pessoas que haviam publicado pouco e que obtiveram tenure por terem sua pesquisa reconhecida como importante por pares que sabiama avaliá-la. Tal discrição requer massa crítica. Tenho minhas dúvidas quanto a ela existir no Brasil.

Portanto, acredito que economistas que façam pesquisa devam, sim, ser avaliados em acordo com suas publicações. É desse jeito em qualquer lugar decente. Economistas que façam outras coisas da vida devem ser avaliados de OUTRAS formas, obviamente.

Quanto a V. achar a questão interessante ou não, isso é outra coisa. "Achar interessante", no entanto, não é um argumento para que o V. sugere ser um boa pergunta de pesquisa. Se V. propusesse isso a seu orientador na escola Top 10, V. teria que convencê-lo do mesmo; com retórica e conteúdo. (A propósito, quantos artigos há que tratam de, como dizer, questões Comparative Analysis de artigos sobre algum tema. Em outras palavras, qual a literatura sobre o que V. chamou de meta-artigos?)

PS.: A ironia-resposta: como assim, enorme falha de mercado? A não incorporação do " conhecimento livremente disponível produzido fora de nossas fronteiras sobre o mais acolorado debate de nossos economistas" é uma manifestação de preferência revelada. Falha de mercado se aplica a outras situações, não?

Não só soberbo mas também mau humorado...

“(Outras duas coisas: (i) apesar de acreditar que não seja o caso, o "se V. for familiar com a literatura" pode soar como um carteiraço;”

De modo algum.

“ (ii) não abuse de ironias. Tratar um comentarista de seu blog com elas -- o "parabéns!" -- deve ir de encontro à etiqueta virtual.)”

Meus parabéns nunca são irônicos. Eu achei que você manobrou com maestria, o que não significa que você não possa colocar os pés pelas mãos logo em seguida...

“Qual modelo do Holmstrom? O modelo de multi-tasking do Holmstrom e MILGROM? Se for, acho que se aplica a coisas do tipo: V. quer remunerar a pessoa encarregada de emitir passaportes pelo número de passaportes emitido? Provavelmente não. Discordo que o exemplo se aplique à academia (ao que parece, os autores tampouco acham. É só ler o paper). Há uma medida de desempenho objetiva relacionada ao (único/mais relevante) esforço de uma pesquisador, qual seja: passar horas trancado numa sala tentanto gerar algum tipo de conhecimento novo em um determinado campo. Além disso, não só a provisão de esforço é de primeira ordem num sistema de incentivos num depto de pesquisa. Num mundo no qual um econometrista tenha que avaliar um macroeconomista de seu Depto., talvez o melhor que se possa fazer é delegar tal avaliação aos pares externos: editores e referees familiares(?)com a área do avaliado. Isso não quer dizer que não haja alguma avaliação subjetiva na concessão de tenures. Há uma série de exemplos de pessoas que haviam publicado pouco e que obtiveram tenure por terem sua pesquisa reconhecida como importante por pares que sabiama avaliá-la. Tal discrição requer massa crítica. Tenho minhas dúvidas quanto a ela existir no Brasil.”

Meu ponto é que entre tentar publicar e fazer outras atividades com retorno social mais alto, muitas vezes os economistas acadêmicos escolhem a primeira atividade. Um exemplo são os muitos professores brasileiros que são perfeitamente capazes de publicar em top journals internacionais, mas não movem uma palha para confrontar no debate a pilantragem que corre à solta na academia brasileira.

“Portanto, acredito que economistas que façam pesquisa devam, sim, ser avaliados em acordo com suas publicações. É desse jeito em qualquer lugar decente. Economistas que façam outras coisas da vida devem ser avaliados de OUTRAS formas, obviamente.”

Você não parece ter entendido o meu ponto. É possível que não exista outro modo melhor de se avaliar os professores do que de acordo com suas publicações, mas isso não quer dizer que o método via publicações seja o First-Best. Eu acredito que é um Second-Best bem capenga.

