Entre 2007 e 2011 a parcela dos produtos primários na pauta de exportações brasileiras deu um salto de 16 pontos percentuais (de 32% para 48% do total). Tal ganho se deu à custa da participação das manufaturas, que caiu os mesmos 16 pontos percentuais (de 52% para 36% do total). Esta evolução levou aos gritos de desespero acerca da “desindustrialização” do país e nossa inexorável reversão à categoria de “meros” produtores de matérias-primas, augúrio da decadência irreversível da economia nacional.
Ou não. Como de hábito, a aversão de grande parte (senão a totalidade) dos nossos keynesianos de quermesse aos dados os faz perder de vista um desenvolvimento óbvio, mas que explica muito do que ocorreu nos últimos anos.
Refiro-me, é claro, à elevação extraordinária dos preços de produtos primários, cujo efeito sobre as exportações destes produtos não pode ser ignorada, como tem sido, sob pena de perda significativa de entendimento do processo. Entre 2007 e 2011 os preços de produtos primários praticamente dobraram, enquanto os preços de manufaturas aumentaram muito menos, apenas 35%. Este desenvolvimento não foi exclusivo do Brasil, já que globalmente os preços de matérias-primas (exceto energia) cresceram 39% contra 14% no que diz respeito às manufaturas, segundo as estimativas do CPB.
Contra este pano de fundo, não é necessário grande salto de imaginação para concluir que, mesmo se as quantidades exportadas não se alterassem, a participação dos primários deveria crescer consideravelmente. Com um pouco mais de esforço é possível construir uma metodologia que decomponha a evolução da parcela de manufaturados no total exportado entre os efeitos derivados de quantidades e os efeitos oriundos dos preços (assim como da interação entre ambos, que, de qualquer forma, é pouco relevante), essencialmente medindo seu desempenho com relação a preços e quantidades médios. Os resultados estão resumidos no gráfico.
Fonte: Autor (com dados do MDIC e Funcex) |
Como se pode ver, exceto pelo ocorrido em 2009, a queda da participação dos manufaturados (consequentemente, a elevação da participação de primários) resultou essencialmente da redução dos preços desses bens relativamente ao preço médio das exportações, com escassa contribuição das quantidades de manufaturados, que cresceram em linha com as quantidades totais.
É verdade, contudo, que em 2009 houve uma forte contribuição negativa do quantum de manufaturados, mas não é difícil entender o porquê. Com efeito, entre setembro de 2008 e dezembro de 2009 as importações dos EUA, da União Europeia e da América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela) caíram de US$ 5,1 trilhões para US$ 3,7 trilhões. Consequentemente as exportações de manufaturas brasileiras para tais mercados despencaram de US$ 69 bilhões para US$ 47 bilhões. Já em 2011 as importações destes mercados retornaram a US$ 5,1 trilhões e as exportações de manufaturas, não por acaso, voltaram a US$ 68 bilhões.
Em outras palavras, o colapso das exportações de manufaturas em 2009 (portanto a contribuição negativa das quantidades) esteve intimamente ligado ao colapso das importações em nossos principais mercados, responsáveis pela absorção de 75% das vendas desses produtos. Com sua recuperação observamos um rebote praticamente idêntico das exportações, fato que não parece lá muito consistente com a ideia de perda de competitividade.
Em contraste, as importações dos principais mercados das exportações brasileiras de produtos primários – que haviam caído de US$ 5,8 trilhões para US$ 4,3 trilhões de setembro de 2008 a dezembro de 2009 – alcançaram US$ 6,3 trilhões no ano passado, superando amplamente os níveis pré-crise e, é claro, trazendo as exportações de primárias para US$ 74 bilhões, patamar consideravelmente superior ao observado às vésperas da crise (US$ 41 bilhões).
Ou seja, apesar do crescimento mais vigoroso dos mercados importadores de produtos primários relativamente aos importadores de manufaturas, entre 2009 e 2011 praticamente toda perda de participação destes produtos pode ser atribuída à redução de seus preços em comparação aos produtos primários.
Em suma, manufaturas perderam importância na pauta principalmente pela queda de seus preços relativamente aos primários e pela lenta recuperação dos principais mercados. Por outro lado, a participação de manufaturas nesses mercados caiu apenas marginalmente entre 2007 (1,39%) e 2011 (1,32%), indicação que “competitividade” não parece, nem de longe, ser o problema. Mas quem está disposto a fazer conta se, de antemão, chegou às conclusões que desejava?
