teste

domingo, 27 de junho de 2010

México vs. Argentina


Previsões do Tio “O”:

México vai ganhar, Maradona vai receber um cartão vermelho.

Algum imbecil argentino vai levar para o estádio uma faixa com um retrato de um sociopata assassino e torturador. A TV vai mostrar.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Que beleza! (só não sei que esporte é este)


  • Por causa do Felipe Mello, os melhores momentos da copa vão ser editados pelo Tarantino.
  • Milhares de pessoas deram entrada no hospital após assistir o Felipe Mello em transmissão 3D.
  • Roberto Carlos e Wagner Montes já entraram numa dividida com Felipe Mello.
  • Felipe Mello não é bom de matemática, mas gosta de dividir sem deixar restos.
  • O cartão de visitas do Felipe Mello é o vermelho.
  • Uma vez Felipe Mello foi jogar JoKenPo com o presidente Lula. Ele tinha uma tesoura; Lula tinha 5 dedos.
  • O Michael Jackson morto faz muita falta. O Felipe Mello vivo faz mais ainda.
  • Após os treinos, alguns jogadores ensaiam cobranças de faltas; já Felipe Mello treina como cometê-las.
  • A lenda da mula sem cabeça começou depois de um pé alto de Felipe Mello.
  • Todas as seleções têm volante... nós temos pára-choque.
  • Felipe Mello é o único jogador que você encontra no FIFA 2010, no Winning Eleven e no Mortal Kombat.

Futebol e pobreza

Uma discussão interessante sobre o caso sul-africano aqui.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Além da muralha

No começo desta semana o Banco Central chinês (PBOC) anunciou sua intenção de retomar a trajetória de apreciação do Yuan que prevalecera entre meados de 2005 e a eclosão da crise, no terceiro trimestre de 2008. O comunicado do PBOC não dá muitas pistas sobre os próximos passos da política cambial chinesa, mas podemos esperar um processo moderado de apreciação, a exemplo do episódio anterior, durante o qual o Yuan se valorizou cerca de 20% ao longo de pouco mais de três anos.

Há, a bem da verdade, forte pressão internacional, em particular do Congresso americano, para que a China permita o fortalecimento de sua moeda e o próprio momento do anúncio da nova política (uma semana antes do G20) sugere que, ao menos parcialmente, a decisão possa ter ocorrido em resposta ao clamor dos parceiros comerciais.

Isto dito, é difícil acreditar que a China tomaria qualquer medida sem que esta, de alguma forma, a beneficiasse, ainda mais contra o pano de fundo de um enfraquecimento significativo do Euro nos últimos meses, que já reduz a competitividade das exportações chinesas.

O principal motivo parece ser o receio de nova aceleração inflacionária. Nos 12 meses até maio a inflação na China atingiu pouco mais de 3%, taxa que não parece ser particularmente elevada, mas que revela significativa aceleração. De fato, um ano antes a inflação ao consumidor era negativa (em torno de -1,5%), refletindo a queda dos preços das commodities naquele momento. Com a recuperação da economia mundial, em parte como resultado do próprio crescimento chinês, os preços das commodities voltaram a subir, traduzindo-se integralmente num aumento dos preços domésticos por conta da taxa fixa de câmbio contra o dólar. A prosseguir o crescimento chinês, portanto, é bastante razoável supor que as tensões inflacionárias, principalmente pelo lado das commodities, continuam elevadas.

Assim, ao permitir que sua moeda se aprecie, a China consegue atenuar o efeito dos crescentes preços domésticos de commodities e reduzir as pressões sobre a inflação. Note-se, porém, que, no caso da China, esta política é menos efetiva do que seria no caso de uma economia pequena (“pequena”, no caso, significa um país cuja demanda tivesse impacto insignificante sobre os preços internacionais).

Como mostrei em artigo anterior, uma apreciação do Yuan tenderia a aumentar os preços de commodities em dólares, dado o peso da demanda chinesa neste mercado. O efeito líquido (aumento de preços em dólares versus a apreciação da taxa de câmbio) teria, ainda assim, que resultar em queda de preços medidos em moeda local, pois senão a quantidade demandada pela China não cresceria, sem o quê os preços em dólares também não poderiam subir.

