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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Por que o tripé?


Qualquer analista que tenha mantido alguma conexão com a realidade já percebeu que o tripé econômico adotado a partir de 1999 não mais existe. Fingir que a fixação da taxa de câmbio, a incapacidade de atingir a meta para o superávit primário – apesar do volume extraordinário de receitas de dividendos – e a perda pelo terceiro ano consecutivo da meta de inflação (com mais duas perdas contratadas para 2013 e 2104) sejam apenas “pragmatismo” na operação do tripé revela um cinismo atroz, ou apenas a incapacidade de perceber que o ambiente econômico mudou, e não para melhor.

A própria relutância em reconhecer o abandono do esquema de política econômica já reflete certo desconforto. De fato, se houvesse uma alternativa superior, não veríamos tantos dos antigos opositores do tripé insistindo que ele está, sim, mantido.

Na verdade, a questão central quanto à escolha do modelo de política diz respeito ao regime cambial, isto é, se a taxa de câmbio se ajusta às forças de mercado, ou se é, de alguma forma, administrada.

Países que adotam regimes de câmbio administrado em geral o fazem por duas razões: ou são economias com um grande volume de comércio internacional, ou têm dificuldades em controlar a inflação.

Um exemplo do primeiro caso é a adoção do euro. As economias europeias, seja pela proximidade geográfica, seja pelo processo de integração no pós-guerra, se caracterizam por intensa atividade comercial; sob tais circunstâncias a taxa de câmbio fixa facilita as trocas, permitindo maior especialização e produtividade. Não por acaso, sempre que possível estes países tentaram manter taxas de câmbio fixas entre si, com fracassos espetaculares ao longo do caminho.

Já a Argentina de 1991, assim como o Equador hoje, representam os casos de países cuja incapacidade de lidar com o problema inflacionário acabou desaguando na “importação” da política monetária dos EUA, por meio da adoção do dólar.

O Brasil não se enquadra nestas alternativas. Do ponto de vista do comércio internacional somos um país relativamente fechado e com um componente considerável de commodities em nossas exportações. Já no que diz respeito à inflação, nossa experiência de poucos anos atrás mostra que um BC resoluto tem plena capacidade de mantê-la controlada.

Adicionalmente nos últimos anos o país se livrou das dívidas em moeda estrangeira e, com isso, dos riscos financeiros associados à flutuação da moeda, isto é, da possibilidade da depreciação cambial levar à quebra de empresas endividadas no exterior.

Por estes motivos deve ficar claro que o regime de câmbio flutuante é o que melhor serve ao país. Em caso de choques, como alterações em preços de commodities, ou nas condições de financiamento externo, a taxa de câmbio se ajusta, isolando, em grande medida, os efeitos destes choques sobre atividade e preços domésticos.

A decorrência lógica de tal regime cambial é a necessidade do BC se dedicar ao controle inflacionário, no caso pela adoção de um sistema de metas para a inflação, uma vez que não se pode contar com a política monetária de outros países para resolver o problema.

Dados os dois primeiros componentes, segue-se que o Tesouro deve dar as condições para que o BC exerça seu mandato, seja garantindo que a dívida pública se mantenha estável, sem o que nenhuma estratégia antiinflacionária é crível, seja auxiliando o controle da demanda interna.

Isto dito, o tripé é também uma metáfora feliz, pois sem uma das pernas a estrutura toda se torna instável. No caso, perdemos duas ao fixar a taxa de câmbio e ao permitir que o gasto público crescesse de forma a inviabilizar a meta fiscal, o que já comprometeria o controle inflacionário mesmo se o BC estivesse comprometido com a sua meta. Resta tentar segurar a inflação atuando diretamente sobre os preços. Nunca funcionou, nem para o Imperador Diocleciano, mas é a estratégia que sobrou.

Será que faltou fiscal?

(Publicado 14/Nov/2012)

22 comentários:

Tá certo, o Brasil é um país muito fechado ao exterior.

Estudem o livro International Trade, do John McLaren (Wiley, 2012)

O câmbio é fixo (em R$ 2 segundo o ministro Pimentel). Ontem ele passou dos 2,07 antes de fechar.

