Uma das grandes
bobagens alardeadas ultimamente, talvez a maior delas, é a ideia que a recente
mudança da política econômica representou a capitulação da presidente à pressão
dos mercados.
Não há quem duvide de
sua sujeição, abandonando o conjunto de políticas em que acreditava (e
possivelmente ainda acredita) em favor do retorno, algo envergonhado é verdade,
a alguns dos princípios que nortearam a economia até 2008-2009.
Basta, porém, um rápido
exame dos números acerca do desempenho do país para perceber que a rendição não
se deve às pressões de mercado, mas às evidências irrefutáveis sobre o fracasso
retumbante da política econômica adotada nos últimos anos.
Não me refiro aqui
apenas ao “pibículo”, que registrou expansão (?) de apenas 0,1% no ano passado,
a mais baixa desde a crise de 2008-2009. Mais relevante que o mau desempenho
num ano é a queda persistente do ritmo de crescimento da economia brasileira de
2010 para cá.
Segundo os novos
números do IBGE, a expansão média do país no primeiro governo Dilma atingiu
apenas 2,1% a.a., contra 4,0% a.a. registrado nos oito anos anteriores. Aliás,
pela metodologia antiga, que permite uma comparação mais nítida, a queda teria
sido ainda maior, pois a expansão média mal teria superado 1,5% a.a.. (Não faço
aqui, é bom deixar claro, qualquer crítica ao trabalho do IBGE; apenas noto que
se trata de comparação mais apropriada por serem estimativas calculadas sob as
mesmas premissas).
Em linha com este
desenvolvimento o ritmo de expansão do emprego caiu de 2,5% a.a. (quase 1% a.a.
superior ao crescimento da população em idade ativa), para 1,2% a.a., igual ao
da população em idade de trabalhar. Desde 2013, porém, a geração de empregos deixou
de ser suficiente para absorver o crescimento populacional e, como já notado aqui, foi apenas a redução
da busca de emprego pela parcela mais jovem da população que adiou a elevação
agora observada da taxa de desemprego.
A inflação, mal e mal
contida a golpes desajeitados de controles de preços e, de 2013 para cá, pela
venda de dólares por parte do BC, não deixou de acelerar. Apesar da redução na
marra das tarifas de energia e da política suicida de preços dos combustíveis,
que contribuíram para colocar a Petrobras na situação triste em que se
encontra, preços subiram ao ritmo de 6,2% a.a. entre 2010 e 2014, em contraste
com os 4,7% a.a. observados no quinquênio anterior, sugerindo, a propósito, que
tanto a história de “inflação estrutural”, como a suposta inadequação da meta
de inflação são proposições dignas de inclusão no rol das grandes besteiras.
Por fim, o déficit
externo, que havia ficado em torno de 1,3% do PIB de 2007 a 2010, saltou para
mais de 3% do PIB entre 2011 e 2014, superando 4% do PIB no ano passado.
À luz deste desempenho,
apenas pessoas com forte deficiência cognitiva, ou cujos antolhos escondessem
estrategicamente estes desenvolvimentos, poderiam acreditar que a política
econômica do primeiro governo Dilma fosse sustentável.
De fato, não é preciso
muito para ver que a continuidade desta política levaria a crescimento ainda menor,
desemprego mais alto, aceleração inflacionária e desequilíbrios externos também
crescentes. Não foi o mercado financeiro que levou à capitulação; foi a
realidade.
É verdade que a
política econômica atual terá custos, seja em termos de crescimento e emprego,
seja mesmo no que se refere à inflação, dada a necessidade de corrigir os
preços represados.
O bê-á-bá da análise
econômica, contudo, exige que este custo seja comparado àquele que resultaria
da manutenção da política anterior, e não há dúvida que corrigir os desmandos
dos últimos anos custará bem menos do que continuar a praticá-los.
Nossos keynesianos de
quermesse engordaram o paciente além da conta, mas rejeitam a dieta por ser
custosa; a cura, para eles, é seguir se empanturrando.
Dieta é antipovo...
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(Publicado 1/Abr/2015)
9 comentários:
A incapacidade de enxergar a realidade desses keynesianos me assusta!
Mas quando lembro que seu maior mentor não teve competência pra administrar um time de futebol, mas se acha preparado para conduzir a economia de um país, vejo que realidade não é o forte dos keynesianos...
Queria cheirar o que eles cheiram... deve dar um barato!
Pq ler a Carta Capital?
(Não faço aqui, é bom deixar claro, qualquer crítica ao trabalho do IBGE; apenas noto que se trata de comparação mais apropriada por serem estimativas calculadas sob as mesmas premissas).
Poderíamos questionar isso também, mas não aqui, para não macular as conclusões óbvias.
Nunca antes na história do país o IBGE passou por tantas revisões metodológicas nos últimos 10 anos. Dizem eles para se adequar à metodologia internacional, etc, etc.
O mais engraçado é que faltou dinheiro pro IBGE fazer a contagem 2005.
Isso e desonestidade intelectual!!!
O que o FED fez foi ortodoxo por acaso?
Comparar o FED com qualquer outro é ridículo. O único país que fabrica ativo são os Estados Unidos. O país imprime papel que vira ouro. Mas os quermesseiros não conseguem entender o óbvio...
Existem líderes republicanos que defendem que o FED seja auditado
http://www.nytimes.com/politics/first-draft/2015/01/28/rand-paul-and-ted-cruz-join-forces-against-the-fed/?_r=1
Rand Paul, próximo presidente dos EUA.
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