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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O Cobrador

A história é provavelmente apócrifa e há relatos semelhantes com outras pessoas, mas, como aprendi com Neil Gaiman, uma história não precisa ter ocorrido para ser verdadeira.

De qualquer forma, conta-se que Milton Friedman, em visita à China, teria perguntado o porquê de, em determinada construção, trabalhadores usarem pás ao invés de máquinas, ao que o burocrata que o acompanhava teria respondido que se tratava de um programa de empregos, motivando o seguinte comentário: “Ah, achei que vocês estavam construindo um canal; se querem emprego, vocês não deveriam dar aos trabalhadores pás, mas colheres”.

Digo isto, claro, a propósito da decisão da Câmara Municipal do Rio de eliminar a figura do motorista-cobrador, comemorada por luminares da esquerda como Marcelo Freixo. Embora o pretexto tenha sido garantir “menos estresse ao motorista e mais segurança na condução do veículo”, a lógica por trás da proposta era a velha proposta ludita, igual, em espírito, por exemplo, à do deputado (e ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação!), Aldo Rebelo, que proíbe bombas de autosserviço em postos de gasolina.

A ideia, que permeia tipicamente o “pensamento” de esquerda, é que avanços da produtividade resultariam em redução do nível de emprego, apesar de evidências avassaladoras em contrário.

Aproveitando, por exemplo, a base de dados do Banco Mundial, que permite comparações não apenas entre países distintos, mas também em diferentes momentos, noto que o produto norte-americano por trabalhador entre 1991 e 2016 aumentou nada menos do que 47% (em média pouco mais do que 1,5% ao ano). Caso a relação entre emprego e produtividade fosse como a sugerida acima, tal desenvolvimento deveria implicar aumento maciço do desemprego.

Ao contrário, porém, durante esse período o emprego cresceu 33% (36% no caso do emprego privado), enquanto a taxa de desemprego caiu de 7% para 5%. Muito embora a comparação ponto a ponto não esgote o assunto, não há qualquer tendência crescente da taxa de desemprego nos EUA; pelo contrário, em que pesem flutuações cíclicas consideráveis (como na crise de 2008-09), se há alguma tendência, é de leve queda do desemprego, independentemente da particular medida que se escolha.

Já no Brasil os desenvolvimentos não foram dos mais auspiciosos: o produto por trabalhador no mesmo intervalo aumentou 16% (0,6% ao ano); usando dados até 2013, desconsiderando os anos de recessão, o avanço fica em 24% (1,0% ao ano).  Dentre as 230 economias (países e regiões) listadas, éramos a 89ª em termos de produto por trabalhador em 1991, mas caímos para 112ª posição em 2016 (105ª em 2013)

O Brasil tem um sério problema de produtividade, que vem se agravando, mesmo antes da recessão mais grave da história recente. Obviamente isto não se deve exclusivamente à obrigatoriedade de frentistas (ou cobradores), mesmo quando desenvolvimentos tecnológicos tornam obsoletas estas funções.

No entanto, a reação dos setores afetados pelas mudanças tecnológicas e a rapidez com que políticos, principalmente dentre os autodenominados “progressistas”, abraçam estas causas perdidas colaboram, e não pouco, para a perda persistente de competitividade na arena internacional.

Mas querem, em compensação, controlar câmbio e juros...




(Publicado 29/Nov/2017)

20 comentários:

imagina o que esses 'progrecistas' não vão espernear quando as moedas virtuais começarem a substituir serviços tradicionais do sistema financeiro.

A revolução tecnológica mal começou.

Apócrifa é o conto da "Guerra da meia entrada" (2016 - 2017) em que pseudos indignados com as injustiças sociais desse país decretaram ojeriza e luta pelo extermínio de qualquer espécie de "meia entrada" no país.

