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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O fim está próximo

Não ousaria dizer que o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) é uma leitura agradável, embora supere de longe algumas das respostas proferidas durante a entrevista que se seguiu à sua divulgação. Permanece, contudo, informação essencial a quem, como eu, ainda nutre a ilusão de tentar entender os rumos da política monetária no Brasil.

Dois aspectos saltam aos olhos. O primeiro, claro, é o conjunto de previsões acerca do comportamento da inflação até o fim de 2015.
Em ambos os cenários projetados pelo Banco Central, um sob a suposição de manutenção da taxa de juros em 10% ao ano e outro presumindo ainda uma rodada de aumento para 10,25% ao ano, a inflação no final de 2015 baixaria a 5,4% e 5,3%, respectivamente, permanecendo, portanto, bastante acima da meta oficial, que -como o Banco Central deveria saber- se encontra fixada em 4,5% desde o longínquo ano de 2005.
A serem confirmadas tais previsões, em geral muito otimistas, estabeleceríamos novo (e triste) recorde: seis anos com inflação superior à meta.

(E pensar que ainda existem economistas que sugerem, como grande inovação na forma de condução da política monetária, o "alargamento" do prazo de convergência da inflação para dois (!) anos.)

Diante desses números, um Banco Central realmente comprometido com a convergência da inflação à meta não teria alternativa que não fosse a sinalização de aperto monetário adicional.

No entanto -e é esse o segundo aspecto que mencionava ser importante no relatório-, a sinalização do Copom (Comitê de Política Monetária) é que o fim está próximo, no caso o fim do ciclo de aumento de taxas de juros, iniciado em abril deste ano.

Posto de outra forma, mesmo dispondo de tempo suficiente para lidar com o problema inflacionário (em vista das defasagens naturais de política monetária), o BC faz de conta que não se trata de responsabilidade sua e deixa o controle da inflação ao deus-dará.

Tempos atrás, já sob a atual diretoria, ainda se dava ao trabalho de inventar uma história de como o ambiente global seria desinflacionário e tirar da manga um "modelo de equilíbrio geral estocástico" que daria lustro teórico a seu pouco caso com a evolução dos preços.

Era tudo conversa fiada, como ficou claro pelo comportamento da inflação desde então. Mas, pelo menos, havia alguma preocupação com as aparências e, se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, a meta ainda poderia se sentir lisonjeada, embora não atingida.

Hoje, pelo contrário, não há sequer tal preocupação. O que se depreende das duas informações presentes no RTI é que, apesar das juras sobre "o Banco Central estar de olho na inflação", a ação concreta da autoridade monetária não deixa dúvida acerca da falta de comprometimento com a meta. A atitude do BC fala tão alto que não nos deixa ouvir suas palavras.

Não é por outro motivo que as expectativas de inflação se recusam a convergir para a meta. Há quem interprete esse fenômeno como evidência da persistência de mecanismos de indexação na formação de expectativas, isto é, da inflação passada influenciando a futura.

Perdem, porém, de vista que, em face do relaxamento do BC no campo inflacionário, é precisamente esse tipo de comportamento que deve ser o esperado.

Não há como escapar da conclusão de que os últimos anos marcaram um retrocesso extraordinário na condução da política monetária. 
Obviamente isso se insere na deterioração da política econômica como um todo, mas me toca mais de perto por ter tido a oportunidade de participar, ainda que de forma muito modesta, da construção de um regime muito distinto daquele que hoje vigora.



Razões pessoais à parte, é lamentável ver perdido o esforço de muita gente boa, ainda mais com consequências tristes para o país.


Se acreditasse em Papai Noel, pediria ao bom velhinho que iluminasse o Copom, mas deixo isso para os que creem nas previsões do BC.



