Em
março deste ano o Banco Central reduziu a taxa Selic para 6,5% ao ano, seu
menor valor na história. De lá para cá foram seis reuniões ao longo de nove
meses, o segundo maior período de estabilidade da taxa de juros.
Nada mal, considerando que, há cerca de dois anos e meio, não faltava quem
afirmasse que o impedimento da presidente tinha como objetivo manter os juros
altos, tese, aliás, que a própria ainda propagava em setembro do ano passado.
Nada
mal também na comparação com nossa história turbulenta do ponto de vista da
política monetária. Nas experiências anteriores de redução da Selic, a
manutenção da taxa de juros no piso de cada ciclo durou, em média, 3
reuniões. Mais importante, porém, são as
perspectivas positivas sobre o comportamento dos juros no ano que vem, bem como
as condições para que isto se materialize.
De
acordo com as projeções do BC, caso a taxa Selic
permaneça em 6,5% ao ano indefinidamente, a inflação atingiria 4% em 2019,
abaixo da meta estabelecida para o ano (4,25%) e 4% também em 2020,
precisamente na meta. No cenário, contudo, em que ela subisse gradualmente para
8% ao ano (entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020), a inflação ficaria em
3,9% no próximo ano e 3,6% no seguinte, bem abaixo da meta.
Tais
números, por si só, sugerem não haver necessidade de elevação da taxa de juros
ao longo de 2019 (e talvez por mais tempo). Já no que se refere ao “balanço de
riscos” ao redor de suas projeções, o BC ainda manifesta preocupações com o
rumo das reformas no campo fiscal, mas em menor grau do que no passado recente;
por outro lado, admite que desemprego e capacidade ociosa elevados possam levar
a trajetórias da inflação ainda menores do que as apontadas por suas projeções.
Em
língua de gente, o BC indica que os riscos de a inflação atingir menos do que o
projetado por seus modelos aumentaram comparados à sua percepção nos últimos
meses. Reforça-se, assim, a visão de estabilidade da Selic por mais tempo do
que se julgava possível. Em consequência, as taxas de juros para períodos mais
longos também cederam, fenômeno que colabora com a retomada da economia.
Como
as decisões sobre taxa de juros são baseadas sempre nas perspectivas sobre o
futuro da economia, é preciso saber que fenômenos podem reforçar, ou ameaçar,
esta possibilidade positiva.
Há
muita coisa para ocorrer entre o final de 2018 e 2019 e o próprio exemplo deste
ano quase encerrado mostra que eventos virtualmente impossíveis de prever (como
a greve dos caminhoneiros) podem ter impactos significativos sobre a inflação.
Todavia, parece claro que, dentre os
fatores mais previsíveis, nenhum supera em
importância a reforma previdenciária, chave para o estabelecimento um regime
fiscal capaz de reverter a elevação da dívida do governo relativamente ao PIB.
É
difícil dizer quanto da reforma “está nos preços”, seja do mercado, seja das
próprias previsões do BC. De qualquer forma, sem avanços nesta frente não há
como evitar uma crise fiscal séria num horizonte de dois a quatro anos, aqui
entendida como a impossibilidade de manter o teto de gastos e, portanto, as esperanças
de estabilização da dívida.
Caso
a nova administração consiga a proeza, poderá colher os frutos quase
imediatamente, na forma de baixas taxas de juros, abrindo, inclusive, a
possibilidade de nova redução da Selic; se falhar, porém, o castigo virá a
cavalo.
(Publicado 19/Dez/2018)
1 comentários:
Saiu no Estadão:
Inflação fecha 2018 em 3,75%, abaixo do centro da meta do governo
Resultado anual ficou abaixo do índice estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 4,5%; em dezembro, IPCA foi de 0,15%, o menor para o mês desde o início do Plano Real
Fonte: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,inflacao-fecha-2018-em-3-75-abaixo-da-meta,70002675505
>>> aguardando ansiosamente a próx. reunião do sCOPOM.
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