teste

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

A queda do desemprego e a reforma trabalhista

Segundo dados do Ministério do Trabalho referentes à criação e destruição de empregos formais (CAGED), houve em novembro destruição líquida de 12,3 mil postos, dado que foi rapidamente tomado por uns como prova do efeito negativo da reforma trabalhista que entrou em vigor naquele mês. Oportunismo misturado com ignorância, com preponderância do primeiro fator.

A começar porque deixa de lado o comportamento sazonal das séries, isto é, das flutuações dentro do ano que refletem particularidades de cada período, como, por exemplo, o aumento das vendas no Natal, ou a queda da produção industrial durante o Carnaval. Uma vez ajustada a série a seu padrão sazonal, estima-se criação líquida de algo como 17 mil postos em novembro, um pouco mais do que o registrado em outubro (13 mil postos), e o segundo valor positivo neste critério depois de 35 meses negativos.

Além disso, se fôssemos julgar os efeitos da reforma trabalhista pelos resultados de novembro apenas, teríamos também que reconhecer a nova queda da taxa de desemprego registrada no mês, de 12,2% para 12,0% de acordo com os dados do IBGE (ou de 12,6% para 12,5% em termos dessazonalizados). Seria a reforma um sucesso?

Obviamente, não se trata de uma coisa, nem de outra. Não há como avaliar, ao menos não honestamente, o efeito da reforma trabalhista com base na observação de um único mês. Não apenas serão necessárias muitas outras observações, como também a análise precisará ir além do “subiu” ou “desceu”, porque o mercado de trabalho deve continuar a melhorar este ano, com base na mesma dinâmica que vigorou em boa parte de 2017.

O desemprego, por exemplo, atingiu seu pico em março de 2017, quando o dado original do IBGE apontou para uma taxa de 13,7% naquele trimestre (13,0% com ajuste sazonal) e vem em queda lenta, porém consistente, desde então. Da mesma forma, o emprego total – que caíra pouco abaixo de 89,5 milhões dessazonalizado – subiu para 91,5 milhões também sazonalmente ajustado. Assim, o emprego, que havia se reduzido a 53,5% da população em idade ativa, agora corresponde a pouco mais de 54% dela, longe de seus melhores momentos, mas em clara evolução.

Posto de outra forma, já há uma recuperação em curso e, com a aceleração do crescimento agora em 2018, não é difícil concluir que a geração de emprego será ainda mais vigorosa (e de melhor qualidade do que em 2017) e que o desemprego cairá, ainda que se mantenha na casa de dois dígitos.

Será isso motivo para saudar a reforma trabalhista? Se fôssemos usar os parâmetros dos críticos de hoje, a resposta seria afirmativa. Se, porém, usarmos critérios honestos, teremos que comparar o desempenho de 2018 àquele que vigoraria na ausência da reforma, tarefa bem mais complicada, ainda que não impossível.

Isso dito, não há mais dúvidas sobre a recuperação da economia. Os que afirmavam que esta seria impossível sem o estímulo do gasto público tiveram que mudar a “narrativa”, que agora foca na “lentidão da retomada”, como se esta não fosse consequência do excesso de endividamento público causado por suas políticas irresponsáveis.


De qualquer forma, quando aparecer novo número negativo do CAGED de dezembro, como ocorreu em todos os dezembros dos últimos 24 anos, não caiam no conto dos oportunistas.



(Publicado 3/Jan/2018)

15 comentários:

Ola Alex,

O que acha desse ultimo artigo do D.Rodrik?

https://www.project-syndicate.org/commentary/defense-of-economic-populism-by-dani-rodrik-2018-01


Abs!

Alex, bom dia!

Tenho algumas dúvidas, se puder me ajudar, eu agradeceria demais.

Sempre fui crítico do Tombini e vibrava quando você o criticava pelas cagadas que fazia. Reconheço que vivemos outros tempos, BEM diferentes e melhores do que aquele, mas alguns erros não podem ser totalmente ignorados só porque o conjunto da obra é positivo. Minhas dúvidas são:

1) Vi muita gente ontem, inclusive o Presidente da República, comemorando inflação abaixo da meta. Isso deveria ser motivo para comemoração?

2) Houve um baita choque de oferta positivo, é verdade. Em tese, o BCB deveria reagir aos efeitos secundários e acomodar o choque em si no intervalo de tolerância. Perder o intervalo não é culpa do BC?

3) Um Banco Central que perde a meta para baixo não deveria perder (alguma) credibilidade tanto quanto o que perde a meta pra cima?

4) A meta de inflação de 4,5% para 2017 é uma escolha indireta da sociedade, que tolera de 3% a 6%. Poderia a tecnocracia se sobrepor à democracia?

5) A Carta Aberta deveria servir como um constrangimento público para o Presidente do BCB. Minha percepção é que a mídia geral não deu muita bola pra isso, o que descaracterizaria um constrangimento, bem como o Presidente do BCB fez pouco caso de seu erro na entrevista que deu.

Um Abraço,
Marcos Júnior

Relax or not relax (the golden rule) that is the question.
O que o grande oráculo Alex acha?