(Publicado 25/Dez/2013)

42 comentários:

Alexandre, mesmo para leigos em macroeconomia, como eu, a impressão é que se perdeu o rumo. A política econômica e monetária do governo mais parece um combatente que foi convocado para a guerra sem qualquer preparação prévia. Ele chega ao fronte de combate. Não sabe a quem obedecer, não entende a linguagem dos superiores-comandantes. Recebe uma arma de última geração, moderníssima. Dão a ele uma noção básica das funções do equipamento e ordenam: "ao combate, ordinário". Antes que comece a ser atacado ele ainda mantém certa tranquilidade, mas quando começa a chuva de balas e bombas ele entra em desespero. Então, atordoado, despreparado, inexperiente, começa a atirar para todos os lados na esperança de ao menos intimidar o inimigo. Arrisca-se, inclusive, a matar seus próprios companheiros de combate. Daí ele pensa: "atirando em todas as direções em algum momento acerto em alguém..." Essa é a imagem que tenho do governo, do ministério da Fazenda e do BC, em particular.
Um 2014 brilhante. Com cabeças brilhantes, hehe...
Heli Roberto da Silva, 49
FORMIGA-MG

Voltei do Chile esta semana e basicamente com a volta da Michelle Bachelet, os chilenos querem INTERVENÇÂO do estado na distribuição de renda e lá estão usando o Brasil para tudo , querem Pensão Estatal, Universidade Gratuita e distribuição de renda? Basicamente eles falam que não acreditam nas taxas de crescimento dito pelo presidente Piñera porque não entra na conta corrente dos chilenos. Eles estão errados?

Grato

Como sempre, ótima análise! E seu lamento é plenamente justificado.
Por outro lado, esse comportamento do BC deveria ser o esperado. O lulo-petismo atribuiu-se a missão de destruir o legado de FHC e tem feito um ótimo trabalho nesse sentido. O dilmismo está comprometido com a destruição do derradeiro bastião de resistência.
Uma vitória em outubro consagrará o conjunto da obra.
Como resistir?

Cade aquela iniciativa do Renan Calheiros que era para irritar e afrontar a Dilma de colocar um projeto de lei para tornar o Banco Central independente?


*Como faço para seguir este blog ?!

Não encontrei aqui a "caixinha" de

seguidores !!! O.O

Okay ... mas não vamos tbém ficar endeusando FHC... não vamos confundir economia liberal com neo-liberalism; seria o mesmo que achar que um animal porco-espinho é um tipo de porco...

A encomia neo-liberal é o socialismo que deixa o capitalism trabalhar, afinal de contas quem melhor para ganhar dinheiro do que os capitlaistas, eihm ?!, mas que vai atrás dos seus resultados através de taxação; passou-se 8 anos de FHC e nem uma mini-reforminha tributária nem trabalhista houve; e nem vai haver com PSDB algum ! Alias, houve uma baita centralização do governo, através da absorção das dívidas dos estados, etc. e isso, não é federalismo.

O Banco Central vai abandonar o SAMBA? E substitui-lo por um novo modelo,o TANGO?

Alex ou "O", vocês acreditam no modelo de equilíbrio geral estocástico, se BC o utiliza-se poderia a inflação voltar a meta.
Grato
Brasília.

É realmente desanimador ver projeções de inflação para 2015 bem distantes dos 4,5%, ao mesmo tempo em que o Banco Central começa a sinalizar interrupção do ciclo de aperto monetário. Pior é que os efeitos contracionistas deste aperto monetário serão praticamente insignificantes. A política fiscal continua indo na direção contrária da política monetária. A economia vai tomar o remédio amargo por conta da pisada de freio do Banco Central, mas os problemas permanecerão os mesmos.

Alex:

Olha o artigo de Braúlio Borges na Folha de hoje. A restrição no Brasil seria de demanda e não de oferta.

Não acredito que você vai ficar calado. Ele fundamenta seu argumento com números. Quero ver sua resposta na Folha na quarta. Não vai me decepcionar. O artigo de hoje é uma resposta direta a teus argumentos e você não pode tirar o seu da reta.

Até quarta. Bon courage.

Oi Alex,

Antes de mais nada, feliz 2014!

