Em
outubro do ano passado, em entrevista
às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, fui perguntado acerca
de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, os candidatos que então lideravam as
pesquisas e passariam (como de fato passaram) para o segundo turno: qual do
dois seria a melhor escolha para o país?
Minha
resposta à época foi: ninguém, pois “com esta configuração política, [a
economia] não tem a menor chance de dar certo”. De lá para cá, infelizmente,
parece que o diagnóstico estava correto.
É verdade que não temos (ainda bem!) um governo Haddad, mas basta ler o que o
ex-candidato e seus acólitos andam dizendo nas redes sociais para se convencer
que teria sido um fracasso retumbante praticamente a zero de jogo.
Nenhum
compromisso com o problema fiscal, nenhuma ideia que já não tenha sido tentada
e nos levado a um fiasco de grandes proporções, como bem exemplificado pela
Nova Matriz Econômica. De fato, apesar da gravíssima crise que passamos, e que
ainda não foi totalmente superada (tenho minhas dúvidas de que será), não há
economista do partido que admita o erro extraordinário de política econômica
cometido no período.
Pelo
contrário, volta e meia aparecem elementos requentados da Nova Matriz, ilustrando para as novas gerações o que Mario Simonsen chamava de Princípio da Contraindução:
uma experiência fracassada deve ser repetida até que dê certo. Indefinidamente,
óbvio.
Há,
todavia, um governo Bolsonaro.
Em
outubro eu afirmava que o cenário num primeiro momento deveria ser de euforia,
com Bolsa em alta e dólar para baixo. Contudo, continuava, “o governo Bolsonaro
terá imensa dificuldade em aprovar projetos de reformas suficientemente ambiciosas
que desviem o país do muro fiscal. Em algum momento essa ficha vai cair. Daí
serão dólar e juro longo pressionados de novo. ”
Para
ser justo, a turbulência dos últimos dias, ainda que na direção prevista, não
configura ainda, é bom deixar claro, uma crise de grandes proporções. Já vimos coisa
muito pior, seja por causas externas, seja por desenvolvimentos domésticos.
Ainda
assim, é preocupante o rumo tomado. Em nome de uma suposta Nova Política (ah, tá!),
não se avança na construção de uma base parlamentar que possa juntar os 308
votos requeridos para a aprovação da reforma previdenciária na Câmara (nem os 49
votos no Senado).
A
desastrada iniciativa de compensar os militares pela sua parcela na reforma com
a reformulação da carreira – que, na prática, limitou sua contribuição ao ajuste
fiscal a meros R$ 10 bilhões em 10 anos – desmanchou qualquer “narrativa” sobre
o corte de privilégios.
Em
meio a isto o presidente e sua prole desperdiçam tempo e energia em temas que
podem até contribuir para manter sua base em pé de guerra nas redes sociais, mas
que não contribuem nem para a estabilização econômica, nem para a estabilização
política do país.
Não
contente, resolve antagonizar o presidente da Câmara por motivos que escapam qualquer
pessoa que não acredite que o presidente da República seja um grande mestre do
xadrez político, capaz de pensar 25 jogadas à frente, e que teria passado os últimos
30 anos escondendo seus talentos.
O
discurso agora é que é necessário destruir para depois reconstruir. Se fosse possível
passar de ano com 50% de aproveitamento, este governo seria um sucesso.
He’s not the Messiah,
he’s a very naughty boy
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9 comentários:
O que aconteceu com as colunas da folha Alexandre? Uma das coisas boas de se ler nas Quartas....acabou o contrato?
O Bolsonaro nunca defendeu a reforma na campanha, e não ajuda com a redução da idade das mulheres e esse aumento para os militares. Além disso, se a população não quer, o congresso não se entusiasma nem um pouco. A não ser se forem comprados, e mesmo nesse caso é possível que recebam e não entreguem, afinal o projeto de reforma do Temer ficou por lá sem ser votado.
QUE TEXTO!!!!!!!!!!
P.Guedes está deixando economistas que se diziamliberais com inveja.Restam a eles caírem para o nível Globo news ou Valor Pravda
Quem vota em branco não acha o risco simétrico?.
Quem votou NULO acha ambos os riscos inaceitáveis...
"P.Guedes está deixando economistas que se diziamliberais com inveja."
Inveja do "antidumping" no leite, ou das limitações à importação de bananas?
Gostei e principalmente... entendi.
Samuel Pessoa tirou o terrible ; sobrou apenas o enfant.
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