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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Professor Bresser Pereira volta às suas raízes (mas talvez não saiba disso)


Pouca gente se lembra, mas antes do Professor Luiz Carlos Bresser Pereira ser ministro da Fazenda de José Sarney, ele foi o autor de um livro chamado Desenvolvimento e Crise no Brasil no final dos anos 60, que recebeu uma nova edição nos anos 80. Não tenho palavras para descrever a maionese estragada que aquele livro era e se não fosse brasileiro, recomendaria a leitura com certo ar de superioridade e bom humor. Entretanto como sou brasileiro, vivi as conseqüências de ser governado por chimpanzés que se viam intelectuais originalíssimos e não acho graça alguma nisso.

Pois bem, uma das crenças do Professor Bresser Pereira então era que a apreciação da taxa real de câmbio era:
(estou citando da versão em inglês).

“an efficient tool to raise the marginal efficiency of capital.”

Desde então, ele se converteu e agora acredita que:

“a apreciação da moeda causará a diminuição da poupança por meio da diminuição das oportunidades de investimentos lucrativos voltados para a exportação. A queda das expectativas de lucro causará a diminuição dos investimentos e, em conseqüência, nos termos de Kalecki, dos lucros, e nos de Keynes, da poupança interna (...) a apreciação do câmbio tem como resultado a redução dos investimentos e da poupança interna.”

E assim o Professor Bresser Pereira juntou forças com o Professor Gala e a Professora Araújo para escrever um artigo para avaliar empiricamente essas relações. O artigo está pronto e é acessível aqui.

Sinceramente não quero perder tempo cortando cada bola que os três professores levantaram. Mas não posso deixar de compartilhar a conclusão do exercício empírico.

Gala, Araújo e Bresser Pereira produziram uma figura que demonstra sem margem de dúvidas que para a amostra de 1950 a 2007, usando a metodologia escolhida pelos autores, choques que depreciam a taxa de câmbio têm o efeito de reduzir a taxa de investimento permanentemente.

A taxa de investimento é por identidade contábil igual à soma das poupanças doméstica e externa. Portanto, o efeito de um movimento da taxa de câmbio sobre a taxa de investimento é dado pela soma dos efeitos sobre as poupanças doméstica e externa. Basta olhar a Figura 2 que os autores produziram para vermos que (1) um choque que deprecia a taxa de câmbio real tem um efeito sobre a poupança doméstica estatisticamente insignificante e próximo a zero, tanto no curto quanto no longo prazo; e (2) o mesmo choque tem o efeito de deprimir a poupança externa no curto e longo prazo e por uma quantia economicamente significativa.

Ergo, a análise empírica de Gala, Araújo e Bresser Pereira mostra que para dados brasileiros de 1950 a 2007, choques que depreciaram a taxa de câmbio têm o efeito de reduzir a taxa de investimento permanentemente.

Tendo em vista o que escrevi sobre as antigas crenças do professor emérito, será uma volta ao passado? Ou apenas ele está sendo embaraçado pelo pobre controle de qualidade de seus co-autores?

22 comentários:

Se não for pedir demais gostaria de uma resenha sobre os artigos dos seus queridos amigos da UFMG, em especial, Frederico Gonzaga Jr. e Marco Crocco.

Infelizmente sei das atrocidades cometidas por lá. Desde as acadêmicas até as morais.

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2010/07/sentenca-da-justica-reconhece-imunidade-tributaria-do-kindle.html

Justiça brasileira reconhece importação do Kindle sem impostos
Advogado conseguiu o direito de comprar aparelho sem impostos.
Decisão de juiz de São Paulo confirma liminar obtida em dezembro.

Brados

Posso inverter o pedido?

Prepare uma resenha e mande para um de nós (os e-mails estão aqui http://www.blogger.com/profile/16519179514106647031 e aqui http://www.blogger.com/profile/07896236826318022479).

Sugiro algo em torno de 3800 a 4000 caracteres (contando espaços), que é um pouco mais do que iminhas colunas da Folha. Cria um bom incentivo para ir direto ao ponto e, se ficar bom, publicamos e passamos a ter um uso novo para o espaço.

