quinta-feira, 30 de abril de 2015
quarta-feira, 29 de abril de 2015
As tartarugas fujonas
Há certa insistência,
correta a propósito, para que a presidente faça o mea culpa sobre a tal da “nova matriz macroeconômica”, hoje órfã de
pai e mãe, já que não há, nas hostes “desenvolvimentistas”, quem tenha coragem
de assumir a responsabilidade por seu estrondoso fracasso. Argumenta-se que, ao
reconhecer seus erros, a presidente melhora a percepção acerca de seu
compromisso com a nova política econômica, o que pode, em tese, contribuir para
a redução dos custos a ela associados, sem, é claro, eliminá-los.
Curiosamente, o Banco
Central tem escapado ileso desta cobrança. Considerem, por exemplo, a
declaração de seu presidente, afirmando que “o BC foi, está e continuará sendo
vigilante com a inflação”.
Sério? Então só se pode
concluir que o BC andou vigiando alguma outra inflação (talvez a americana, quem
sabe a europeia), porque a brasileira já fugiu faz tempo, segundo as más
línguas em companhia das duas tartarugas a quem competia também sua guarda (uma
terceira engravidou e o BC não sabe quem é o pai).
A verdade é que o BC
posa como se a inflação média de 6,2% ao ano observada entre 2011 e 2014 não
fosse sua responsabilidade. Destes longos 48 meses, em apenas oito deles (entre
março e outubro de 2012) a inflação ficou a menos de um ponto percentual da meta,
mas, segundo o BC, nada disso lhe diz respeito.
Pela sua particular
mitologia, a culpa foi sempre de algo fora do seu controle. A chuva, a falta de
chuva, o aumento de preço das commodities,
a queda dos preços das commodities,
assim como o gramado, nunca nas condições ideais para a prática da política
monetária.
Em momento algum o BC,
seja na figura de seus diretores, seja por meio de seu presidente, teve a
grandeza de vir a público e admitir que sua própria postura fosse equivocada.
De meados de 2011 ao
início de 2013, como se sabe, o Copom embarcou num processo de redução das
taxas de juros, mesmo em face de inflação acima da meta. Conscientemente ignorou as expectativas de
inflação, que sugeriam a persistência deste processo, notando, de passagem, que
o mercado foi até otimista (a inflação observada ficou algo como 0,5% ao ano em
média mais elevada do que o previsto pelos analistas). Desconsiderou alertas em
contrário, crente na superioridade da sua visão.
Quando finalmente se
rendeu às evidências e começou, tardiamente, o processo de aperto da política
monetária, o fez de forma relutante. Interrompeu o ajuste por nada menos do que
seis meses, de abril a outubro de 2014, e só o retomou, por coincidência ou
não, depois de passado o segundo turno das eleições presidenciais.
Ao longo do processo
sua comunicação foi errática, sinalizando pausas que não se concretizaram, “longos
períodos de estabilidade” que, na prática, duraram um par de meses, e completa
falta de sintonia com o comportamento da inflação.
Não é outro o motivo da
extraordinária perda de credibilidade. Embora o BC jure hoje, por todos santos,
orixás e deuses dos mais variados panteões, que busca trazer a inflação de
volta para a meta de 4,5% em 2016 (e há quem ainda se digne a propagar
a história),
a média dos analistas vê inflação na casa de 5,6% no ano que vem.
Esta diferença, 1,1
ponto percentual, é uma medida da (perda de) credibilidade; um BC crível
obteria do mercado expectativas próximas à meta num horizonte tão longo (20
meses).
A afirmação de seu
presidente sugere que não há mudança na postura do BC. Se já era vigilante e a
inflação escapou, o que mudou para nos convencer que, daqui para frente, tudo
vai ser diferente?
Caso o BC queira
recuperar, ao menos em parte, sua credibilidade, será necessário, em primeiro
lugar, reconhecer que errou no passado e que a consciência deste equívoco
desempenhará papel importante na formulação futura da política monetária.
Enquanto isto, se
acharem duas tartarugas fujonas e o pai das tartaruguinhas, o BC agradece.
