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terça-feira, 23 de outubro de 2018

Um conto chinês


“Suponha que você tenha um galinheiro no fundo da tua casa e viva dele. Você vende todo dia ovos e algumas galinhas. Quando você vende aquilo e privatiza, você não vai ter a garantia no final de semana de comer um ovo cozido. Nós vamos deixar a energia na mão de terceiros? (...) Você vai deixar a nossa energia na mão do chinês?”

Foi com base neste raciocínio sofisticado que Jair Bolsonaro negou a possibilidade de privatizar a geração de energia elétrica no país. Afinal de contas, “o chinês” pode vir aqui e mandar todas as nossas hidroelétricas para a China, presumivelmente com as respectivas bacias hidrográficas. Ou, sei lá, vender toda nossa energia elétrica na Ásia, atravessando mares tempestuosos, ao invés de atender o consumidor nacional.

O candidato diz que evoluiu de suas posições anteriores, mas a declaração acima ecoa a mesma visão expressa em 1999, quando afirmou que “barbaridade é privatizar a Vale do Rio Doce, é privatizar telecomunicações, é entregar nossas reservas petrolíferas para o capital externo”.

De lá para cá a Vale saltou de patamar, tornando-se uma competidora global. No campo das telecomunicações o progresso foi igualmente notável. Antes das privatizações telefones eram para poucos, tão escassos que linhas telefônicas faziam parte das declarações de bens e direitos para fins de imposto de renda. Hoje, em contraste, qualquer pessoa tem acesso a serviços impensáveis há meros 20 anos.

Não há motivo para crer que seria diferente no caso da energia, independentemente da nacionalidade do eventual comprador. No frigir dos ovos (perdão), quem investir no setor não terá apenas o objetivo de ganhar o máximo de dinheiro possível, motivação que esteve por trás da melhora de desempenho nos setores privatizados (bem como, com imenso sucesso, naqueles que nasceram privados), mas também terá que se submeter às leis e normas locais.

Há um conflito óbvio entre a tosca visão econômica do candidato e o presumido viés liberal de sua equipe de assessores na área, cuja solução é bem menos fácil do que muitos parecem acreditar. Se o assessor tem carta branca para formular propostas, mas só pode “bater o martelo” depois de falar com o chefe, a noção que o domador segurará o urso se torna ainda mais complicada do que soava uns meses atrás.

A verdade é que o mercado financeiro se ilude com a promessa de um programa econômico liberal (ou talvez apenas se faça de bobo enquanto for conveniente) contra evidências crescentes sobre a dificuldade política de avançar nesta frente.

Repisando um tema que me é particularmente caro, a discussão nas eleições passou longe das questões de fundo, mais recentemente se concentrando nos esforços de desconstrução dos adversários.

A verdade é que nenhum dos candidatos deixa claro para a população o que pretende fazer do ponto de vista de reformas, como fica aparente no contorcionismo do provável ministro da Casa Civil num governo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, sobre a vexatória questão do déficit da previdência, para não falar do duplo mortal carpado que o PT tenta aplicar para se distanciar do programa proposto no primeiro turno, coordenado, vejam só, pelo próprio Fernando Haddad.

Vai ser difícil dar a real quando a bomba explodir. Parece que ninguém aprendeu com o fiasco formidável de Dilma Rousseff: nem os candidatos e certamente não os eleitores.




(Publicado 17/Out/2018)

21 comentários:

Caro Alexandre,

Qual a "Arca de Noé" para o "dilúvio fiscal" que nos aguarda?

https://www.google.com/amp/s/www.infomoney.com.br/mercados/politica/amp/noticia/7725744

Para você o posicionamento do Jair em relação a Israel,e insuficiente para o senhor mudar de posição ?

"Para você o posicionamento do Jair em relação a Israel,e insuficiente para o senhor mudar de posição ?"

Eu - mmmm, como posso explicar isto? - cago para o posicionamento do "Jair" com relação a Israel...

que que tem a ver israel com o posicionamento econômico do candidato meu deus do céu!

"Eu - mmmm, como posso explicar isto? - cago para o posicionamento do "Jair" com relação a Israel..."


ahahahahahahah
Muito bem dito. Teria sido melhor dizer o óbvio: é o menos pior das opções existentes

Pergunta: O comunista Haddad dá aula no INSPER ???????

