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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Plano Real e o vício quermesseiro

Irresistível.

Algumas pessoas me pediram um comentário sobre este texto de Theotonio dos Santos Júnior:

Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação [grifo meu] na qual todas [grifo meu] as economias apresentavam inflações [sic] superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário (...)
Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial [grifo meu] que fez cair as inflações no mundo inteiro.

Gosto disso. É uma afirmação cretina, porém científica, pois pode ser confrontada com os dados. E que diz Sua Majestade, A Evidência?

Em primeiro lugar que, certamente, a economia mundial NÃO vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. O gráfico abaixo mostra as taxas de inflação em 1993 e 1994 para países desenvolvidos (e alguns emergentes que já estavam bastante próximos dos desenvolvidos). Dentre estes apenas Grécia e Israel registravam taxas de inflação maiores que 10% naquele ano (Israel 11,3%; Grécia 11,9%). A média aritmética simples (não estou com paciência para ponderar os dados, ainda mais sabendo que a ponderação não mudará a conclusão) mostra uma inflação de 3,9% para este grupo. Talvez na Dimensão Z (de zurro, como sabemos) este nível represente hiperinflação; no planeta Terra, aqui no quadrante Alfa da galáxia, de forma alguma.


Fonte: FMI

A média recuou para 3,5% em 1994, que, ainda no quadrante Alfa, também não representa uma deflação global. Segundo o gênio em questão, foi esta queda que fez a inflação brasileira despencar de 40% ao mês para 20% ao ano (nos primeiros 12 meses do plano Real). Sinceramente, me faltam palavras para descrever os píncaros de cretinice atingidos por tal afirmação.

Fora isto, não faltam exemplos de países cuja inflação aumentou (e não aumentou pouco) entre 1993 e 1994. Nossos amigos venezuelanos, por exemplo, viram a inflação saltar de de 46% para 71%; os búlgaros de 64% para 122%, os turcos de 70% para 120%. Como nosso perito nos mecanismos de transmissão da inflação global para a inflação nacional explica este fenômeno? Será que não havia gênios locais nestes lugares?

Em suma: afirmações peremptórias baseadas nos delírios de "intelectuais" que não se preocupam em perder 5 minutos para uma checagem mínima dos dados são um vício nacional. Só com um processo cuidadoso de desintoxicação a academia brasileira se livrará do "vício quermesseiro".

19 comentários:

Vamos deixar bem claro: Theotonio dos Santos Júnior é o nome de um aparatchik que mente descaradamente, sem vergonha alguma. O fato que ele é um professor em uma universidade pública brasileira deveria causar vergonha não só para qualquer brasileiro honesto, assim como para qualquer ex-aluno, aluno ou funcionário da UFF cujos diplomas e currículos são manchados pela associação com tal Jumência.

Theotonio dos Santos Júnior está para um acadêmico merecedor de respeito de seus pares assim como um vaso sanitário entupido está para um bom cálice de Malbec. O que Theotonio dos Santos Júnior escreve vale menos que um quilo de bosta em compota.

“O”

Quer dizer: para desqualificar os méritos de outrem, ele aceita a "mão invisível"? Quer dizer que a "mão invisível" funcionou para todo o mundo inclusive para os "gênios locais" que apelidaram isso de Plano Real? Até a santa paciência tem limites.

Salvo engano, esse quermesseiro foi o primeiro brasileiro a publicar na American Economic Review?

Como fica? Bola fora da AER ou bola dentro do quermesseiro?

Seria o vício quermesseiro a versão tropical do vício ricardiano?

Obrigado por responder meu comentário Alex. Essas informações devem ser divulgadas no intuito de revelar o grau de honestidade de alguns acadêmicos, prinicipalmente os de instiuições públicas.

Gabriel Soldado

Não foi na AER, foi no Papers & Proceedings, mas, de qualquer forma, pode ter sido un pouco dos dois, i.e., critérios mais frouxos de publicação por um lado e um grão de honestidade intelectual (há muitos anos) pelo outro.

"Seria o vício quermesseiro a versão tropical do vício ricardiano?"

Pegou bem a referência...

Percebo que o "O" está buscando deflacionar o mercado de bosta em compota com comparações desairosas com afirmações produzidas por grandes vultos de nossa academia.

Desnecessária medida, amiginho.
Bosta em compota a temos aos borbotões, tanto pela vasta produção da matéria fresca como pela ampla oferta de compoteiros financiados com dinheiro público, estatal e para-estatal.

Gosto do "O" quando ele está assim acérbico.

Sei não, Alex.

Cada vez mais eu me convenço que a dimensão Z é aqui e que os alienígenas não são eles.

Quer uma evidência?

Na FSP de hoje

Conselho quer vetar livro de Monteiro Lobato em escolas

Parecer sugere que obra não seja distribuída sob a alegação de que é racista

Racismo em "Caçadas de Pedrinho" estaria nas referências à Tia Nastácia e a animais como urubu e macaco

Monteiro Lobato (1882-1948), um dos maiores autores de literatura infantil, está na mira do CNE (Conselho Nacional de Educação).
Um parecer do colegiado publicado no "Diário Oficial da União" sugere que o livro "Caçadas de Pedrinho" não seja distribuído a escolas públicas, ou que isso seja feito com um alerta, sob a alegação de que é racista.
Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. O texto será analisado pelo ministro e pela Secretaria de Educação Básica.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2910201001.htm

Hoje teve mais essa pérola de um possível ocupante de cargos importantes no ano que vem:

"Dívida abaixo de 30% do PIB e juro de 2% em 2014

Nem só de política fiscal vive a taxa de câmbio, diz Barbosa

Na sua visão, os juros no país são altos por um conjunto de razões. As principais, diz ele, são relativas ao fato da inflação ser muito sensível à inércia e aos preços das commodities. "Aqui os contratos são mais indexados que os padrões internacionais" e "por termos juros altos, temos que ter crédito direcionado; por termos crédito direcionado, os juros precisam ser mais elevados", prossegue.