Desta forma, ainda que menos eficaz relativamente ao caso de economias pequenas, o fortalecimento da moeda é uma arma poderosa no sentido de conter pressões inflacionárias, bastante temidas pelas autoridades locais por seu efeito negativo sobre a renda dos mais pobres e a coesão social.

A alternativa seria promover novo aperto monetário, mas, como a China administra sua taxa de câmbio, este tenderia ser ineficaz. Seja porque a redução da demanda implicaria saldo maior nas contas externas, seja porque (em alguma medida) um aperto doméstico induziria empresas a buscarem crédito no exterior, os maiores ingressos de dólares resultantes desse aperto se tornariam fonte de expansão monetária, desfazendo as medidas iniciais.

Em outras palavras, o próprio regime cambial chinês limita severamente a eficácia da política monetária naquele país, deixando como alternativa antiinflacionária apenas o fortalecimento da moeda. Enquanto os fãs brasileiros das taxas de câmbio administradas associam o crescimento à moeda fraca, o PBOC, enfrentando um problema muito concreto, sabe muito bem onde está pisando.

(Publicado 23/Jun/2010)

sábado, 19 de junho de 2010

A África e a Copa

Antes e durante as últimas várias Copas do Mundo, todos nós tivemos que sofrer ouvindo um lugar comum irritantíssimo: “esta Copa marcaria a maturidade do futebol africano”, que finalmente conseguiria os resultados que o continente merece.

Acabei de assistir a derrota dos Camarões de Eto’o (um dos 20 melhores centro-avantes que vi jogar) para a pequena Dinamarca, e sua consequente eliminação prematura. Com o empate de Gana com a Austrália, as chances de classificação desse país devem ser menos que 50% porque enfrentarão na terceira rodada a Alemanha que precisa de uma vitória.

Considerando-se que a Argélia ainda não marcou um gol em dois jogos, e que o time da casa, a África do Sul é horrível, o único time africano hoje com mais de 50% de chances de classificação é a Côte d’Ivoire de Didier Drogba que enfrenta o Brasil amanhã.

Resumindo: mais uma Copa, e até agora, nenhuma evidência de convergência do futebol africano, a despeito de centenas (milhares?) de jogadores africanos militando no exterior como futebolistas profissionais.

Existem várias explicações para este aparente fracasso africano (Tio “O” bate na madeira três vezes), e gostaria de discutir um fator fundamental e ululantemente óbvio e uma teoria especulativa que tenho cozinhado faz algum tempo.

Primeiro, o fator fundamental (e óbvio) é a economia. Não é necessário uma economia pujante para gerar maratonistas (vide Etiópia), mas o futebol, a despeito dos mitos contrários, necessita a infra-estrutura que somente países a partir de um nível de renda possuem. Não é por acaso que o Nordeste brasileiro é historicamente sub-representado na Seleção Brasileira. Assim como não é por acaso que países pequenos como o Uruguai, a Dinamarca ou a Suécia têm uma maior tradição futebolística que o Egito, a África do Sul ou a Nigéria.

O segundo fator – e aqui entra a especulação – é a ausência de capital humano. Veja a foto abaixo do técnico camaronês, Paul Le Guen:



Como explicar que um país como Camarões, que tem uma tradição futebolística que vem desde pelo menos a Copa de 1982, quando o time liderado por Roger Milla conseguiu empatar com a futura campeã, a Itália, escolhe não contratar um técnico local para sua seleção? Será possível que nenhum dos veteranos de 1982 merece ser confiado com um cargo administrativo e de liderança? O que se passa?

Especulo agora. Como o fenômeno é comum a todos os países do sul do Sahara, deve representar um problema estrutural: é possível que tais países são tão pobres de capital humano que sua elite intelectual é tão rarefeita que qualquer camaronês que tem capital humano suficiente para treinar 22 atletas de ponta já deve estar na política ou imigrou (porque em seu país é perigoso ser inteligente, como um amigo sudanês, professor em uma universidade americana me explicou).

