Concordo 100% com o posto do "O". Imagino, porém, qual seria a conclusão dos autores se fôssemos aplicar o mesmo critério para o Real, com base no saldo comercial brasileiro relativamente aos países da América do Sul. A figura seria a seguinte (nota: eu me limitei aos países do Mercosul - Argentina, Paraguai, Uruguai - mais alguns cujo comércio fosse relevante, no caso, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela).
Mas será que os autores estão preparados para aceitar esta conclusão, ou o critério só vale para a China e seus vizinhos asiáticos?
P.S.
A pedido, os dados de 2008 seguem abaixo. A notar que o câmbio de 2009 foi, em média, mais depreciado (relativamente ao dólar e à cesta de moedas) do que em 2008.
15 comentários:
Alex, pegue os dados para os anos recentes. Ai sim podemos comparar. Mas a ideia foi genial!
Interessante o caso da Venezuela. Câmbio administrado com controle de fluxo de capitais, provavelmente, e deu no que deu. Ou seja, estava desalinhada como a prática veio a demonstrar.
Das demais quais adotam regime de câmbio flexível?
Como afirmar que uma moeda com câmbio administrado e controle de capitais está alinhada?
"Alex, pegue os dados para os anos recentes. Ai sim podemos comparar. Mas a ideia foi genial!"
Eu peguei para 2008 (vinham juntos, não precisei buscar adicionalmente). Mesma coisa. Superávits contra todos estes países, maiores, é verdade, em 2008 do que em 2009, mas note que o câmbio esteve mais depreciado em 2009 do que em 2008. Vou adicionar os dados de 2008.
humm..
E agora, LCBP?
Ou será que também estamos falando de um trabalho " working in progress " ?
Doutrinador
há uma diferenca. no caso da china, alegou-se que as importações chinesas de seus vizinhos sao de bens intermediarios (componentes eletronicos, p. ex).
até onde eu sei, o saldo comercial do brasil com seus vizinho decorre de exportações de bens finais (automovies, geladeiras, ...).
coerencia?
sgold
Tá interessante a discussão, mas o que interessa mesmo é se o país atrai poupança externa suficiente para manter suas taxas de investimento. Temos que avançar muito neste quesito.
No curto prazo, um câmbio verdadeiramente flutuante resolve.
Não custa lembrar, o modelo chinês só se sustenta porque a poupança pública é muito elevada e eles conseguem isso porque é uma ditadura de partido único.
"até onde eu sei, o saldo comercial do brasil com seus vizinho decorre de exportações de bens finais (automovies, geladeiras, ...)."
Sérgio:
Isto poderia ser uma objeção ao meu argumento se eu acreditasse que superávit na balança comercial fosse um indicador de câmbio alinhado ou desalinhado, isto é, se eu estivesse concluindo que os superávits relativamente aos demais países da América do Sul fossem prova de que o câmbio não está apreciado.
Mas eu não estou afirmando isto. Estou dizendo que esta estatística não é suficiente para caracterizar desvio da moeda com relação à taxa de equilíbrio.
Meu ponto é saber se os autores - que usam o déficit chinês com países da Ásia para afirmar que o renmimbi não está subvalorizado - estariam preparados para - usando o memso critério - dizer que o real não está sobrevalorizado.
Abs
Alex
"O economista americano Jan Kregel, professor da Universidade do Missouri, afirma em entrevista a ÉPOCA que o país precisa adotar medidas para gerar demanda doméstica (Controle Cambial)"
Veja: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI116449-15259,00-BRASIL+DEVERIA+CONTROLAR+O+DOLAR+DIZ+CONSULTOR+DA+ONU.html
"Isso significa controlar o investimento externo e o fluxo de capital para administrar a taxa de câmbio e reter competitividade, assim como estimular o crescimento do mercado doméstico."
Gênio. vamos expandir a demanda doméstica e, simultaneamente restringir o investimento externo.