“Quanto a V. achar a questão interessante ou não, isso é outra coisa. "Achar interessante", no entanto, não é um argumento para que o V. sugere ser um boa pergunta de pesquisa.”

Discordo. Eu decido o que é interessante para mim, e isso me basta.

“PS.: A ironia-resposta: como assim, enorme falha de mercado? A não incorporação do " conhecimento livremente disponível produzido fora de nossas fronteiras sobre o mais acalorado debate de nossos economistas" é uma manifestação de preferência revelada. Falha de mercado se aplica a outras situações, não?”

Duh? Falha alocativa, então...

Quais sao os instrumentos a disposicao do Banco Central e do Executivo para terem efeito sustentado sobre a taxa de cambio?

Como e de costme entre economistas, ha enormes debates sobre o que causa o que, quem disse e publicou o que, mas ha muito pouco debate sobre o que exatamente deve ser feito na pratica.

Quais sao as propostas implicitas na discussao?

Eu nao consigo entender. Alguem esta sugerindo que politica monetaria deve ser dirigida a manter certos patamares para o cambio? Are you serious?

Alguem esta sugerindo que o nivel dos gastos publicos deve ser definido ou altamente influenciado por teoria economica? Are you serious (in what planet do you live)?

PIG

PS: Alex, Hoje no WSJ e FT tem uma historia dizendo que a Apple vai anunciar um novo produto Jan 27 (nas lojas em Marco).

Está divertido. Pena que, em algum instante, minhas férias acabarão (e a opção de fora será melhor que um velho Saramago já cambaleante).
Seguem minhas respostas (mau humoradas, sempre. Eu sou a neurastenia)


"Meu ponto é que entre tentar publicar e fazer outras atividades com retorno social mais alto, muitas vezes os economistas acadêmicos escolhem a primeira atividade. Um exemplo são os muitos professores brasileiros que são perfeitamente capazes de publicar em top journals internacionais, mas não movem uma palha para confrontar no debate a pilantragem que corre à solta na academia brasileira".

Não acredito que, a menos das instâncias relevantes (e.g., pareceres sobre publicação e avaliação de projetos de pesquisa) seja o papel de alguém que esteja num depto de pesquisa faça pesquisa "confrontar a pilantragem que corre à solta na academia brasileira". E acredito que um economista que faz pesquisa é pago para... fazer pesquisa, não exercer atividades que gerem retorno social mais alto (que, em média, são aquelas que as pessoas acham que fazem...)

"Você não parece ter entendido o meu ponto. É possível que não exista outro modo melhor de se avaliar os professores do que de acordo com suas publicações, mas isso não quer dizer que o método via publicações seja o First-Best. Eu acredito que é um Second-Best bem capenga"

V. fez menção ao paper do Holmstrom. Supus que V. se referisse a desenho de incentivos com várias tarefas e o problema de se condicionar pagamentos a algumas medidas de desempenho quando há ausência de medidas de
desempenho associadas a outros esforços relevantes (e.g., escrutínio por parte de um emissor de passaportes). Meu ponto é de que não há (ou ele não é de primeira ordem) esse problema na academia. Quase que por definição, e a menos de uns casos particulares, num mundo no qual esforços não são observados, o primeiro-ótimo não é atingido. Portanto, seu comentário sobre primeiro ótimo é vazio. O desenho ótimo que incorpora as restrições gera o segundo ótimo. Se V. acha que o sistema é o melhor possível, ele é o segundo-ótimo. Não sei o que é um "segundo-ótimo capenga" (sic). Meu ponto é que, se V. concordar com o fato de que multi-tasking não é a coisa mais relevante num Depto de pesquisa, o desenho é bastante bom (dadas as restrições) e a menção ao Holmstrom não faz sentido.

Discordo. Eu decido o que é interessante para mim, e isso me basta."