Tá explicado... |
(Publicado 22/Abr/2015)
quinta-feira, 23 de abril de 2015
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Aqui se paga
É difícil conseguir uma
fotografia completa do mercado de trabalho no Brasil. Desde 2002 o IBGE conduz
a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), cobrindo seis
regiões metropolitanas do país, que correspondiam em fevereiro a um universo de
pouco mais de 43 milhões de pessoas em idade ativa (nesta pesquisa definida
como todos acima de 10 anos).
Destes, algo como 24,3
milhões estão engajados no mercado de trabalho e pouco menos de 23 milhões
estão empregados. Restam 1,4 milhão de desempregados, ou seja, uma taxa de
desemprego equivalente a 6% da força de trabalho.
A representatividade
desta pesquisa, contudo, acaba sendo limitada pelo seu escopo geográfico. Recentemente,
porém, o IBGE passou a divulgar os resultados de uma pesquisa mais ampla (a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD Contínua), que cobre um
universo de 203 milhões de pessoas, das quais 164 milhões em idade ativa (aqui
definida como os maiores de 14 anos).
De acordo com a PNAD, no
trimestre terminado em fevereiro perto de 100 milhões de pessoas participavam
do mercado de trabalho, das quais pouco mais de 92 milhões estavam empregadas.
Assim, os desempregados correspondiam a 7,4 milhões, ou seja, uma taxa de
desemprego de 7,4%, superior à registrada pela PME, provavelmente mais próxima
à taxa “verdadeira” do que a estimada pela PME (trata-se, é bom lembrar, de
estimativa a partir de uma amostra, não de entrevistas com mais de 200 milhões
de pessoas). A evolução da taxa de desemprego medida pela PNAD é representada
pela linha negra no gráfico.
Fonte: IBGE (ajuste sazonal pelo autor) |
A nova pesquisa, porém,
se inicia apenas em 2012, o que impossibilita uma análise de prazo mais longo
para o mercado de trabalho. De qualquer forma é possível observar certo padrão
da evolução da taxa de desemprego ao longo do ano: ela tem sempre um pico no
primeiro trimestre e cai tipicamente até o trimestre findo em novembro, quando
retoma a trajetória ascendente.
Com base neste padrão
(e um gigantesco salto de fé) é possível “limpar” os números das influências
sazonais e produzir uma estatística que permita comparar o desemprego
registrado, digamos, em março àquele anotado em novembro. Em jargão, trata-se
do número “dessazonalizado”, ou seja, livre do sobe-e-desce que se deve apenas
à passagem do calendário. Podemos assim analisar de forma mais rigorosa a
evolução mensal do desemprego (a linha vermelha no gráfico).
Daí se depreende que a
taxa dessazonalizada de desemprego, depois de recuar até 6,6% no trimestre
terminado em fevereiro de 2014, teria se elevado de forma contínua até o mesmo
período em 2015, atingindo 7,2%, de volta aos níveis registrados em meados de
2013.
Observa-se, é verdade,
o mesmo fenômeno de redução da participação no mercado de trabalho (o abandono
da busca de emprego) sobre o qual escrevi há algumas semanas, mas ele foi
parcialmente revertido desde julho do ano passado, ajudando a elevar a taxa de
desemprego.
Posto de outra forma,
números de maior abrangência indicam que a piora do mercado de trabalho não é
um acontecimento restrito aos últimos
poucos meses, mas que se estende há um ano, na esteira da desaceleração do
crescimento.
Isto dito, a PNAD
revela um desenvolvimento desconcertante: apesar da deterioração do mercado,
salários nominais não apenas seguem crescendo, mas têm se acelerado de meados
de 2014 para cá, aumentando pouco mais de 8% na comparação com o mesmo período
do ano passado, pressionando adicionalmente a inflação, em particular a de
serviços.
O descaso do BC para
com a meta fez com que trabalhadores, ao invés de se fixarem nela, passassem a
usar tanto a inflação passada como as elevadas expectativas sobre a inflação
futura para reajustar seus salários. Assim, o custo em termos de aumento do
desemprego para reduzir a inflação se tornou muito maior do que seria com
expectativas ancoradas. Não foram poucos os alertas a respeito; pagamos agora o
custo do descaso.