O poder das restrições aos gastos públicos sobre a trajetória da taxa de juros, na avaliação de Barbosa, é limitado. Ele acredita que a política fiscal afeta os juros para reduzir a taxa Selic de 10,75% ao ano para 10,50% ao ano, mas não tem força para fazê-la cair em uma magnitude maior, de 10,75% para 8%, por exemplo."

Chegaremos a andar sobre quatro patas?

Alex, deixando de lado a carta cretina do lunático, Sua Excelência, a evidência, mostra uma substantiva queda da taxa de inflação, nos países latino americanos, ao longo da década de 1990. (Será que o T.S. quis se referir a esse fato, mas sua demência z-dimensional o impediu?)

Exceto Equador e Venezuela, os países do grupo conseguiram, depois de muitos anos, trazer a inflação para patameres mais civilizados.

Isso de fato sugere que existe algum fator em comum que influênciou a economia destes países naquela década.

A hipótese mais sensata seria que a maioria dos países da região passou a conduzir sua política econômica de maneira mais ortodoxa.

Mas o interessante é que mesmo países que não passaram por grandes ajustes no manejo de sua política viram sua inflação ser reduzida. E neste caso a explicação seria ainda um dos mistérios da humanidade. Ou não?

Pai Alex.

PS: (país / inflação em 1991 / em 2000; números arredondados; FMI)

Arg / 171 / -1
Bol / 22 / 5
Bra / 447 / 7
Chi / 21 / 4
Col / 30 / 9
Ecu / 48 / 96
Mex / 23 / 9
Par / 24 / 9
Per / 410 / 4
Uru / 102 / 5
Ven / 34 / 16

"Cada vez mais eu me convenço que a dimensão Z é aqui e que os alienígenas não são eles".

Estou na mesma. Já penso em sair do Brasil de novo.

Pai Alex:

das histórias que eu conheço, todo mundo fez força para trazer a inflação para baixo (inflação baixa não cai do céu).

O que pode ter ocorrido é que, certas circunstâncias que permitiram o uso de determinadas políticas realmente não surgiram até os anos 90.

Argentina, Brasil, por exemplo, aplicaram programas que requeriam ancoragem da taxa de câmbio (mais extrema no caso dos hermanos que no nosso), mas, para isto ter uma chance de funcionar necessitavam acumular reservas elevadas (nada comparável a hoje, mas, para a época, era um bocado). Sem integração financeira, por força da globalização, isto não era possível antes de 1990.

Se alguém conhecer detalhes das outras histórias de estabilização fica convidado a repartir aqui, para vermos se esta hipótese faz sentido.

Fico verdadeiramente assustado ao ver um professor universitário escrever algo com tantas afirmações sem fundamento. E ainda mais assustado em ler alguns comentários e perceber que existem muitos que leem e aceitam tais afirmações como se fossem a mais pura verdade.

Parabéns por estar na contramão disto tudo, Alex. Muito boa sua resposta.

Theotonio dos Santos Júnior é o Ahmadinejad da economia!
Alegar que o Plano Real não reduziu a inflação é semelhante a dizer que não houve o holocausto.

Já dá para ver que esse sr. está alinhado em pensamento com o "apedeuta mor", outro dia assisti ao video do debate de 1994 e o apedeuta dizia que o plano real era um estelionato eleitoral, convenhamos desse artigo, estelionato, ele sabe tudo.

Este blog é uma das minhas fontes de pensamento diferente daquele que muitos professores (nem todos, que se desfaça esse mito) me passam na graduação da UFRJ. Por isso venho aqui e por isso gosto desse blog. Porque me ajuda a ser crítico em relação àquilo que recebo lá.

Mas também me parece desonestidade intelectual (rótulo que vcs tanto apreciam) tentar convencer seus leitores anônimos, menos capazes que vocês, que o pensamento apresentado aqui é o correto, ou o que melhor responde as questões que aqui se permite debater, via agressividade. Ela foi cômica até certo ponto; esse ponto já foi ultrapassado.

Se a idéia é educar seus 17 leitores, ganhem pelas idéias e só, Alex e "O". Assim vocês podem fazer um bem tremendo.

Certas coisas que vocês escrevem aqui só permitem aos leitores anônimos metralhar assertivas sem senso crítico nas suas rodas pré-intelectuais de boteco. Pro estudante é tentador repetir como dele as sacadas que pra vocês são reflexão, baseada em conhecimento, estudo. É no repeteco que ele vira uma anta quadrada que não pensa, apenas é.

O Theotonio é um dos teóricos da teoria da dependência, uma teoria relevante para pensar a AL. É diferente. Não é ruim por ser diferente.

Abcs

"Fico verdadeiramente assustado ao ver um professor universitário escrever algo com tantas afirmações sem fundamento."

Pedro, vc tá brincando?
No Brasil, eu me surpreendo quando eu vejo um professor universitário flar coisa com coisa...

"A"

Parei de ler a "carta" já no começo. Mesmo um leigo como eu percebe que o argumento pode, no máximo, levantar uma correlação, nunca estabelecer a causa do fim da inflação alta.