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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

¿Y si?


A pergunta mais importante em Economia é também a mais difícil de ser respondida: o que ocorreria caso, ao invés de adotarmos determinada política A, adotássemos a política B? Esta é também uma pergunta recorrente na vida comum: se tivesse entrado à esquerda, ao invés de à direita, teria chegado mais cedo ao trabalho? Ou, se tivesse me dedicado à Medicina, como queria minha mãe (de acordo com a tradição judaica o feto não é considerado viável até se formar médico), que caminhos minha vida teria tomado?

Algumas destas questões não têm resposta fora do campo da ficção, pois são experimentos únicos, para tristeza da minha mãe. No que tange a outras, porém, se há regularidades teóricas e empíricas, podemos imaginar como certos fenômenos teriam se desenrolado caso decisões diferentes tivessem sido tomadas em momentos cruciais.

Estava pensando nisso ao observar os desenvolvimentos recentes na Argentina. Não há de ter escapado da atenção do leitor mais atento a magnitude do protesto contra a presidente Kirchner, nem a queda abrupta de sua popularidade pouco tempo depois de sua reeleição.

A verdade é que a Argentina tem, há tempos, adotado um conjunto de políticas econômicas “heterodoxas” que, embora lhe tenha dado certo alívio por um período, foi minando gradativamente sua capacidade de crescimento.

A começar pela despreocupação com a inflação. No começo de 2004, tempos em que o Indec ainda era uma instituição confiável, livre do tacão do governo, a inflação havia recuado para níveis muito baixos (cerca de 2%), uma vez dissipados os efeitos da maciça desvalorização do peso no começo de 2002. A atividade econômica, por sua vez, vinha em franca recuperação e o país reunia, assim, as condições ideais para consolidar o controle da inflação.

Naquele momento crucial, contudo, mais uma oportunidade foi desperdiçada. As autoridades desprezaram a questão inflacionária e elegeram o crescimento como único objetivo. Ao final de 2005 a inflação já ultrapassava os dois dígitos e, para lidar com o problema, o governo recorreu a controles diretos de preços e subsídios; com o fracasso destes, passou a adulterar o índice de inflação. Hoje a inflação oficial se encontra ao redor de 10% nos últimos 12 meses, enquanto estimativas privadas sugerem um índice cerca de 3 vezes mais alto.

No que se refere ao desempenho fiscal a deterioração também foi marcante. O superávit primário do governo federal, que superava os 3% do PIB até 2008, vem em queda acentuada e equivalia a meros 0,3% do PIB no ano passado, evaporando ao longo de 2012.

Por fim, para a alegria de vários economistas pátrios, a taxa de câmbio argentina foi administrada, supostamente mantida a patamares que tornariam a indústria local competitiva. Obviamente, com a aceleração da inflação isso não passou de ilusão. A Argentina chegou a ter uma fatia de mercado equivalente a 9% das importações brasileiras (seu principal mercado, que absorve cerca de 20% das exportações platinas); hoje esta participação caiu para 7%, a menor em quase 20 anos.

Dados estes desenvolvimentos, o surpreendente não é que a Argentina esteja enfrentando problemas sérios; o inusitado, na verdade, é que estes tenham demorado tanto a se manifestar, provavelmente atenuados pelo forte aumento de preços das commodities, assim como pelo bom desempenho brasileiro entre 2004 e 2010.

O interessante é que, embora pouca se ouça dos nossos keynesianos de quermesse sobre a Argentina hoje, a combinação de política por ela adotada de 2004 para cá era cantada em verso e prosa como a receita para o Brasil crescer aceleradamente. O desempenho argentino pode ser considerado, contudo, como o que poderia ocorrer com o Brasil caso tivéssemos ouvido o canto das sereias heterodoxas. E também como o que pode nos acontecer a continuar a deterioração segura e implacável da nossa política econômica.

Una política muy amiga...

(Publicado 21/Nov/2012)

21 comentários:

olá Alex
sobre as escolhas...
"O homem é ele mesmo e suas circunstâncias" Ortega y Gasset.