De fato, a demanda doméstica anda fraquinha, fraquinha. Só 1,8% no segundo tri e 2,4% no terceiro. ie. em média uma expansão de 8,7% a.a.
E, como restringir o investimento externo implica aumentar o superávit (ou reduzir o déficit) em conta corrente, esta recomendação conflita com a expansão da demanda doméstica, a menos que o país tenha uma folga considerável para se expandir sem esbarrar em gargalos de oferta, o que certamente não descreve o Brasil em 2010 (no começo de 2010, um pouco, no final do ano certamente não).
Putz, como chutam...
Caro Alex,
Eu gostaria de divulgar esse texto que eu escrevi sobre a questão do Haiti, no teu blog e em outros, na esperança que meus apelos cheguem aos ouvidos daqueles que têm poder para decidir.
“No dia 12 de janeiro de 2010, um grande terremoto destruiu a cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, causando a morte de mais de 100.000 pessoas em algumas estimativas. A magnitude da calamidade se deveu à combinação de forças da natureza que não podemos controlar atuando sobre a infra-estrutura precária de uma cidade que reflete a pobreza do Haiti.
Diferentes analistas podem apontar causas diversas para a miséria daquele país, o mais pobre da América Latina, assim como diferentes receitas para melhorar a vida dos milhões de haitianos. Entretanto, um fato inexorável merece ser ressaltado: o futuro do Haiti foi hipotecado por gerações passadas que esgotaram os nutrientes de seu solo, poluiu seus rios e assim condenou o país a pobreza.
Neste momento de emergência, faz-se necessário que governos do mundo e pessoas de melhor fortuna dêem sua contribuição para o resgate das vítimas e para evitar que fome e pestilência tomem a vida de outros. Mas passada a emergência imediata, a possibilidade de melhorias substanciais na qualidade de vida dos 10 milhões de haitianos lutando por sua subsistência em uma natureza arrasada é duvidosa. Os países ricos, assim como as instituições multilaterais podem fazer chover recursos, mas especialistas em desenvolvimento, como William Easterly da New York University, argumentam que a experiência em muitos países pobres é que a ajuda externa tem efeitos desapontadores.
Eu gostaria então de lançar uma proposta que muitos podem achar impalatável em um primeiro momento, mas que causaria uma melhoria palpável na vida de muitos. No passado, nosso país funcionou como uma válvula de escape para milhões de europeus e japoneses miseráveis. Somente em São Paulo, um milhão e meio de imigrantes passaram pela Hospedaria do Imigrante na Moóca entre 1893 e 1928. Apenas no ano de 1895, 105.000 imigrantes passaram por aquela hospedaria a caminho das plantações de café e uma vida de classe média longe das grandes guerras mundiais para seus descendentes.
Por que não abrirmos a porta de nosso país para os haitianos? Se nosso país acolhesse 100.000 haitianos, estes seriam apenas uma gota no oceano de 200 milhões de brasileiros. Para cada um desses haitianos, mesmo um emprego ganhando um salário mínimo representaria uma melhoria de vida considerável que provavelmente seus descendentes não pudessem alcançar em gerações ficando na ilha.
Nossa experiência histórica com imigração não poderia ser mais positiva. Nosso país acolheu gente dos mais diversos cantos do mundo (avôs e avós de muitos de nós) e assim como geração após geração de imigrantes abraçaram nossa cultura, o Brasil cresceu com as contribuições deles. Hoje temos dois prováveis candidatos a presidente, que são filha e filho de pais que vieram de longe.
Está na hora de revivermos essa história. Somos grandes, somos orgulhosos e podemos trazer um alívio real para os pobres de longe como fazíamos no começo de nossa República. Graças a 16 anos de inflação baixa, o Brasil hoje tem vivido um momento especial, nosso desemprego tem caído mesmo durante uma grande crise internacional, e programas como o Bolsa Família nos deixaram próximos de erradicar a miséria em nosso país.
