Bancos centrais se
acostumaram a conduzir a política monetária promovendo alterações na taxa de
referência, como o Fed Funds no caso
americano. No entanto, quando a crise financeira de 2008 forçou as taxas de
juros dos principais países desenvolvidos para próximo de zero, as autoridades
monetárias tiveram que inventar (ou reinventar) novas formas de praticar suas
políticas.
Assim, bancos centrais
nos EUA, Reino Unido e, mais tardiamente, na Zona do Euro se juntaram ao Banco
do Japão na experiência de expansão quantitativa (QE, na sigla em inglês), buscando
reduzir taxas de juros para prazos mais longos, que ainda se encontravam em
terreno positivo, e assim incentivar a atividade econômica.
Houve, além disto,
tentativas de alterar taxas mais longas por meio do que ficou conhecido como
“orientação futura” (“forward guidance”),
isto é, sinalização das intenções do banco central acerca da trajetória futura
da taxa de juros de referência.
Afirmando, por exemplo,
o compromisso de manter a taxa de referência em patamares baixos mesmo quando a
economia começasse a se aquecer poderia ter algum efeito no sentido de reduzir
as taxas de juros de prazos mais longos (e, no contexto de baixíssima inflação,
com um pouco de sorte também aumentar as expectativas de inflação, reduzindo
adicionalmente a taxa real de
juros).
Há ainda controvérsia
considerável acerca da eficácia da orientação futura, em particular se um banco
central conseguiria mesmo se manter fiel ao compromisso quando a inflação e/ou
atividade começasse a subir, o que, claro, não impediu que bancos centrais
continuassem com a prática, mesmo porque mal não parece fazer.
Ou melhor, não parecia.
Em contexto bastante
distinto, enfrentando inflação bem acima da meta, o Banco Central brasileiro,
talvez por modismo, entrou na voga de orientação futura. Assim, já em outubro
de 2012, ao reduzir a taxa Selic para 7,25% aa, afirmava que “a estabilidade
das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a
estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta,
ainda que de forma não linear” (pausa para gargalhar).
Em linguagem de gente
era um compromisso de não elevar (nem baixar) a Selic, que obviamente não durou
mais que uns poucos meses face à piora (previsível) da inflação.
Foi um fiasco, mas não
impediu o BC de continuar tentando manter a orientação futura de várias
maneiras, inclusive ressuscitando recentemente o tal “período suficientemente
prolongado”, apenas para ser consistentemente (e previsivelmente) desmentido
pelos fatos.
Neste sentido, não foi
surpresa alguma observar que a realidade mais uma vez forçou o BC a abandonar a
promessa, eliminando do comunicado emitido logo após a última reunião do Copom
as referências à “estabilidade por período suficientemente prolongado”. Isto
foi interpretado, corretamente, aliás, como sinal que o BC poderá elevar a taxa
de juros já no começo de 2016.
Orientação futura, como
tantas outras coisas, é para quem pode; não para quem quer. A única orientação
futura que se espera do BC é que se comprometa a trazer a inflação de volta à
meta, tarefa em que fracassou miseravelmente nos últimos anos. De resto,
poderia aprender a se manter quieto sobre o que não sabe.
(Publicado 02/Dez/2015)
12 comentários:
Alex,
É possível que as metas de inflação da administração Meirelles anunciada e perseguida fossem 4,5%. Enquanto, que na administração Tombini a meta de inflação anunciada 4,5% e a perseguida algo próximo do teto da meta(talvez 6%)?
Sim, Celso. Tem artigos que mostram que a meta buscada era algo entre 5,5-%6% no periodo Tombini.
Laura
Preços básicos reprimidos. Swaps cambiais mensais crescentes a partir de 05/2013 (uma forma de impedir a desvalorização do real). Em ano de eleições confunde-se com política eleitoral (demagogia, populismo, safadeza). A bomba de retardo só foi maior do que o esperado.
Sarney também segurou preços etc. até as eleições... depois a inflação disparou, coisa corriqueira aqui no Brasil. A tal "responsabilidade fiscal" foi uma tentativa de corrigir os anseios dos executivos. Infelizmente aqui no Brasil fazemos trapaças e antigamente ficava por isso mesmo. Vamos ver se haverá um preço à pagar pelas pedaladas que nos afundaram (junto com PTbras e segurada de preços das malditas estatais).
Durante o regime militar os preços eram regulados (tabelados) pelo CIP (Conselho Interministerial de Preços), herança da ditadura nacional-desenvolvimentista (e keynesiana nas faculdades). A desculpa pode ser que muitos acreditavam ser uma medida correta. O absurdo plano cruzado (tabelamento de preços) foi elogiado por economistas heterodoxos e até por parte dos ortodoxos. Hoje todos sabem (até a turma da UNICAMP) ser demagogia insustentável (o tempo de duração é que ficou menor). Muitos ainda defendem câmbio administrado: por bom senso as pessoas racionais sabem ser insustentável (não precisa ser economista). Mas os desenvolvimentistas defendem controle de câmbio (uns para controlar preços outros para defender a industria nacional). A turma keynesiana, no Brasil, defendia (alguns ainda defendem) controle de câmbio (Keynes era a favor de Cambio flutuante). Hoje uma turma de "desenvolvimentista" passou a defender superávit fiscal, mas ainda se prendem no artificialismo cambial (e juro básico sempre mais baixo). Não aprenderam ainda a palavra adequado. Ainda resta uma aversão contra as palavras mercado, flutuante, juro. Sem argumentos sempre utilizam a palavra rentismo (economista que escreve rentismo é o fim).
O economista André Perfeito traça um cenário bem mais otimista que o seu ...
"O economista André Perfeito traça um cenário bem mais otimista que o seu ..."
Então compre Bolsa, venda dólar e aplique pré.
"O economista André Perfeito traça um cenário bem mais otimista que o seu ..."
O problema é esse. Ele sempre tem um cenário mais otimista que nunca chega nem porto da imensa merda que vem ocorrendo. Ele é muito fraco.
Nao sou economista, mascaco panho todos os seus textos. Gostaria de fazer uma pergunta. Qd as taxas dos paises desvoivodacroeam a zero, nenhuma inflacao foi gerada. Mesmo a economia americana sendo super endividada - questap fiscal que nem o Brasil. Ninguem questionou se os EUA ia pgr suas dividas como o Brasil. Aqui, com a economia para do, ao inves de reanima-la com menos juros, faz-se o oposto por que mesmo sem crescimento temos inflacao. O BRASIL é uma paradoxo ? Se baixamos os juros para reativar a economia a inflacao explode. Se emos juros altos, segura,os a inflacao mas a economia nao anda. Qual o prpblema aqui que gera isto ? E qual poderia ser a solucao ?
Abs
Fernando
Esse Nhonho hahahaha
"O economista André Perfeito traça um cenário bem mais otimista que o seu ..."
"Então compre Bolsa, venda dólar e aplique pré."
Ahh.. esse André não é perfeito! hahahahahhaha
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