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quarta-feira, 14 de julho de 2010

A mulher barbada e a prole de Bresser Pereira

Apesar das contribuições valiosas do Chutando a Lata (“Se fosse possível gerar desenvolvimento com câmbio, já estaria decretado o fim da pobreza.”), do Galego (que apontou para o descaso dos autores em examinar variáveis omitidas em particular, e os dados em geral) e do Rogério Ferreira (que indicou que este mesmo blog já postou sobre a pobreza do modelo usado pelo Professor Gala em sua apaixonada catilinária a favor de políticas públicas visando a concentração de renda no Brasil), fica difícil não dar o prêmio para o anônimo das 16:21. Confesso que nem sob tortura teria talento para compor um Haikai que resuma com tanta eloqüência a obra de Gala e Libanio:




Texto prolixo
que nada acrescenta
eu mando pro lixo




Aplausos!

O Haikai do anônimo também me convida a debater sobre porque perderia tempo policiando a quermesse. Meu interesse, admito, reflete um tanto de atração pelo deviante. Assim como uma criança visitando o circo, admirando a mulher barbada, existe um certo prazer proibido em ler alguns dos piores trabalhos em Economia que ganharam a honra da assinatura de um ‘acadêmico’.





Substantivamente, existe um equívoco original na análise de muitos membros da prole de Bresser Pereira. Há uma confusão entre sintomas, tratamento e doença. Para a quermesse da 9 de julho, o câmbio apreciado é a doença que vai causar a desindustrialização que pode ser evitada pelas autoridades monetárias (“By avoiding excessive appreciations, monetary authorities would contribute to the development of an advanced manufacturing industry...”). Uma analogia médica é útil. Imagine um médico que, convencido que a morte é frequentemente precedida por febre alta, recomenda que seus pacientes durmam em uma banheira com cubos de gelo, e não ministra tratamento algum para outras condições subjacentes.

A partir dessa confusão entre sintomas (febre, câmbio valorizado) e causas subjacentes, a prole de Bresser prepara uma salada de recomendações esdrúxulas e artigos ‘acadêmicos’ beirando o humor involuntário visando combater a febre sem lidar com a doença. Como os autores ‘sabem’ que o problema é o câmbio, e convivem com outros membros da prole que compartilham o mesmo diagnóstico, a argumentação é preguiçosa e cheia de furos. Apontam com autoridade para as severas conseqüências da doença dos holandeses sobre a Holanda, mas aparentemente o amarelão em estágio avançado rouba-lhes a energia para achar uma referência sequer sobre tal fenômeno. Os autores citam a Austrália do século XIX como exemplo de país padecendo da maldição dos recursos naturais, talvez na ignorância que a Austrália seja... a Austrália. Os autores mencionam a taxa real de câmbio estável da China, talvez em referência a alguma China mítica e idealizada (a China não é um país com taxa real de câmbio particularmente estável).

- Mamãe, olha a mulher barbada! A barba dela é maior que a do Tio Moshe!

Para não me alongar, vou apenas tangenciar a questão teórica. Os autores apresentam dois modelos para justificar suas recomendações de política econômica, mas estranhamente não notam que nenhum dos modelos em questão aborda a questão setorial que aparentemente é a base de seus argumentos. Seria pedir demais que autores que advogam políticas para reduzir os salários reais e transferir poder de compra da massa trabalhadora para os capitalistas industriais com o objetivo expresso de transformar a estrutura produtiva da economia sejam ao menos capazes de tirar da gaveta um modelo econômico em que a economia tenha uma estrutura produtiva? Pois os autores tem a pachorra paquidérmica de falar sobre câmbio real quando nenhum dos modelos que apresentam tem mais de um bem (no primeiro modelo os capitalistas aparentemente aplicam o mark-up sobre um bem composto)!

- Mamãe, aquele moço é o engolidor de espadas!

Mas a atração principal do artigo são os estudos de caso apressadíssimos da Indonésia e Chile. Os autores argumentam que “a laissez-faire type management of the macroeconomic policy would most likely lead to greater dependency of international commodity markets”, mas não explicam o que seria um “laissez-faire type management of the macroeconomic policy”. Algum desavisado pensaria que um banco central que adota metas de inflação, não intervém no câmbio por mais de uma década e que aboliu controles de capitais seria um exemplo. Mas não para os autores! Desavisados também não veriam nada de extraordinário nas maxi-desvalorizações cambiais na Indonésia dos anos 80, afinal tais eventos ocorreram no Brasil e em tantos outros países da América Latina no mesmo período.

-- Quieto, Rodriguinho! É apenas um pós-keynesiano.

E assim concluem: “our main hypothesis is that competitive currencies contribute to the existence and maintenance of a dynamic manufacturing sector in the economy”. Estranhamente, os autores, depois de 27 páginas, não testaram tal hipótese e ainda pensam que têm um artigo.

--Meu Deus, Rodriguinho, como você sabe que aquele gordinho é o engolidor de espadas?!?

31 comentários:

As crianças hoje em dia sabem de cada coisa...

