Há coisas com que apenas
economistas se importam. Não quer dizer que sejam irrelevantes, muito pelo
contrário, mas que, de maneira geral, estão sempre, por força do hábito, em
nosso radar, mas não tanto no de quem não foi treinado especificamente para
isto. Dentre elas, o custo de oportunidade é uma preocupação que
parece sempre negligenciada, em particular no discurso político.
A noção do custo de
oportunidade é bastante clara: ao optarmos por alguma alternativa dentro de um
conjunto de escolhas, estamos abrindo mão dos benefícios das demais
oportunidades. Por exemplo, na praia, se uso o (pouco) dinheiro que carrego
para pagar pela cerveja, estou automaticamente desistindo de tomar um sorvete, ou
seja, o custo de oportunidade da cerveja é o sorvete que desisti de tomar
quando decidi molhar a garganta com um belo suco de cevada...
Obviamente, se escolhi
uma alternativa deve ser porque a considero melhor. Assim, no mundo das
escolhas individuais podemos concluir que o custo de oportunidade será menor ou
igual ao retorno da opção preferida.
Já no mundo das
políticas públicas, nem sempre este é o caso. É bastante comum ouvirmos que a
política X gerou N mil empregos, sem qualquer consideração no que diz respeito
ao uso alternativo dos recursos públicos. Em outras palavras, é bem possível
que os recursos usados para bancar a política X pudessem ser utilizados para
financiar a política Y, cujos resultados podem ser superiores àqueles da
política X.
Aliás, no caso da
escolha pública, em países como o nosso, ouso dizer que na imensa maioria dos
casos há alternativas que seriam superiores do ponto de vista do retorno desses
recursos, mas que não são levadas em conta por vários fatores, principalmente
de ordem política.
É possível que os
beneficiários de X tenham maior capacidade de influenciar políticas públicas do
que os beneficiados por Y. Um caso clássico é o da proteção comercial: o setor
protegido engorda seus lucros e pode até empregar mais, às expensas, porém, do
resto da sociedade, que paga mais caro pelo produto nacional, na prática
transferindo renda para um setor politicamente conectado.
Mais relevante, no
atual contexto, é o extenso subsídio que beneficia empresas cujo poder de
persuasão é suficiente para que tenham acesso aos financiamentos do BNDES. Há
vários usos alternativos para estes recursos, em particular a possibilidade de
reduzir a dívida pública, ou, de forma equivalente, fazer a dívida crescer
menos do que cresceria caso o dinheiro não fosse usado para pagá-la. Assim, o
custo de oportunidade dos empréstimos do BNDES deve ser igual ao custo da
dívida pública.
O senador José Serra,
porém, argumenta que os recursos
originários do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), por serem
constitucionalmente vinculados ao BNDES, não têm este custo de oportunidade, já que não poderiam
ser usados para pagar a dívida. Trata-se de argumento formalista, que ignora,
como sempre, o fenômeno econômico.
A vinculação
orçamentária não elimina magicamente o custo de oportunidade do FAT. Ainda que
regras não permitam redução da dívida diretamente pelo FAT, seu uso eficiente
permitiria que outros recursos fossem liberados para este fim. Mas, como notado
no começo da coluna, só economistas se importam com isso...
Custo
de oportunidade?!
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(Publicado 02/Ago/2017)
16 comentários:
Alex, me tira uma duvida, por favor?
Ao usar no modelo de pequeno porte a variacao do superavit estrutural, tipicamente se usa variacao em relacao ao trimestre anterior ou ao mesmo trimestre do ano anterior?
Me perdoa se a pergunta é muito besta, mas é porque temo haver alguma sazonalidade no dado.
Bjo,
Cecilia
Equilíbrio e oportunismo parciais.
"Ao usar no modelo de pequeno porte a variacao do superavit estrutural, tipicamente se usa variacao em relacao ao trimestre anterior ou ao mesmo trimestre do ano anterior?"
Eu uso o acumulado em 12 meses e a diferença deste com relação ao trimestre anterior.
