Superada, ao menos por
ora, a discussão sobre a autorização para que o STF processasse o presidente, o
governo anunciou intenções de retomar a agenda de reformas, principalmente a
previdenciária. Há, contudo, distância considerável entre intenção e gesto, e
as consequências desta distância não são nada agradáveis.
Se havia dificuldade em
aprovar meses atrás a reforma na versão proposta pelo relator da comissão
especial – ou seja, já bastante aguada com relação à original – a tarefa soa
ainda mais complicada agora. Em primeiro lugar porque a votação a favor do
presidente, 263 votos na Câmara, sugere uma base parlamentar insuficiente para
aprovar tal mudança constitucional (308 votos), mesmo considerando que alguns
deputados que se opuseram ao presidente tenham declarado apoio à proposta.
Afora isto, o foco do
Congresso não está na reforma previdenciária, mas na definição das regras que
guiarão a eleição de 2018, cuja aprovação precisa ocorrer um ano antes do evento,
ou seja, em escassos dois meses. Enquanto a usina de péssimas ideias (o “distritão”,
para citar apenas uma) funciona a pleno vapor, com o objetivo quase explícito
de manter tudo como está, a atenção dos nobres parlamentares não pode se
dedicar a assuntos secundários, como tentar colocar as contas públicas numa
trajetória com alguma chance de sustentabilidade num horizonte minimamente
razoável.
Como escrevi há pouco, o tempo não corre a
nosso favor, muito pelo contrário. Sem a reforma da previdência o país
enfrentará um dilema sério em horizonte não muito distante: ou mantém o teto
constitucional para as despesas (e, com ele, uma chance de controlar o
endividamento crescente), mas observa o eventual desaparecimento da já
minúscula folga fiscal; ou descarta o teto, submetendo-se, porém, a uma trajetória
explosiva da dívida, que termina do jeito que conhecemos por décadas, isto é,
inflação e instabilidade.
A esta altura está para
mim mais do que claro que o mundo político não entendeu a gravidade do
problema, reflexo provavelmente da mesma falta de compreensão por parte da
sociedade, em particular de suas elites. A reivindicação salarial do
ministério público, 16,7%, por exemplo, em meio à maior crise
fiscal do país não é só sintoma de descolamento da realidade; trata-se de tapa
na cara da população que, ao contrário dos procuradores, recebe baixos
salários, corre risco de desemprego e não tem direito à aposentadoria integral
bancada pelo Tesouro Nacional.
Enquanto cada
corporação busca se proteger, seja elevando seus salários, seja na manutenção
de privilégios, como acesso a crédito subsidiado, proteção contra a
concorrência, ou rendas de toda espécie, as finanças públicas pioram a cada
dia, a ponto de ser cogitada a revisão da atual meta fiscal, de forma a
permitir déficits ainda mais elevados.
E o problema não se
limita a isto. À parte iniciativas louváveis, como a luta para eliminar
gradualmente o subsídio do BNDES, mesmo em face de considerável oposição pelos
defensores do status quo, mantemos o
capitalismo de compadrio, que mina nossa capacidade de crescimento de longo
prazo.
A verdade é que o atual
pacto social se esgotou e descobrimos que, assim como em outros pactos, o que
nos espera não é o paraíso, mas exatamente o seu oposto.
(Publicado 9/Ago/2017)
17 comentários:
Gostaria que você deixasse mais claro qual a sua posição em relação ao BNDES.
Eliminar os subsídios dados pelo banco significaria eliminar o próprio BNDES? Na sua opinião os bancos privados poderiam assumir os bancos públicos?
Alexandre,
Qual sua posição sobre a proposta de se subir aliquota de IR pra quem ganha mais de 20 salários mínimos?
E se talvez aumetássemos os impostos sobre os juros e baixasse sobre os salários, pobres salários. Impedisse os Juros sobre K próprio.
Onde vc acha que dá pra mexer sem afetar os trabalhadores mais pobres?