Jovem keynesiana de quermesse mostra sua intimidade com os números... |
* * *
Cortesia do Sachsida para este post. No caso, ilustrando a contribuição marxiana à aritmética.
(Publicado 3/Mai/2012)
56 comentários:
O empresariado brasileiro acostumou-se a ser protegido pelo estado, mantendo-se ineficiente, entregando porcarias caras aos brasileiros.
Trabalhei em uma empresa nacional que nao percebera a mudança causada pela abertura em nossa economia, e continuava tratando o cliente como detalhe (muitas vezes incômodo, pois reclama!)...
Herança da política de substituição de importações de decadas passadas.
Alex,
Somando este post a anteriores, foram expostos argumentos sólidos que desmitificam a tal "desindustrialização": 1) a manutenção da nossa participação na importação de manufaturados por parte de nossos clientes; 2) a valorização de produtos primários, levando ao seu aumento na participação de nossas exportações.
Você poderia, então, elaborar mais sobre as razões que levam muitos economistas (alguns renomados) a insistir nesta afirmação.
Datafobia Octavio. Levantar estes números dá um trabalho...
E, sério, alguns desses economistas renomados nunca se preocuparam em checar suas afirmações contra dados...
"Você poderia, então, elaborar mais sobre as razões que levam muitos economistas (alguns renomados) a insistir nesta afirmação."
Nao podemos nos esquecer que defender os interesses dos ricos e poderosos raramente eh uma atividade exercida gratuitamente.
Alexandre,
A política monetária é mesmo um poderoso instrumento de atuação no ciclo econômico? Tenho muitas dúvidas...
As vezes chego a acreditar que a popularidade da política monetária é muito superior ao seu alcance.
Por exemplo, a economia brasileira cresce a despeito de taxas elevadas de juros (taxa real está em torno de 3,4% descontando da taxa nominal expectativas 12 meses à frente). A própria economia chinesa está com uma taxa de juros real de 2,9% e cresce a todo vapor...
Sei lá, é apenas uma dúvida... O que você acha?
Deve ficar claro nesse blog que o O Anônimo é o Irineu de Carvalho Filho...
Deve ficar claro nesse blog que o O Anônimo é o Fabio Kanczuk... Foi só ele criar um blog que O Anônimo sumiu
Mais uma vez parabéns. Faz bem ao país uma voz clamar pela razão.
Até aceito que a turma da FIESP defenda seus interesses (é aceitável). Inaceitável é o imposto sindical obrigatório pago por todo pequeno empresário para sustentar a FIESP e outros.
Inaceitável também é ver um economista formado na PUC - RIo, com doutorado nos USA (professor da federal da capital) defender protecionismo e câmbio artificialmente desvalorizado (administrado).
"Inaceitável também é ver um economista formado na PUC - RIo, com doutorado nos USA (professor da federal da capital) defender protecionismo e câmbio artificialmente desvalorizado (administrado)."
Quem falou esta barbaridade?
O JLO, joreiro.
Não tem doutorado nos EUA...
Incrível que ninguém considera a hipótese que “O” pode ser uma piada, pois é uma economista anônima. Bem, se for quem eu penso, nem tão anônima assim.
Eu gostaria que o articulista mudasse o enfoque. Em vez de focar no tema "desindustrialização", que parece ter várias interpretações, a depender do freguês, que tal analisar o impacto da atual tendência no emprego e na sustentabilidade no médio e longo prazos.
O agronegócio é a indústria maior e mais importante do mundo. É responsável por 50% da produção econômica global, 60% do emprego global e 70% de toda a terra e uso da água. O Agronegócio tem sido a base da sociedade desde o fim da idade da pedra, e ainda hoje é o principal motor a utilizar de todo o tipo de progresso tecnológico.
Marcos Melo
Sou aluno do doutorado em desenvolvimento economico na UFPR. Na aulas de desenvolvimento temos discutido muito essa relacao da desindustrializacao, e as medidas do governo para diminuir o spread bancario. O Brasil é o unico pais a ter um compulsorio desse, e os impostos, e legislacao que impede uma cobranca mais eficiente, ainda temos o apoio que o governo deu para as fusoes entre os bancos. E a Dilma quer baixar os juros na pressão. Enquanto o governo usar medidas Keynesianas para criar instabilidade teremos um país dessa forma, inefeciente.
Alex, acho você um mala.
Tenho a impressão que algumas figurinhas têm se recusado a participar de debates quando você é um dos convidados. A culpa não é sua.
Cada um raciocina dentro do seu cercadinho mental e o seu cercadinho é um pouco maior.
