Os números mais recentes de atividade,
notadamente o PIB, sugerem alguma aceleração que deve se materializar em
crescimento algo mais vigoroso em 2020, impulsionado principalmente pela
redução da taxa real de juros. A batalha, contudo, não está ganha e o país
precisa manter o esforço reformista.
A
divulgação do resultado do PIB do terceiro trimestre trouxe certo alento. Em
conjunto com a revisão do número para 2018 (de 1,1% para 1,3%) implicou melhora
das projeções para o crescimento de 2019, da faixa de 0,9-1,0%, para 1,1%. Não
se trata, claro, de nada que nos faça ulular de alegria, mas considerando que
havia quem apostasse em “recessão técnica” (um conceito ultrapassado, mas
surpreendentemente resistente) este ano, a modesta aceleração do ritmo de
expansão nos últimos dois trimestres é uma boa notícia.
A
questão mais importante, todavia, não é o que aconteceu em 2019 (já estamos em
meados de dezembro!), mas sim saber se “agora vai”. Há certo consenso acerca de
um ritmo na casa de 2,0-2,5% para o ano que vem, mas não é menos verdade que há
um ano também esperávamos (e definitivamente me incluo no grupo) expansão desta
ordem para 2019, agora frustrada. Por que haveríamos de estar certos na atual
conjuntura?
Expansão
IV-2016 a III-2019 (preços constantes de III-2019)
% aa
|
R$ bi
|
|
Agropecuária -
total
|
5,1%
|
10,6
|
Indústria -
total
|
1,1%
|
9,8
|
Serviços -
total
|
1,6%
|
48,5
|
Valor
adicionado a preços básicos
|
1,6%
|
68,2
|
PIB a preços de
mercado
|
1,7%
|
84,0
|
Despesa de
consumo das famílias
|
2,4%
|
75,2
|
Despesa de
consumo da administração pública
|
-0,3%
|
- 2,8
|
Formação bruta
de capital fixo
|
3,8%
|
27,9
|
Exportação de
bens e serviços
|
2,1%
|
14,2
|
Importação de
bens e serviços (-)
|
5,9%
|
40,1
|
Começo
notando que na dinâmica de recuperação cíclica (diferentemente do crescimento
potencial, ou de longo prazo) o principal impulso vem da retomada do consumo
das famílias, que desde o final da recessão (no último trimestre de 2016)
cresce a pouco menos de 2,5% ao ano, expansão equivalente a R$ 75 bilhões no
período. Embora o investimento (apelido da “formação bruta de capital fixo”)
apresente um crescimento um pouco mais rápido, algo inferior a 4% ao ano, muito
por força dos últimos dois trimestres, em termos absolutos sua contribuição
para o aumento da demanda é bem menor, R$ 28 bilhões no mesmo período, cerca de
1/3 da contribuição do consumo das famílias.
Mesmo
considerando uma provável aceleração do investimento, não esperamos um padrão
muito distinto à frente. O consumo, impulsionado pela queda da taxa real de
juros e pela expansão da renda do trabalho deve seguir como principal motor de
aumento da demanda interna, responsável como algo perto de 2/3 de seu
crescimento, o restante se originando do investimento, dado que o consumo do
governo deve ficar aproximadamente constante.
O
crucial é que ambas as forças dão sinais de estarem firmemente enraizadas neste
momento. O consumo, conforme notado, pela queda do juro real e pelo aumento seguro,
embora não muito rápido, da renda do trabalho. Já o investimento, à parte a
queda das taxas longas de juros, é também estimulado pela melhora da
perspectiva de evolução da dívida pública, de certa estabilidade nos próximos
anos, em direto contraste com a vertiginosa expansão dos últimos 5-6 anos.
O
risco de desenvolvimentos negativos nesta frente caiu bastante, ainda que não
tenha sido eliminado. Como temos insistido, a estabilização definitiva da
dívida requer a continuidade do processo reformista no campo fiscal. Sem isto,
a perspectiva de reversão do endividamento se torna bem mais remota e os
receios quanto à sustentabilidade da dívida pública podem aflorar novamente,
com efeitos negativos sobre o desempenho do investimento e, portanto, da
recuperação.
O
crescimento na faixa de 2-2,5% deve levar a uma modesta queda da taxa anual de
desemprego, de 12% em 2019 para algo abaixo de 11,5% em 2020, talvez a faceta
mais importante para a população em geral. A manutenção do desemprego ainda elevado
e as expectativas de inflação bem controladas devem manter a inflação abaixo da
meta no ano que vem, apesar das pressões pontuais no fim deste ano, permitindo
ao BC provavelmente alguma redução adicional da Selic no primeiro trimestre e
sua manutenção ao redor de 4% durante 2020.
Não
há ainda louros sobre os quais descansar. A perda de ímpeto reformista pode ser
apenas uma questão sazonal, já que a atividade parlamentar normalmente decai no
final do ano, ou sinal de receio do Executivo quanto ao seu êxito à luz da
crise chilena. Espero, para nosso bem, que seja a primeira alternativa, porque não
me restam dúvidas que o país segue condenado a se reformar.
(Publicado 11/Dez/2019)
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