(Publicado 15/Abr/2015)
quinta-feira, 16 de abril de 2015
quarta-feira, 15 de abril de 2015
De pesos e medidas
Na semana passada fui
convidado a debater a tese do governo, que atribui o mau desempenho da economia
brasileira à desaceleração global. Obviamente discordo deste diagnóstico e os
18 leitores já foram submetidos mais de uma vez ao tema. Podem, porém, ficar
aliviados, porque não pretendo tratar do assunto mais uma vez.
A discussão, contudo,
me fez pensar acerca dos argumentos que são normalmente utilizados pelo governo
e seus partidários, em particular o pouco respeito que costumam reservar à
coerência e consistência interna. Parece um pouco abstrato, mas, se me derem um
tanto de crédito, acredito que a questão se elucida em um parágrafo ou dois.
Tome-se, por exemplo, a
tese da desaceleração doméstica versus o crescimento mundial. Independentemente
de sabermos se houve, ou não, menor expansão global que possa explicar nosso
fraco desempenho recente (não houve, caso queiram saber), será que os
proponentes da tese estariam dispostos a defendê-la em circunstâncias distintas?
Em particular, governo
e partidários admitiriam que o crescimento observado no período 2003-2010
resultaria do impulso global, ou insistiriam que decorreu da liderança
inspirada do presidente Lula durante seu governo? A pergunta é retórica, claro,
pois já sabemos que a resposta é a segunda alternativa.
Isto dito, se creem que
o crescimento do país lá atrás resultou de seus acertos, como seria agora
possível argumentar que a desaceleração vem de fora, e não dos erros de
política econômica? Eu ganho, nós empatamos e vocês perdem?
Também na questão
inflacionária a assimetria impera. Assim, hoje o BC atribui a aceleração e a
persistência da inflação à “mudança de preços relativos”, apelido do aumento de
preços administrados e da desvalorização da moeda. Todavia, quando a variação
de preços administrados caiu a 3,6% (em 2012) e 1,5% (em 2013), o BC não veio a
público externar sua preocupação com uma inflação ainda na casa dos 6% ao ano, apesar da ajuda extraordinária dos
preços administrados. Pelo contrário, comemorou que a variação do IPCA não
havia ultrapassado o limite de 6,5%.
Diga-se, aliás, que a
assimetria de análise do BC não se limita ao comportamento dos preços
administrados. Ao dólar mais caro se atribui a inflação mais elevada, mas, ao
mesmo tempo, o BC sugere que, no futuro, o repasse do dólar para a inflação
será menor. Portanto, para o BC o dólar caro é causa da inflação passada, mas,
de alguma forma, não fará rodar os moinhos da inflação futura...
E, para não afirmarem
que foco exclusivamente no governo, aproveito o ensejo para lembrar artigo de
Yoshiaki Nakano em que o autor afirmava: “Numa política monetária (sic) de metas de inflação é muito mais razoável considerar as taxas
médias dos últimos três meses como medida de inflação do que a taxa acumulada
de inflação dos últimos 12 meses, como faz o Banco Central do Brasil”.
Dado que a inflação do
primeiro trimestre deste ano deve ficar em torno de 1,3% ao mês (algo como 17%
ao ano!), procuro fervorosamente artigos de Nakano que demonstrem alguma apreensão
com o ritmo de aumento de preços, da mesma forma que argumentava que a inflação anualizada dos três meses terminados em julho
de 2014 já estava abaixo da meta. Não se preocupem, porém, pois não cheguei
(nem chegarei) a perder o sono por não ter encontrado nenhuma palavra dele a este
respeito.
A isto se somam todos os que defenderam incondicionalmente a política
econômica
em vigor nos últimos anos e que agora posam de críticos ferozes, numa tentativa
desajeitada de se distanciar do fracasso.