Vou tentar desenhar pro nosso "dotô iconomista"
Na verdade, o Serra pondera apenas que os recursos são constitucionalmente vinculados, não podendo utilizá-los para saldar a dívida por mera vontade do executivo, por exemplo. Isso se deve a uma coisa muito pouco apreciada aqui na Terra Brasilis: respeito às regras do jogo.
Curioso que, diante de um tema tão interessante e ainda muito mal desenvolvido, o "dotô iconomista" pouco acrescente, escrevendo um texto digno de um dos adolescentes revoltados online do mbl.
Se continuar assim, rapidinho será o ministro da fazenda do candidato do Partido Novo
Como tem gente que acredita em dinheiro carimbado!
Ô Carimbador Maluco, o FAT é deficitário, quer dizer, o Tesouro tem que cobrir o buraco. Isto significa que, na margem, o TN tem que se endividar mais para financiar o FAT. Ou seja, tem custo de oportunidade sim...
Vinculação, schmvinculacao: quem faz análise econômica não pode se esconder atrás desta formalidade (ah, agora virou defensor das "regras do jogo", yeah, right) para negar custo de oportunidade.
Não é que desenho não seja seu forte; você só não sabe o que desenhar... Tente casinhas na próxima vez; ou Serras....
Impressionante como os caras somem depois de levar uma traulitada do Alex
"Eu uso o acumulado em 12 meses e a diferença deste com relação ao trimestre anterior.".
Alex, isso serio o mesmo que fazer a diferença entre o trimestre atual e o mesmo trimestre do ano anterior. Ou você faz o acumulado em 12 meses e faz a diferença com o trimestre anterior sem acumular? Se for isso, qual a lógica por trás?
Abraços,
Gabriel Gava
Falei bobagem. É o acumulado em 12 meses contra o acumulado em 12 meses, mas 12 meses atrás. Seria, por exemplo, 2016 contra 2015 (no quarto trimestre).
Claro que há defasagens, mas a mecânica é a mesma.
Abs
"Claro que há defasagens, mas a mecânica é a mesma."
Como vc faz pra selecionar o número de defasagens?
Bjo Cecilia
http://www.institutomillenium.org.br/artigos/enigmtico-ajuste-da-sociedade-ao-estado/
O senhor foi citado. Vê se aprende.
"Mas, como notado no começo da coluna, só economistas se importam com isso"
Ué, mas o Serra não é econom....
esquece
"Como vc faz pra selecionar o número de defasagens?"
Pergunto para meu econometrista...
Sério agora: o que parece funcionar melhor pelos critérios de Akaike e Schwarz
um defensor do SERRA defendendo as regras do jogo???
é piada? né?
... esses asssessores quando não estão carregando malas de dinheiro eles são muito bem humorados
No seu ultimo texto que cita a Laura Carvalho eu iria cometar que intelectuais devem se criticados pelas suas ideias, mas hoje no Brasil perigosos são funcionários públicos com grande poder, que o utilizam em beneficio próprio: Juízes, promotores, auditores fiscais e delegados da policia federal.
Teremos grande dificuldade em mexer com seus privilégios, até porque estes privilégios não param de crescer. Quando um juiz como o Sergio Moro ou um promotor como o Danton Dallagnol aparecem falando sobre corrupção, deveríamos questioná-los se os auxílios moradia e educação, aposentadoria especial, férias de 2 meses, etc, não seriam também imorais.
Dito isto parabéns pelo artigo de ontem na Folha. Mas cuidado. Sugerir que um juiz ou promotor ganhe menos é muito mais perigoso do que criticar um politico.
Se a arrecadação cai, para cumprir meta do gasto é só aumentar a meta do déficit?
Fala Alex, blza?
Uma pergunta: eu imagino que atuação do BNDES eleve de alguma forma a taxa de juros da economia brasileira, dado que a TJLP é inferior a Selic.
No entanto, não consigo evidências que corroborem esta percepção. Estimando uma curva IS pra Brasil, por exemplo, não vejo a expansão do BNDES elevando o juro da economia.
Como faço? Você já viu evidência que mostre que, de fato, o BNDES aumenta o juro da economia?
Bjo,
Cecília Marques
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