Ao comentar minha coluna sobre a desonestidade
de Marcio Pinochmann, Paulo Feldmann revela lealdade
canina
a seu candidato a deputado federal. Não menos canina é a
qualidade de seus argumentos.
A começar pelo (des)conhecimento
de aritmética, que rivaliza com o de seu ídolo. Ele insiste na tese (apresentada uns meses atrás) que a elevação de 3%
na alíquota efetiva de imposto de renda para as 70 mil famílias mais ricas “conseguiria
arrecadar o suficiente para cobrir praticamente todo o déficit primário de
cerca de R$ 170 bilhões”.
Isto implica dizer que
a renda tributável dessas 70 mil famílias seria da ordem de R$ 5,7 trilhões (3%
de R$ 5,7 trilhões equivale a R$ 170 bilhões). Dado que o PIB nos últimos 12
meses atingiu R$ 6,7 trilhões, para que o argumento fosse válido 85% da renda
no Brasil teria que estar nas mãos de 0,14% das famílias.
Não é o que diz o IBGE.
Embora a renda seja mesmo muito concentrada no Brasil, os números nem passam sequer
perto do padrão decorrente da curiosa tese acima: os 10% mais ricos detinham 43,4% da
renda em 2017.
Errou só por um fator de 140 vezes...
A ânsia desenfreada
para acobertar Pinochmann leva a outros erros grosseiros. Afirma, por exemplo,
que eu “deveria saber de cor que [o desemprego de] 8,4% foi no último ano de
Dilma, e 11,7% foi no primeiro ano de Temer”. Exceto que não, a menos que, por
motivos desconhecidos, Feldmann tenha afastado a presidente 5 meses antes da
decisão da Câmara dos Deputados a respeito: em 2015 o desemprego foi 8,3%, mas
nos 12 meses até maio de 2016 o número já havia saltado para 9,5%.
Isto já revela a
inadequação do uso de médias no caso de uma variável que vinha subindo
aceleradamente, procedimento que esconde mais do que revela. Na verdade, o
desemprego (ajustado à sazonalidade) atingiu 11% em maio de 2016, ou seja,
mesmo se deixarmos de lado que se trata de variável que reage com longa
defasagem às decisões de política econômica (e que, portanto, a
responsabilidade da presidente se estende também aos meses que se seguiram à
sua saída), não podemos ignorar que o legado dela foi uma forte elevação, de 8%
para 11% entre sua posse e seu afastamento.
Feldmann passa então à
exegese dos escritos de Pinochmann, isto é, buscar algo que não foi dito para
justificar o que foi, na realidade, dito.
Assim, de acordo com
Feldmann, Pinochmann teria tentado dizer que a dívida cresceu em ambos os
governos, mas de forma mais rápida no período Temer. Exceto que não foi o que
Pinochmann alegou: ele usou uma estatística imprópria (no caso a dívida
líquida) para fingir que não houve elevação do endividamento no período Dilma,
mas sim no período Temer, o que é pura e simplesmente falso, como atestado
pelos dados do BC, que, sim, conheço com certa profundidade. Exegese à parte,
vale o que está escrito.
Por fim, Feldmann persiste
na ideia que exista um “potencial arrecadatório de 1,5% do PIB (...) possível
de ser conseguido com pequenas mudanças” no imposto de renda e imposto sobre
herança sem jamais mostrar as contas que justificam a estimativa, isto é, para
defender Pinochmann utiliza-se da mesma técnica estatística favorita de seu
ídolo: o chute desenfreado.
A única conclusão
possível é que a sabujice de Feldmann só não foi capaz de impedir sua tentativa
de roubar o título de economista mais desonesto do Brasil de quem, por direito,
o detém. Mas que a tentativa foi boa, isto eu não posso negar.
(Publicado 2/Out/2018)
6 comentários:
https://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/pedro-fernando-nery/as-4-mentiras-mais-absurdas-do-economista-que-haddad-deve-demitir/
Pô Alexandre, você não tem vergonha de bater num cara mais fraco desse jeito? Por que não encara um economista do "campo popular" de peso como por exemplo o... bem não me ocorre ninguém.
Li o texto, ok. Mas a ilustração foi d+ :)
E essa anta da aula par amiga filha....pobre dela e de mim
E Donald Trump,cadê as previsões?
"E Donald Trump,cadê as previsões?"
Juro para cima: check
Dólar valorizando: check
Déficit crescendo: check
Tudo conforme previsto...
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