A Indonésia da qual eles mencionam nesse paper como exemplo de política econômica bem sucedida é a mesma Indonésia que eu estou pensando? Aquela que gasta mais em subsídios para gasolina do que em educação? A que teve um colapso em 1997? Ou existe uma outra Indonésia que eu desconheço?

É muito triste pensar que gerações de estudantes brasileiros, principalmente nas Universidades Federais, mas também na FGV-SP, estão sendo (desin)formados por pseudo-acadêmicos que produzem esse tipo de trabalho. E ainda por cima, tudo com $$$ público...

É uma Indonésia mítica em que todas as vitórias se devem a política cambial; todas as derrotas são creditadas ao abandono da política cambial ou outras políticas inconsistentes com a política cambial. Não precisa vínculo algum com a realidade ou atenção aos detalhes da política cambial. Os Professores Gala e Libanio não escreveram este artigo para propor mudanças na política econômica, mas sim para posar de proponentes de uma alternativa.

"O"

a quermesse quer mesmo ser a proponente de um "programa alternativo", e sustenta seus argumentos com base em mitos.

Vende o mito de que a China "decidiu" manter o câmbio valorizado e ponto final.

E não enxerga a valorização que o câmbio chinês viveu até 2008 ou enorme volume da poupança lá, seja das famílias, das empresas ou do governo (não importa a origem).

Eles só escrevem isto por saberem que há um público cativo. E qualquer opinião contrária será atacada como sendo de pessoas sem sensibilidade social ou ligadas ao capital financeiro.

Tentam dar "cientificidade" ao senso comum. Qualquer pessoa na rua que leia um pouco de economia vai dizer que no Brasil o câmbio e os juros não ajudam muito a economia do país.

O "setor industrial" é mais organizada para mostrar os "prejuízos" causados pelo câmbio. E as pessoas esquecem que elas são consumidores na economia, e enxergam só o lado dos produtores.

Mas um dos méritos da ciência é justamente "quebrar" o senso comum. É perigoso quando usa-se a roupagem científica para sustentar o senso comum.

A quermesse só ataca os juros e o câmbio. A questão fiscal não existe para eles. E quando eles começam a perder a discussão, saem com a máxima de que é o investimento que determina a poupança.

Eles são muito escorregadios. E o mais engraçado é que, depois de apanharem e ficarem quietos, eles vão lá e repetem tudo de novo, na esperança de que ninguém esteja vendo ou tenha esquecido o que eles disseram ontem.

Mas estamos em ano eleitoral, e não custa nada lembrar que o Plano Cruzado foi um "programa alternativo" que o Sarney encampou porque não queria correr o risco de fazer um ajuste na economia naquele momento de transição. O resultado nós sabemos qual foi.

E já que eles adoram desvalorização artificial do câmbio, eles deveriam eleger o Kim Jong-il como ídolo máximo, vejam o que ele fez na Coreia do Norte:

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/relatos+revelam+miseria+causada+por+politica+da+coreia+do+norte/n1237659572662.html

Mulher barbada que nada! Você, "O", é muito mais pervertido do que uma criança fascinada com aberrações circenses!

Muita ironia, pouca teoria, pouco rigor, ... pouca ciencia.

Vide:

‘Disequilibrium’ exchange rates as industrialization policy
Dani Rodrik
Journal of Development Economics
Volume 23, Issue 1, September 1986, Pages 89-106
doi:10.1016/0304-3878(86)90081-7
doi:10.1016/j.physletb.2003.10.071
Abstract

This paper deals with a long-standing puzzle: why are developing countries so reluctant to change their exchange rates when their currencies have become blatantly overvalued? The argument developed here is the following: under circumstances that are fairly common to real economies, a policy which deliberately maintains the exchange rate at a disequilibrium level can be welfare-increasing by promoting structural change. This can come via the presence of a systematic link between the real exchange rate and the manufacturing sector's terms of trade vis-à-vis agriculture. The paper considers a model in which there exists a relationship between these two due to technological factors. Using a two-period, two-sector general equilibrium model, it demonstrates that such a link provides authorities with a tool which can be manipulated to bring about industrial growth and increase welfare in the presence of unrealized learning-by-doing effects.

Dani Rodrik
The Real Exchange Rate and Economic Growth revised, October 2008. Undervaluation is good for growth, but why?
http://www.hks.harvard.edu/fs/drodrik/Research%20papers/RER%20and%20growth.pdf

Dani Rodrik
Industrial Development: Stylized Facts and Policies Revised, November 2006. Industrial development requires trade and exchange rate policies that are specifically geared to that purpose.
http://www.hks.harvard.edu/fs/drodrik/Research%20papers/industrial%20development.pdf

"Muita ironia, pouca teoria, pouco rigor, ... pouca ciencia."

O bobinho não conhece um remédio chamado Woodford...

Putz, estava demorando até alguém jogar uns papers do Rodrik no ar... Detalhe que o autor do poast acima não conseguiu nem resumir o argumento do Rodrik, e teve que simplesmente copiar & colar os abstracts...

Mulher barbada,
Engolidor de espadas,
Dani Rodrik...
it's a true freak show!!!!

Onde isso vai parar?