Não haveria, num mundo
ideal, condições para estas instâncias de desonestidade intelectual. Como não é
nele que vivemos, porém, resta apontar as incoerências e as inconsistências, na
vã esperança que, da próxima vez, ao menos passem a pensar com mais cuidado nas
consequências lógicas das suas próprias “análises”.
(Publicado 8/Abr/2016)
quinta-feira, 9 de abril de 2015
quarta-feira, 8 de abril de 2015
A dieta heterodoxa
Uma das grandes
bobagens alardeadas ultimamente, talvez a maior delas, é a ideia que a recente
mudança da política econômica representou a capitulação da presidente à pressão
dos mercados.
Não há quem duvide de
sua sujeição, abandonando o conjunto de políticas em que acreditava (e
possivelmente ainda acredita) em favor do retorno, algo envergonhado é verdade,
a alguns dos princípios que nortearam a economia até 2008-2009.
Basta, porém, um rápido
exame dos números acerca do desempenho do país para perceber que a rendição não
se deve às pressões de mercado, mas às evidências irrefutáveis sobre o fracasso
retumbante da política econômica adotada nos últimos anos.
Não me refiro aqui
apenas ao “pibículo”, que registrou expansão (?) de apenas 0,1% no ano passado,
a mais baixa desde a crise de 2008-2009. Mais relevante que o mau desempenho
num ano é a queda persistente do ritmo de crescimento da economia brasileira de
2010 para cá.
Segundo os novos
números do IBGE, a expansão média do país no primeiro governo Dilma atingiu
apenas 2,1% a.a., contra 4,0% a.a. registrado nos oito anos anteriores. Aliás,
pela metodologia antiga, que permite uma comparação mais nítida, a queda teria
sido ainda maior, pois a expansão média mal teria superado 1,5% a.a.. (Não faço
aqui, é bom deixar claro, qualquer crítica ao trabalho do IBGE; apenas noto que
se trata de comparação mais apropriada por serem estimativas calculadas sob as
mesmas premissas).
Em linha com este
desenvolvimento o ritmo de expansão do emprego caiu de 2,5% a.a. (quase 1% a.a.
superior ao crescimento da população em idade ativa), para 1,2% a.a., igual ao
da população em idade de trabalhar. Desde 2013, porém, a geração de empregos deixou
de ser suficiente para absorver o crescimento populacional e, como já notado aqui, foi apenas a redução
da busca de emprego pela parcela mais jovem da população que adiou a elevação
agora observada da taxa de desemprego.
A inflação, mal e mal
contida a golpes desajeitados de controles de preços e, de 2013 para cá, pela
venda de dólares por parte do BC, não deixou de acelerar. Apesar da redução na
marra das tarifas de energia e da política suicida de preços dos combustíveis,
que contribuíram para colocar a Petrobras na situação triste em que se
encontra, preços subiram ao ritmo de 6,2% a.a. entre 2010 e 2014, em contraste
com os 4,7% a.a. observados no quinquênio anterior, sugerindo, a propósito, que
tanto a história de “inflação estrutural”, como a suposta inadequação da meta
de inflação são proposições dignas de inclusão no rol das grandes besteiras.
Por fim, o déficit
externo, que havia ficado em torno de 1,3% do PIB de 2007 a 2010, saltou para
mais de 3% do PIB entre 2011 e 2014, superando 4% do PIB no ano passado.
À luz deste desempenho,
apenas pessoas com forte deficiência cognitiva, ou cujos antolhos escondessem
estrategicamente estes desenvolvimentos, poderiam acreditar que a política
econômica do primeiro governo Dilma fosse sustentável.
De fato, não é preciso
muito para ver que a continuidade desta política levaria a crescimento ainda menor,
desemprego mais alto, aceleração inflacionária e desequilíbrios externos também
crescentes. Não foi o mercado financeiro que levou à capitulação; foi a
realidade.
É verdade que a
política econômica atual terá custos, seja em termos de crescimento e emprego,
seja mesmo no que se refere à inflação, dada a necessidade de corrigir os
preços represados.
