Acabei de visitar o blog do professor Oreiro e ele tem uma explicação convincente para o parágrafo pró-Chavez que ele escreveu: foi uma tentativa (em minha opinião, fracassada) de ironia que foi tomada fora de contexto pelo jornalista do Monitor Mercantil. Tendo sofrido no passado com citações fora de contexto por jornalistas, ofereço minha simpatia ao professor evidentemente não-chavista.
Em um outro texto (link) o ilustre professor deixa bem claro sua opinião rejeitando o modelo econômico bolivariano.
Tendo dito isto, não posso deixar de comentar as bataquadas do texto do professor hoje (link). Transcrevo e comento abaixo:
Está ficando sem graça debater (?) com os (pseudo-)ortodoxos brasileiros.
Não entendo a necessidade de rotular e o ridículo ‘pseudo’.
Os caras estão tão desesperados com a perda de espaço no debate econômico nacional e com o fato óbvio de que, ganhe Dilma ou Serra, eles estarão fora da equipe econômica do próximo governo, que resolveram subverter a longa tradição de seu próprio referencial teórico, qual seja a ênfase na análise dos resultados de longo-prazo dos processos econômicos, e se refugiam no curto-prazo (além de ataques ad hominem, os quais demonstram a existência de um certo Complexo de Édipo por parte dos expoentes menores dessa tradição de pensamento).
Essa foi boa... Primeiro o bom professor abre com uma referência pimpona às eleições e a possibilidade que competência técnica vai se tornar um estigma na seleção de economistas para a equipe do próximo governo(o que ele parece aprovar!), depois ele fecha com psicanálise de botequim citando até um suposto complexo de Édipo (creio que dirigida a mim?). Tudo isso no mesmo parágrafo em que ele acusa aqueles que em um laivo de arrogância ele enxerga como rivais de praticar ataques ad hominem!
Repitam comigo: Oy vey.
Tudo bem, vamos relevar a dissonância cognitiva, afinal é carnaval! Mas ainda no espírito festivo, vamos analisar o que o professor tem a dizer sobre economia:
Nesse contexto, os pseudo-ortodoxos brasileiros criticam os heterodoxos com base na tese de que as políticas defendidas pelos últimos são contra-producentes … no curto-prazo.
Sim, são políticas contra-producentes no curto prazo.
Com efeito, os pseudo-ortodoxos brasileiros afirmam que a política correta para obter uma desvalorização da taxa de câmbio é aumentar a taxa de poupança, quando o seu próprio referencial teórico mostra que, no equilíbrio de longo-prazo, uma taxa de poupança mais elevada estará associada, na falta de uma política deliberada de administração da taxa de câmbio como faz a China, com um câmbio mais apreciado …
Exatamente. Um aumento de poupança hoje tem o efeito inequívoco de depreciar a taxa de câmbio real e aumentar a competitividade de nossas exportações. Você discorda disso, professor Oreiro?
(...) a depreciação é apenas um efeito temporário, não sistemático, de um aumento persistente da taxa de poupança.
Non-sense, professor! Ninguém está dizendo que o efeito de um aumento permanente da taxa de poupança causa um efeito ‘não sistemático’ na taxa real de câmbio. Eu não disse isso, o Renato e o Pedro não disseram isso, nenhum economista que mereça respeito tem dito isso. Este espantalho não existe. Não existe no debate econômico brasileiro, não existe nos manuais de economia, não existe na literatura publicada em journals acadêmicos.
Desafio-o a encontrar um artigo teórico que negue o argumento que um aumento persistente na taxa de poupança -como por um exemplo uma reforma na previdência ou uma redução na taxa de crescimento dos gastos públicos – tenha o efeito de depreciar o câmbio real persistentemente.
Além disso, os pseudo-ortodoxos criticam os heterodoxos afirmando que uma política de desvalorização da taxa de câmbio teria o efeito de aumentar a participação dos lucros na renda nacional, ou seja, a concentração de renda nas mãos dos capitalistas …
Não é bem assim. Posso afirmar sem sombra de dúvida que os heterodoxos [como o Professor Oreiro] são abertamente a favor de uma política de desvalorização da taxa de câmbio porque eles entendem que isso levaria a mais concentração de renda nas mãos dos capitalistas e esse deveria ser o objetivo da política cambial (segundo os heterodoxos).
O problema é que esse resultado é apenas um efeito temporário, não persistente, da política de administração da taxa de câmbio. No longo-período ( o qual é uma sucessão de curtos-períodos, para não confundir com o longo-prazo neoclássico), o câmbio desvalorizado atua no sentido de acelerar a exportação de manufaturados, o que aumenta a produtividade do trabalho devido a lei de Kaldor-Verdoorn, o que leva, ao fim e ao cabo, a um aumento sustentado dos salários reais.
Bela ideologia, professor!
Para mim que li meu Gramsci quando ainda adolescente, não é nenhuma surpresa que exista terreno fértil no Brasil para justificativas ideológicas para o uso da política macroeconômica para concentrar a renda. Afinal, o Brasil não se tornou um dos países com renda mais concentrada do mundo por falta de intelectuais capazes de concatenar um argumento justificando mais concentração de renda (enquanto mantem uma auto-imagem de progressista).