A propósito, alguém se salva na 9 de julho?

O Alkimar Moura é da FGV-SP, mas da Escola de Administração.

"A propósito, alguém se salva na 9 de julho?"

Muita gente: Paulo Picchetti, Paulo Furquim, Vladimir Ponczek, Alexandre Lahós, André Portela, Bernardo Guimarães, Carlos da Costa, entre outros (já devo ter cometido algumas injustiças só por citar os que conheço, ou que são conhecidos de amigos).

http://www.eesp.fgv.br/pessoa_professores.php

"Voce deve saber, genio!"

E por que eu deveria? Ele é Anônimo.

Tá bom, então. Meu nome é Jeca por acreditar nisso, cabecudo.

"Meu nome é Jeca por acreditar nisso, cabecudo."

Desculpe te machucar com minha grossura; sou mesmo muito cabeçudo...

Alex,

se esqueceu do Sérgio Firpo

Tá vendo? Eu disse que iria cometer injustiças.

Eu não o conheço; só citei os que conheço, ou dos quais ouvi falar bem por pessoas em cujo julgamento confio.

De qualquer forma há muita gente boa na FGV.

P.S. Acabei de ir checar. Mandei mal: o Sergio Firpo fez o doutorado em Berkeley. Mesmo sendo depois da minha época, eu deveria saber. E o CV é impressionante!

Aposto que esse Fiapo nao tem consciencia social

Esse fiapo seu anônimo (15 DE JULHO AAS 20:39) simplesmente É um dos poucos brasileiros com a Honra de ter um Econometrica publicado sozinho sem ajuda de orientador americano.
Cara é um dos maiores especialista em regressão quantilica do mundo, somado um dos caras que mais manja avaliação de políticas públicas técnica econométrica da fronteira, ele avalia as coisinhas que o Lula e sua turpe fazem..
Vai se informar sobre os membros lideres de pesquisa do Brasil..rappa

Aposto que esse anônimo (16 de julho de 2010 21:45) não tem bom humor

Item 5 do Consenso de Washington:

"Competitive exchange rates"

http://en.wikipedia.org/wiki/Washington_Consensus#List_of_recommendations

Não conheço nenhum economista vivo ou morto que seja contra “competitive exchange rates”, isto é, você precisa qualificar um pouco mais a sua declaração outrossim não estará dizendo nada mais profundo do que afirmar que a água é molhada.

Quanto às citações do Rodrik, sugiro que você leia com atenção o que ele escreveu (obviamente não se aplica ao Brasil, mas sim a países de baixa renda (*)) e os comentários do Woodford que destruíram o malfadado artigo do Rodrik no Brookings.

(*) Tomando com boa fé e credulidade as estimativas econométricas do Rodrik, o efeito de câmbio depreciado sobre crescimento só foi detectado em uma sub-amostra de países mais pobres que o Brasil.

Sendo um pouco mais direto, a única leitura possível do artigo do Brookings do Rodrik é que não existe evidência que câmbio real fraco tem um efeito positivo para o crescimento de um país como o Brasil.

Qualquer economista que citar o artigo do Rodrik como evidência a favor de uma política de câmbio fraco no Brasil é preguiçoso demais para ler o artigo ou curto demais para entendê-lo. Merece ser tratado como membro da trupe da mulher barbada.

"O" Anonimo disse... “competitive exchange rates”, isto é, você precisa qualificar um pouco mais a sua declaração outrossim não estará dizendo nada mais profundo do que afirmar que a água é molhada.
18 de julho de 2010 13:19

Nao e mihna definiçao caro, é a do Consenso de Washington via Williamson. Tem alguna outra razao pela cual nao poder leer bem aparte da creença de ter toda razao do mundo?

A questão: ninguém difere sobre "competitive exchange rates" ser algo desejável. Portanto, repetir isso eh chover no molhado. O debate interessante eh sobre quais politicas seguir para ter "competitive exchange rates" e os trade-offs entre este objetivo e outros igualmente validos ou desejáveis. Por exemplo, uma das alavancas que um governo pode puxar para chegar a esse objetivo eh conter o consumo do governo (eu puxaria esta alavanca, e digo mais, congelaria o salário real dos servidores federais para conseguir isso), mas outras pessoas podem preferir viver com cambio menos competitivo e com mais gasto publico. Se você não toma uma posição sobre como atingir "competitive exchange rates", sua posição não acrescenta nada.

"Cara é um dos maiores especialista em regressão quantilica do mundo, somado um dos caras que mais manja avaliação de políticas públicas técnica econométrica da fronteira, ele avalia as coisinhas que o Lula e sua turpe fazem.."

Depois de todo esse discurso de burgues enrustido, tenho certeza que esse Ze Fiapo nao tem consciencia social.

Srs, tive a oportunidade de ler ontem o texto do Woodford.
Acho q foi a maior desconstrução que já vi. Fiquei até com dó do Rodrik (o economista ocidental, rs).
E destaco aqui a análise de caso que o autor faz no fim do paper. O caso da Coréia ilustra muito bem que a depreciação do câmbio real foi sustentada via aumento da poupança.

Abs, Lucas.