O bê-á-bá da análise
econômica, contudo, exige que este custo seja comparado àquele que resultaria
da manutenção da política anterior, e não há dúvida que corrigir os desmandos
dos últimos anos custará bem menos do que continuar a praticá-los.
Nossos keynesianos de
quermesse engordaram o paciente além da conta, mas rejeitam a dieta por ser
custosa; a cura, para eles, é seguir se empanturrando.
Dieta é antipovo...
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(Publicado 1/Abr/2015)
sexta-feira, 3 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Palpite infeliz
O Banco Central promete
(ou talvez não, como veremos) que a inflação no ano que vem voltará a 4,5%, a
meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Eu bem que gostaria
de acreditar (não, minto: me divirto muito mais duvidando), mas, para ser
sincero, esta não é a primeira vez que ouvimos esta promessa.
De fato, entre agosto
de 2011 e agosto de 2012, enquanto reduzia a taxa de juros ininterruptamente, o
BC bem que tentou garantir que sua postura não ameaçaria o cumprimento da meta.
Assim, ao longo daquele período as atas das reuniões do Comitê de Política
Monetária (Copom) afirmavam: “o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os
efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no
nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação
para a meta em 2012”.
No entanto, a inflação
em 2012 atingiu 5,84%, mesmo ajudada pela mudança na metodologia do IPCA, sem a
qual a medida de inflação teria chegado a 6,54% naquele ano.
Apesar do fracasso
evidente, o BC não se entregou. Em outubro de 2012, reconhecendo que o ano
estava perdido, afirmava: “o Comitê entende que a estabilidade das condições
monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia
mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que
de forma não linear”. Em português, apostava que a manutenção da Selic no
patamar então vigente (7,25% aa) seria suficiente para fazer a inflação
retornar à meta (mas não vou me aventurar a traduzir o que seria uma
“convergência não linear”).
Não foi. Tanto que,
apesar de manter a promessa na ata até janeiro de 2013, já em abril daquele ano
voltava a elevar a Selic e afirmava: “o Comitê avalia que essa decisão contribuirá para
colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no
próximo ano”.
Água de novo. A
inflação em 2013 subiu para 5,96% e manteve a trajetória crescente ao longo de
2014, batendo em 6,41%.
Mesmo assim o BC
interrompeu o ciclo de aumento de juros em abril de 2014 e redobrou a aposta: “o Comitê antecipa cenário que
contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as
condições monetárias – isto é, levando em conta estratégia que
não contempla redução do instrumento de política monetária – tende a entrar em
trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de
projeção”.
Traduzindo, “agora está
difícil, mas, se mantivermos a Selic nos níveis de hoje, a inflação volta a
cair”.
Ainda não foi desta
vez. Não é por outro motivo que, na primeira reunião após as eleições, o BC
voltou a aumentar a taxa de juros, garantindo em janeiro deste ano que “decisões futuras de política
monetária serão tomadas, com vistas a assegurar, no próximo ano, a convergência
da inflação para a meta de 4,5% estabelecida pelo CMN”.
O compromisso foi reiterado em
março,
com pequena, porém notável, alteração, pois agora o BC assegura a convergência
para a meta “ao longo do próximo ano” (não mais “no próximo ano”).
Frente a este histórico,
nada mais saudável que o ceticismo acerca da capacidade, e mesmo da intenção,
de o BC entregar a inflação na meta ano que vem.
Neste sentido, a
afirmação de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC (e um amigo a quem
prezo muito) sobre Alexandre Tombini falar de inflação na meta desde 2011 e
nunca entregar, é, como mostrado acima, apenas uma constatação factual.
Promessas não faltaram; faltou ação coerente com elas.
É, portanto, lamentável
que, ao invés de rebater estas críticas mostrando elementos que pudessem
justificar que “desta vez será diferente”, o BC tenha preferido atacar o
histórico do Pastore na presidência da instituição, em que enfrentou problemas
muito mais graves que os atuais.
Pastore entregou o país
melhor do que estava quando assumiu a tarefa. Tombini não pode, nem de longe,
afirmar o mesmo.
Do ano que vem não
passa...
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(Publicado 25/Mar/2015)