Abraço
Como sempre, "o dedo na ferida", infelizmente. Capitalismo de compadrio -- os donos do poder. -- os homens de negócios e os políticos, ou vice-versa ou versa-vice, desde tempos remotos, capitanias hereditárias, casas-grandes e sensatas, vieiras soutos e rocinhas, quem tem boca vai a, perdão, o dinheiro compra tudo, até o caráter dos altos dignatários, mandatários, celibatários, garanhões de diversas plumagens. Nietzsche fala de 200 anos até vir o super-homem, isto é, um homem que, mesmo sem deus, pois este estava morto, fosse capaz de uma nova Moral, não a da culpa, do pecado, mas da afirmação da vida universal. Salvo melhor juízo, entramos num período histórico de completo niilismo -- o pai não acredita no filho, o filho, idem. A trama do joio e do trigo, agora, é a seguinte: todos roubam, se locupletam dos bens públicos, só que uns, narcisicamente, se dizem trigo (e roubam), os outros também se dizem trigo (e roubam também). O joio vira trigo e o trigo vira joio num passe de mágica. Aqueles conceitos de "bem público", "interesse nacional", "futuras gerações", honra, orgulho, probidade -- que nunca foram mesmo levados a sério, hoje termos arcaicos da língua. Aprenderemos, com certeza, nos próximos 200 anos, a completa geografia do inferno, suas técnicas e produções fraticidas.
"Eliminar os subsídios dados pelo banco significaria eliminar o próprio BNDES?"
Não, mas iria botar o pessoal do banco para correr.
"Na sua opinião os bancos privados poderiam assumir os bancos públicos?"
E por que não?
"Qual sua posição sobre a proposta de se subir aliquota de IR pra quem ganha mais de 20 salários mínimos?
E se talvez aumetássemos os impostos sobre os juros e baixasse sobre os salários, pobres salários. Impedisse os Juros sobre K próprio.
Onde vc acha que dá pra mexer sem afetar os trabalhadores mais pobres?"
Minha opinião a respeito é a o Beca Appy
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,tributacao-de-dividendos,70001903158
é hora, oras.
Please, allow me to introduce myself
I'm laffer, Arthur laffer
and that´s my curve
Obey it! or die!
"é hora, oras."
As expressões por hora e por ora existem na língua portuguesa e estão corretas. Contudo, apesar de apresentarem a mesma pronúncia, apresentam grafias e significados diferentes, devendo ser usadas em contextos diferentes.
Quando usar por hora?
Por hora é uma expressão que indica tempo, ou seja, que indica o que acontece a cada hora, no intervalo de tempo de uma hora. É muito usada para indicar a distância que um veículo percorre por cada hora de deslocação.
Exemplos com por hora
O carro ia a cem quilômetros por hora.
Este médico atende apenas dois pacientes por hora.
Aquele funcionário recebe dez reais por hora.
Você verificou a previsão do tempo por hora?
Quando usar por ora?
Por ora é uma expressão sinônima de por enquanto, por agora, neste momento.
Exemplos com por ora
Por ora, apenas temos que esperar, já não há nada que possamos fazer.
https://duvidas.dicio.com.br/por-hora-ou-por-ora/
"é hora, oras."
Chuuuupaaaaa!
rsrsrsrs
Alexandre,
aproveitando que vc foi do Bacen, você acha que a galera lá ganha muito além do que merece? Fazendo talvez uma análise tridimensional: salário, qualificação e empenho e comparativa com o setor privado.
Segundo o artigo meio marroumenos dessa galera aqui:
http://porque.uol.com.br/existe-desigualdade-entre-funcionarios-publicos-e-privados/
o pessoal do funcionalismo, quando analisado por grau de instrução, ganha quase o mesmo que o pessoal no setor privado. Me parece que as distorções são bem pontuais, como no judiciário.
Att
Mesmo um aumento de impostos sobre os mais ricos afeta diretamente os mais pobres: Os ricos irão consumir menos, girar menos a economia e tirar empregos justamente dos mais pobres por isso.
Não tem solução sem corte de salários e demissões massivas no setor público. Não fazem nada mesmo, poderiam ganhar proporcionalmente.
Alex, já recomenda compra de ouro?
Alex, já recomenda a compra de ouro?
Alexandre, onde eu arrumo uma série trimestral do hiato do produto mundial ou então o crescimento do pib potencial mundial, tal como requerido na curva IS do BCB? Por acaso você usa o dado do Netherland Bureau de produção industrial mundial, coloca em base trimestral e calcula um HP boladão?
Abs, Julio Maia
"Por acaso você usa o dado do Netherland Bureau de produção industrial mundial, coloca em base trimestral e calcula um HP boladão?"
Precisamente...
"você pode aumentar impostos, mas não pode aumentar a arrecadação"
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