"1) Vi muita gente ontem, inclusive o Presidente da República, comemorando inflação abaixo da meta. Isso deveria ser motivo para comemoração?"

Não. Temos que ser simétricos.

"2) Houve um baita choque de oferta positivo, é verdade. Em tese, o BCB deveria reagir aos efeitos secundários e acomodar o choque em si no intervalo de tolerância. Perder o intervalo não é culpa do BC?"

Depende um tanto do "timing" do choque (se vier muito tarde no ano, a capacidade de resposta do BC fica prejudicada). Não me parece ter sido o caso, mas a percepção que a inflação poderia ficar abaixo do intervalo só se cristalizou no fim do terceiro tri. Aí já não tinha o que fazer.

"3) Um Banco Central que perde a meta para baixo não deveria perder (alguma) credibilidade tanto quanto o que perde a meta pra cima? "

Só se, como no caso do Pombini, perder sistematicamente a meta (e aqui não me refiro a intervalos, mas à meta mesmo). Não há nada intrinsecamente errado em ter a inflação acima da meta num ano e abaixo dela em outro, desde que, em média (e, de preferência com baixa variância) a inflação fique perto da meta.

Agora, perder para cima 5 anos seguidos (média de 1,7% a mais por ano, sem contar 2015, quando foi 6,2% mais alta) não é azar: é incompetência/frouxidão mesmo.

"4) A meta de inflação de 4,5% para 2017 é uma escolha indireta da sociedade, que tolera de 3% a 6%. Poderia a tecnocracia se sobrepor à democracia?"

Não, mas aí você teria que dizer que o BC buscou (ou se omitiu) inflação abaixo de 3%. Não parece ser o caso. Se repetirmos o feito em outros anos, sistematicamente, mudo minha opinião.

"5) A Carta Aberta deveria servir como um constrangimento público para o Presidente do BCB. Minha percepção é que a mídia geral não deu muita bola pra isso, o que descaracterizaria um constrangimento, bem como o Presidente do BCB fez pouco caso de seu erro na entrevista que deu."

Volto ao ponto do desvio sistemático. O desvio foi acidental e medidas corretivas foram tomadas. O duro é quando o BC se omite.

Valeu, Alex! Grande Abraço,

Marcos Júnior

"O que o grande oráculo Alex acha?"

São vedados:
III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;

"O que acha desse ultimo artigo do D.Rodrik? "

É de uma obviedade atroz: não é uma boa ideia seguir regras ruins. Também desonesto: mudar regras ruins não é populismo; é bom senso.

Alex,

1 - você vê como positiva para economia a "realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta" ?

2 - JRRA afirma novamente na folha que o BNDES está sendo usado para aumento do gasto e do endividamento. A. Concorda com ele? B. Vê burla à regra de ouro ? C. Vê a operação de devolução como positiva pra economia, uma vez que com a tlp não haveria perdas pro tesouro com subsídios?

"É de uma obviedade atroz: não é uma boa ideia seguir regras ruins. Também desonesto: mudar regras ruins não é populismo; é bom senso.É de uma obviedade atroz: não é uma boa ideia seguir regras ruins"


Mas entao a questao central e definir o que sao regras boas/ruins. As regras que Rodrik esta criticando sao geralmente concebidas como "boas" por boa parte dos economistas mainstream. Nao parece uma discussao tao obvia assim..

Que bom que o senhor reconhece que o BC errou ,e poderia ter baixado mais o juros para que a inflação ficasse dentro da meta.Lembrando que o senhor quando foi diretor elevou o juro de maneira a deixar a inflação abaixo da meta.

"Lembrando que o senhor quando foi diretor elevou o juro de maneira a deixar a inflação abaixo da meta."

Verdade? Ficou 2,1% acima da meta em 2004, 1,2% acima em 2005 e 1,4% abaixo em 2006. No conjunto da obra, 0,6% acima em média.

" As regras que Rodrik esta criticando sao geralmente concebidas como "boas" por boa parte dos economistas mainstream"

Lê de novo...

“No conjunto da obra, 0,6% acima em média.”

No conjunto da obra, considerando o módulo dos erros, já que “temos que ser simétricos”, 1,57% em média ...

"No conjunto da obra, considerando o módulo dos erros, já que “temos que ser simétricos”, 1,57% em média ..."

Faz mais força... quem sabe você acha um erro antes das demais consequências de fazer força...

Alex vc pode ter acertado mais uma, em relação ao emprego nos EUA:

http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/empresas-relatam-falta-de-mao-de-obra-nos-eua-enquanto-trump-combate-imigracao.html


Uns na verdade, tem uma visão heterodoxa:

https://www.marketwatch.com/story/economist-james-k-galbraith-isnt-celebrating-dow-25000-2018-01-08

There is no Phillips Curve, and there hasn’t been for decades. The supply of labor is not a constraint.

Se eu entendi, se vc pagar mais (aumento do "preço trabalho") vai ter mais trabalhadores, o que "invalida" a curva de Philips, mas isso é com vc.