Na sua opinião, o governo está deixando-o flutuar, só que só para cima, ou já está ficando sem espaço fiscal para intervir no câmbio?

"In 301, Diocletian apparently issued a Currency Edict, effective September 1st, doubling the face value of the silver and cop- per issues. Perhaps he hoped to raise the purchasing capacity of his (military and administrative) staff or make the possession of these coins more attractive and influence the ‘unfreezing’ of the out- standing precious metal (gold) that was held in private stores.
Aqui.

"(...) o país se livrou das dívidas em moeda estrangeira e, com isso, dos riscos financeiros associados à flutuação da moeda, isto é, da possibilidade da depreciação cambial levar à quebra de empresas endividadas no exterior."

Esse parágrafo me deixou intrigado... o Tesouro de fato se livrou das dívidas em USD... Mas, será que as empresas tb? Onde seria possível verificar essa info?

Abçs,
BMX

Alex,

Parabéns pelo blog.

Gostaria de sugerir como tópico a "polêmica" renovação das concessões de produção e transmissão de energia.

Estaria o Governo Brasileiro se aproximando da Cristina Kirchner e do Hugo Chaves, ou seria mais um chororô dos empresários do setor, que estão vendo que a sua rentabilidade vai diminuir?

Obrigado

Alex, voce se esqueveu que a Dilma e sua equipe vao decretar que tres pontos nao sao mais necessarios para definir um plano. Na verdade, essa inflacao no numero de pontos tem prejudicado e muito a populacao nas ultimas decadas - imagine a economia que seria feita se as casas populares tivessem apenas um ponto de apoio? Esse entreguismo de permitir que a geometria dite as regras precisa ser combatido!

A dúvida que fica é se esta turma acredita no que faz ou se é demagogia mesmo. São picaretas ou ignorantes?
Se o crescimento econômico exige um ambiente que passe segurança. Se uma das condições necessárias para o crescimento sustentado é uma moeda estável. Se o câmbio administrado passa insegurança e toda forma de desconfiança (que hora que vai virar, alguém irá querer ganhar, alguém está ganhando?), como defender o que todos sabem que terá um final triste se não mudado a tempo? Demagogia eleitoral ou acreditam que têm a obrigação de defender interesses de empresas (lucros da maioria, sobrevivência da minoria)?
Parabéns pela coragem de bater sem medo nesta turma. Muitos competentes estão cedendo ao medo do poder e falando e escrevendo coisas de que se envergonharão no futuro.

"No governo atual, há a percepção de que o BC perdeu autonomia, mas, nesse tipo de análise, dois sinais emitidos recentemente por dirigentes do BC devem ser levados em conta: a defesa contundente do regime de metas e a advertência de que o banco conta com a meta cheia de superávit em 2013. "Os ciclos econômicos (e monetários) não foram abolidos." "

Contar com o primario cheio no ano que vem nao e sinal de autonomia, e sim de esquizofrenia.

acho q ele confundiu as palavras.

meu trabalho e colocar inflacao na meta. Projeto que atinjo a meta com a contribbicao do fator X. e dps digo q e improvavel que o fator X aprensente sua contribuicao?

WTF?!?!?!!?!?



O BC moveu primeiro - e acertadamente - assumindo que o fiscal e a política cambial (grande parte dela é feita pela fazenda através de IOF ou recado) dariam suporte. Nao foi assim que aconteceu e o BC vai teria que neutralizar com mais aumento de juros. Isso nao vai ocorrer pois fazenda vai segurar preço com corte de imposto, o que funciona temporariamente. O que vai pegar será o fiscal em 2013. Corte de imposto e mais capitalização do BNDES.

Caro, desnecessária a revolta com pontos de vistas divergentes do seu.
Tenho duas sugestões para o próximo sábado:
1. Não ler aquilo que o tire do eixo;
2. Quermesse da Vila Formosa, diferente da Keynesiana, lá sim terá a Barraca do Beijo, para acalmar o ódio do coração!

O PT e sua coligação querem dar aos brasileiros o ambiente artificial de acesso a renda mais facil para a população:

"Vejam, votem na gente, pois nós sempre daremos emprego fácil para vocês e vocês não precisam se qualificar. Relaxa galera, praia e cerveja gelada pra todo mundo!"