Em debates com toupeiras, você parece arrogante, mas as questões que você apresenta são mais úteis e normalmente melhor embasadas.
Isto dito (gostou?), imagine que estamos em alto-mar e o barco em que estamos vai fazendo água.
Você diz que não tem importância porque a relação água do mar/água dentro do barco continua a mesma.
Mas não é isso que eu quero saber. A relação talvez continue a mesma porque as geleiras estão derretendo ou há um dilúvio colossal.
O que me interessa é saber se barco vai afundar e eu com ele. Entendeu, ou preciso desenhar?
Só uma coisa a dizer: Obrigado!
Estou aprendendo .
Complementando..
Apreendendo e me divertindo muito com as tiradas do Dr.Alex e com os cometários hilários na busca desenfreada em descobrir quem é "o"
Alex: Você tem razão, o doutorado dele é na UFRJ (orientador o Cardim). Na minha memória estava registrado uma leitura deste doutorado dele nos USA (é mais um dos chutes que lemos por aí). É muita demagogia ou embotamento analítico prestigiado pela imprensa (é diferente de entendimento divergente).
eh Alex, eh realmente muito dificil para os neo-populistas entenderem teoria das vantagens COMPARATIVAS. quando nao exportavamos a culpa era do cambio, agora que exportamos a culpa eh do cambio.
Eles deveriam fazer analise para entender porque tanto fetiche pelo cambio.
"Incrível que ninguém considera a hipótese que “O” pode ser uma piada, pois é uma economista anônima. Bem, se for quem eu penso, nem tão anônima assim."
Incrível mesmo é alguém perder o tempo pensando em quem é o "O".
Bom, parece que fica mais clara a desnecessidade de isenções, subsídios e desonerações fiscais aos borbotões com solenidades, como foi feito até agora.
Concordo quando você diz que o preço dos manufaturados que exportamos têm caído. Mas é justamente ai que está o problema! Nossos manufaturados tem baixo valor agregado, nossa indústria está presa na década de 80 ainda! A desindustrialização que está acontecendo é justamente pela tecnologia ter evoluído tanto e nós ainda exportamos basicamente componentes automotivos!
Caro Alexandre,
primeiramente, muito bom o texto!
Seria muita intromissão perguntar qual a metodologia utilizada na decomposição dos efeitos?
"O que me interessa é saber se barco vai afundar e eu com ele. Entendeu, ou preciso desenhar?"
Como notaria Arquimedes, se a relação água dentro/água fora não se altera, barco não afunda (é, sou um mala mesmo)
Saindo do reino das metáforas, o ponto do artigo é precisamente que a alteração da pauta NÃO é sintoma de desindustrialização. Os primários crescem mais em boa medida porque seus preços aumentaram mais.
Não há um colapso da exportação de manufaturas. Pelo contrário, quando as importaçoes dos principais mercados voltaram aos níveis pré-crise, assim o fizeram nossas exportações de manufaturas.
E sei lá se alguém se recusa a debater comigo. Se sim, trata-se de um babaca. Onde estudei ninguém amaciava na dividida.
Oi João:
Me me mande um e-mail (alexandre.schwartsman@hotmail.com) e eu mando o relatório com todas as contas. Não é nada demais.
Abs
"Como notaria Arquimedes, se a relação água dentro/água fora não se altera, barco não afunda (é, sou um mala mesmo)"
Mas mestre, terei eu de desenhar mesmo. Não é o meu forte.
Se o oceano cresce pelo derretimento das geleiras, o barco recebe mais água. É um problema porque a relação continua a mesma mas o meu barquinho tem um limite e eu não sou suicida.
Não me despreze porque sou sensível.
Abraços
Rueful Ben
Alex,
Voce acha que os caras da FIESP estão jogando ou acreditam mesmo na desindustrialização?
"Se o oceano cresce pelo derretimento das geleiras, o barco recebe mais água. É um problema porque a relação continua a mesma mas o meu barquinho tem um limite e eu não sou suicida."
Mude de metáfora, porque esta não tem nada a ver com o problema que você diz estar preocupado.
O que eu disse (e os dados mostram) é que o aumento da parcela de produtos primário não resultou de queda da exportações de manufaturas (exceto em 2009), mas do seu ótimo desempenho, que superou o bom desempenho de manufaturas. Ergo, tomar a mudança da composição da pauta como sinônimo de desindustrialização é sintoma de cretinice.
Alex, o passado eu conheço. Me interessa é o futuro. O que eu gostaria que você analisasse é se a tendência atual é inevitável e vantajosa no longo prazo e o que aconteceria com um choque externo, como o fim desse boom de produtos primários. Não ponha no cálculo somente exportações. Analise setorialmente, se possível, o desempenho industrial.
