O governo Dilma é o
pior da República, talvez o pior da história. Não é fácil receber um país
crescendo decentemente, contas públicas razoavelmente em ordem (com tarefas a
cumprir, registre-se), histórico de inflação ao redor da meta, contas externas
controladas e, em meros quatro anos, demolir este legado, construído ao longo
de mais de uma década por vários governos.
Não é por outro motivo
que sua administração, assim como seus cúmplices, tem imensa dificuldade para
assumir a responsabilidade pelo desastre. Originalmente a desculpa era a crise
externa, convenientemente deixando de lado que o crescimento mundial de 2011 a
2014 foi igual ao registrado nos quatro anos anteriores, enquanto a relação
entre os preços das coisas que exportamos e as que importamos (os termos de troca)
foi a melhor da história recente, algo como 24% superior à sua média de 38
anos.
A desculpa agora é a oposição, que não teria compactuado
com “as propostas de ajuste das contas públicas”, eufemismo para aumento de
impostos, em particular a CPMF. Nas palavras da presidente, os opositores “são
responsáveis pela economia brasileira estar passando por uma grande crise”.
Nada é dito, claro,
sobre o aumento dos gastos observado sob seu governo, muito menos sobre seu
papel no extermínio (em 2005, ainda no governo Lula) da proposta de ajuste
fiscal de longo prazo, formulada pela equipe de Antonio Palocci, e fulminada por ela
como se fosse uma “proposta rudimentar” sob o argumento de
que “gasto corrente é vida”.
Pelo que me lembro,
também não foi a oposição quem baixou, na marra, as tarifas de energia, medida elogiada à época por ninguém menos
que Delfim Netto, o mesmo que hoje reconhece o erro da
política, apenas se
esquecendo de dizer que estava entre os que a aplaudiram.
Desconheço também
qualquer papel da oposição na decisão de aumentar o volume de crédito do BNDES
em R$ 212 bilhões (a preços de hoje) entre 2010 e 2014, valor integralmente
financiado por créditos do Tesouro Nacional, que se endividou no mesmo montante
para beneficiar um punhado de setores e empresas selecionadas por critérios
muito pouco transparentes.
Da mesma forma, a
oposição não parece ter sido ouvida quando o governo decidiu segurar
artificialmente os preços dos combustíveis, levando não apenas a Petrobras a
uma situação delicada do ponto de vista de seu endividamento (limitando assim
sua capacidade de investimento), como também, de quebra, desarticulando o setor
sucroalcooleiro.
A lista poderia se
estender ainda mais, tendo como fator comum a ausência de deliberação da
oposição em decisões que, ao final das contas, caíam todas na esfera
governamental. Não deve restar dúvida que há um único responsável pelo desastre
econômico em que o país se encontra: o governo federal, sob comando da
presidente Dilma Rousseff.
E que não se exima o
PT, que apoiou entusiasticamente a política econômica (assim como os keynesianos de quermesse que hoje fingem não ter nada a ver
com assunto),
mas se opõe ferozmente às tentativas de corrigir a previdência, ou atacar vinculações
orçamentárias.
A oposição não é grande
coisa, mas há apenas um culpado pela crise: o atual governo, presidente à
frente e PT no apoio. O resto é apenas covardia e (mais) mentira para a
campanha de 2018.
(Publicado 4/Maio/2016)
18 comentários:
Professor Alexandre não é verdade! Sem ofensas por favor porque já superamos esta fase.
Mas não é verdade. Apenas um grupo de economistas apontou sempre que o caminho que estávamos seguindo estava errado. A FIESP apoiou as desonerações e mais ainda toda redução de juros que era feita.
Nós vamos ver agora em um governo Temer quem fará oposição a cada medida em beneficio de um Estado mais eficiente e barato.
A responsabilidade do governo Dilma e do PT é obvia, mas precisamos avançar para entender como foi possível que este desastre acontecesse, principalmente em 2015,um ano totalmente perdido.
Existem vários outros culpados: A FIESP, o PMDB e os outros partidos da base, os servidores públicos que não se preocupam com o equilíbrio fiscal, mas principalmente a sociedade que não liga a mínima para as eleições proporcionais.
A FIESP tomou alguma decisão? Eu não tenho a menor simpatia por este pessoal, Paulo Skaf à frente, mas, se eles apoiaram, não foram eles quem tomaram a iniciativa. Quem decidiu? Quem se recusou a fazer o ajuste?
