teste

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Aqui se paga

É difícil conseguir uma fotografia completa do mercado de trabalho no Brasil. Desde 2002 o IBGE conduz a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), cobrindo seis regiões metropolitanas do país, que correspondiam em fevereiro a um universo de pouco mais de 43 milhões de pessoas em idade ativa (nesta pesquisa definida como todos acima de 10 anos).

Destes, algo como 24,3 milhões estão engajados no mercado de trabalho e pouco menos de 23 milhões estão empregados. Restam 1,4 milhão de desempregados, ou seja, uma taxa de desemprego equivalente a 6% da força de trabalho.

A representatividade desta pesquisa, contudo, acaba sendo limitada pelo seu escopo geográfico. Recentemente, porém, o IBGE passou a divulgar os resultados de uma pesquisa mais ampla (a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD Contínua), que cobre um universo de 203 milhões de pessoas, das quais 164 milhões em idade ativa (aqui definida como os maiores de 14 anos).


De acordo com a PNAD, no trimestre terminado em fevereiro perto de 100 milhões de pessoas participavam do mercado de trabalho, das quais pouco mais de 92 milhões estavam empregadas. Assim, os desempregados correspondiam a 7,4 milhões, ou seja, uma taxa de desemprego de 7,4%, superior à registrada pela PME, provavelmente mais próxima à taxa “verdadeira” do que a estimada pela PME (trata-se, é bom lembrar, de estimativa a partir de uma amostra, não de entrevistas com mais de 200 milhões de pessoas). A evolução da taxa de desemprego medida pela PNAD é representada pela linha negra no gráfico.


Fonte: IBGE (ajuste sazonal pelo autor)
A nova pesquisa, porém, se inicia apenas em 2012, o que impossibilita uma análise de prazo mais longo para o mercado de trabalho. De qualquer forma é possível observar certo padrão da evolução da taxa de desemprego ao longo do ano: ela tem sempre um pico no primeiro trimestre e cai tipicamente até o trimestre findo em novembro, quando retoma a trajetória ascendente.

Com base neste padrão (e um gigantesco salto de fé) é possível “limpar” os números das influências sazonais e produzir uma estatística que permita comparar o desemprego registrado, digamos, em março àquele anotado em novembro. Em jargão, trata-se do número “dessazonalizado”, ou seja, livre do sobe-e-desce que se deve apenas à passagem do calendário. Podemos assim analisar de forma mais rigorosa a evolução mensal do desemprego (a linha vermelha no gráfico).

Daí se depreende que a taxa dessazonalizada de desemprego, depois de recuar até 6,6% no trimestre terminado em fevereiro de 2014, teria se elevado de forma contínua até o mesmo período em 2015, atingindo 7,2%, de volta aos níveis registrados em meados de 2013.

Observa-se, é verdade, o mesmo fenômeno de redução da participação no mercado de trabalho (o abandono da busca de emprego) sobre o qual escrevi há algumas semanas, mas ele foi parcialmente revertido desde julho do ano passado, ajudando a elevar a taxa de desemprego.

Posto de outra forma, números de maior abrangência indicam que a piora do mercado de trabalho não é um acontecimento  restrito aos últimos poucos meses, mas que se estende há um ano, na esteira da desaceleração do crescimento.

Isto dito, a PNAD revela um desenvolvimento desconcertante: apesar da deterioração do mercado, salários nominais não apenas seguem crescendo, mas têm se acelerado de meados de 2014 para cá, aumentando pouco mais de 8% na comparação com o mesmo período do ano passado, pressionando adicionalmente a inflação, em particular a de serviços.

O descaso do BC para com a meta fez com que trabalhadores, ao invés de se fixarem nela, passassem a usar tanto a inflação passada como as elevadas expectativas sobre a inflação futura para reajustar seus salários. Assim, o custo em termos de aumento do desemprego para reduzir a inflação se tornou muito maior do que seria com expectativas ancoradas. Não foram poucos os alertas a respeito; pagamos agora o custo do descaso.



(Publicado 15/Abr/2015)

23 comentários:

Alex,
Não foi descaso do Banco deixar de perseguir a meta. A política econômica e monetária deixou de ser praticada pelo Banco enquanto a "doutora" de campinas é Presidanta. Acho que você deve saber muito bem o que é isso.
O único Diretor que se atreveu nesses anos a tentar definir uma política econômica vinculada com as metas foi o cearense arretado de sobral, Seu Carlinhos. Como Diretor desde 2010, lutou, mas lutou sozinho. E aí, rodou...
Desde do dia 09.03...
Ele se tornou persona non grata. Hoje, é um de nós, "pobres" analistas. O senhor Aldol, com ou sem L, do BB. Doutor da USP que fala petelês e tem padrinho forte não deu um pio esse tempo todo.
Vovô já dizia, manda quem pode e obedece quem tem juízo. Seu Carlinhos não tinha juízo... Que bom.

Pra quem interessar. Estou desenvolvendo um novo blog com foco no pensamento do grande Roberto Campos. Acredito que seja possível recordarmos os grandes nomes do passado.

http://alanternanapopa.blogspot.com.br/

Carlos Hamilton é um frouxo, com mais responsabilidade que os demais frouxos...