Rueful Ben
É possível fazer estudo semelhante comparando efeito das quantidades e dos preços na composição do PIB?
Não sei bulhufas de contas nacionais nem de deflator do PIB etc (Não significa que eu seja Keynesiano!), mas imagino que o cálculo não elimine por completo a elevação nos preços de commodities e serviços.
A pauta de exportacao brasileira eh certamente relevante para explicar o dinamismo e as caracteristicas da economia do meu ponto de vista nao diz grandes coisa sobre o fenomeno da desindustrializacao, uma vez q nao fala sobre a industria q produz para vender no mercado interno. A pauta de exportacao pode continuar identica do ponto de vista do quantum, mas a industria q produz pro mercado interna pode estar quebrando inteira por falta de competitividade
Além da datafobia muito bem apontada pelo Alex, acho importante chamar a atenção para outra questão importante não tem sido debatida.
De onde vem a tara desses economistas pela industria?
Pq esses caras não veem que com nossas condições estruturais seria muito mais vantajoso apostar na produção de commodities que temos vantagens?
Pq não incentivar ganhos de produtividade na agricultura ou na produção de minério?
Acho que a pergunta já não deveria mais ser se estamos ou não em um processo de desindustrialização, mas uma bem mais simples: pq industria?
Muitos professores da UFMG (um centro bem heterodoxo) sentem calafrios ao ouvir o exemplo da Austrália. Pq será hein??
Alex,
se "tomar a mudança da composição da pauta como sinônimo de desindustrialização é sintoma de cretinice", não seria sintoma de cretinice dar a entender, como ocorre no seu texto, que a desindustrialização não está ocorrendo porque em quantum a pauta de exportação não se alterou e acompanhou o crescimento das importações dos países de destino?
Não seria interessante ampliar sua análise mostrando o que está ocorrendo com o crescimento em quantum dos manufaturados produzidos no país e destinados ao mercado interno em comparação com o crescimento do próprio mercado interno?
Abs,
Madoffilho
Flavio Dias, por que não a indústria?
Isso não quer dizer que ela tenha de ser paparicada, carregada no colo com desonerações, isenções, subsídios e crédito farto e barato etc.
Ninguém deve comprar um "made in Brazil", se este for tecnologicamente defasado e mais caro.
Mas, por que acabar com a indústria, ao invés de mostrar que ela deve reagir sem os citados "barrancos" (lugar onde encostar) oficiais?
Isso, em realidade, deixa claro que parece não haver "política industrial" no planejamento governamental.
Qual seria, afinal, o papel do MDIC e dos centros de tecnologia do País? Reverberar a tese do "tsunami financeiro"?
Transformar todo mundo em extrator e exportador de commodities, já passou-se por essa fase, não?
"Plantation", depois de séculos?
E de representante interno de manufaturas e bens de capital fabricados no exterior também.
Flávio Dias
Gostaria de poder elaborar melhor, mas o tempo é curto.
A questão das vantagens comparativas tem premissas verdadeiras. Outra coisa é a determinar se devemos apostar em uma pauta que pode mudar com o tempo. O modelo é simples para fins de estudo e raciocínio. A complexidade surge quando sabemos que as vantagens podem mudar com mudança de paradigma, concorrência ou condições de mercado. É sábio manter essa dinâmica quando sabemos que ela pode ser destrutiva no longo prazo. Que setores estão sendo prejudicados, quais estão sendo beneficiados, o que acontecerá quando a pauta for desfavorável. É possível aliar as duas coisas, melhorar o desempenho industrial como um todo e aproveitar as vantagens no setor de commodities? Se hoje produzimos coco não significa que isso seja eterno. Quando surgir outro produtor de cocos mais competitivo, nóis sifu.
O artigo do Alex apresentou informações importantes que batem de frente com essa questão da desindustrialização. Política industrial deve ser usada para ajudar alguns setores que por algum motivo são ineficientes? O governo deve subsidiar empréstimos do BNDES para criar multinacionais? Contudo, nota-se que quando o governo interfere no mercado, ele apenas determina "ganhadores" e "perdedores", pois ajuda alguns e prejudica outros. Com as medidas protecionistas desse governo voltaremos a usar "Kichute", dirigir "Fusca" etc.
eh de fato impressionante o fetiche por cambio e comercio exterior no brasil.Um pais com economia continental como o Brasil depende muito pouco de comercio exterior. Quase tudo que produzimos e consumimos eh produto interno. Ou seja a dinamica da economia depende mais de fatores internos. Estou errado?