Uma visão auto-cêntrica do mundo... Como o Viola, V. usa a terceira pessoa quando se refere a V. mesmo? Sim, isso pode lhe bastar. No entanto, V. deve estar preparado para ouvir (ler, melhor dizendo) que é um absurdo sugerir a alunos o tema que V. levantou. isa interessante. A propósito, V. não me respondeu sobre a literatura de meta-artigos.


"Duh? Falha alocativa, então...

Falha alocativa? O que é isso? Sei o que quer dizer falha de mercado -- e não se aplica ao ponto que V. fez sobre desperdício de recursos ou o que o valha. De fato, não entendi o que V. disse. Talvez, como diria a madame Natasha, fazendo uso de vários jargões, V. simplesmente quis dizer: "Não entendo a razão pela qual algumas pessoas acham certo tópico menos importante que eu" --, sei o que é um argumento de preferência revelada -- que foi o argumento que fiz. Repito: falha alocativa? Será que é uma (má) tradução no livro do Fergunson?

Por fim, O Duh é irônico? V. fez o movimento do sorvete na testa?

Ps.: Mudando um pouco de assunto, o que Vs. acham disso? Vale ler a introdução ao menos. Apedeuta que sou, gostei muito. http://www.princeton.edu/~markus/research/papers/macro_finance.pdf

"O".
Nessa, eu discordo de você. Um professor brasileiro com condições de publicar no exterior deve dedicar, sim, seus esforços para isso, para continuar a levantar o prestígio das instituições brasileiras.
Talvez o mais eficiente é que as pessoas que tenham tempo livre e disposição passem a mostrar mais as inconsistências da quermesse. Talvez até as pessoas que tenham bagagem, mas não estejam no momento realizando pesquisa de ponta (talvez o critério seria custo de oportunidade).
Hoje, você entra na Internet, busca defesa do liberalismo, e vai cair provavelmente em sites dos "austríacos", que vão mostrar que o Bresser está errado porque Mises escreveu no capítulo XVII, versículo 12 do Human Action, que o que ocorre é o oposto do que ele escreveu.
Esse blog é um achado. Louvo a iniciativa do Alex e sua de mostrarem as inconsistências metodológicas dos artigos da quermesse. E acho que ainda falta alguém que consiga fazer um blog que consiga passar os conceitos para quem não tenha formação alguma em economia.

“Não acredito que, a menos das instâncias relevantes (e.g., pareceres sobre publicação e avaliação de projetos de pesquisa) seja o papel de alguém que esteja num depto de pesquisa faça pesquisa "confrontar a pilantragem que corre à solta na academia brasileira". E acredito que um economista que faz pesquisa é pago para... fazer pesquisa, não exercer atividades que gerem retorno social mais alto (que, em média, são aquelas que as pessoas acham que fazem...)”

Eu discordo. Nós vivemos em uma sociedade cujo funcionamento depende dessas atividades, digamos, extra curriculares. É uma lástima que muitos dos bons economistas no Brasil dedicam tempo demais tentando publicar fora para se manter nos bons olhos daqueles que podem convidá-los para sabáticos e outras benesses ao invés de limpar a fubeca que reina na academia brasileira. Daí chegamos a essa situação que a crítica a quermesse cabe a um economista de banco e um João anônimo.


“V. fez menção ao paper do Holmstrom. Supus que V. se referisse a desenho de incentivos com várias tarefas e o problema de se condicionar pagamentos a algumas medidas de desempenho quando há ausência de medidas de
desempenho associadas a outros esforços relevantes (e.g., escrutínio por parte de um emissor de passaportes). Meu ponto é de que não há (ou ele não é de primeira ordem) esse problema na academia. Quase que por definição, e a menos de uns casos particulares, num mundo no qual esforços não são observados, o primeiro-ótimo não é atingido. Portanto, seu comentário sobre primeiro ótimo é vazio. O desenho ótimo que incorpora as restrições gera o segundo ótimo. Se V. acha que o sistema é o melhor possível, ele é o segundo-ótimo. Não sei o que é um "segundo-ótimo capenga" (sic). Meu ponto é que, se V. concordar com o fato de que multi-tasking não é a coisa mais relevante num Depto de pesquisa, o desenho é bastante bom (dadas as restrições) e a menção ao Holmstrom não faz sentido.”