Presidente Lula, com uma canetada sua, o Brasil pode salvar 100.000 haitianos da miséria, dando-os a oportunidade de recomeçar suas vidas em nosso Brasil. Faça isso e receberá o meu aplauso para sempre.
Ou então, seja ousado, e inaugure uma nova era de solidariedade entre os povos, abrindo a porta de nossa cidadania para meio milhão de haitianos. A liderança que entra para a História não é aquela dos discursos em foros internacionais, mas sim a coragem política para realizar atos concretos que transformam o mundo para melhor. Dê um passo gigantesco, e será um gigante.”
Irineu Evangelista de Carvalho Filho
Acho que o senhor Irineu está olhando tv demais e está muito impactado com as notícias um tanto quanto sensacionalistas.
Sua idéia é no mínimo ingênua porque desconsidera que o Estado brasileiro (três poderes e três níveis de governo) falha flagrantemente em itens básicos para a população brasileira. Nossas cidades tem falta de transporte público, saneamento básico, etc. Pessoas vivem em lugares inapropriados correndo risco de vida por inépcia do Poder Público.
Sem um Estado que funcione, capaz de impor a ordem, e um governo legítimo, o Haiti continuará depedendo de ajuda externa. Esse é o caminho mais fácil para a pobreza.
alex:
nao tenho procuracao nem interesse em defender os autores do artigo.
mas, por coerencia, voce deveria comparar a evolucao da exportacao de bens finais do Brasil e da China.
A questao do "O" não é a vizinhanca, mas a natureza qualitativa do fluxo comercial.
Como diz "O": "O que os professores parecem ignorar é que a China é a última parada em uma linha de produção que começa no Japão, Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul e tem como destinação final os mercados do resto do mundo."
"O" tambem reclama de relacoes bilaterais: "desalinhamento cambial é um fenômeno multilateral, não bilateral"
LCB+MH: "de julho de 2005 a setembro de 2008, o Yuan passou por mais de 20% de valorização, em termos reais efetivos, ou seja, em cesta de moeda".
essa estatistica basta? nao é suficientemente multilateral?
vc tambem nao acha esquisito os economistas dos eua defenderem que a china deveria valorizar sua moeda para o bem da economia mundial?
abs
sgold
Sérgio:
Continuo achando que esta não é a abordagem correta para avaliar a questão de desalinhamento cambial, entre outras coisas pelos argumentos do "O". O padrão de comércio entre países (o que você exporta para o país X e importa do país X, com X variando do Afeganistão a Zimbábue - não me lembro se há alguém antes do Afeganistão) não vai te dizer muito sobre o estado da taxa de câmbio.
Por exemplo, no comércio Brasil-China, exportamos bens primários e importamos manufaturas. No comércio Brasil-EUA exportamos e importamos principalmente manufaturados. No comércio com a AL exportamos manufaturados e importamos, principalmente, produtos primários, com a notável exceção de automóveis produzidos na Argentina. O que isto me diz da taxa de câmbio?
Da mesma forma, se a China importa componentes da Coreia e os reexporta depois de montados para os EUA, o que o comércio China-Coreia me diz da taxa de câmbio?
Em ambos os casos, nada. Este é o argumento do "O" (e meu também), qual seja, que este métrica de avaliação da taxa de câmbio está pura e simplesmente errada.
Ainda vou fazer um post com a métrica que considero apropriada de avaliação do desalinhamento da taxa de câmbio, mas esta tem a ver com a questão da manutenção do equilíbrio interno e externo, e não com o padrão de comércio.
Abs
Alex
Exemplo fantástico!
Seria interessante esse exemplo chegar aos autores... só pra saber que resposta dariam.
Abs,
Guilherme
"vc tambem nao acha esquisito os economistas dos eua defenderem que a china deveria valorizar sua moeda para o bem da economia mundial?"
Então, sgold, você não entendeu a piada involuntária do LCB/MH: o economista que eles citaram como defendendo que a China deveria valorizar sua moeda, Dani Rodrik, é turco.
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