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terça-feira, 28 de novembro de 2017

A janela se fecha

A calma do mercado financeiro esconde uma preocupação séria. Muito embora o Banco Central tenha reduzido a Selic a 7,5% e praticamente prometido que chegará a 7% no final do ano, nível mais baixo da história, o mercado de renda fixa tem apontado na direção de juros bem mais altos à frente.

Para entender esse aparente paradoxo, considere um exemplo simples. Imagine que uma investidora possa aplicar seu dinheiro por um ano (e reaplicá-lo no ano seguinte), ou fazer uma aplicação diretamente por dois anos. Vamos admitir que ela saiba que a taxa de juros será, com certeza, 5% no primeiro ano e 10% no segundo. Assim, uma aplicação de R$ 100 valeria R$ 105 ao final do primeiro ano e R$ 115,50 no segundo.

A alternativa sob tais circunstâncias, o investimento por dois anos, não pode render menos do que R$ 115,50 (senão jamais será escolhido), nem mais (senão o tomador de dinheiro preferirá fazer a operação em dois passos). É fácil concluir, portanto, que uma aplicação por dois anos requer uma taxa de juros equivalente a 7,5% aa, que gera este exato valor.

Na prática as coisas não são tão simples, a começar porque não sabemos toda sequência de taxas de juros de curto prazo ao longo de períodos mais extensos. Imagine agora que a taxa de juros do segundo período possa ser 10% ou 15% (cada qual com 50% de chance). Agora o valor esperado do investimento é R$ 118,125 (0,5xR$115,50 + 0,5xR$120,75), ou seja, a taxa de juros para dois anos subiria para 8,7% aa, sob a suposição que nossa investidora seja neutra com relação a risco. Se não gostar de correr riscos, pedirá um pouco mais, talvez 9% aa para aplicar por dois anos.

Hoje vemos um caso semelhante. A taxa de juros para uma aplicação de um ano é pouco superior a 7% aa, enquanto a taxa de juros para cinco anos se encontra ao redor de 10% aa. Interpretado à luz do exemplo acima, isto sugere que o mercado de renda fixa embute expectativas de um aumento considerável das taxas de juros nos próximos anos, chegando a 11% aa, mesmo com as expectativas de inflação bem comportadas.

A elevação da taxa de juros ao longo de 2019 não é exatamente uma surpresa. Embora a Selic deva mesmo cair e continuar baixa em 2018, pelo menos, à medida que a inflação retorne à meta e a economia se aproxime do pleno emprego, é natural que a taxa Selic também suba. O problema, no caso, é que – de acordo com as melhores estimativas hoje disponíveis – com uma meta de inflação de 4%, a Selic deveria atingir perto de 8% aa, não 10% ou 11%, como implicado no mercado de renda fixa. Por que tamanha diferença?

Prêmios de risco crescentes podem explicar o fenômeno, ao menos parcialmente, refletindo a incerteza que cerca a trajetória de juros depois de 2018.

Uma explicação alternativa (mas não excludente) sugere que, na ausência de um ajuste fiscal consistente, tanto a inflação tenderia a subir mais, como a taxa real de juros necessária para combater este fenômeno também teria que ser mais alta. Em outras palavras, é o medo do futuro que empurra o juro longo para cima.

A incapacidade do atual governo de aprovar reformas essenciais e o receio acerca do comprometimento de futuras administrações com o ajuste começam a cobrar a conta. Não perdemos jamais a oportunidade de perder uma oportunidade.




(Publicado 22/Nov/2017) 

15 comentários:

Alexandre, estou lendo o livro de monetaria do Pastore e no capitulo 3 ele fala da passividade monetaria. Ou seja, era a passividade monetária que garantia a inflação a dinamica explosiva.

Esse é um assunto "fechado" no debate sobre a nossa inflacao de 44 a 94?

Para explicar nossa inflação você iria nessa direção? Me parece olhando o gráfico que o carater explosivo da inflação veio a partir dos choques do petroleo e a cada choque heterodoxo.

