Nelson Barbosa não tem
a menor importância.
A ascensão e a queda de
Joaquim Levy são prova eloquente que até mesmo um ministro da Fazenda bem
intencionado e tecnicamente preparado está longe de ser suficiente para levar a
cabo o ajuste requerido pela economia brasileira após anos de maus-tratos (dos
quais Barbosa participou ativamente, mas deixemos isto de lado por um instante).
Se sua trajetória à
frente da Fazenda teve algum propósito foi o de demonstrar que nenhum
economista sério teria como aceitar o cargo em circunstâncias semelhantes.
A verdade é que faltam
condições objetivas para produzir o ajuste, que não se resume ao orçamento do
ano que vem e nem às necessárias reformas fiscais (previdência e vinculações,
por exemplo), mas se estende a temas como tributação, relações trabalhistas e
integração comercial entre outros.
Não há, para começar,
convicção por parte da presidente, um tanto pelo seu parco entendimento do
problema, outro tanto por uma ideologia profundamente enraizada. Sempre noto
que este não é um governo novo; trata-se da continuação de um governo que em
momento algum buscou avançar na direção da reforma.
Pelo contrário, foi uma
administração que, apesar de vários alertas a respeito, seguiu expandindo o
gasto público (“gasto corrente é vida”), descuidou da inflação e, pior,
produziu uma sequência de intervenções das mais desastradas da história do
país: aumento de protecionismo, expansão desmesurada de créditos para “campeões
nacionais”, controle de preços, rebaixamento forçado das tarifas de energia e,
não fosse o espaço restrito, a lista poderia seguir indefinidamente.
Houvesse, porém,
convicção, ainda assim faltariam as condições políticas para avançar qualquer
agenda neste sentido. A base parlamentar do governo, que custa caríssimo para o
país, na prática não passa de 200 deputados dentre os 513, suficiente para barrar
o impedimento da presidente, mas fica devendo no quesito reformas. Diga-se de
passagem, aliás, estas reformas também não são particularmente queridas pelo
partido do governo, o que reduz consideravelmente sua chance de aprovação.
Este diagnóstico não é,
óbvio, exclusividade minha, mas uma visão suficientemente difundida para
dissuadir economistas sérios quanto à possibilidade de avançar nestes temas.
Estariam, como Joaquim, apenas emprestando seu prestígio a um governo, sofrendo
um risco considerável de não recebê-lo de volta no fim do período.
Restou, portanto,
Barbosa, cujas traquinagens na formulação da chamada “Nova Matriz Econômica”
são bem conhecidas. (A propósito, a “nova matriz” anda tão enjeitada que nem
apoiadores e formuladores de primeira hora têm coragem de reconhecê-la, valentemente
chamando-a agora de “tentativa de prolongar o
ciclo de consumo e só”).
É dele a afirmação em
2010: “a opção estratégica
fundamental em apostar no crescimento ao invés de radicalizar a incerta
proposta de ajuste fiscal contracionista, baseada nos cânones neoliberais,
terminou sendo validada com base em resultados imediatos”.
São palavras de triunfo
de quem se acreditava dono da verdade, mas os resultados de hoje, recessão,
inflação e desemprego, revelam sem sombra de dúvida quem tinha razão no debate.
Nelson Barbosa não tem
mesmo a menor importância.
(Publicado 23/Dez/2015)