Não é tão simples assim. Se você tem experiência suficiente jogando o jogo de publicar (acredito que não baseado no que você escreveu até agora), deve saber que nem tudo que é relevante para o Brasil é do interesse dos gatekeepers dos principais journals. Terceirizar a avaliação da pesquisa para os pareceristas dos top journals não resolve o problema, apenas atenua-o, e certamente causa pesquisa excessiva em temas menos relevantes para a economia no Brasil.


“Uma visão auto-cêntrica do mundo... [...] No entanto, V. deve estar preparado para ouvir (ler, melhor dizendo) que é um absurdo sugerir a alunos o tema que V. levantou. [...]. A propósito, V. não me respondeu sobre a literatura de meta-artigos.”

Eu estou preparado, ouvir besteira basta ter orelha. Mas o ponto é que você não entendeu ainda... Eu estou certo, você está errado. É assim que o mundo funciona, ora bolas!


"Falha alocativa? O que é isso? Sei o que quer dizer falha de mercado -- e não se aplica ao ponto que V. fez sobre desperdício de recursos ou o que o valha. De fato, não entendi o que V. disse. [...]”

Bem fácil de deduzir a partir do meu argumento. Nem toda alocação é suportada por mecanismos de mercado ou sistema de preços.


“Por fim, O Duh é irônico?”

O ‘Duh’ você conquistou com grande mérito.


“Ps.: Mudando um pouco de assunto, o que Vs. acham disso? Vale ler a introdução ao menos. Apedeuta que sou, gostei muito. http://www.princeton.edu/~markus/research/papers/macro”

Vou ler, parece interessante.

http://online.wsj.com/article/SB10001424052748703580904574638630584151614.html?mod=WSJ_hps_LEFTWhatsNews

"You heard it here first"

PIG

"Daí chegamos a essa situação que a crítica a quermesse cabe a um economista de banco e um João anônimo."

Nada de mal nisso. Pelo contrário. Acho que poucas pessoas estão tão aptas a fazê-lo quanto Vs. dois.


"Não é tão simples assim. Se você tem experiência suficiente jogando o jogo de publicar (acredito que não baseado no que você escreveu até agora)."

Olhe a condescendência (se não foi irônico, o "parabéns" foi condescendente)... Há sempre um tom de I will teach you how it is done...

"Bem fácil de deduzir a partir do meu argumento. Nem toda alocação é suportada por mecanismos de mercado ou sistema de preços."

De fato, na sua relação com sua secretária, por exemplo, as tomadas de decisões (que geram alocaçoes) são tomadas baseadas em autoridade (ela não lhe cobra para tirar cópias, suponho. V. tem direitos de controle residuais, como diria um velhinho que, infelizemnte, não é um amigo imaginário). Isso não quer dizer que ela, sua relação, seja ineficiente (ou eficiente). Uma coisa é a alocação ser eficiente ou não (acho que V. quis dizer isso. É ineficiente que tantos recursos sejam alocados a pesquisadores onanistas). Outra coisa é o mecanismo que suporta tal alocação.

"Vou ler".

Aproveite.

Prezados, pelo andar da carroagem, este blog está virando mesmo uma tremenda putaria, como eu previa.

Acredito que o Sr. Alex se encheu o saco de moderar o blog todo dia (fato absolutamente compreensível) e arrumou um babaca (sic!) pra fazer isso por ele.

