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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Palpite infeliz

O Banco Central promete (ou talvez não, como veremos) que a inflação no ano que vem voltará a 4,5%, a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Eu bem que gostaria de acreditar (não, minto: me divirto muito mais duvidando), mas, para ser sincero, esta não é a primeira vez que ouvimos esta promessa.

De fato, entre agosto de 2011 e agosto de 2012, enquanto reduzia a taxa de juros ininterruptamente, o BC bem que tentou garantir que sua postura não ameaçaria o cumprimento da meta. Assim, ao longo daquele período as atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) afirmavam: “o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012”.

No entanto, a inflação em 2012 atingiu 5,84%, mesmo ajudada pela mudança na metodologia do IPCA, sem a qual a medida de inflação teria chegado a 6,54% naquele ano.

Apesar do fracasso evidente, o BC não se entregou. Em outubro de 2012, reconhecendo que o ano estava perdido, afirmava: “o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear”. Em português, apostava que a manutenção da Selic no patamar então vigente (7,25% aa) seria suficiente para fazer a inflação retornar à meta (mas não vou me aventurar a traduzir o que seria uma “convergência não linear”).

Não foi. Tanto que, apesar de manter a promessa na ata até janeiro de 2013, já em abril daquele ano voltava a elevar a Selic e afirmava: “o Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”.

Água de novo. A inflação em 2013 subiu para 5,96% e manteve a trajetória crescente ao longo de 2014, batendo em 6,41%.


Traduzindo, “agora está difícil, mas, se mantivermos a Selic nos níveis de hoje, a inflação volta a cair”.

Ainda não foi desta vez. Não é por outro motivo que, na primeira reunião após as eleições, o BC voltou a aumentar a taxa de juros, garantindo em janeiro deste ano que “decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar, no próximo ano, a convergência da inflação para a meta de 4,5% estabelecida pelo CMN”.

O compromisso foi reiterado em março, com pequena, porém notável, alteração, pois agora o BC assegura a convergência para a meta “ao longo do próximo ano” (não mais “no próximo ano”).

Frente a este histórico, nada mais saudável que o ceticismo acerca da capacidade, e mesmo da intenção, de o BC entregar a inflação na meta ano que vem.

Neste sentido, a afirmação de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC (e um amigo a quem prezo muito) sobre Alexandre Tombini falar de inflação na meta desde 2011 e nunca entregar, é, como mostrado acima, apenas uma constatação factual. Promessas não faltaram; faltou ação coerente com elas.

É, portanto, lamentável que, ao invés de rebater estas críticas mostrando elementos que pudessem justificar que “desta vez será diferente”, o BC tenha preferido atacar o histórico do Pastore na presidência da instituição, em que enfrentou problemas muito mais graves que os atuais.


Pastore entregou o país melhor do que estava quando assumiu a tarefa. Tombini não pode, nem de longe, afirmar o mesmo.

Do ano que vem não passa...


(Publicado 25/Mar/2015)

10 comentários:

Meu professor de economia monetária, disse ,que é uma grande falta de abstração do senhor não compreender o conceito de convergência não linear.

"Meu professor de economia monetária, disse ,que é uma grande falta de abstração do senhor não compreender o conceito de convergência não linear."

E seu professor de português lhe disse para separar sujeito de verbo?

auhauhauhauhauah boa Alex!

Abs

Djow X

E verbo transitivo direto de objeto direto!
Aposto que o anônimo nem sabe o que é não-linearidade...

Porque todos os economistas sérios foram para os 50 anos do BC e o senhor não foi?

http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/3949985/meirelles-fraga-franco-vao-evento-pastore-schwartsman-nao-aparecem

"Porque todos os economistas sérios foram para os 50 anos do BC e o senhor não foi?"

Por que economistas sérios sim e eu não?

Porque não sou sério, oras... Que pergunta burra!

Vale a pena essa agressividade toda,ao criticar quem discorda do senhor? Gustavo Franco e companhia sempre fizeram críticas moderadas

Claro que vale!

Que pergunta cretina!

Joaquim Levy liberal de Chicago disse na folha que e contra a independência do BC.O senhor faria um artigo criticando a posição dele?