Bom dia Alex!
Voce já ssistiu este video sobre juros? Pode dar uma opinião?
http://blog.kanitz.com.br/2012/05/novo-video-queda-de-juro-%C3%A9-sustent%C3%A1vel.html?utm_source=feedblitz&utm_medium=FeedBlitzEmail&utm_campaign=0&utm_content=550671
abs
Amauri,
Tive a liberdade de assistir o video sugerido. Esta visao do Kanitz é um tanto simplória. Até é verdade que se os juros cairem demais haverá problemas de financiamento do setor público, mas a compra de um título do governo envolve outras variáveis como: risco país, juros externos, expectativa de depreciação cambial etc. Também há o problema da caderneta de poupança, que o governo apresentou uma medida para isso. Contudo, o grande entrave para a queda da selic é o gasto do governo. Enquanto tivermos gastos nesse nível, não é possível baixar os juros sem precionar a demanda agregada. Devemos ficar atentos as "trapalhadas" do governo, pois perderemos o "bonde passando" novamente.
Alex......a questão mais relevante ai não me parece considerar o quanto os manufaturados cairam de fato em relação a pauta de exportações.....e sim a inércia do governo frente a tal equação......é fato que somos hoje muito mais dependentes das commodities na pauta de exportações......independente da rrlação manufatura/commodities....se as commodties forem pro brejo, como provável e, já em em curso, nossa balança comercial ficará pra lá de frágil......e isso eu não estou nem considerando o efeito do aumento de juros no longo prazo, tanto das taxas de juros americanos, como da LIBOR no interbancário europeu.......é fato que existe umaa correlação , aumento de taxa/queda das commodities........tanto as taxas de juros americanas, como a LIBOR daráo um salto.......visto em retrospectiva, esse salto tem ocorrido de 10 em 10 anos......exatamente agora em 2013-2014......a equação em qque o Brasil se meteu na balança comercial é muito mais perigosa do que tempos atrás..abraços
Flavio Dias disse: "(...) É possível aliar as duas coisas, melhorar o desempenho industrial como um todo e aproveitar as vantagens no setor de commodities?(...)".
Talvez este seja o desafio, não é? Porém, parece que não é e não será esse o caminho adotado pelo governo atual. Como não o foi pelo anterior.
Por exemplo, no governo anterior: 1) reverberou-se a revolução econômica com o etanol; 2) depois o diesel de mamona resgataria a agricultura familiar e seria, com o etanol, a salvação contra o aquecimento global; 3) depois, foi o pré-sal, motivando até ministro renegando entrar na Opep.
Conclusão: 1) nada deu certo para o etanol, que passou a ser importado em alguns momentos e deve sê-lo ainda hoje; 2)o diesel de mamona foi à falência, por inviabilidades técnicas e inadequação da mamona para o intento; 3) com o pré-sal, importamos gasolina, a balança do petróleo é deficitária, a Petrobras tem papéis desvalorizados etc.
Assim, repetindo: deve ser o desafio para estadistas, não é?
Senhores,
O professor Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge tem a opinião que Dilma esta sendo ate cautelosa, na mudanças. O que vcs acham?
Vejam:http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/5/7/2018dilma-deveria-ser-mais-rapida-e-agressiva2019
Prezados,
Interessei-me pelo artigo que saiu no jornal valor econômico pelo seu título. Durante a leitura, achei plausíveis os argumentos do autor, ao fazer uma análise sobre o quantum das exportações brasileiras, para verificar se está ou NÃO está ocorrendo o processo de desindustrialização no Brasil.
Entretanto, a afirmativa de que "a relação commodities/manufaturas em quantum de exportações não se reduziu no período" não significa que não esteja ocorrendo a desindustrialização no Brasil.
Alguem mencionou que se deve fazer uma análise setorial da indústria, concordo com isto plenamente.
Ademais, o texto parece inacabado, pois não há análise das IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS, que se elevaram consideravelmente e aí a relação quantum de commodities/manufaturas IMPORTADAS seguramente se reduziu.
Ou seja, o quantum das importações de manufaturas se elevaram no período, mas não somente pelo maior consumo das famílias, MAS PELA MAIOR DEMANDA PELA PRÓPRIA INDÚSTRIA. É aí que se torna fundamental uma análise setorial.