Agora levo a especulação mais longe ainda. Por que não existe uma elite intelectual nos países ao sul do Sahara (ao contrário da Índia ou Paquistão que são similarmente pobres)? Certamente, o colonialismo não ajudou – ser governado por uma potência estrangeira não é o melhor modo de se gerar know-how doméstico. Outro fator é a pervasiva ausência de propriedade privada da terra que impede até os tempos de hoje a organização da agricultura burguesa visando o lucro, que muitas vezes é o primeiro passo para a construção de uma sociedade moderna. Em países como o Brasil, onde uma elite conseguiu controlar de facto a propriedade fundiária e teve oportunidades de lucros significativos com o café no Sudeste, uma classe média emergiu (organicamente) e a sociedade obteve algum grau de controle sobre os homens armados no Estado. No típico país ao sul do Sahara, a maior parte da propriedade fundiária é comunal (leia-se: se o N’kono é produtivo, trabalha duro e cuidou bem de sua gleba, seu primo, o N’bono pode encostar o corpo e requisitar a gleba do primo ao chefe do clã—portanto o N’kono prefere ser motorista de táxi em Paris), o que gera não só uma armadilha de pobreza, mas também estimula o êxodo dos mais capazes. Diga-se de passagem, na ausência de oportunidades de ascensão social pela via do mercado, maior também o estímulo para obtenção de riqueza por meio da força...

E no final das contas, acaba o país tendo que importar isso:

terça-feira, 15 de junho de 2010

Traduzindo Platão para as massas

O Professor Oreiro cometeu uma nova obra-prima do surrealismo quermesseiro. Como o texto do professor é longo e prolixo, eu achei que valeria a pena resumir suas idéias em poucas palavras e alguns comentários.

Abaixo, minha interpretação (e caso o ilustre professor discorde, estou pronto a ceder-lhe direito de resposta neste mesmo blog):

Para o mui-publicado professor, uma suposta desindustrialização (segundo o imparcial IEDI...) afeta nossas perspectivas de crescimento no longo prazo. Portanto, o Tesouro deveria emitir uns 10% do PIB de dívida pública adicional para fundear um fundo especulativo para intervir no mercado cambial. Tal política no melhor dos cenários em que a dívida adicional não afeta os prêmios de risco, custaria uns meros 0.5% do PIB por ano ao Fisco (uma ninharia...). O objetivo desse maior endividamento é deprimir o salário real de modo que o capital industrial tenha lucros maiores, mas podemos ficar sossegados que não há evidência alguma que usar o câmbio para deprimir os salários reais tenha algum efeito negativo sobre a distribuição pessoal de renda (e somente um tolo ortodoxo veria problemas para implementar tal estratégia em uma democracia). Nós também não temos que nos preocupar com a consistência macroeconômica porque controles de capitais a-bran-gen-tes e di-nâ-mi-cos podem resolver qualquer inconsistência, afinal, são a-bran-gen-tes e di-nâ-mi-cos. Mais que isso, não existe nenhum custo em adotar-se controles de capitais, pois em um artigo na renomada REP, Oreiro, Paula e da Silva demonstraram que se a variável dívida pública/PIB for omitida de um modelo VAR, uma medida crua de controles de capitais não é correlacionada com o prêmio de risco (resultado que não é robusto à inclusão da variável dívida pública/PIB, mas como todos sabemos, é careta achar que dívida pública/PIB tem qualquer relação com o prêmio de risco...).

Acreditem em mim, não estou parodiando o Professor Oreiro, ele escreveu mesmo algo nessas linhas. Se vocês duvidarem, podem seguir o link para a verborragia original da figura. Mais bizarro ainda é constatar que o gênio da raça que cozinha um esquema para mobilizar mais que uma centena de bilhões de reais com o objetivo de deprimir os salários reais na indústria é ligado ao ex-Partido Comunista Brasileiro... Não comento mais para evitar ser acusado de auto-ódio no futuro...


"You represent the idiocy of today. (...) You are part of a league of morons."
Osborne Cox em Burn After Reading (2008)

Leituras ortogonais

Semana passada eu tive a oportunidade de ler duas obras de ficção daquelas que dá vontade de ler no colo sentado à frente do monitor no trabalho (não que eu faria isso!)...

No gênero crime, li o The Girl with the Dragon Tattoo (título da versão americana, que li), traduzido corretamente para o português como Homens que Não Amavam as Mulheres (em sueco, Män som hatar kvinnor) do falecido escritor sueco Stieg Larsson. É um thriller de umas 500 páginas, ambientado em uma Suécia soturna e violenta.