@Cicero Salles ... claro! depois da equipe do Bolsonaro conseguir por ordem an casa, etc e tal ... fica fácil!! Foi assim que os países Escandinávos conseguiram alavancar suas nações socialiastas... somente depois que o o bom e velho capitalismo competivitvo e inovador criou a riqueza que hoje é repartida mediante coerção, intimidação e ameaça (imposto). Assiste aí: https://www.youtube.com/watch?v=MerkGUx-2V4 (The Myth of Scandinavian Socialism)

Pescou frase do Bolsonaro fora do contexto! VAI PRIVATIZAR, mas não vai ser para capital COMUNISTA chinês. PONTO. Chola... chola mais!

Todo o resto além do abaixo descrito é noise... e uma boa dose de dor de cotovelo [Sour Grapes, para os mais internacionalizados ;) ]

Por 17 anos, Guilherme Aché trabalhou ao lado de Paulo Guedes, no banco Pactual e na gestora JGP, que co-fundou. Atualmente diretor e sócio-fundador da gestora carioca Squadra, que administra cerca de R$ 7,5 bilhões em investimentos, ele falou ao Globo que discorda da tese de formadores de opinião de que o governo Bolsonaro “vai dar errado”.

“Ter muita gente preocupada é um sinal fantástico. Isso mostra que tem muito potencial comprador.”

Aché considera “claríssima” a plataforma econômica de Bolsonaro e atribui as dúvidas em aberto à estratégia eleitoral.

“Se você pega a história do Paulo Guedes, está claro o que ele quer. As pessoas confundem clareza com posicionamento tático eleitoral de não divulgar (detalhes). Mas está claríssimo. Vai na direção de um Estado menor, buscando mais eficiência.”

E mais:

“O Paulo certamente é muito mais radical em relação ao liberalismo econômico do que o Bolsonaro, não vai conseguir implementar tudo o que sonha, mas acho que tem um meio termo que vai funcionar bem. Infelizmente, não vai ser o ideal, mas é suficiente para reviver o espírito animal do mercado.”
(Fonte: OAntagonista)

Johan Norberg - Swedish Myths and Realities

https://www.youtube.com/watch?v=HbTEzhaXZ3w

Johan Norberg, author of In Defense of Global Capitalism, sits down with reason.tv's Michael C. Moynihan to sort out the myths of the Sweden's welfare state, health services, tax rates, and its status as the "most successful society the world has ever known."

O resto é noise

Paulo Guedes já tem acordo por independência do Banco Central

https://oglobo.globo.com/brasil/paulo-guedes-ja-tem-acordo-por-independencia-do-banco-central-23194327

Péssimo Ministro. Péssimo.

ALEX, ainda que corretas, suas críticas ao projeto Bolsonaro deveriam ter esperado um timing melhor. Poxa vc foi fritado pela organziação criminosa anterior, seu trabalho no Santander, o apelido de pitbull dos juros, e etc.

Fogo-amigo, eu sei.
Mas eles não!

Ainda mais nessa amizade com o Andrade, cara do mau, sedutor, amigo das elites, Stalin 2.0 turbo em pele de cordeiro. Porra Alex. tu é um cara bão e do bem, tecnicamente falando, mas caralhos, esperava três semanas porra, não ia morrer por causa disto.

abrx

"Pescou frase do Bolsonaro fora do contexto! VAI PRIVATIZAR, mas não vai ser para capital COMUNISTA chinês."

Resposta padrão de bolsominion: fora do contexto...

Até o esquerdinha-Canadá negou ... https://www.theglobeandmail.com/politics/article-ottawa-blocks-chinese-takeover-of-aecon-over-national-security/ mas só o Brasil que não pode negar capital COMUNISTA.

" só o Brasil que não pode negar capital COMUNISTA."

Deixa eu entender: você está dizendo que o país que mais cresce no mundo é comunista?

1 bilhão de pessoas ? Até a Índia cresce ...

"1 bilhão de pessoas ? Até a Índia cresce ..."

Já tinham 1 bilhão de pessoas há 40 anos e não cresciam. Qual era a diferença mesmo?

Ainda sobre China: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2736 (China: uma aberração econômica keynesiana e mercantilista :: O modelo econômico concentra privilégios àqueles ligados ao governo)

Ah, agora deixou de ser comunista e passou a ser keynesiano e mercantilista? Você está dizendo que o maior caso de sucesso econômico dos últimos 30 anos é keynesiana e mercantilista?