João Sicsú deveria ser preso ou internado. Seguem suas palavras sobre equilíbrio fiscal:
"Aqui a segunda questão: orçamento é reequilibrado devido ao aumento do emprego – e não por intermédio do corte de gastos públicos. Resumindo a visão keynesiana, se a ampliação de gastos gera empregos, o corte de gastos aumenta o desemprego. Mais: o corte de gastos públicos não é capaz de reequilibrar o orçamento porque o desemprego faz a receita pública cair. Logo, o crescimento econômico com geração de empregos produz como resultado um orçamento robusto e equilibrado. Mais ainda: se o orçamento está desequilibrado é porque há desemprego – a causa do desequilíbrio orçamentário não é o excesso de gastos públicos porque gastos tendem a gerar empregos e receita pública. Uma observação é muito importante: quando o governo gasta gerando empregos e os trabalhadores gastam o que recebem, o resultado é aquele que foi apontado, aumento das receitas e reequilíbrio do orçamento. Contudo, quando o governo gasta transferindo recursos a rentistas e banqueiros o resultado é outro (esse é, em boa medida, o caso brasileiro)."
http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/ienamidia/arquivo/170420165130_110416_Administraaao_fiscal_pedaladas_e_ideologia.pdf
Análise perfeita. AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE SÃO INDISSOCIÁVEIS. É possível descentralizar, mas a responsabilidade sempre é da autoridade original. Não se descentraliza responsabilidade. A turma de economistas da UNICAMP e das FEDERAIS (parte da FGV SP e da UC SP) fizeram seus experimentos. Os brasileiros estão pagando o pato. Felizmente o impeachment punirá a presidente que defendia tal política econômica (?). Os que se beneficiaram do desgoverno perderão as boquinhas.
A propósito, crescimento do gasto dos Estados em Despesa com Pessoal:
http://tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/456540/Boletim+de+Finan%C3%A7as+P%C3%BAblicas+-+Despesas+de+Pessoal/784bd4c8-6dc4-401a-b051-023ad97c5c4c?t=1462893070350
Embora seja absolutamente correto se cobrar dos Estados um maior controle do crescimento do gasto com pessoal, bem como de outras questões, é necessário também se tomar cuidado para não jogar todos em uma mesma vala comum, pois os dados mostram que as diferenças estão muito longe de serem desprezíveis.
Só Considerando as duas maiores economias do Brasil, SP e RJ (será que ainda é a segunda?), enquanto o RJ teve, de 2009 a 2015, um crescimento real do gasto com pessoal de 70%, SP teve, no mesmo período, um crescimento real de menos de 20%. Ora, é uma diferença gigantesca. Aliás, esse é o problema das médias. Diz a antiga piada: se você colocar um Homem com a cabeça no forno e o pé no congelador é possível que, em média, a sua temperatura corporal esteja dentro da normalidade.
Isso também traz o risco de não dar a devida valorização à eventuais exemplos que poderiam servir de guia, o que não significa confundir com uma situação ideal, mas de se considerar que, dentre as situações existentes, há diferenças não desprezíveis. Deve-se lembrar, obviamente, que os Governadores são eleitos. No Brasil, particularmente nossa "inteligência", todos estão absolutamente prontos para apontar os dedos para todas as falhas que ocorrem. Mas fico me perguntando, por outro lado, quais incentivos os governantes tem para realmente fazerem diferente já que, aparentemente, o fato de os Estados terem crescimentos tão díspares dos gastos com pessoal é algo ignorado, já que depois jogarão todos na "média", como se fossem todos uma coisa só, e são corpos políticos diferentes. Pior ainda quando se toma o pior caso possível (RJ) para dizer que todos são iguais.
Que se critique os diferentes por aquilo que, inclusive, de ruim eles tiverem em comum, mas que daí não se parta para conclusão de que eles são iguais em tudo.
A propósito, a imagem que postei acima, no comentário que acabei de fazer sobre o gasto com pessoal dos Estados, foi retirada daqui:
http://tesouro.fazenda.gov.br/-/tesouro-nacional-lanca-boletim-de-financas-publicas-de-estados-e-municipios
Já que a verborragia do enredo do golpe não funcionou, sendo apenas propagada por patrocinadas e bem patrocinados, talvez a próxima tese a ser sustentado pelo AGU seja a irresponsabilidade da presidente pela sua incompetência em gestão pública.
Resta saber por quanto tempo a lojinha de R$1,99 durou para se estabelecer um comparativo com a "demolição de legado" da economia brasileira, assim será possível concluir se ela conseguiu dobrar ou não a meta.
Para o senhor, a crise econômica decorre das medidas que o governo tomou e despreza as dificuldades impostas pela crise política.