Nesses três anos de atividade no blog, o Sr. Alex, memoravelmente, conseguiu reunir um amplo e interessante conjunto de leitores neste espaço, leitores que estão acostumados e demandam atualizações e comentários diários, e leitores que ele, o Sr. Alex, não poderia, de um hora para outra, jogar às favas. Assim sendo, o Sr. Alex achou por bem entregar uma cópia da chave do brinquedo a um outro economista que, fundamentadamente, ele julgou ser capacitado para tanto.
Errou, e muito, nesta decisão.

Sr. Alex, saiba que eu e mais uma quantidade indigitável de leitores, economistas ou não, acompanhamos o blog de longa data (eu há dois anos e baixo), e o que nos trazia até aqui eram as suas colunas e os seus comentários.
O Sr. "O" é extremamente inteligente e arguto, tal como o Sr. Alex, isso não se discute. É também hábil com as palavras, bem-humorado e mal-educado, tal como o Sr. Alex.
Mas, Sr. Alex, não basta que o sujeito tenho em grande parte todas as características que sempre admiramos no Sr. Sempre faltará alguma coisa. Este outro será sempre o Sr."O", que vemos "apenas" como um ilustre comentarista, colega, e não como moderador e ditador dos rumos deste espaço.

Apesar de todo o respeito que merece o Sr. "O", percebi nos últimos dias que não me vale mais de muita coisa entrar neste blog todos os dias. Portanto, como um assíduo leitor e comentador, sinto-me na obrigação de comunicar a todos os colegas que a partir de hoje estou abandonando o blog Mão Visível. Evidentemente, não quero dizer com isso que o blog está perdendo grande coisa. Pelo pouco que conheço o Sr. Alex, imagino que ele esteja cagando para mim ao ler este comentário. Provavelmente poucos notarão minha falta, uma vez que nunca fui figura importante nas decisões que aqui se desenrolam. (Mas os que escrevem são minoria, Sr. Alex, não se esqueça. E os que escrevem e ganham destaque, uma minoria maior ainda).

O que quero com o meu anúncio é apenas tentar fazer com que o Sr. Alex pense melhor sobre o novo rumo que deu a este blog, que vinha trilhando um caminho único desde sua criação. Tenho certeza de que não estou sozinho nessa posição, isto é, muitos ainda irão fazer o mesmo que eu.

Sr Alex, quem viver verá. Saiba que, desde já, admito a possibilidade de eu estar errado na minha previsão de declínio do blog sob o comando do Sr. "O".

Por fim, Sr Alex, se vc não tem mais tempo, ou saco, para atualizar o blog tanto quanto vc, e os leitores, gostaria, foda-se.
Atualize-o quando puder, se puder.
Publique apenas suas colunas obrigatórias da imprensa, para nós comentarmos. Se cansou de vez e não quer mais saber de blog, ok. Acabe com o blog, e dai? O que vc fez pelos profissionais, estudantes ou interessados por economia em geral nestes três anos já foi demais.

Abraço do Pai Alex.

"V. não me respondeu sobre a literatura de meta-artigos.”

Respondo agora. Eu não teria problema algum em aceitar um meta-artigo, ou artigo com meta-análise, sobre um tema relevante em alguma revista de economia brasileira, se for chamado a dar o parecer.

"Nessa, eu discordo de você. Um professor brasileiro com condições de publicar no exterior deve dedicar, sim, seus esforços para isso, para continuar a levantar o prestígio das instituições brasileiras."

Esse é o modelo atual da PUC e EPGE e a razão pela qual a quermesse tem tanta influência na academia brasileira.

"Talvez o mais eficiente é que as pessoas que tenham tempo livre e disposição passem a mostrar mais as inconsistências da quermesse. Talvez até as pessoas que tenham bagagem, mas não estejam no momento realizando pesquisa de ponta (talvez o critério seria custo de oportunidade)."

No sistema atual isso é incompatível com os incentivos.