Eles vão manter isso o tempo que puderem, colocando pessoas como o Mantega nos ministérios para falar besteira, sabendo que as pessoas esqueçerão depois.

Para quem acompanha as normas que saem do Congresso já vem notando isso faz tempo. Se alguem sensato puder passar um mes em brasilia perambulando pelas audiencias publicas vai logo berrar: "Parem o mundo, quero descer agora"

Destaques:
--> Retirada do limite de endividamento por debentures com base no capital social (ninguem sabe que isso foi para beneficiar o BNDES, imagina);

--> creditos extraordinários para a BR todo ano;

--> Flexibilização generalizada das regras ambientais para que se sugue o máximo do meio ambiente; etc.

Tentem acompanhar os debates sobre previdência no Congresso pelas paginas das duas casas. É coisa para sentar e chorar batendo o pé no chão.

Sobre as questões que o "Alex" levantou, gostaria de acrescentar uma leve observação. Estão colocando os preços dos principais insumos de forma artificialmente para baixo.

Na gasolina estão mandando a BR segurar os preços, %#*@# com o caixa da BR.

Na energia, com a MP 571, estão forçando o preço da energia para baixo, &*#%* com o setor de energia inteiro, que há 10 anos vinha ganhando boa reputação.

E a reforma tributária? Alguem viu se alguem está se esforçando lá no Congresso ou Executivo?

E o setor da educação, o mais importante?! Há audiências publicas para os congressistas com planos, ideias e experiências formidáveis vindo de todas as regiões do Brasil. Tudo que se ve nos videos dessas audiências são cadeiras vazias e congressistas presentes no "what's up".

Para quem pensar em ter filhos na atual conjectura...inicie uma vasta reflexão. Ou então acredite na varinha de condão do PT e sua coligação "Pirilim Pimpim"

Alex e "O" são o Dr. Jekyll e Mr. Hyde da blogosfera econômica brasileira. Um tem tanto medo de errar que só fala de um assunto, o outro é tão sem noção que sai atirando pra todo lado.

O que os une em sua oposição é a necessidade irrefreável de pregar para os convertidos.

COMO SEMPRE, excelentes figuras.

Vc fez muito bem lembrar das fiscais do Sarney.

Pra quem leu as entrelinhas, a responsabildiade pela inflação foi passado pra petrobras e para as elétricas.

Isso vai dar merda.

O Cleso Ming em sua coluna fez uma observação muito interessante

Antes se dizia, os esquerdistas diziam, que a prostração da industria nacional se devia ao juros alto.

Vai passando o tempo e estamos vendo que isso era bravata da esquerda em vespera de eleição, pois estamos em patamares minimos historicos e a industria continua estagnada, exceto por um ou outro soluço, vem constantemente perdendo participação no PIB até para a agricultura.

Estamos voltando ao plantation?

Alex, pela reação do Bisnetto, acertaste na mosca mais uma vez. O discurso de que o tripé está mantido, é só para inglês ver. Aviso aos ptrodoxos e afins que, com a entrada do Lula, a responsabilidade pela mudança da política econômica é de vocês. Claro que a mudança ficou mais nítida com a entrada do Mantega. Não adianta culpar o FHC, FMI, Malan ou Franco, pelas ações de vocês.

Delfim Bisnetto, vamos manter o nível.

Grande leitura seria Applied International Trade, de Bowen-Hollander-Viaene (Palgrave, 2012).