Vc leu esse paper? Acho que você, e outros leitores do blog, vão encontrar grandes semelhanças com o que vem sendo discutido por aqui faz algum tempo...

http://www.bcb.gov.br/pec/wps/port/TD339.pdf

"vocês acreditam no modelo de equilíbrio geral estocástico, se BC o utiliza-se poderia a inflação voltar a meta."

Se bem entendi a pergunta (é um desafio), você quer saber se usando o SAMBA (ou outro DGSE) o BC traria a inflação de volta à meta?

O problema não é o modelo, mas a atitude do BC. O SAMBA só foi usado como justificativa para reduzir a taxa de juros a canetadas. O BC pode usar o melhor modelo do mundo, mas, se não fizer a coisa certa, não vai trazer a inflação de volta. E, no caso, o SAMBA não é o melhor modelo do mundo…

"Alex:

Olha o artigo de Braúlio Borges na Folha de hoje. A restrição no Brasil seria de demanda e não de oferta.

Não acredito que você vai ficar calado. Ele fundamenta seu argumento com números. Quero ver sua resposta na Folha na quarta. Não vai me decepcionar. O artigo de hoje é uma resposta direta a teus argumentos e você não pode tirar o seu da reta.

Até quarta. Bon courage."

Quem é você para falar de coragem se nem se identifica?

Para reflexão:

Um presidente só pode mudar a matriz macroeconômica do país se tiver apoio na sociedade e nos economistas. Para isto é necessário que haja um acordo social entre empresários e trabalhadores. E que os economistas brasileiros, tanto os liberais quanto os desenvolvimentistas, repensem a alta preferência pelo consumo imediato que revelam ao aceitar o nível da taxa de câmbio atual. Não há, hoje, clima para um acordo dessa natureza. Não nos resta, portanto, senão nos conformarmos com taxas medíocres de crescimento.

http://mobile.valor.com.br/opiniao/3382988/desenvolvimentistas-liberais-e-o-baixo-crescimento

Texto acima totalmente enviezado (com vies esquerdista-socilaista): Quer dizer que ser liberal não é ser a favor do desenvolvimento ? E desde quando se precisa fazer acordo ... acordo com quem ? Com o Sr. Mercado? Qual o CNPJ dele ... Que balela de texto.

>> Em outra nota, os trabalhadores da Embraer de SJDC votam hoje se abrem mão de beneficios de aposentadoria e outros previstos na CLT como 13o e férias de 30 dias, para enfrentar a concorrencia de outros 22 estados da federação que oferecem beneficios e incentivos fiscais para a produção da nova linha 777-X

Assustados e surpresos com tal noticia ? Sim... é uma fantasia aqui no brasil, mas é exatamente isso que está acontecendo com a Boeing em Seattle/WA - leiam: http://www.komonews.com/news/local/Boeing-machinists-voting-on-contract-tied-to-777X-238551801.html

Enfim .. em boca fechada não entra mosca.

Alex, a pergunta não foi um desafio. O Delfin, em suas colunas, criticava muito este modelo e que ele mão poderia indicar como convergir para a meta, também pedia que o pessoal do BC o apresenta-se.
Charles.

Alex,

Sou um dos seus 18 leitores e gostaria de ver uma resposta sua ao Braulio. Também acho que a coluna dele é um ataque direto às suas recentes manifestações.

Vlx
Marcos

Alias ... em se falando de economistas desenvolvimentistas e seus "Acordo(s) com o Sr. Mercado", a Argentina acaba de fazer o seu: O plano deste país para combater a inflação em 2014 é um pacto de preços de 201 productos com os empresários.

Fonte: http://noticias.terra.com.ar/sociedad/gobierno-anuncia-nuevo-acuerdo-de-precios-para-201-productos,0ef7b95646753410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html )

É a Argentina dançando SAMBA... é de rir para não chorar.

"Quem é você para falar de coragem se nem se identifica?"

Bom, Alex, o "O" se identifica ?

Quando o "O" se identifique eu me identifico.