Alex, não posso concordar com você porque não vou colocá-lo no mesmo cesto dos demais.
A impressão que tenho não é essa.
A sua declaração é forte, mas respeito.
Como se vê, ele não tinha tantas saídas. Daí, a minha conclusão dele não ser frouxo. Voltou a ser o que era no inicio da carreira no Banco. Não caiu para cima e nem para o lado. Caiu das nuvens para o chão.
Se fosse frouxo a queda seria amortecida em algum cargo.
Virou Diretor pelo conhecimento que tinha no Mercado Aberto.
Ele só tinha conhecimento, mesmo sendo doutor.
Tinha que ser diferenciado e não é. É pouco para ocupar a posição, na minha opinião.
Hoje, a diretoria é uma piada.
O da administração, o da fiscalização, o da regulação e o
do relacionamento institucional são brincadeiras das mais sem graça.
Mas, o Senado aprova. Aprovou advogado do PT (sem saber jurídico) para o STF.
Aprova qualquer um.
Roberto.

Roberto:

Não quero fazer disto um cavalo de batalha, mas, durante o longo processo de corte injustificado da Selic, o CH só votou contra redução de juros em duas ocasiões: ago/11 (talvez) e out/12 (com certeza). Em mar/12 votou por queda menor (50 ao invés de 75, talvez). Nas reuniões seguintes embarcou na canoa da maioria.

Frouxo. E ainda teve a cara-de-pau de vir me cumprimentar há 2-3 semanas...

Vire libertário que seus problemas acabam e você fica de bem com todos!!!

O senhor fez mestrado junto com o Fernando Haddad?

"O senhor fez mestrado junto com o Fernando Haddad?"

Colegas e amigos, sim.

Você é amigo do haddad? É serio isso?

Faz tempo que a gente não se vê, mas quero acreditar que sim.

Anônimo Anônimo disse...

Você é amigo do haddad? É serio isso?

23 de abril de 2015 14:37
Blogger Alex disse...

Faz tempo que a gente não se vê, mas quero acreditar que sim.

23 de abril de 2015 14:58

Sorte dele!

Alex, que filtro voce usou para determinar a "trend"?

Alex, longe de mim criar um cavalo de batalha. Isso me afastaria completamente do propósito do espaço que você abriu para que seus leitores trocassem ideias. Fica dificílimo para mim discordar de você. Apesar de CH, debater dentro do COPOM, ele votou com a maioria.
Agora, no contexto, é difícil para um servidor de carreira que está da Diretoria de Política Econômica, enfrentar o presidente e o diretor de política monetária.
Talvez, em outra diretoria tivesse mais independência. Isso é uma suposição.
Ficamos assim. Frouxos, todos eles.
Roberto.

Não é um "trend; é o dado dessazonalizado (a série é muito curta; daí o "salto de fé"). Fizemos de dois jeitos: com médias móveis centradas e X-12. Resultados bem parecidos.

Porque o senhor quase nunca fala do Henrique Meirelles?

"Porque o senhor quase nunca fala do Henrique Meirelles?"

Porque eu sei diferenciar "porque" de "por que", de "por quê" e também de "porquê"

Acho que um Hodrick–Prescott ficaria bacana tambem - mas como voce ja disse, com poucos pontos acaba dando tudo na mesma.


Infelizmente o pessoal do BC que está aí serve o Governo e não o Estado como foi dito. Dilma gosta mesmo é de "Yes men" e eles deixaram a inflação voltar, criaram as condições para esta recessão e, portanto o desemprego esta aumentando, trazendo impactos negativos e uma espiral negativa. Some os impactos do Petrolão, falta de confiança e estamos no "Perfect Storm". Thanks Tombini e Cia!

Alex,

Para efeitos de inflaçao medida pelo IPCA, seria mais interessante analisar o comportamento dos salarios nominais na PME, que tem desacelerado na margem, pois tal pesquisa é realizada nas regioes metropolitanas que coincidem com o IPCA, não?

Abs
Ricardo

Por que o senhor quase nunca fala do Henrique Meirelles? Nem doutorado ele tinha,já o Tombini tem!!!

Alex,

Uma pergunta: se analisamos o comportamento dos salários nominais na PNAD, eles descolam bem do da PME.

Sofrem uma baita contração no meio do ano passado e depois aceleram de novo. agora, voltam a desaceleram.

Isso sempre comparando com mesmo período do ano anterior, ou seja, livre de influencia sazoanl.

O que vc acha que explica isso?

Abs
Economista X

Estou lutando para entender. O comportamento da PME é parecido com o do CAGED, o que sugere que podemos estar dando um peso desproporcional ao mercado formal na PME relativamente à PNAD (na PME mais de 50% dos trabalhadores têm carteira assinada; talvez por ser restrita às regiões metropolitanas). Conjecturas

Pois é Alex, tá difícil explicar...

O peso do informal na PNAD é bem maior, quase meio a meio, sendo que na PME é apenas um terço (mais ou menos).

O que explicaria o salário informal liderar uma queda no meio do ano passsado e depois uma alta (na verdade, uma aceleração)?

Vou analisar aqui tb, qualquer coisa escreve...

abs
X