Oi, Alex.
Gostaria de pedir a você para comentar sobre a repartição dos royalties. Para mim, ela é completamente equivocada.
Embora bastante jovem, me lembro do discurso da época em que o ouro em Serra Pelada foi descoberto: “Vamos pagar a dívida externa com o ouro de Serra Pelada!” Todos nós sabemos o que de fato ocorreu: a região foi invadida por garimpeiros que tentavam extrair o seu quinhão, a dívida não foi paga e o Brasil amargou a “década perdida”. Pior: a maior parte dos garimpeiros da época continua pobre por ter gasto sua parte sem nenhum planejamento.
Por estar submerso, o petróleo da camada de pré-sal está protegido da exploração desordenada. Mas, na minha visão, a ameaça continua, uma vez que os políticos agem da mesma forma que os garimpeiros: tentam extrair seu quinhão para gastarem sem nenhum tipo de planejamento.
Por que o Brasil não age como a Noruega ou o Chile e cria um fundo soberano para esta riqueza? Deste modo, o dinheiro não é de ninguém individualmente, mas é de todos. Além disso, esta riqueza iria durar muito além do fim da exploração da reserva de petróleo. Ao invés disso, o Brasil opta por uma fórmula que só irá gerar pobreza.
A repartição excessiva é uma séria ameaça. Embora um milhão de reais represente bastante dinheiro para reformar uma escola, ele equivale a apenas 200 reais se dividido por 5000. E o Brasil tem mais de 5000 entes federativos... Como foi aprovado, o projeto vai pulverizar a riqueza gerada pelo pré-sal. A criação de um fundo evitaria esta repartição excessiva.
Para mim, talvez a mais séria ameaça venha do fato de não haver destinação obrigatória destes recursos. A justificativa para esta aberração está baseada no argumento idiota de que cada governante conhece as necessidades do seu povo. O que impede que o prefeito de uma dada cidade gaste estes recursos inchando a máquina pública? A criação de um fundo, com destinação específica para os recursos (por exemplo, educação ou infra-estrutura), resolveria este problema.
Além disso, o petróleo da camada de pré-sal não vai durar para sempre... Assim como o ouro de Serra Pelada, ele também vai acabar. Por que, então, deixar que estes recursos sejam incorporados no orçamento de estados e municípios para pagar despesas permanentes? O certo é utilizar estes recursos em investimentos. Assim, nenhum prefeito ou governador poderia contar com este dinheiro para aumento de gasto público. Eles poderiam apenas propor projetos para beneficiar suas regiões.
A proposta também me parece totalmente injusta com os estados produtores. A exploração de recursos naturais gera devastação, exposta, no caso de Serra Pelada, na forma de um gigantesco buraco contaminado por mercúrio. Esta devastação estará menos evidente no caso do pré-sal por ficar nas profundezas do oceano. Mas o acidente no Golfo do México em 2010 deixa claro que existem sérios riscos ambientais. Os royalties representariam uma compensação para estes riscos. Por que, então, estados e municípios que não são afetados por estes riscos deveriam ser recompensados?
Além disso, estados produtores já repartem com os outros estados e municípios parte da riqueza oriunda da exploração de petróleo, uma vez que o petróleo é o único produto que gera ICMS para o estado que o consome, ao invés do estado que o produz. São Paulo, por ser o maior estado consumidor, drena a maior parte destes recursos. No entanto, o ICMS gerado pelo álcool combustível produzido nas usinas paulistas não é repartido com ninguém. Os royalties pagos aos estados de Minas Gerais e Pará pela Vale do Rio Doce para explorar o ferro é repartido com alguém? Não!
Aléx, desculpe-me pelo texto enorme, mas realmente não entendo como o Brasil pode optar por não destinar a receita do pré-sal para investimentos que gerem desenvolvimento e, ao invés disso, deixar que esta riqueza seja pulverizada para ser gasta de forma desordenada. Não aprendemos nada com Serra Pelada?
Gostaria muito de saber sua opinião sobre os pontos levantados e outros que achar relevantes.

Como leigo que sou, não entendo quando falam em câmbio fixo enquanto a moeda nacional x dólar tem flutuado,....
Não entendo como chamam isto de fixo,....
Para mim, há uma banda cambial de atuação do BC que sinaliza que acima de 2,00 até 2,15 (reais por dólar), tudo ok.

"Bisnetto, foste convertido?" (Anônimo)

Com o Alex, geralmente concordo, embora essa insistência no tema das metas e o argumento do "mandato legal" do BC traiam uma certa ingenuidade política que me soa um pouco falsa e acaba sugerindo uma certa politização do comentário (que não é um problema, mas por que escondê-la?).

Quanto ao "O", quando se arrisca em outro assunto que não criticar os Oreiros da vida, fica intragável...

Alex

A gente brinca no blog da bolhaimobiliaria que trocaram o tripé economico pelo tripé do motumbo

Em referencia aoa vantajado principe africano que irá pessoalmente punir as imprudencias causados pela politica do credito-pra-quem-quiser