No gênero como-eu-gostaria-de-escrever-assim, li o genial Nazi Literature in the Americas (para a crítica do New York Times, link aqui) de outro escritor falecido, o grande Roberto Bolaño. O livro é uma coleção de verbetes biográficos hilários sobre gênios literários nazistas fictícios, em sua maioria patéticos perdedores e românticos incompreendidos, como o grande autor guatemalteco Gustavo Borda:

Guatemala's most talented and unfortunate science-fiction writer (...) Borda preferred blondes, and his insatiable libido was legendary, provoking innumerable jokes and jeers. Given the ease with which he fell in love and took offense, his life was a long series of indignities, which he endured with the fortitude of a wounded beast (...) (h)is mere existence, in short, brought the basest, most deeply hidden instincts in the people whose paths he crossed, for one reason or another, in the course of his life. There is, however, no evidence to suggest that any of this demoralized him. In his Diaries, he blames de Jews and usurers for everything. Gustavo Borda was just over five feet tall; he had a swarthy complexion, and enormous very white teeth. His characters, by contrast, are tall, fair-haired and blue-eyed. The spaceships that appear in his novels have German names. Their crews are German too. The colonies in space are called New Berlin, New Hamburg, New Frankfurt, New Koenigsberg. His cosmic police dress and behave like SS officers who have somehow managed to survive into the twenty-second century. (...)

Ou então outro gigante da literatura nazi latino-americana, o venezuelano Franz Zwickau (Caracas, 1946-Caracas, 1971):

(...) He published two books of poetry. (...) The second, "The War Criminal's Son" (1967), marked a substantial shift in Zwickau's poetics and, it could be said, in the Venezuelan poetry of the time. A dire, horrifying, badly written book (Zwickau espoused a peculiar theory about the revision of poems, somewhat surprising in a poet who had cut his teeth on sonnets), full of insults, imprecation, blasphemy, completely false autobiographical details, slanderous imputations, and nightmares.

A number of poems are noteworthy:

(...)

- "Concentration Camp," by contrast, is the humorous and at times touching story of Zwickau's life as a child, between the ages of five and ten, in a middle-class neighborhood of Caracas.

(...)

- "The War Criminal's Son," the book's long title poem, is a vigorous and excessive piece, in which Zwickau, bemoaning the fact that he was born twenty-five years too late, gives free rein to his verbal facility, his hatred, his humour, and his unrelieved pessimism. In free verse of a kind rarely seen in Venezuela, the author depicts an appalling, indescribable childhood, compares himself to a black boy in Alabama in 1858, dances, sings, masturbates, lifts weights, dreams of a fabulous Berlin, recites Goethe and Junger, attacks Montaigne and Pascal (whose work he knows well), adopting the voices of an alpine mountaineer, a peasant woman, a German tanker in Peiper’s brigade who was killed in Ardennes in December 1944, and a North American journalist in Nuremberg.

Needless to say, the collection was ignored, perhaps in a deliberate and concerted manner, by the influential critics of the day.

(...)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

“El PIB de oro”

Os números do PIB divulgados ontem são impressionantes sob qualquer ótica. Descontada a sazonalidade do período, o crescimento anualizado sobre o trimestre anterior atingiu quase 11,5%. Mesmo se usarmos a média dos últimos dois trimestres (10,4% ao ano), ou dos últimos três trimestres (10% ao ano), é inevitável concluir que o país cresce a um ritmo fortíssimo. E, note-se, neste critério de avaliação, a velocidade de crescimento não resulta da fraca base de comparação do começo de 2009; é mesmo extraordinário.

Obviamente, ninguém com mais de cinco neurônios acha ruim que a economia cresça vigorosamente. A questão é saber se este ritmo de expansão é sustentável, isto é, se pode ser mantido por um longo período, ou se, pelo contrário, ocasionará desequilíbrios graves que, mais à frente, cobrarão um preço elevado em termo de redução do crescimento futuro. A alternativa correta é a segunda.

Pudemos manter esta taxa de crescimento por algum tempo, da mesma forma que uma caixa de água pode receber mais líquido que sua capacidade de vazão desde que esteja suficiente vazia no começo. Contudo, assim como a caixa se encherá de água, levando ao fatal transbordamento na medida em que o espaço vago for preenchido, também os desequilíbrios surgirão quando a capacidade ociosa se esgotar. O desafio é elevar o crescimento sustentável, ou, nos termos do nosso exemplo, a capacidade de vazão.