Paula

Gostei: 'Estrutura a Termo das Taxas de Juros', 'Esperança Matemática', 'Modelo da Médio-Variância','Função Von Neumann Morgenstern', 'Utilidade Esperada da Loteca', 'Utilidade Do Valor Esperado da Loteca'[rsrsrs]. Essas 'coisitas' me dão calafrios!
É isso ai 'capitão': a sua antena de radar já começou a mensurar a 'baixa frequência' de uma 'dispersãozinha', de um certo 'errinho' (...)
Mas aos poucos o 'sinal' vai entrando. Está fraquinho porque ainda estamos relativamente distados daquele 'problemão lá'; mas à medida que nos aproximarmos dele, o ruído ficará 'mais forte'(...)

"esperar o pior das pessoas sempre dá certo"

Hoje em dia daria para criar um quadro quase diário como o governo piora a governança:
- As superintendências regionais do BNDES extintas pela Maria Silvia, irão retornar e em uma nova fase criadas outras;
- Lei Rouanet com novas regras para aumentar o teto da captação,
- Supercomputador Tupã pode parar.

E uma colocação que o povo voto poderia mudar, não é bem assim, as regras eleitorais que já eram para perpetuar o atual sistema política foram reforçados, e hoje poucos (se há algum) presidente dos principais partidos não está envolvido em desvio de dinheiro.

Se governa oferecendo recompensas somente a quem interessa, praticando e aceitando a corrupção, essa lição do Bruce de Mesquita, só tende a reforçar por que as bases de sustentação desse governo e provavelmente do próximo serão de um pequeno grupo, sonho do Gilmar Mendes, Temer, Lula, Aécio e outros, e sermos uma grande Tanzânia, um país que realiza eleições livres, regulares e limpas – que sempre têm o mesmo partido, o CCM, como vencedor.

Alexandre,

Qual o peso da desalavancage para explicar o periodo de rcessão?

Alex,

O que vc acho do relatorio do Banco Mundial? o Ajuste justo?
Ouvi falar que adoção de recomendações recentes dele pela África piorou a Aids e o ensino básico. Aquela estória, vamos botar uma tarifa pra deixar justo o acesso, e assim vc exclui aqueles em situações piores

Prezado Alex, em poucas palavras qual a lógica por trás da reforma tributária americana? Dólar mais forte?

Trump aprovou o maior corte de impostos dos ultimos 30 anos,reduziu burocracia revogando com a lei dodd frank.

"Prezado Alex, em poucas palavras qual a lógica por trás da reforma tributária americana? Dólar mais forte?"

Se passar, me parece dólar mais forte, por conta do maior estímulo à demanda, sem ganhos relevantes do lado da oferta.

"Se passar, me parece dólar mais forte, por conta do maior estímulo à demanda, sem ganhos relevantes do lado da oferta."

Mas isso não impactaria a inflação americana?
Ficaria o dolar mais forte, pq com a inflação o Fed subiria os juros?

Mas esse papo republicano de abaixar tributos sobre mais ricos não teria como objetivo justamente ampliar o investimento e, portanto, a acumulação de capital físico? É apenas papo, sem evidência que ampare a proposição a contento?

Abs
X

"Há deficit sim da previdência.Quis dizer era q não concordamos c/proposta do Gov.Temer/Dilma/Lula. Uma reforma q n resolve o problema e impõe + peso aos pobres.Apresentaremos proposta da Aposentadoria Fásica,c/base em paper d prof. da Unifesp e publicada na Revista Bras. de Prev."

O senhor conhece esse paper?

"Trump aprovou o maior corte de impostos dos ultimos 30 anos,reduziu burocracia revogando com a lei dodd frank."

Aprovou?

Revogou?

"Ficaria o dolar mais forte, pq com a inflação o Fed subiria os juros?"

Sim

"Mas esse papo republicano de abaixar tributos sobre mais ricos não teria como objetivo justamente ampliar o investimento e, portanto, a acumulação de capital físico? É apenas papo, sem evidência que ampare a proposição a contento?"

Sim, apenas papo

https://piie.com/system/files/documents/furman20171103ppt.pdf