Quanto tempo para os quermesseiros usaram o índice Big Mac como prova irrefutável q nosso câmbio está valorizado?

http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/07/23/the-economist-indice-big-mac-mostra-sobrevalorizacao-do-real-ante-dolar-917224997.asp

É uma prova razoavelmente convincente: o índice de preços no Brasil é bem alto, como de se esperar em um país que passando por uma expansão fiscal secular significativa e fazendo sandices com os bancos estatais.

O que eleva a taxa de investimento é a moeda depreciada.Os Tigres Asiaticos são um exemplo.

Lucrécio

o greenspan errou e eu previ a crise com meu livro A Bolha de Wall Street - Paulo Rabello de Castro agora pouco na globo news

se colocasse a carteira atrás da língua estava rico

o desconforto do aloisio araujo ao seu lado era notório

Corretamente o "O" escreveu professor Bresser ( e não economista). O Bresser é Administrador de Empresa (assim como o Nakano. Já o Belluzzo é advogado). Reconheço que existem muitos engenheiros (e outras profissões) que entendem de economia (mas não dá o direito de usar o título de economista no Brasil). Keynes e Friedman eram a favor de câmbio flutuante (todos de bom senso são).
É bom esclarecer que esta turma defende um câmbio desvalorizado, abaixo do determinado pelo mercado (demagogicamente deixam a entender que o câmbio flutuante valorizou nossa moeda acima do correto). De fato defendem artifícios (na verdade subsídios. Custos para os contribuintes) para desvalorizar a moeda pátria.
Defendem que todos aceitem pagar para que os exportadores ganhem mais (inclusive os acionistas estrangeiros). Isto em nome de um improvável aumento de nosso parque industrial exportador (subsídios cambiais estimulam a importação de refugos de fábricas. Se o subsídio acabar as fábricas fecham ou quebram.). Democracia nenhuma pode oferecer subsídios cambiais ad eternum. Só ditaduras conseguem.
Abrir mão de poder de compra (qualidade de vida) para favorecer artificialmente pequena parte da sociedade (a maioria não necessitando)?
Esta turma não entende de economia. Eram piores (estão aprendendo com as críticas).
Como disse o "O", já prejudicaram demais o país. Mas o pior é que ensinam errado às novas gerações de economistas. Os jornais, em nome de defesa do contraditório, abrem espaço para ignorâncias.
Os conselhos de economia, acredito, não explicam aos jornais quem tem o direito de utilizar o título de economista no Brasil.

" "O" Anonimo disse...

É uma prova razoavelmente convincente: o índice de preços no Brasil é bem alto, como de se esperar em um país que passando por uma expansão fiscal"

Que expansão fiscal é é essa, se sistematicamente a poupança pública tem sido positiva (e, por assim dizer, "bem positiva") nos últimos anos?

Dr Baldberg
Eu tenho a impressão de que o seu blog é visitado por figuras ilustres à procura de inspiração. Pode ser impressão minha, mas não raras vezes vejo idéias discutidas aqui serem desenvolvidas em "artigos" publicados por aí.

Eu me lembro de uma propaganda numa revista em que na primeira página dizia assim:

"Venha ver onde a indústria do PC busca inspiração"

E na outra página aparecia o Macintosh.

Concordando com o comentário acima, aqui é onde muita gente da heterodoxia tem buscado inspiração.

Que expansão fiscal eh essa?

Uma caracterizada pelo salto do gasto publico federal de 14% para 18% do PIB em pouco mais de 10 anos, ou por este mesmo gasto ter crescido a pouco mais de 9% aa nos últimos anos.

vc precisa ler o artigo do bresser na folha no sábado ou domingo

foi de uma ignorância ímpar; o ethevaldo siqueira rebate item por item no estadão de domingo

vale ler os dois

Por outro lado, a poupança do setor público consolidado foi (%PIB):

2001: 2,44
2002: 4,03
2003: 3,01
2004: 5,54
2005: 1,75
2006: 2,75
2007: 5,11
2008: 6,92
2009: 2,20

Primeiro acho que estes números estão errados, mas não vou checa-los porque estou num resort na Bahia e tenho mais (isto e, menos) o que fazer.