Embora não falte quem sugira que basta um ato de vontade, tanto a teoria econômica como a experiência de inúmeros países indicam que o crescimento de longo prazo depende essencialmente de quatro fatores. Em primeiro lugar, a demografia, por exemplo, o tamanho da força de trabalho relativamente à população total. Quanto maior esta relação, tanto mais rápido deverá ser o crescimento.

Em segundo lugar, a qualificação desta força de trabalho, tipicamente medida pelos anos de educação, devidamente ponderados pela qualidade desta educação, como aferida em exames internacionais. Provavelmente relacionado à educação, mas afetado também por outras variáveis, há também o crescimento da produtividade da economia, geralmente associada ao ambiente de negócios, arranjos institucionais (como direitos de propriedade bem definidos), e abertura comercial, entre outros.

Estes três fatores têm em comum o fato de serem pouco passíveis de alteração por políticas governamentais, exceto em prazos muito longos (basta pensar que é necessária uma geração para alterar substancialmente a qualificação da força de trabalho). O que pode ser afetado num prazo mais curto é apenas o quarto fator: o volume de investimento.

Há desenvolvimentos positivos: o ritmo de expansão do investimento tem se acelerado, atingindo mais de 30% ao ano na média dos três últimos trimestres. No entanto, mesmo depois deste crescimento vertiginoso, a formação de capital representava apenas 18% do PIB no primeiro trimestre de 2010, insuficiente para fazer o estoque de capital aumentar o bastante para acomodar uma expansão do produto superior a 4-4,5% ao ano. Estimamos que, para manter o crescimento na faixa de 5% a 5,5% ao ano, o investimento deveria atingir valor em torno de 22% do PIB, ainda bem superior ao observado.

Note-se, ademais, que a poupança bruta tem girado ao redor de 15% do PIB, apesar da crença de alguns que o investimento geraria sua própria poupança. Isto reflete em larga medida o nível elevado do gasto público, ainda na casa de 20% do PIB (contra, por exemplo, 13% do PIB em nossos pares latino-americanos).

Vale dizer, não basta querer aumentar a taxa de investimento; é imperativo que o país eleve também sua poupança, de preferência por meio da redução do consumo público. Na ausência deste ajuste, será a poupança externa, mais uma vez, que financiará o crescimento, gostem disso ou não nossos keynesianos de quermesse.

(Publicado 9/Jun/2010)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Moedas nas estrelas

Há muito tempo, numa galáxia distante, havia dois planetas: Vulcano e Romulus. Habitados pelo mesmo povo, tinham se distanciado, embora mantivessem a mesma linguagem. Não foi surpresa, portanto, quando – depois de um período de inimizade – decidiram adotar uma só moeda, o Roddenberry. Inspirados pelo exemplo, dois outros planetas (Coruscant e Tatooine) resolveram copiar a estratégia. Após séculos de guerra e profundas divisões culturais e lingüísticas, optaram pela integração econômica, culminando na adoção de uma moeda única, o Lucas, que esperavam tornar o padrão monetário da galáxia no lugar do Roddenberry.

A união entre Vulcano e Romulus foi muito positiva para o segundo. Algo mais atrasado que Vulcano, Romulus se beneficiou do comércio com o vizinho, bem como do fluxo de tecnologia e recursos. Não apenas cresceu de forma mais acelerada, como o próprio crescimento levou a fenômenos inesperados. Por exemplo, muitos romulanos, até então sem casa própria, aproveitaram o ingresso de recursos para financiar a construção de suas moradias. Houve uma febre de construção no planeta.

O mesmo se deu em Tatooine. Em parte impulsionado pela convergência econômica com Coruscant, em parte pelo gasto de seu governo (financiado pelos recursos provindos de seu parceiro), Tatooine viveu uma era de alto crescimento. Os salários subiram e, com eles, os preços das mercadorias que não podiam ser importadas de outros planetas. A inflação em Tatooine tornou-se mais alta que em Coruscant, mas os Jedis, Guardiões do Lucas, nada fizeram, pois a inflação média nos dois planetas ficou precisamente na meta. A Força estava com os Jedis.