"Hoje, você entra na Internet, busca defesa do liberalismo, e vai cair provavelmente em sites dos "austríacos", que vão mostrar que o Bresser está errado porque Mises escreveu no capítulo XVII, versículo 12 do Human Action, que o que ocorre é o oposto do que ele escreveu."

Sim, e isso retrata uma falha do sistema atual. Eu não sei qual a solucão, mas mais alinhamento com as preferências da academia americana/inglesa não me parece a solucão.

"Mas, Sr. Alex, não basta que o sujeito tenho em grande parte todas as características que sempre admiramos no Sr. Sempre faltará alguma coisa. Este outro será sempre o Sr."O", que vemos "apenas" como um ilustre comentarista, colega, e não como moderador e ditador dos rumos deste espaço."

Isso tudo é ciúme, Pai Alex?

Caro Alex,
Que arraial está virando teu Blog, principalmente depois do “O”! Lá em Minas falava-se, neste caso, de briga de foice no escuro. Por favor, crie juízo, rapaziada! Vocês se parecem com o cara discutindo com o barman a falta de gelo no bar do Titanic. Diante da crise que estamos vivendo, sejam mais perspicazes. Leiam o último artigo do Sorros, por exemplo!

O grande problema não é o "O" ter entrado como colaborador. Com ele, tem tudo pra este blog ficar melhor ainda. O grande problema é este início, no qual, em menor grau, ele está sendo bombardeado pela quermesse, e, em maior, testado por este outro maluco anônimo. Enquanto esse teste não acabar, alguém desistir, ou o "O" conseguir convencer que tem cacife pra moderar isto aqui, estaremos fadados a assistir a esta batalha enfadonha antes de voltar às discussões mais interessantes...

"o "O" conseguir convencer que tem cacife pra moderar isto aqui,"

Ei, eu não estou aqui para moderar coisa alguma. O moderador é o Alex, eu apenas colaboro com textos e eventuais pancadas na quermesse quando me dá na telha.

Perdão, George Soros, obviamente!

Pai Alex,
eu também não vou perder tempo com esse cara pálida!

Gabriel,

(i) Se V. escreve "este maluco anônimo", ninguém entende. Talvez pensem tratar-se de V., mas logo se confundem, uma vez que V. assinou o post. ESSE maluco anônimo (eu, no caso). Um bom uso da língua ajudará seu leitor. Aprenda isso. Será bom para sua carreira (whatever you do).

(ii) Não há teste algum sendo feito. Pelo contrário. Discussão de ideias (olha a reforma!) num espaço que se tornou reconhecido por tal.

(iii) Usando linguajar de boleiro, concordo que o "O" tenha sido uma ótima aquisição do Blog. Posso discordar ou concordar com seus (dele) pontos, mas ter blogueiros (os hosts deste) de alto nível numa blogosfera de apedeutas é um alívio. Vida longa ao Mão Visível.

(iv) Que o blog se mova para discussões mais interessantes. My last post (ever), prometo. Volto a ser vouyer.

Caro anônimo, não faça isso. Sua indicação de leitura foi muito feliz. Sempre que houver papers que tenha "gostado muito", não deixe de indicar, por favor. Abraço!

"Gostaria de saber se poderiam me indicar algum(ns) artigo(s) acadêmico(s) justificando o patamar da taxa de juros brasileira em níveis altos, colocando as causas para isso (gasto alto, baixas taxas de poupança e investimento, possível(?) memória inflacionária, etc..)"

Boa pergunta...

Não tenho a resposta agora, mesmo porque seria uma resposta bem longa.

Mas minha visão, que prometo elaborar em comentários futuros – e que muito provavelmente difere da visão do Alex – é que os juros são altos no Brasil hoje porque assim decidiu o Presidente Lula.

"Mas minha visão, que prometo elaborar em comentários futuros – e que muito provavelmente difere da visão do Alex – é que os juros são altos no Brasil hoje porque assim decidiu o Presidente Lula."