Combinado.

"Quando o "O" se identifique eu me identifico. "

1) O "O" não veio pedir coragem de ninguém;

2) O correto é "quando o "O" se identificar"

3) Todo mundo sabe que o "O" é o "O"

Alex,na sua opinião o corpo técnico do BC é bom?

Alex,

O fato é que vc não pode criticar ninguém por não se identificar, visto que vc compartilha o blog com um anônimo que, apesar de não pedir coragem aos participantes, se esconde atrás do pseudônimo. Na verdade ele não parece ser uma pessoa muito corajosa. Enfim, responda com argumentos técnicos e deixe a pirraça para outra hora, ou seja pirracento e infantil com outros argumentos.

Abs.
Marcelo

Você é que é infantil, feio e bobo. Blah (mostrando a língua)!

Ô chatinho, todo mundo sabe a opinião do Alexandre sobre o tema que o Bráulio escreveu. Vai ver novela!

Será que o fim chegou? Só se o câmbio deixar! Num ano eleitoral, sou mais o Lula que o Mantega. Ou seja, acredito que o pragmatismo pode dar as cartas. Voltaremos com as maluquices só em 2015.
Maradona

Para fechar as contas o PT está privatizado a p... toda, e o PSDB não abre a boca, partido frouxo.

Bom livro da Cristina Terra Finanças Internacionais - Macroeconomia Aberta (Campus, 2013)

http://www.elsevier.com.br/site/produtos/Detalhe-Produto.aspx?tid=94282&seg=3&cat=276&tit=FINAN%C3%87AS%20INTERNACIONAIS

A situação fiscal no Brasil é ruim?

Compara o déficit nominal do Brasil e de todos os outros países em 2007 e 2013 e vai ver que o Brasil está entre as melhores performances ....basicamente a totalidade de países piorou e muito a situação fiscal...e o Brasil melhorou o nominal, que é o que interessa no fim das contas.

http://www.gfmag.com/component/content/article/119-economic-data/12373-public-deficit-percentage-gdphtml.html#axzz2l3bi7J00

O "O" não precisa se identificar. Todos nós sabemos que ele é o DumbO.

Oi Alex, meu amor.
Samba de uma nota só não tem problema. Mas homem não dá. Sugiro que você escreva algo de novo. Que tal escrever sobre cabala?
Bj, Dumb Selicsister

Alex

Você estava de férias?

Você ainda recebe o seguro-desemprego? Você já fez o curso de requalificação?

Abraços

Berky Boy, don't be perky. Follow the rules of engagement for the debates. First, you can thrash Mr Lacerda any way you like because he's a lousy economist, and he's a sissy, and he's a prick, and there's no redemption for fim, and he knows all that. Second, you can retaliate against anyone who wily schemed against you. Lastly, try to be magnanimous with anyone else. I know it's hard to condescend with someome less smarter than you, but if I can do it with you, you can do it with anyone else.

"someone less smarter than you"

Mmmmmm, imagino que inglês não seja seu forte. Acertei?

Renato (e outros) devagar com o andor.Como Hayeck e Borges já ensinaram: o território costuma ser bem mais complicado que o mapa.

caraca ... o cara escreve e nem se manca em passar um revisor ortográfico ... que é de graça. imagina receber beneces do governo e votar na situação, então ?

Diz isso o cara que escreve "beneces"

Cara, você não tem vergonha desses comentários IMBECIS? Pela sua ótica, o Brasil está pior do que o Haiti. Dá pra parar com a manipulação? TENHA SANTA PACIÊNCIA!

"Cara, você não tem vergonha desses comentários IMBECIS?"

Depois de ler seu comentário, sim. Vergonha alheia, claro, mas vergonha do mesmo jeito.

Hayek? Prize lecture,dec.,1974.

Sérgio, como diria o Dr. Pangloss: como tudo foi feito para um fim, o Haiti foi feito para aqui no Brasil sentirmos que estamos vivendo no melhor e mais agradável dos mundos possíveis.