Na semana passada foram
divulgados vários indicadores de atividade econômica, culminando com o índice
do Banco Central (IBC-Br), que busca antecipar o comportamento do PIB e que,
pela primeira vez desde o final de 2013, mostrou dois trimestres consecutivos
de crescimento, 1,2% e 0,3%, sempre na comparação com o trimestre imediatamente
anterior, ajustados à sazonalidade.
Trata-se de desempenho
positivo, nem tanto pelo IBC-Br em si, que nem sempre consegue capturar os movimentos
do PIB, mas pelo conjunto da obra. No período observamos expansão da produção
industrial (+0,9%), do varejo (+1,7%) e do volume de serviços (+0,3%), números
que sugerem recuperação difundida da atividade, não mais limitada à
agropecuária, como havia ocorrido no primeiro trimestre.
Mais próximo do
dia-a-dia das pessoas, há ainda sinais de melhora no mercado de trabalho. Dados
do IBGE indicam que, também corrigida a sazonalidade, o emprego total aumentou
no segundo trimestre, muito embora o crescimento tenha se dado principalmente
entre os trabalhadores informais. Assim, detectamos pequena queda do desemprego
(dessazonalizado), de 12,9% para 12,7%, a primeira desde o último trimestre de
2013.
Para ser sincero, não
dá para garantir que o crescimento do PIB já se mostre positivo no segundo trimestre,
mas a evidência aponta para uma economia que finalmente saiu do fundo do poço.
Ao contrário do ocorrido no primeiro trimestre, quando o crescimento veio do
setor externo e da acumulação de estoques, componentes que tipicamente não
sustentam a economia por muito tempo, o consumo deve ter sido o principal motor
da expansão, sugerindo continuidade da retomada.
Em particular, como tenho insistido já há algum
tempo,
a redução persistente da taxa real de juros (de 7% há um ano para menos de 4%
agora), resultado da queda da inflação, é a causa mais provável da recuperação.
Notando ainda que seus efeitos costumam aparecer com defasagem ao redor de seis
meses, é bastante razoável concluir que ainda há impulso a se materializar na
segunda metade do ano, ou seja, devemos testemunhar um desempenho um pouco
melhor à frente, longe de espetacular, mas sólido o bastante para nos levar a
terreno positivo ainda em 2017 e mais vigoroso em 2018.
Não se segue, contudo,
que nossos problemas estejam superados. Muito embora haja condições para uma
retomada moderada nos próximos 18 a 24 meses, o comportamento das contas
públicas permanece como fonte constante de ansiedade e mais ainda após a
revisão das metas fiscais para o período 2017-20.
Mesmo com taxas reais
de juros mais baixas, a se confirmarem os números ali previstos, o governo a
ser eleito em 2018 herdará uma dívida superior a 80% do PIB e a necessidade de
transformar o déficit primário de 2,3% do PIB (R$ 159 bilhões) em superávit de
1% a 1,5% do PIB (de R$ 70 a R$ 100 bilhões).
A eleição do ano que vem
pode ser, portanto, a mais importante pós-redemocratização do país: decidiremos
se vale a pena seguir o difícil caminho do ajuste, ou se optaremos pela
manutenção do status quo, que nos
trouxe à pior crise da nossa história.
A depender de nossos
políticos, que continuam lutando pelos lugares na janelinha enquanto o ônibus
marcha para o abismo, temo que o status
quo largue com ampla vantagem.
(Publicado 23/Ago/2017)