Em 01/2015, quando a maioria das medidas citadas já tinham sido tomadas, a sua previsão para o crescimento em 2015 foi entre 0 e -0.5, a qual é reajustada para -1% em 03/2015 (se não me engano).
Na época, o senhor foi um dos economistas que mais perto chegou e, mesmo assim, errou por 300% a menor. Isto considerando apenas 2015. Se considerarmos as previsões à época de seus colegas para 2016, o erro beira os 1000% para o biênio 15/16.
Pergunta de leigo: se a crise atual decorre apenas de fatores econômicos, como os economistas e seus modelos maravilhosos puderam errar tanto?
"Pergunta de leigo: se a crise atual decorre apenas de fatores econômicos, como os economistas e seus modelos maravilhosos puderam errar tanto?"
Ela não resulta apenas de fatores econômicos. Começou assim, mas foi ampliado por desenvolvimentos políticos.
Já quanto a errar, qual era mesmo sua previsão? Valeu
Alex,
Só uma pergunta.
Você aceitou o convite?
Roberto.
Aceitei: participo hoje da bancada do Jornal da Cultura às 18:00
Quem faz lobby olha para o seu mundinho, seja o funcionalismo ou grupo de empresários. Quem tem a responsabilidade de equilibrar as demandas e manter o Brasil andando é o governo.
Mas mapear as fontes das demandas por ineficiencias e nacos do orçamento é o trabalho do Temer. Ao lado dele estão os beneficiários de sempre do capitalismo de compadres.
Excelente reflexão! Do que me lembre, este governo não tem o privilégio de passar a faixa adiante com a situação econômica do país pior do que recebeu: Getulio, Juscelino, Figueredo, Sarney, FHC 2 em relação à FHC 1. É curioso, por exemplo, ler o discurso do Jânio (no Senado, porque Juscelino impôs essa condição para lhe transmitir a faixa presidencial) quando de sua posse. Aquilo, sim, é que foi caos econômico! Mas é sempre prudente relativizar...
Afonso Pena não seria pior?
Alexandre, o que voce disse do Delfim e' correto. Mas voce o elogiou aqui, pelo menos uma vez, rasgadamente. Acho que voce deveria dizer alguma coisa a respeito. Afinal, ficar enchendo a bola de sujeitos que fazem o que ele fez, significa algum grau de co-responsabilidae.
"Mas voce o elogiou aqui, pelo menos uma vez, rasgadamente. Acho que voce deveria dizer alguma coisa a respeito. Afinal, ficar enchendo a bola de sujeitos que fazem o que ele fez, significa algum grau de co-responsabilidae."
Show me... Procure aqui um único elogio (não precisa ser nem "rasgado") à figura. Se não achar, espero a mesma atitude que recomenda.
Alexandre, porque você poupou o Lu-ladrão? Dilma e seus anões, incluindo o Mantega e Tombini fizeram muita porcaria, mas os gastos excessivos de 2014 foram para desesperadamente vencer uma eleição, com o intuito de não permitir uma devassa nas contas públicas, tentar frear o Petrolão etc. poupando assim o Lu-ladrão. Graças a Deus não funcionou, mas o Chefe tem MUITA culpa no cartório, afinal, foram centenas de milhões ou até bilhões desviados dos projetos Federais/BNDES que financiaram um partido totalitário e enriqueceram diversos de seus líderes.
“gasto corrente é vida”. Não pude deixar de lembrar de um dos vídeos mais originais para explicar conceitos econômicos (usando até rap e um ring) que já vi sobre economia na net: "Fight of the Century: Keynes vs. Hayek Round Two"(https://www.youtube.com/watch?v=GTQnarzmTOc)
4:35 (Keynes argumenta) My solution is simple and easy to handle
It's spending that matters, why's that such scandal?
The money sloshes through and the sluices
revitalizing the economy's juice
etc...(segue com a analogia do motor que parou e da fagulha necessária para religá-la) (...)
Where it goes doesn't matter... (really?... Eike que o diga)
"...em R$ 212 bilhões (a preços de hoje) entre 2010 e 2014, ... que se endividou no mesmo montante para beneficiar um punhado de setores e empresas selecionadas por critérios muito pouco transparentes."
4:55 (Hayek) You see slack in some sectors as a "general glut"
But some are healthy, and some in a rut
So spending is not free - that's the heart of the matter
too much is wasted as CRONIES GET FATTER.
etc...
No final, Keynes ganha a luta ajudado pelo juiz, dando a entender que Hayek provavelmente ganharia o debate, mas como todo mundo percebe que mamar de alguma forma no estado dá um muito mais ganho com menos esforço (ou então apenas para manter o debate de pé), subitamente a vitória é dada a Keynes ...
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