Só que a Guerra acabou logo após o desmonte do BNDES e da Petrobras e o encaminhamento da reforma da previdência.
A meia entrada do repetro, que vai dar R$1 trilhão de benesses às empresas gringas vencedoras dos leilões do pré-sal, produz um silêncio vexatório e constrangedor.

você não leu errado, não. R$1 TRILHÃO!!!!! Duvida?
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/10/31/estudos-apontam-perdas-de-r-1-tri-em-renuncia-fiscal-com-leilao-do-pre-sal.htm

Neste ponto nossa esquerda tem duas vertentes: uma fraca e mediocre que tem medo do inovações e do futuro; e a outra que não gosta de capitalismo e se disfarça com roupagens Keynesianas (os Quermesseiros como voce gosta de chamar) que o proprio Keynes teria vergonha. E para piorar essas duas vertentes se unem a um terceiro grupo,o dos empresarios pilantras e usam a retorica do emprego como desculpa.

Alex, parabéns pelo artigo. Quem não é do Rio podia muito bem não estar sabendo dessa medida da Assembleia (eu, por exemplo).

Mas o projeto do Rabelo acabou virando lei pelas mãos daquele membro da "direita neoliberal", o FHC, não foi? Abs

“Duvida?”

Duvido e faço pouco...

Alex, sobre a tal medida do Petróleo ou outras, mesmo tendo dúvidas sobre os números apresentados, mas não seria hora do governo abrir mãos de contribuições previdenciárias quando discute-se um número para previdência; tanto que ontem no protesto esvaziado, ouvi um líder sindical sobre isso como é possível criar um caixa se todo governo utiliza os tributos (ele falou impostos) para políticas a grandes grupos empresariais (minha leitura é pouco transparente) e vamos ter para grandes montadoras com o projeto isentando os carros de luxo (que pagaram menos tributos que carros 1.0).

Lembrando que o governo do Rio quer isentar para uma cervejaria (se já não fez), em um momento de crise fiscal que não paga fornecedores e salários, e recebe aportes da união via BNDES.

A principal regra da reforma da previdência é criar um mecanismo que impeça uso pouco transparente dos recursos tanto para políticas industriais como financiamentos de obra, o dinheiro utilizado tem que ser como fundo privado, pelo menos atrelado as letras do Tesouro Nacional.

O desemprego não caiu nos Estados Unidos mas a renda dos trabalhadores sim, o que explica em muito a eleição do Trump.
O aumento exponencial da produtividade é um tema sobre o qual não é possível fazer previsões.
Na Inglaterra por exemplo está se discutindo a restrição ao Uber.


Para o senhor a questão Israelense é importante? O senhor tem sido um critico de Donald Trump ,entretanto ele tem sido favoravel a Israel.

https://www.oantagonista.com/mundo/urgente-trump-confirma-reconhecimento-de-jerusalem-como-capital-de-israel/

Desculpe o erro. O desemprego não caiu (Maldição de escrever no celular). O desemprego caiu nos Estados Unidos. Mas a renda dos trabalhadores caiu também, o que explica em muito a eleição do Trump.
O aumento exponencial da produtividade é um tema sobre o qual não é possível fazer previsões.
Na Inglaterra por exemplo está se discutindo a restrição ao Uber,e está não é mais uma questão de esquerda ou direita e provavelmente estamos no meio de uma outra revolução econômica.
Como consumidores de bens e serviços estamos no melhor dos mundos compramos o que queremos onde, quando e de quem escolhemos, mas para comprar precisamos vender, e aí este outro lado da moeda é que assusta.

Mais uma semana e o governo quer abrir mão:
- Funrural - 15 bi em 15 anos,
- Mais 1 bi para Fundo Eleitoral,
- 10 bi do FGTS para que Caixa tenha dinheiro para investir nas eleições,
- MP do Petróleo abrindo mão do Cofins.