Ora, pois, se as exportações em quantidade se mantêm constantes, mas as importações sobem absurdamente em um setor específico, É TAUTOLÓGICO AFIRMAR QUE BOA PARTE DA INDUSTRIA NACIONAL ESTEJA ENGAJADA EM ATIVIDADE DE MONTAGEM E DE SIMPLES FINALIZAÇÃO DE UM PROCESSO PRODUTIVO, O QUAL SUA MAIOR PARTE, E PORTANTO MAIOR AGREGAÇÃO DE VALOR OCORREU LÁ FORA.
Desta forma há quebra de cadeia produtivas e pode-se constatar que o fenonemo de industrialização está ocorrendo em alguns setores como por exemplo: têxtil, calçados, móveis e brinquedos, ...
(não está ocorrendo na indústria extrativa, óbvio!)
Portanto, já que fui longa por não ter tido tempo de ser breve, segue o resumo da ópera:
A METODOLOGIA IDEAL PARA ANALISAR SE ESTÁ OCORRENDO OU NÃO DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL É ANALISAR O SALDO COMERCIAL DE CADA SETOR SEPARADAMENTE AO LONGO DO TEMPO, E NÃO SOMENTE AS EXPORTAÇÕES.
O aumento de componentes industriais importados é uma realidade factível. Muitas empresas se tranformaram em meras importadoras de produtos ("só colam umA etiquetinha" no final)
É só conversar com empresários daqueles setores mais vulneráveis mencionados. Ou mesmo ver os dados do emprego para constatar que o aumento no emprego está ocorrendo no setor de serviços.
MUDANDO DE ASSUNTO: Uma economia não deve pautar a maior parte das suas exportações em commodities pois seus preços têm volatilidade intríseca alicerçada pelos "mark ups" flexíveis no setor e baixa elasticidade-preço da oferta (diferente no setor industrial que têm capacidade ociosa para se ajustar às flutuações cíclicas) Ah, e tem atividade especulativa também.
Para finalizar, alguns economistas até podem ter datafobia, mas outros tem VIDAREALFOBIA.
Permaceço no aguardo de respostas/contestações.
Obrigada pela atenção,
CB
Esse cara so pode estar brincando: sucesso na Argentina... deve estar falando do Messi.
Em relação aos juros reais, se o governo continuar com essa política monetária frouxa, nossa inflação não ficará na meta, então teremos juros reais em 2%. Outra coisa, os heterodoxos não param de falar no câmbio. Acredito que o IED é mais relevante para a apreciação cambial do que o capital especulativo. Mas a minha preocupação é com essa ultima depreciação do câmbio, pois ainda não paguei a fatura do meu cartão. ahahah.
Alex,
Você sabe se tem estudos sobre o "exchange rate misalignment" no Brasil?
Alex
Essa pernóstica do Correio Braziliense fez o trabalho que era para você fazer. Mas que xereta!!!
No mais, eu me amarro no seu relógio. Qual a marca e modelo dele. Que negociar? Nunca mais dou pitaco no seu blog se você me der o relógio de presente.
Rueful Ben
Anônimo-8 de maio de 2012 03:16, esse "até cautelosa" é até meio assustador. Se não estivesse cautelosa, o que faria?
Estatizaria a Petrobras, por exemplo?
Não há cautelas não. Há, sim doses cada vez mais elevadas de niilismo na condução da economia.
São medidas voluntariosas uma atrás de outra. E elogios uns atrás dos outros. Resultado: popularidade em ascensão.
Nisso é que moram perigos.
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/5/7/2018dilma-deveria-ser-mais-rapida-e-agressiva2019
comenta ai vai...
Piada clássica: Isaac empresta um prato para o Jacó, que devolve o prato quebrado. Aí o Isaac vai reclamar:
Isaac: po Jacó, você devolveu meu prato quebrado!
Jacó: que prato? Olha, primeiro você não me emprestou prato nenhum. Segundo, quando emprestou já estava quebrado. Terceiro, eu devolvi inteiro!
Deveria ser apenas uma piada, mas é exatamente como os heterodoxos se comportam - especialmente no tema câmbio / indústria. O cara fala uma coisa sem sentido, e alguém aponta que é sem sentido; aí o cara pula para outra coisa sem sentido que não está de acordo sequer com a afirmação anterior. O processo é interminável, dado que a conclusão está pronta.
Agora é essa bobagem de "a maior parte da agregação de valor foi no exterior". E o melhor: basta conversar com empresários dos setores vulneráveis... alguém chama isso de ciência? É assustador saber que nossa política econômica é baseada nesse tipo de raciocínio.
Que tal mostrar os dados mostrando que a agregação de valor da indústria brasileira diminuiu? Sem bla bla bla - basta mostrar que isso está de fato ocorrendo.