Já os Tribbles, responsáveis pelo Roddenberry, também podiam se dar por satisfeitos, pois mantiveram a inflação similar à do Lucas. Ademais, a inflação em cada planeta era a mesma. Embora Romulus passasse por um boom imobiliário, os salários não subiram mais rápido do que em Vulcano, já que o aumento da demanda por trabalho levou à migração, facilitada pela língua e cultura comuns, mantendo os salários (e portanto o preço dos bens não-transacionáveis) iguais em ambos os planetas. Não havia problema com os Tribbles.

Um dia, porém, a festa acabou. Impulsionados pela euforia e pelo crédito abundante, os romulanos e os habitantes de Tatooine geraram bolhas imobiliárias, construindo mais habitações que o necessário. Quando os preços de imóveis começaram a cair, refletindo o excesso de oferta, não só a indústria da construção civil sofreu, mas também os bancos que haviam financiado a expansão perderam vastas somas, contraindo o crédito e levando os planetas à recessão.

Vulcano e Romulus sofreram de forma parecida: a inflação caiu, o desemprego subiu, mas não se notou nenhuma grande assimetria entre os planetas. Na Zona do Lucas, contudo, as coisas foram diferentes.

O emprego em Tatooine estava principalmente associado à construção civil. Com a queda da atividade, milhões perderam seus empregos. Por outro lado, os salários, como de hábito, não se ajustaram imediatamente. A migração de trabalhadores de Tatooine para Coruscant não era possível, em face das diferenças culturais e lingüísticas, e o comércio interplanetário – que poderia ajudar por meio de exportações maiores de Tatooine para Coruscant – também não se mostrava uma saída viável. A elevação de salários havia erodido a competitividade dos bens produzidos em Tatooine.

A assimetria da resposta da economia de cada planeta à crise se manifestou também no comportamento das contas públicas. A arrecadação de tributos caiu mais vigorosamente em Tatooine, levando a déficits fiscais consideráveis no planeta. É claro que a acumulação de dívidas no período anterior à crise também foi um fator, mas, segundo os Jedis, mesmo sem o acúmulo de dívida, era claro que as contas fiscais em Tatooine sofreriam bem mais do que em Coruscant.

O contraste do comportamento da Zona do Lucas com a Área do Roddenberry tornou-se ainda mais marcante à luz da diferença institucional entre as áreas. Vulcano e Romulus haviam evoluído para um governo comum. Isto permitia à Federação dos Planetas atenuar eventuais desvios fiscais. Por outro lado, na Zona do Lucas, não havia um governo central. Ao contrário, Coruscant não via com bons olhos a idéia de transferir recursos para os “gastadores de Tatooine”.

A combinação da assimetria em resposta à crise e da ausência de mecanismos de mitigação de problemas fiscais levou à crescente desconfiança com relação à capacidade de Tatooine honrar sua dívida. Há uma percepção generalizada que – para retomar sua competitividade – Tatooine terá que passar por um período deflacionário, de baixo crescimento e, portanto, desempenho pobre da arrecadação. A nova esperança é que seja possível corrigir este desequilíbrio ao longo de alguns anos, desde que alguém esteja disposto a financiar o período de transição.

Ao fim, só uma certeza: se foi um plano Sith para destruir a união entre Coruscant e Tatooine, não poderia ter sido mais bem tramado. Os Jedis não viram nada.

(Publicado 8/Jun/2010)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Meu norte moral

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Mais zeitgeist

Chega até a ser engraçado...

Of DOW JONES NEWSWIRES

SHANGHAI (Dow Jones)--A relatively weak U.S. dollar has been hurting Brazil's economy, and a potential Chinese yuan revaluation against the dollar could help stabilize global currencies, Brazilian Finance Minister Guido Mantega said Wednesday.

Mantega's comments come ahead of key Group of 20 nations meetings, where he said Europe's sovereign debt crisis and ongoing International Monetary Fund reforms are likely to dominate. The Chinese yuan policy is also widely expected to be on the G20 agenda.

"The problem is not renminbi but the dollar,"
Mantega said in an interview, using another name for the Chinese currency. "The U.S. has been maintaining weakness of the dollar to
help its export sector.
And China doesn't want to be less competitive."

The pegging of the yuan to the dollar exacerbated the condition, he said.