Seria para manter a maior atuação do Estado nos empreendimentos?

"Seria para manter a maior atuação do Estado nos empreendimentos?"

Você está no caminho certo, mas é pior que isso.

"O",

no outro post, como possível explicação para o patamar da taxa de juros no Brasil, o Alex faz referência à "existência de crédito direcionado, praticado a taxas muito inferiores às de mercado."

As linhas de financiamento do BNDES e a TJLP seriam um exemplo disto?

E este diferencial entra a Selic e a TJLP, por exemplo, possibilitaria o favorecimento de "interesses" de setores especificos, e isto criaria uma situação de rent-seeking?

Mas dada a diferença entre a TJLP e a Selic, você não teria um efeito tostines? A TJLP menor que a Selic ativa o investimento, que no curto prazo é um componente da demanda, maior demanda implica em alta da Selic para conter a inflação, Selic maior implica em mais demanda por recursos para investimentos baseados na TJLP.

Ou seja, a Selic sobe porque a TJLP é baixa, e a TJLP é baixa porque a Selic é alta? E enquanto isto o custo disto fica nas costas de todos, seja na hora de pagar impostos para cobrir o subsídio seja na hora de fazer uma compra financiada e pagar juros altos.

Acho que sua visão e a do Alex não são muito diferentes nos princípios.

Alô Alex, gostei da sua proposta. Eu mesmo acho que o câmbio livre não pode ser rastreado, porque é um preço e como tal sofre diferentes pressões e o seu vetor resultante seria, a principio, imprevisível. É sempre bom lembrar que esse preço reflete uma série de variáveis, como as políticas de outros países e as nossas mesmo. Uma delas é a política de juros elevadas, tendo em vista o padrão de juros internacionais e a taxa de inflação presente. O câmbio refletiria tal pressão exagerada dos juros. O quanto, uma boa pesquisa poderia revelar. Mas adiantaria em quê, se sabemos que a causa causadora são os juros altos? Um outro bom estudo em economia política seria sobre os efeitos do real valorizado. Eu esperaria uma queda de preços internos compensando o setor exportado os efeitos da valorização do câmbio. O quanto, seria outra pesquisa interessante. De novo, serviria pra quê? Neste caso, acho que para fazer o lobby dos exportadores. Pode ser que outras tantas questões possam ser tratadas. Mas achar que se possa determinar o câmbio de equilíbrio, me parece uma afirmação desprovida de sentido. Câmbio flutuante está sempre em equilíbrio. Querer achar um valor especifico do câmbio é desconsiderar que ele reflete as distorções econômicas. A trajetória do câmbio livre flutuará de forma randômica, com pouca variabilidade, quanto mais estáveis forem as políticas e o ambiente econômico externo. Enfim, sobre o câmbio gosto sempre de lembrar do artigo do Milton Friedman- Defesa dos tipos de câmbio flexíveis, escrito lá pela década de 50 do século passado.

“As linhas de financiamento do BNDES e a TJLP seriam um exemplo disto?”

Sim.

“E este diferencial entra a Selic e a TJLP, por exemplo, possibilitaria o favorecimento de "interesses" de setores especificos, e isto criaria uma situação de rent-seeking?”

Sim.

“Mas dada a diferença entre a TJLP e a Selic, você não teria um efeito tostines? A TJLP menor que a Selic ativa o investimento, que no curto prazo é um componente da demanda, maior demanda implica em alta da Selic para conter a inflação, Selic maior implica em mais demanda por recursos para investimentos baseados na TJLP.”

Sim.

“Ou seja, a Selic sobe porque a TJLP é baixa, e a TJLP é baixa porque a Selic é alta? E enquanto isto o custo disto fica nas costas de todos, seja na hora de pagar impostos para cobrir o subsídio seja na hora de fazer uma compra financiada e pagar juros altos.”

Sim.