[ ]'s
JCW

Alex,

Ainda bem que para o nosso bem vc se tornou Economista hehe!

Sua mãe deve estar orgulhosa do mesmo jeito!

Parabéns pelo artigo!

Dizem que, desde o final de 2010, a bebida favorita na explanada dos ministérios é Orloff!

Este texto era necessário (foi muito feliz nos argumentos). Mas era previsível para a turma de bom senso (como dizem os roceiros, mentira tem perna curta. Até que a Argentina ajudada pelos preços das commodities que produz conseguiu alongar.).
Acho injusto com Keynes o que esta turma faz em seu nome. A receita dele de fato provoca inflação e estagflação (com o tempo). Aprendemos sofrendo na pele (pena que o Delfim não faça o mea culpa. Seria benéfico para o país e para as escolas de economia). Mas duvido que ele concordasse com a repetição de erros (já teria adequado seus estudos à realidade.).
Quando esta turma começa a querer tampar o sol com a peneira abusando de mentiras e tapeações (ou com totalitarismos), o mercado enxerga logo. São DESONESTOS além de ignorantes. E a nossa presidente (dizem que honesta) refém desta turma de picaretas.

Dei muita risada com o "de acordo com a tradição judaica o feto não é considerado viável até se formar médico"...
I sense trauma, hahaha...
Tadinho do meu filho, também tem mãe judia!!!
Abraço,

Alex,

a paridade direta pesoxbrl (taxa sml) de alguma forma ajuda a argentina lastrear o peso com brl?

belo texto, mas nunca entendi muito bem porque escrever keynesianos de quermesse?

vc se refere aos keynesianos ortodoxos (como o Tobin e Samuelson, por exemplo) e pós-keynesianos?

acredito que teorias heterodoxas que dominam o brasil são uma mistura de (pós??) keynesianismo, cepal e marx....... bem ao estilo unicamp.....


Alex, olha só o e-mail que está circulando por aí:

Em defesa da política econômica arte (professores da UNICAMP)

“A política econômica arte acabou.” Esta frase ecoa nos ares brasileiros sempre que perdemos a meta de inflação. Não por outro motivo, um dos maiores economistas de todos os tempos – Delfim Netto – reclamou que não levamos o nosso câmbio a 3 reais no último mês. Para mim, a frase “A política econômica arte acabou” tem cheiro de blasfêmia, que bem que poderia ter se originado- dos rincões onde tomar essas decisões, muito mais que um esforço desperdiçado, é puro desencanto. Nunca emitida por um dos nossos.

Arte para a política econômica jamais é adjetivo; é a sua essência. A beleza intrínseca da dinâmica e da harmonia é meio ideal de cultura para a alegria e a criatividade. E quem, neste mundo, apresenta com tanta clareza tais qualidades?

Um povo historicamente esmagado pela colonização, que insiste em se fazer viva, explorado e excluído em sua imensa maioria e que permanece com os queixos elevados e com a esperança intocável, é de se admirar. E só conseguiu atingir essa capacidade de sobrevivência por suas incomparáveis características. Quando qualquer de nós se aproxima de alguma forma de expressão econômica é que podemos perceber a sensibilidade que exala de cada poro. Como podemos explicar que cá por estas bandas surgissem tantas genialidades sem que, em sua maioria, tenham tido quaisquer facilidades para seus ofícios? Em tantas áreas poderíamos desfilar um sem-número de figuras excepcionais que se destac(ar)am por suas criações e capacidades. Na economia não é diferente.

Do bando de desnutridos que somos nasceram Luiz Gonzaga Belluzzo e Ricardo Carneiro. Mesmo com a falta de formalização matemática, tivemos Reinaldo Gonçalves, Maria da Conceição Tavares, Celso Furtado e esse excepcional Plínio de Arruda Sampaio Jr.. Testes econométricos, tão raros por aqui, nos deram Jorge Miglioli, Wilson Cano, Mário Possas e um tal de Carlos Lessa. Assim, poderíamos ficar horas a desfilar as incoerências da realidade que vivemos. E nada mais real que a nossa política econômica. Nossa plena expressão social e nosso maior agregador cultural foram postos em um lugar bem especial por todos os apreciadores dessa ciência exatamente por nossas especialidades: espontaneidade, dom, criatividade, alegria e habilidade. Isto é que determina o que é arte! E arte de qualidade ímpar. Não é à toa que nossos maiores economistas desfilam seus dotes espalhados por todo o planeta.

