Defendo
a democracia liberal, caracterizada pelo respeito às liberdades individuais,
dentre elas a liberdade de expressão, a conquista do poder pelo voto popular e
a possibilidade real de alternância de poder. Do ponto de vista econômico sou
adepto do livre mercado e favorável à existência de alguma rede de proteção
social, bem como de políticas que facilitem o acesso à educação.
Com
base nisto votei em João Amoedo, do Novo, no primeiro turno das eleições
presidenciais e irei anular meu voto no segundo turno.
Tenho
criticado com certa frequência o programa econômico de vários candidatos,
precisamente por não estarem de acordo com o que acredito ser o melhor para o
país. Isto é mais nítido no caso de Fernando Haddad (e do eliminado Ciro
Gomes), cujas propostas, se implementadas, nos levariam a um desastre como o
vivido recentemente por conta da Nova Matriz Econômica, cuja responsabilidade, é
claro, é de Dilma Rousseff e do PT.
No
caso de Jair Bolsonaro, como pude expressar na última semana, as críticas não
são relacionadas diretamente ao programa econômico (que, de qualquer forma, é
para lá de vago), mas ao que acredito ser a baixa probabilidade de adesão do
candidato a uma plataforma realmente liberal, expressa, entre outras coisas, na
privatização das estatais que ele considera “estratégicas”: Petrobras, Eletrobrás,
Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (o resto é perfumaria).
Hoje,
porém, quem escreve não é o economista, mas o cidadão que acredita no modelo de
democracia breve e imperfeitamente descrito no primeiro parágrafo. Neste
quesito ambos os candidatos deixam muito a desejar.
Elogios
à ditadura militar, louvor a um conhecido torturador e outras manifestações do
mesmo calibre tornam impossível para mim votar em Bolsonaro. Simplesmente não
cabem no meu credo, mesmo que fosse possível acreditar em sua conversão ao
liberalismo econômico e à austeridade fiscal.
Quanto
a Fernando Haddad, bem, em nome da transparência, fomos colegas de mestrado (e,
não, ele nunca
“colou” de mim, nem do Naércio Menezes), eu o considero um
amigo (não sei se a recíproca é verdadeira, mas espero que sim) e uma pessoa de
bem. Representa, todavia, forças políticas cujo compromisso com a democracia me
convence ainda menos que o liberalismo econômico de Bolsonaro.
Aqui
me refiro tanto a propostas concretas (“adormecidas” no segundo turno) – na linha
da convocação de uma constituinte e manobras pouco disfarçadas de controle da
mídia – como ao histórico do PT, inclusive sua recusa descarada
em aceitar decisões do Judiciário.
Sua
autocrítica não vai além do lamento de
não terem conseguido controlar instituições
como o Ministério Público, a Polícia Federal e as Forças Armadas, além, é
claro, de “democratizar a mídia”. Isto sem esquecer do “guerreiro do povo
brasileiro”, o condenado José Dirceu, que recentemente proclamou que o partido
pretendia “tomar o
poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.
Que
me desculpem os amigos que pretendem votar no Fernando em nome da defesa da
democracia, mas um partido com tais posições não tem qualquer comprometimento
com a causa democrática, além de usá-la como trampolim para “tomar o poder”.
Só
me sobra, portanto, anular o voto e torcer para que na próxima eleição apareçam
candidatos com posicionamentos mais próximos ao meu, de preferência com reais
chances de serem eleitos.
Boa
escolha a todos.
(Publicado 24/Out/2018)