As
corporações que se opõem à reforma da previdência posam como defensoras dos
pobres, mas protegem apenas seus próprios interesses. A análise da reforma
revela que esta tem impacto maior sobre os segmentos mais ricos da população,
em particular o funcionalismo, com efeitos reduzidos sobre a parcela mais pobre.
Segundo
levantamento
de Gabriel Tenoury, um dos jovens economistas que têm feito
um trabalho precioso, a previdência beneficiou em 2017 quase 34 milhões de
pessoas, correspondendo a um gasto de R$ 890 bilhões (13,6% do PIB).
Destes,
30 milhões são os beneficiários do regime geral (INSS), que receberam R$ 557
bilhões, ou seja, R$ 18,7 mil per capita.
Assim, 88% dos beneficiários ficaram com 63% dos recursos.
Já
os 4 milhões restantes pertencem aos regimes próprios do governo federal,
estados e municípios, percebendo 37% do valor desembolsado. Em particular, o gasto
per capita no caso do governo federal
chegou a quase R$ 115 mil, atingindo cerca de R$ 80 mil no que se refere aos
estados e pouco menos de R$ 50 mil para municípios.
Tais
números deixam claro que os gastos da previdência beneficiam mais que
proporcionalmente o funcionalismo nos três níveis de governo, grupo que
pertence majoritariamente à camada mais rica da população.
A
proposta
de reforma prevê redução de gastos equivalente a R$ 1,070 trilhão em 10 anos,
dos quais R$ 173 bilhões correspondem ao funcionalismo federal. Adicionalmente,
embora o projeto de emenda constitucional não tenha tratado dos militares, cuja
previdência é regulada por lei ordinária, as estimativas do governo sugerem que
outros R$ 92 bilhões viriam de projeto de lei a ser enviado até o final do mês,
elevando o total para R$ 1,16 trilhão.
Em
outras palavras, embora o regime próprio federal, incluindo civis e militares,
represente algo como 14% do gasto previdenciário, as novas regras fariam com
que este grupo fosse responsável por mais de 22% da economia esperada,
reduzindo o caráter regressivo do atual regime.
Não
há estimativas para os demais níveis de funcionalismo, contudo não é difícil
concluir que a aplicação das novas regras teria efeito similar, exigindo mais
dos extratos mais ricos da população.
Já
no que se refere ao regime geral, o impacto também seria neste sentido, mas em
escala menor. Os mais pobres, como regra, já se aposentam por idade, com pouco
mais de 60 anos, recebendo em média cerca de R$ 900/mês. Já quem se aposenta
por tempo de contribuição o faz mais cedo, ao redor de 55 anos, e recebe praticamente
o dobro, em média, dos que o fazem por idade. O projeto de reforma adiaria a
aposentadoria deste grupo por cerca de 10 anos, depois do período de transação.
Não
falamos aqui de pessoas relativamente tão ricas quanto o funcionalismo, em
média pelo menos, ainda que certamente mais bem posicionadas na escala de renda
do que os que se aposentam por idade. Também neste caso, pede-se mais daqueles
que têm mais.
Em
suma, face a um caso clássico de cobertor curto, a proposta de reforma exige
mais da cabeça e menos dos pés, mas a organização política da cabeça tenta
barrá-la como se fosse o contrário.
É
neste contexto que se situa comentário
de Marcio Pinochmann, afirmando que a reforma teria efeitos recessivos sobre a
economia. A defesa dos interesses das corporações já
atingiu níveis que apenas a cara de pau de Pinochmann permite justificar.
1 comentários:
Marajás legislando em causa própria e de grupos organizados, nada de novo na terrinha... Só vejo politicos do NOVO cortando privilégios e pregando as reformas - incluindo redução nas aposentadorias especiais dos marajás brasilianos.
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