Mesmo se houve uma reforma radical da Previdência teremos depois um aumento de impostos, para cobrir os novos gastos criados para agradas sua coalizão de poder, a única dúvida é o quanto a piorará a governança e facilidades para corrupção, o "tratamento protocolar" a Sérgio Moro no prêmio "Homem do Ano" não é algo que passa despercebido nem por analistas internacionais do mercado que analisaram a cena.

Alexandre, boa tarde!

Aumentos de produtividade deveriam elevar o salário real, certo? Isto não ocorreu nos EUA. No final de 2014 o salário real estava menor que no final de 1979. É verdade que ele vem aumentando desde 2015, mas ainda é cedo para afirmar que o movimento vai se sustentar.

Se o salário real não melhora, a distribuição funcional da renda dificilmente melhoraria. De fato, a distribuição funcional piorou nos EUA nos últimos 30 anos.

A distribuição funcional da renda deveria, sob algumas hipóteses, afetar a distribuição pessoal da renda. Como a primeira piorou, a segunda também piorou. Os dados de Piketty e companhia deixam isso evidente.

Em suma, estamos aqui na boa e velha discussão entre equidade e eficiência. Você pode querer que haja uma resposta fechada para o tema, mas isso depende de preferências sociais. Os EUA preferem eficiência e por isso são o trator de produtividade que conhecemos. O Brasil prefere equidade, ainda que não consiga avançar nesse sentido (nem toda política é efetiva em Terra Papagalis, como você sabe). Acho que a questão do trocador no Rio de Janeiro é só mais um exemplo desse debate secular.

O que acha?

Ricardo X

"Duvido e faço pouco..."

-UUUUUUUgggggghhhhhh

-Um belo direto de "Anônimo 5 de dezembro de 2017 17:43" na boca do estômago de "Alex". Acusou feio o golpe e partiu pra defensiva!!!!!

Se for falar das suas previsões a respeito do Trump, então, aí cai na lona e abre contagem.

é muita mediocridade dizer que de 1979 pra cá o ganho real do americano se manteve o mesmo ou pior, tal qual no BR, é desonhecer as enormes melhorias na qualidade de vida, as casas, os carros, as traquitanas tecnológicas, a lista é infinita.

E no BR de 1979 pra cá continuamos a andar de gol...

sim, é tudo a mesma coisa sim, ah tá, senta lá claudia...

Quando se pesca dados estatísticos, é bom fazer uma análise do bom senso primeiro.

A fazenda vem adotando a politica do toma-la da ca para ter os votos para a reforma da previdencia.Na gestão do Nelson,isso dificilmente acontecia!!

Havia, tempos idos, programa humorístico com um “quadro” em que contracenavam o primo rico x o primo pobre. USA X BR. O Alex é muito jovem, não “pegou” esse programa, não apr(e)endeu suas “gozadas”, mas verdadeiras, lições.

"A fazenda vem adotando a politica do toma-la da ca para ter os votos para a reforma da previdencia.Na gestão do Nelson,isso dificilmente acontecia!!"

Tem razão: era só toma lá (toma-la? Sério?); o dar cá era com a gente mesmo...

Na gestão do Nelson, nunca houve liberação de emanda sob a condição de votar com o governo.

"Na gestão do Nelson, nunca houve liberação de emanda sob a condição de votar com o governo."

Eu não sei o que é "emanda"...

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,governo-libera-mais-verba-para-emendas-parlamentares,10000006030

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1755205-sob-pressao-governo-dilma-apressa-liberacao-de-verbas.shtml

Olha a bola fora do seu amigo marcos lisboa, Alexndre:
"Você não vai vender títulos públicos sem pagar inflação. Quem vai comprar papel público? Nem inflação você paga. Nem o Japão faz isso"

Que feio...

"http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,governo-libera-mais-verba-para-emendas-parlamentares,10000006030

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1755205-sob-pressao-governo-dilma-apressa-liberacao-de-verbas.shtml"

Ué, o nerso não liberava emenda?