Ei, Pedro, brutinho, melhor trato com a menina. É verdade que ela pode melhorar. Se tem formação recente, já demonstra bom preparo e se entrevê uma profissional madura no futuro.
Esse papo de agregação é mesmo lenga-lenga. Também é verdade que as vantagens comparativas fazem absoluto sentido do ponto de vista microeconômico. Já no conjunto da economia ela tem limitações. Não é que um país deve abster-se de privilegiar o setor primário. O que deve ser feito é impedir que outros setores se atrofiem a ponto de quando o ciclo de produtos primários chegar ao fim, haja uma substituição sem traumas.
No mais, o forte dela não é economia, é arquitura ou artes plásticas porque ela desenha que é uma beleza.
Prezada CB "que fui longa por não ter tido tempo de ser breve".
Você é economista? Eu não sou. Gosto de vir aqui e dar uns pitacos.
Meu senso comum diz que o aço é um insumo fundamental para indústria de transformação. Temos no Brasil capacidade instalada para produção de 50 milhões de toneledas/ano (a confirmar esse dado e balizar com o fato, que também carece de confirmação, que para baixar custo as usinas estão comprando minério e carvão siderúrgicos “mais baratinhos”, o que significa menor produção por volume útil do alto-forno). Em 2011, produzimos 35 milhões.
Faz-se aço a partir de ferro gusa (altos-fornos + aciaria) e aproveitamento de sucata, que nas usinas siderúrgicas é adicionada em um certo percentual ao gusa líquido, na aciaria.
Veja, CB, no blog, o post “Outro milhão de palavras” e observe o que ocorreu no gráfico após 1980, na base Brazil/Korea labor productivity, 1950-2010.
Depois, veja abaixo o que ocorreu na siderurgia após 1980 no Brasil, na Índia e na Coreia. O que aconteceu na China é um caso tão espetacular, do ponto de vista do crescimento da produção, que achei melhor deixar de fora. Para quem se interessar, basta acessar o site do World Steel, no link lá no final. Por uma outra face desse prisma, também é interessante observar a modestíssima (6,404 milhões/2011) produção de aço na Austrália, país reconhecidamente grande produtor de minério de ferro.
Ferro gusa é o produto do alto-forno (ferro com alto teor de carbono), que é levado no estado líquido para um conversor e transformado em aço.
O post do Alex propôs uma relação, isto é, trouxe os elementos de uma equação que os catastrofistas da desindustrialização simplesmente ignoram. Minha questão é singela, CB: se o aço é um componente não desprezível para a indústria de transformação, e considerando os números abaixo, qual o efeito da recente medida de “proteção da industrial nacional” contra os importados e a desindustrialiação ?
Os números do World Steel
1. Blast furnace iron production [ferro gusa]. In thousand tonnes
1980-1989 [Época da estatal Siderbras (1973): CSN+USIMINAS+COSIPA]
Brazil: 12,685; 10,791; 10,827; 12,945; 17,230; 18,961; 20,353; 21,335; 23,454; 24,363
India: 8,480; 9,465; 9,613; 9,087; 9,382; 9,701; 10,460; 10,808; 11,602; 11,930
South Korea 5,582; 7,935; 8,442; 8,024; 8,763; 8,833; 9,003; 11,057; 12,578; 14,846
World: 398,661; 387,732; 343,638; 345,277; 377,710; 387,790; 380,005; 392,121; 421,006; 428,852
1990-1999 [Época pós-Siderbrás]
Brazil 21,141; 22,695; 23,152; 23,982; 25,177; 25,021; 23,978; 25,013; 25,111; 24,549
India: 12,000; 14,176; 15,126; 15,674; 17,808; 19,025; 20,453; 21,096; 20,194; 20,139
South Korea 15,339; 18,510; 19,323; 21,777; 21,169; 22,344; 23,010; 22,712; 23,299; 23,329
World: 417,993; 413,082; 498,460; 501,196; 508,506; 524,243; 517,463; 546,646; 539,518; 541,060
2000-2009
Brazil: 27,723; 27,391; 29,694; 32,038; 34,558; 33,884; 32,452; 35,571; 34,925; 25,135
India: 21,321; 21,875; 24,315; 26,550; 25,117; 27,125; 28,256; 36,488; 37,313; 38,233
South Korea 24,937; 25,898; 26,570; 27,314; 27,556; 27,309; 27,559; 29,437; 31,043; 27,284
World: 576,253; 586,950; 611,134; 669,986; 719,204; 800,821; 881,123; 961,582; 951,171; 934,663
2010-2011 [para 2011 a base de países é pouco menor. Mas: the 40 countries included in this table accounted for approximately 99% of total world blast furnace iron [ferro gusa] production in 2010].