Porém, quando escolhemos para fazer parte de uma equipe alguém que possui como conteúdo filosófico a destruição da controvérsia, não estamos percebendo nada de positivo nessa atitude. E as consequências são funestas. Essa opção torna a diretriz política feia, truncada, faltosa, de pouco crescimento e muitas vezes irritante. Para evitar esse processo, só mudando a estrutura dessa ciência. Pelo menos, essa é a minha impressão. Antes disso, aquilo que estamos cansados de ver: muita correria para frear a inflação, pouca técnica, equipes econômicas sem desenvoltura, violência, agressões, discussões e pouco, muito pouco crescimento. Já quando tínhamos poucos ortodoxos em campo: liberdade, movimentação, muitos debates que facilmente poderiam ter se tornado decisões e euforia, participação, ansiedade e entusiasmo dos movimentos sociais.

O que é melhor?

Não, a arte não acabou. Está mais viva do que nunca. O que nos falta é competência para percebermos que isto é um espetáculo e deve ser tratado como tal. Quando propomos uma administração macroeconômica de resultados, estamos querendo a dança sem leveza, o canto sem coração, a interpretação sem técnica. E só o faz dessa forma quem não conhece e respeita a beleza de qualquer expressão artística. Quem não possui o dom e a sensibilidade deve consumir a arte de outrem, não renegá-la. Que se resgate então aquilo que de mais belo a política econômica pode nos oferecer.

Ozermanos sao iguaizinhos ao Braz Asneira: imunes a aprendizado.

Um grande abraco


Kleber S.

Melodramatizando,...
Frustrante e deprimente estes erros primários da administração econômica nacional; sou da geração pós-crise do petróleo (da 2.ª à 5.ª), pós padrão-ouro, e passei pelo Delfim, enésimos planos econômicos, trocas de moedas (cruzados, de esquerda e de direita), e agora, estamos caminhando para a tablita, URV, overnight, confisco do boi e da poupança, ágio com fila de espera, leasing em doleta,...
Vida longa ao pós-fixado.
De se rir um pouco.

Será que o anônimo das 14:56 sabe o que é verborragia?

Reinaldo Gonçalves tem um livro de economia internacional. Falando em livros de economia internacional, acho excelente o do John McLaren International Trade. Muito especial.
E que dizer do bestseller do Krugman-Obstfeld-Melitz. Mas às vezes poderia ser interessante ler Advanced International Trade by Feenstra e Feenstra-Taylor.

QUERMESSES eram as barraquinhas que as igrejas faziam para angariar fundos (uma festa).
Então keynesianos festivos. ?

Keynesianismo de quermesse foi um termo que eu inventei. Quermesse se refere à caipirice, à jequice intelectual do departamento de economia da Unicamp.

"jequice intelectual"
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
parabens pela criatividade!!!!!!!

Don't cry for me, politica monetaria:

"So I chose freedom
Running around, trying everything new"



Tombini, na mesma entrevista:

"Nao temos nenhum banda formal ou informal para o dolar. O BC nao defende nem pra cima e nam pra baixo nenhum nivel de taxa de cambio"

minutos depois:

"Temos o regime de câmbio flutuante, mas tomaremos as precauções para evitar que o país seja uma praça de desvalorização de outras moedas"

traduzindo: o cambio e' flutuante desde que flutue so pra cima!

Parece que a coisa vai descambar, de forma violenta e logo.

A nossa diferenca para os hermanos na area de manipular os dados da inflacao agora nao passa de uma questao de estilo: tango escandaloso vs. samba desenvolto. Os efeitos dos cortes tributarios, manipulacao da gasolina etc. sao temporarios na inflacao mas o estoque de dinheiro que esta sendo formado nao vai desaparecer da noite para o dia.