Segundo, porque o chamado "ajuste fiscal" no Brasil foi todo feito sobre aumento de impostos.

Posso checar as contas, mas os dados de poupança são para o setor público consolidado, ou seja, União, estados, municípios e empresas estatais. As fontes foram as séries temporais do Banco Central, os dados de investimento público do Gobetti (q vc já citou aqui) e os balanços da petrobras.

Concordo que o ajuste foi de má qualidade, mas o fato é que a poupança pública foi sempre positiva no período, não pressionando, pois, o setor privado.

Não esquente em checar os números, aproveite o resort na Bahia ;)

Você conseguiu trocar as principais informações do paper no seu post.
Só lendo o abstract dá pra perceber que os autores afirmam que "choques que depreciam a taxa de câmbio têm o efeito de AUMENTAR a taxa de investimento permanentemente", ou se vc preferir, que "choques que APRECIAM a taxa de câmbio têm o efeito de reduzir a taxa de investimento permanentemente".

Não sei o q está pior, o Bresser parado no tempo ou esse seu post.

Caro Bruno,

Sugiro que você dê uma olhada na análise empírica da turma do freak show (obviamente isto requer um mínimo de capacidade de compreensão, isto é, que você não seja um analfabeto funcional).

As estimativas que os autores escolheram postar em sua Figura 2 (página 18) mostram – SEM MARGEM DE DÚVIDA ALGUMA – que o modelo econométrico deles (não meu) acusa que "choques que depreciam a taxa de câmbio têm o efeito de DIMINUIR a taxa de investimento permanentemente.”

Você pode até querer discutir a especificação do modelo usado pelos ilustres professores da quermesse. O que eu estou apontando é que os autores são tão ineptos que são incapazes de interpretar (ler) os próprios resultados de sua análise empírica.

Em outras palavras, são analfabetos funcionais.

O QUE OS DESENVOLVIMENTISTAS ESCREVERAM FOI O ABAIXO:
"Câmbio competitivo estimula a poupança interna, evitando os surtos de consumo com base na moeda supervalorizada.
Nosso modelo de referência mostra a partir de uma perspectiva de curto prazo que a taxa de câmbio competitiva pode estimular o investimento, as exportações, os lucros e, portanto, a poupança interna."

Podem ter escrito o que seja. Para quem sabe interpretar os resultados do próprio modelo, vale a conclusão do "O": não há efeito estatisticamente significante do cambio sobre a poupança interna e, sobre a poupança externa, o efeito eh, com um pouco de boa vontade, negativo (cito de memória, mas o intervalo de confiança contem o zero). Ou seja, a valer o modelo dos autores , a poupança total cai, e com ela o investimento.

Caro Anônimo 13:28, que eles escreveram isso que você citou apenas prova que eles são analfabetos funcionais, pois no mesmo artigo eles postaram uma tabela que mostra o exato oposto do que estão dizendo.

"Caro Anônimo 13:28, que eles escreveram isso que você citou apenas prova que eles são analfabetos funcionais, pois no mesmo artigo eles postaram uma tabela que mostra o exato oposto do que estão dizendo."

Não leio artigos desta turma ha tempos. Li apenas o abstract com uma tradução rápida feita no vapt-vupt. Mas de fato eles sempre defenderam a desvalorização da moeda pátria como forma de conseguir a industrialização do país. Não concordo com artificialismo no câmbio (para valorizar ou desvalorizar). O câmbio flutuante foi uma conquista do país. O parque industrial que sobrevive com câmbio flutuante é competitivo. O parque industrial que necessita de subsídios (cambiais) para funcionar, a grande maioria não consegue sobreviver quando os mesmos são retirados. Além de que o custo para o resto da sociedade (abrir mão de poder de compra e de qualidade de vida) é insustentável em democracias.