Brazil: 30,898; 33,243
India: 38,685; 38,900
South Korea: 35,065; 42,218
World: 1,035,414; 1,082,729
Continuação
2. Annual crude steel production [aço bruto]. In thousand tonnes
1980-1989
Brazil: 15,337; 13,226; 12,995; 14,671; 18,386; 20,455; 21,233; 22,228; 24,657; 25,055
India: 9,514; 10,765; 10,997; 10,237; 10,549; 11,936; 12,197; 13,121; 14,309; 14,608
South Korea: 8,558; 10,753; 11,758; 11,915; 13,034; 13,539; 14,555; 16,782; 19,118; 21,873
World: 568,460; 558,712; 498,402; 511,233; 556,008; 564,235; 553,430; 573,616; 617,065; 625,842
1990-1999
Brazil: 20,567; 22,617; 23,934; 25,207; 25,747; 25,076; 25,237; 26,153; 25,760; 24,996
India: 14,963; 17,100; 18,117; 18,155; 19,282; 22,003; 23,753; 24,415; 23,480; 24,296
South Korea: 23,125; 26,001; 28,055; 33,026; 33,745; 36,772; 38,903; 42,554; 39,896; 41,042
World: 615,993; 600,753; 719,797; 727,569; 725,106; 752,287; 750,090; 798,954; 777,330; 788,970
2000-2009
Brazil: 27,865; 26,717; 29,604; 31,147; 32,909; 31,610; 30,901; 33,782; 33,716; 26,506
India: 26,924; 27,291; 28,814; 31,779; 32,626; 45,780; 49,450; 53,468; 57,791; 63,527
South Korea: 43,107; 43,852; 45,390; 46,310; 47,521; 47,820; 48,455; 51,517; 53,625; 48,572
World: 848,935; 851,074; 904,054; 969,916; 1,061,246; 1,146,579; 1,248,991; 1,347,002; 1,341,205; 1,235,841
2010-2011 [para 2011, 64 países]
Brazil: 32,928; 35,162
India: 68,321; 72,200
South Korea: 58,914; 68,471
World: 1,428,711; 1,490,060
Fonte: http://www.worldsteel.org/statistics/statistics-archive.html
Produção por alto-forno (ferro gusa/pig iron). Em mil toneladas
Crescimento (2011/1980). Atenção: sei que isso é “conta de português”. É apenas para ilustrar.
Brasil: 2,62 (33,243/12,685)
Índia: 4,58 (38,900/8,480)
Coreia: 7,56 (42,218/5,582)
Mundo: 2,71 (1,082,729/398,661)
Produção de aço bruto (crude steel). Em mil toneladas
Crescimento (2011/1980)
Brasil: 2,29 (35,162/15,337)
Índia: 7,59 (72,200/9,514)
Coreia: 8,00 (68,471/8,558)
Mundo: 2,62 (1,490,060/568,460)
PS: Fiquei intrigado com a discrepância entre crescimento de produção de gusa e produção de aço na Índia. Como o país complementa a produção de aço? Importa gusa? Converte muita sucata? Mas a Índia produz muito por redução direta [27.511.000 ton/2011]. Na conta acima, não somei essa produção. Na hipótese de que todo ferro produzido por redução direta seja transformado em aço, então a “conta de português” fecha em 7,83, bem próximo da Coreia.
PS': Sugiro conferir no site se copiei os números corretamente. Acho que sim.
Querem culpar o motorista por andar a 100km/h numa via de 60.
So que a via só tem limite de 60 pq está mal cuidada, mal sinalizada e cheia de buracos.
É a busca eterna pelo proprio rabo.
Alex, eu estava procurando essas informações como um louco desde que a discussão sobre desindustrialização começou. Muito obrigado!
O engraçado é o seguinte: faz pouco tempo, ouvi de alguém que o Lula não teve importância decisiva na redução da pobreza, que isso se deveu ao aumento no preço dos produtos primários e demanda chinesa. O processo havia sido quase automático.
Dias depois, a mesma pessoa reclamou que o governo brasileiro estava matando a indústria, usando como argumento a queda da participação dos manufaturados nas exportações.
Eu perguntei se, também neste caso, o aumento do preço dos primários não poderia explicar essa inversão.
Fiquei de procurar os dados que você agora colocou aí.
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